terça-feira, 30 de novembro de 2010

O glorioso América FC na Bahia


                             América campeão carioca de 1960

Há algum tempo voltei a me interessar pelo América FC do Rio de Janeiro. É que achei várias partidas suas na Fonte Nova e passei a escrever um artigo sobre o clube. Este, apesar de se encontrar hoje na Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro, já foi um dos grandes do Rio de Janeiro.  Uma das minhas lembranças da era do rádio foi ouvir pela Globo Waldir Amaral “cantar” a final do primeiro campeonato do novo estado da Guanabara quando o alvi rubro derrotou o Fluminense e ficou com o título de 1960.
Deu então pra ver como é curta a memória dos brasileiros. Estamos falando de um clube cuja história tem feitos notáveis que engrandeceram o esporte do país. O maestro e compositor Heitor Vila Lobos disse que foi um dos fundados do clube. E, outro grande compositor Lamartine Babo, foi quem escreveu o hino dos “diabos rubros”. Ele era torcedor do clube e se declara na própria musica, onde tem um trecho em que agente fica arrepiado:
Hei de torcer, torcer, torcer
hei de torcer até morrer, morrer, morrer
pois a torcida americana é toda assim
a começar por mim (...).

O América foi campeão carioca sete vezes e, dentro e fora do estado, ganhou inúmeras taças, troféus e torneios no Brasil, américas, Europa e África, dois deles na Bahia. O clube é uma das agremiações brasileiras que mais contribuiu para a aproximação dos povos através do esporte. Desde 1947, realizou quase trinta excursões ao exterior, entre estas, pelo menos dez á Europa.
Não caberia nos limites deste pequeno artigo, citar os feitos do América. ((Mas, só para reavivar a memória dos torcedores, lembraria: a) foi campeão dos campeões em 1982; b) “vingou” a seleção brasileira derrotada na Copa do Mundo de 1950, ao vencer o Penarol – time base daquela seleção - por 3 X 1 no primeiro aniversário de comemoração da conquista perante 65.000 uruguaios; c) é o clube brasileiro que, provavelmente, mais jogou contra portugueses, tendo, inclusive, realizado o que pode ter sido o primeiro jogo entre os dois países em julho de 1955 no Maracanã por ocasião da Taça Charles Muller, batendo o poderoso Sport Lisboa e Benfica por 4 X 2.  
Jogou por muito tempo no estádio da Rua Campos Sales, mas, desde 2000, seu estádio é o Giulite Coutinho, com capacidade para 15.000 pessoas, e se situa na Baixada Fluminense. Entre os grandes jogadores já vestiram a sua gloriosa camisa, destacam-se o zagueiro Belfort Duarte, Joel e Hermógenes (ambos da seleção brasileira que foi á Copa de 1930),Djalma Dias (seleção brasileira de 1970), o lendário atacante Heleno de Freitas, Batatais, Marcos Carneiro de Mendonça, Canário (seleção brasileira e Real Madrid), Edu e Luizinho.
                                                          Estádio Giulite Coutinho
Desde que o Campeonato Brasileiro teve início em 1971 o América participou de todos os campeonatos. A criação do Clube dos Treze porém, excluiria o América em 1986, fazendo com que somente voltasse a disputar a primeira divisão em 1989 ocasião em que seria rebaixado para a segunda. Desde os anos 90 frequentaria a terceira.
Este América, com tantas glórias, aportou na Bahia após a Primeira Grande Guerra, quando já se havia restabelecido o intercâmbio esportivo. Chegou aqui em setembro de 1921 e ficou por dez dias, durante a disputa do Campeonato Baiano. Estreou derrotando um Combinado Botafogo - Baiano de Tênis por 4 X 2. Logo a seguir seria a vez da Associação Athlética da Bahia cair por 4 X 3. O próximo jogo seria contra o poderoso Ypiranga, que seria campeão invicto aquele ano, mas que não resistiu aos alvi rubros caindo por três à zero. Ainda restava o EC Vitória mas também perdeu por dois a um. O jeito foi organizar uma seleção baiana com nossos melhores jogadores, para aí sim, conseguir um empate heroico por um a um com o vice-campeão carioca que, no próximo ano, voltaria a ganhar o título daquele estado.
 Passariam dezoito anos para o América voltar a pisar as terras baianas. Estávamos no fim de fevereiro de 1939, quando, enfim se terminava o rumoroso certame baiano do ano anterior. Este teve dois campeões, com o EC Bahia vencendo o “segundo campeonato” apenas três semanas antes do time rubro chegar. Os americanos, porém, não estavam em boa fase. No Campeonato Carioca, que se iniciaria um mês depois do clube deixar a Bahia, obteria apenas um modesto quinto lugar, chegando a perder de sete a um do CR Flamengo (!) que se sagrou campeão. Ainda assim, os primeiros jogos foram muito disputados.
Na estreia contra o Botafogo (campeão de um dos certames do ano anterior) perdeu por dois a um. Logo a seguir venceu pelo mesmo placar o Galícia, vice-campeão deste ano, e empatou em dois gols com o Ypiranga, que paparia o título alguns meses mais tarde.  O jogo final foi contra o Bahia, onde jogava o futuro artilheiro do campeonato, Vareta, e que golearia o América por quatro a um.
O clube faria uma vitoriosa excursão ao Norte e Nordeste seis anos depois mas não viria à Bahia. Aqui só pisaria em 1948, um mês após o meu nascimento, quando estavam construindo a Fonte Nova e o campeonato parou pra ver o América jogar no acanhado campo da Graça. A excursão, entretanto, foi rápida, com o time rubro fazendo somente dois jogos, onde ganhou de 6 X 5 do Galícia (que seria vice-campeão aquele ano) e arrasando o Ypiranga, do artilheiro Pequeno, por seis a dois. Não jogaria com o EC Bahia que seria o campeão. Dois anos depois, os “diabos rubros” iriam até a região Sul do estado onde dariam de cinco nas seleções ilheense e itabunense. O mercado de futebol da região do cacau o atrairia, voltando seis anos para derrotar novamente a seleção de lhéus pelo placar mínimo, e enfrentar o EC Bahia (1 X 1).
                                                        Fonte Nova nos anos 50
O América pisaria pela primeira vez o campo da Fonte Nova em 15 de agosto de 1957, onde venceria o EC Bahia em partida amistosa por dois a um. Voltaria de novo, antes que se completasse um ano empatando (1 X !) com o mesmo adversário. Na revanche porém, uma tragédia para o clube, que sofreria sua maior derrota em terras baianas: cinco a dois.
Nos anos 60 faria amistosos e disputaria importante torneio na Bahia. Estaria de novo em Ilhéus em fevereiro de 1960 onde derrotaria em partida amistosa o Colo Colo por três a um. Na Fonte Nova, ás vésperas do São João de 1963, ganharia de novo do EC Bahia, desta vez pelo escore mínimo. O clube alvi rubro ainda iria a prospera cidade de Vitória da Conquista em agosto de 1966 onde derrotaria por duas vezes a seleção da cidade, por 5 X 2 e 2 X 0.
Mas seria nesta década que o América conseguiria a sua maior vitória simbólica na Bahia.  Estávamos no famoso ano de “68”, onde tudo se poderia esperar, e era o segundo ano do governo de Luiz Viana Filho. Decidiram então organizar um torneio de peso pra comemorar o dois de julho, data magna dos baianos, por ter sido neste dia que se consumou a maior vitória brasileira durante a guerra movida em 1822/1823 para a separação do país de Portugal. Assim, convidaram a dupla BA-VI e os cariocas Flamengo e América. Tudo se passou em apenas três dias. A primeira rodada foi no dia 30 de junho, quando o EC Bahia venceu o Flamengo pelo escore mínimo, e os “diabos rubros” derrotaram o Vitória por dois a um, marcando Valdo e Edu, enquanto Betinho descontava para os rubro negros.

