sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O campeonato dos bichos e apelidos

  
             
Galdino Antônio Ferreira da Silva
Financista, desportista e colaborador dos blogs História do Futebol, Futebol 80 e Memórias da Fonte Nova.                                                                                       

Há pesquisadores de futebol que hoje relacionam a história do esporte a idos tempos onde ocorria o jogo da pelota nas civilizações maia, chinesa, e outras menos votadas.  No caso da primeira, a julgar pela morte dos derrotados, certamente não tinha grande apreço por seus jogadores. Este tratamento, na origem moderna do futebol, pouco influenciou o Brasil.
No início até que se dirigiam aos praticantes do esporte respeitosamente. O juiz era chamado de mister e os jogadores de senhores, com nome e sobrenome. Mas, quando o esporte se tornou realmente popular, e foi apropriado pela Era do rádio, não teve quem segurasse o tratamento escrachado.
Na Bahia é antigo o costume da nossa crônica esportiva de batizar os jogadores com apelidos, adjetivos e codinomes. Acreditamos que em nenhum lugar se tem tanto talento pra inventar apelidos para jogadores. Podemos dizer que o campeonato baiano é o maior de todos os bichos e apelidos. Em uma entrevista com Jorge San Martin - um dos mais brilhantes nomes da nossa rádio tive a satisfação de acompanha-lo enquanto preparava o programa Esporte Nativo da Radio Comunitária onde eu trabalhava.·.
Aí ele foi lembrando uma série interminável de apelidos da história do futebol baiano. Nos anos 20 a 40 há o caso de DOIS LADOS, um atacante do Ypiranga também conhecido como “o especialista”, e de GAMBARROTA, atacante do Bahia que, por ter um nome difícil de pronunciar, foi logo chamado pelo diminutivo de “Gambá”. FALABAIXINHO foi um grande meia atacante do Galícia que levava também a alcunha de “malabarista” pelo que fazia com a bola.·.
Outros jogadores do EC Bahia nas décadas de 40, e que chegaram a Era da Fonte Nova, tinham o apelido de GERECO (atacante que tinha a alcunha de “o craque”), FABRINI (meia também chamado de “o cérebro”), ZÉ HUGO (atacante que virou “El matador”), VELAU (outro atacante que viria a ser “o inspirado”), e LESSA, o goleiro que era “uma garantia”.


Já o famoso PERIPERI, goleiro do Ypiranga e do Vitória da primeira década da Fonte Nova, era chamado de “o homem elástico” por suas defesas empolgantes. TOMBINHO, campeão pelo EC Vitória nesta época, seria “o terremoto”, e NADINHO, goleiro dos rubro negros, mas também do Bahia, era “o macho”. FULANO, atacante do Bahia, era “o matador” em bom português.
Entre os anos 50 e 60 temos vários exemplos. MARITO (atacante do Bahia) e DIDICO (centro avante do Vitória) eram chamados da mesma forma que o centro avante Junior (EC Vitória) nos dias de hoje, os “diabos louros”. O segundo ainda levava a alcunha de ser “o terrível matador”. Ainda dos anos de ouro do Bahia, temos HENRIQUE, (zagueiro chamado de “o imponente”, e MÁRIO, meia que tinha a alcunha de “maestro”). Já o famoso QUARENTINHA, que o Vitória vendeu ao Botafogo e chegou à seleção brasileira, era o “cabeção”.  ENALDO, que jogou no Galícia e Vitória, era o “categoria”, enquanto
os zagueiros ROBERTO REBOUÇAS (Bahia) e ROMENIL (Vitória) eram os “xerifes”.
Mais á frente, nos anos 70, teremos ELISEU e DOUGLAS, meias do Bahia, eram, respectivamente, “o gênio” e “o lorde”. OSNI, ponteiro campeão pelo Vitória e Bahia, era “o baixinho infernal”. JUCA, lateral esquerdo do Atlético de Alagoinhas, levava o apelido do próprio clube, “carcará”. E BAIACO, volante do Bahia, era “o operário padrão tricolor”. Já THYRSON, ponteiro do Bahia, era o “Chiquitita”, e FREITAS, centro avante campeão em 1969 pelo Fluminense de Feira, era “o índio Apache”.·.
Mais outros do Vitória, agora dos anos 70. O meia DAVI era o “cara de jegue”, o centro avante FISCHER era “o touro indomável”, SIVALDO, atacante que também jogou pelo Botafogo (BA) era “o gato feliz”, e o zagueiro XÁXA era “o xerifão”. Entre os anos 70 e 80 tivemos JESUM, atacante do Bahia, era chamado de “Uri Jesum” uma alusão aos “milagres” que na época eram feitos pelo famoso médium Uri Geller. SABINO, atacante do Leônico e Fluminense de Feira, era o “coice de mula”  IBERÊ, goleiro do Vitória e Leônico, era “doutor” por ser formado em medicina, e WASHINGTON LUIZ, jogador do Bahia, tinha dois apelidos, “gato seco” e “coringa”.