A decisão seria no próprio 2 de julho. As coisas na véspera já estavam estranhas, e eu e meu irmão “Toínho” decidimos não ir, mesmo tendo assistido o primeiro jogo, em solidariedade ao Vitória. É que o clube abandonou o torneio por divergência com a cota estipulada para os jogos, sendo substituído pelo Galícia. A situação levou a inédita situação de um quadrangular contar com cinco clubes. Só mesmo na Bahia! Mas o azulino só serviria para assegurar uma derrota completa dos baianos nesse dia, ao perder para o Flamengo por dois a zero. 
Tudo estava preparado para a vitória do tricolor na partida principal. Ouvi pelo rádio os americanos se agigantarem em campo deixando poucas oportunidades para o tricolor. Nesse dia confesso que fiquei em dúvida. Para quem torceria, contra o nosso arquirrival ou a favor das tradições populares da Bahia? O certo é que Suquinha, e, de novo, Valdo, humilharam os baianos, derrotando o EC Bahia por dois a zero. Graças ao América, nesse dia nunca mais seria organizado na Fonte Nova um torneio com clubes de fora.
Depois desta partida entraríamos na era dos certames oficiais, com poucos amistosos. No Torneio Roberto Gomes Pedrosa (“Robertão”), o América enfrentaria por duas vezes o tricolor baiano, ganhando de goleada na Fonte Nova a primeira (4 X 0) e empatando sem gols no “Batistão” em Aracajú. Logo depois seria a vez dos campeonatos brasileiros.  Na Primeira Divisão, entre 1971 e 1988, seriam disputadas quatorze partidas entre baianos e “americanos”.  O América obteria quatro vitórias, seis derrotas e quatro empates, jogando no Maracanã, em São Januário e na Fonte Nova. No nosso histórico estádio ocorreriam nove partidas, sete contra o EC Bahia e duas contra o EC Vitória:

As do Bahia foram: América 3 X 1 (1.9.1971), 0 X 0 (13.9.1972), Bahia 2 X 1(7.10.1973), Bahia 1 X 0(11.5.1974), Bahia 2 X 0(10.11.1977), América 2 X 0(13.2.1985), e Bahia 2 X 1(18.12.1988). Já as do Vitória foram: Vitória 2 X 0(26.11.1972), 0 X 0 (2.9.1988). Como curiosidade houve ainda um jogo pela Taça de Prata 1982 em São Januário no dia 3 de fevereiro onde o América derrotou o Leônico por quatro a um. Houve ainda alguns raros amistosos na Fonte Nova, a exemplo de Vitória 0 X 0 América (10.11.1971), e Bahia 0 X 0 América (4.12.1982). Registre-se nesta era torneios realizados no interior, em agosto de 1978 em Itabuna (onde o clube sofreria sua única derrota na região do cacau, contra o Itabuna pelo escore mínimo, e empataria com o Vitória por um a um), e em junho de 1985 em Vitória da Conquista (onde o América empataria sem gols com o Democrata (MG) e venceria o Serrano local por três a dois), neste último faturando seu segundo torneio na Bahia.
Eu veria o América jogar quatro vezes, em 1968, 1971, 1972, e em 1988. No entanto, não assistiria ao último jogo dos “diabos rubros” na Fonte Nova. A quarta vez foi apenas o seu penúltimo jogo, quando empatou sem gols com o vitória. Naquele tempo o meu clube era dirigido por Orlando Fantoni e tínhamos saudosos jogadores como o goleiro Borges, o volante Bigu e o atacante André Carpes. Lembro-me que tinha muita gente no estádio, deu quase umas trinta mil pessoas. 
Foi o nosso arquirrival tricolor que se despediu do América. Os 18.118 torcedores que assistiram ao jogo naquele 18 de dezembro sequer sabiam que estavam apreciando o futuro campeão da Copa União e a última partida do alvi rubro. Naquele dia os times entraram em campo com: (Bahia) Sidmar, Edinho, João Marcelo, Pereira e Paulo Robson; Paulo Rodrigues, Gil Sergipano e Zé Carlos; Bobô (Osmar), Charles e Marquinhos. O técnico era Evaristo de Macedo. (América) Paulo Vitor, Claudio Neves, Antônio Carlos, Anderson e Valmir; Jocenilton, Pedro Paulo; Fábio, Nival, Paloma (Álvaro) e Wagner. O técnico era Pinheiro. O último gol do América na Fonte Nova seria anotado por Valmir, enquanto Zé Carlos e Marquinhos fariam os da vitória do tricolor.


Já há 22 anos o América não vem à Bahia. Nos 46 confrontos anteriores haviam conseguido 23 vitórias, treze empates, e sofreria dez derrotas. Faria 89 gols e sofreria 55. Teria saldo no nosso histórico estádio, onde jogou 18 vezes, obtendo 7 vitórias, 5 empates e 6 derrotas, marcando 21 gols e tomando 18.
Por coincidência, neste período o clube viveria a pior fase de sua história com duas décadas irreconhecíveis, que registraria inclusive, no ano de 2008, a queda para a Segunda Divisão do próprio futebol carioca.  Como é que se sentem os torcedores americanos este ano ao ver os resultados de dois américas, o do Amazonas subir para a terceira divisão, e o de Minas Gerais subir para a primeira?
Mas nem tudo são trevas. Os “diabos rubros” já voltaram para a primeirona do Rio de Janeiro renascendo das cinzas. Falta voltar ao papel que lhe cabe na história. Será que aquele dia na Fonte Nova não foi um até breve? Não podemos esquecer a profecia de Lamartine Babo quando disse que o América ainda quer muito mais.

·         Agradeço as informações do site do América, da torcida rubra, do Wikipédia e do Flamengo, dos blogs RSSSF Brasil, História do Futebol, futipédia. globo.com, ultradownloads.uol.com.br. Sou grato também a critica do torcedor Walter do América, assim como as imagens de Fábio Paes, dos blogs injusticanao.blogspot.com, maismemoria.net,arquibol.com,flickr.com, brasilescola.com e futebolartebrasil.blogspot.com.

Um comentário:

  1. Parabéns pela matéria.

    Com torcedor do América, gostaria de fazer um reparo.
    O Leônidas da Silva "Diamante Negro" não jogou no América. Os Leônidas que jogaram no América foram:
    Sebastião Leônidas - 4º zagueiro - de fev. 1958 até fev. 1966.
    Leônidas da Selva (Manoel Pereira) - centroavante - de jun. 1952 até mar de 1959.
    Um abraço

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