EMO, meia campeão do Bahia, mas descoberto no Redenção, era “o seco”,  BIGU, volante do Vitória bicampeão 1979/1980 e que saiu do clube pro Flamengo, era “o Deus da raça” para. a crônica local. Nesta época SALES, volante do Bahia, era o “SuperSales”, DEMA, volante do Vitória e Galícia, o “carregador de piano”, MARCÃO, volante da Catuense era conhecido como “o canhão de Navarone” em função do filme homônimo, e MARINHO, meia do Bahia, era “o Apolônio”.
EDINHO, lateral do Fluminense de Feira e do Bahia, tinha o apelido de “Jacaré”, e o famoso RICKY, centro avante histórico do Vitória, era chamado pela crônica de “a gazela africana”, Já os apelidos dos inolvidáveis CHARLES e BOBÔ, campeões brasileiros pelo Bahia, se referiam a musica. O primeiro era o “anjo 45” (em função da musica de Jorge Bem) e o segundo “a elegância sutil” (que depois virou música na voz de Maria Bethânia).·.
Nos anos 90 ARTHURZINHO, meia do Vitória, era o “Rei Arthur”, o centro avante rubro negro AGNALDO era “o capacete”, NALDINHO, atacante da Catuense e Bahia era “o maritaca”, LIMA SERGIPANO, volante do Bahia, era o “Cabo Lima”,NEI SANTOS, volante do Vitória, “o capitão”, e
RUSSO, lateral do Vitória, tinha dois apelidos, podendo ser chamado de “cangaceiro” ou “Lampião”.
Pra terminar a longa lista ficamos ainda com ZÉ ROBERTO, atacante do Vitória, “o louro infernal”, UESLEI, meia atacante do Bahia e Vitória, “o pitbull”, NONATO, atacante do Bahia, “o jabuti atômico, e BEBETO CAMPOS, meia do Vitória e Bahia, era chamado de “a formiga atômica”“.
A crônica não se limitava a colocar apelidos nos jogadores, estendendo esse comportamento para os próprios clubes, acentuando rivalidades. Assim, uma série de bichos disputavam o campeonato baiano. O ATLÉTICO DE ALAGOINHAS é o carcará, uma ave de rapina da família do gavião. O seu rival da cidade, o clube da empresa de transporte, CATUENSE, é o Bem-te-vi. Já o COLO-COLO de Ilhéus, campeão de 2006, é o Tigre, e seu vizinho de município, o ITABUNA, é o Dragão do Sul.
As denominações atingem clubes do interior e da capital. Assim, o FLUMINENSE DE FEIRA, por duas vezes campeão baiano, é o Touro do sertão, o IPITANGA é conhecido como o Tucano, o POÇÕES é a Raposa, o VITÓRIA o Leão da Barra, o VITORIA DA CONQUISTA o Bode, e o YPIRANGA, outra ave, o Canário.
                                              Os presidentes Itamar, Lula, FHC e Sarney
Pra terminar, não poderíamos deixar de comentar os políticos que jogaram futebol, ou, dizendo de outro modo, os jogadores que poderiam ter entrado na carreira política onde alcançariam até o posto de presidente da república. Com este time a ONU poderia ter uma equipe poderosa para disputar uma Copa do Mundo ou não fazer feio fora do país. Goleiros - Fernando Henrique (Fluminense) ou Getúlio Vargas (Fortaleza). Lateral Direito (ou em qualquer outra posição) - Washington Luiz (Bahia). Zagueiro - Deodoro (Juventus-SP).Lateral Esquerdo - Floriano (Fluminense-RJ). Volante - Juscelino (Flamengo). Meia - Jânio (Itabuna). Nas pontas teríamos Itamar(Vitória) e Lula (Inter-RS e Naútico). Quanto aos avantes seriam de dar inveja (em todos os sentidos) onde seriam escalados Charles (Bahia)e Nixon (Bahia e Juazeiro). E o técnico não seria outro senão Arthur Bernardes.

*  Agradecemos as imagens dos blogs boaspraticasfarmaceuticas.blogspot.com, marcosfalcao.com e plugadonaweb.com.

2 comentários:

  1. Amigos do Memórias.
    Estou procurando desde 2009 fotos do Bahia 1974 e 1975 e do Flu de Feira de 1976 e 1977 em que esteja o zagueiro Fernando Silva.
    Foi campeão no Vitória (1972) e Bahia (1975)
    Em 1978 e 1979 jogou no Leônico.
    Parou de jogar em Maio/1980 devido a contusão.
    Já consegui algumas fotos. Só falta no Bahia e Fluminense de Feira.
    É para completar sua história no site do Milton Neves - TV. Bandeirantes - Que Fim Levou.
    Agradeço aos Amigos que puderem colaborar.
    Forneço a fonte.
    Waldevir - São Paulo/SP.
    Tel. (11) 2919-1364 - pode ligar à noite à cobrar que atendo.

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  2. Waldevir, voce tem que procurar nas fotos de times campeões baianos...

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