sábado, 13 de novembro de 2010

Uma boa visita a SUDESB



Como informei neste blog há alguns dias fiz contato com o Sr. Aécio Pamponet Sampaio, diretor de operações de espaços esportivos da Superintendência de Desportos do Estado da Bahia-SUDESB.  Na oportunidade solicitei-lhe uma série de informações sobre a Fonte Nova e acesso à pesquisa dos materiais existentes.  Ele me atendeu gentilmente. Informou-me que o arquivo da instituição se encontra, provisoriamente, na Empresa Gráfica da Bahia-EGBA, e pediu algum tempo para fazer um levantamento da situação dos documentos.
Pois bem, ontem, atendendo a mensagem do coordenador Julmário Grisi, compareci a sede da mesma no Jardim de Allah. O atendimento esteve muito acima das minhas expectativas. O Sr. Aécio designou o Sr. Julmário para me acompanhar a alguns departamentos que poderiam responder as minhas demandas. Pude conhecer funcionários antigos como Geraldo Oliveira Dias (31 anos de casa), tiramos encaminhamentos sobre meus pedidos, fomos na Coordenação de Espaços Esportivos-CEE e pude fazer uma histórica entrevista com o arquiteto Liberato, um dos membros da comissão que fiscalizou a construção do anel superior da Fonte Nova entre 1969 e 1971.
O grosso do acervo da SUDESB ainda é obstáculo, pois se encontra desde a mudança da Vila Olímpica da Fonte Nova, embalado em caixas na empresa citada. Consegui, no entanto, com D. Ana Célia Paim (secretária administrativa da CEE) cópia de fichas indicando as pastas onde se encontra o espólio dos anos 2006 e 2007.  O próprio Sr. Julmário possui levantamentos antigos sobre o estádio que ficou de me dar acesso. Graças a Sra. Ana pude já ter acesso a diversas pastas e materiais que, se bem que recentes, já me dão assunto para alguns artigos sobre os últimos anos da Fonte Nova.  
Encerro este artigo com a importante entrevista realizada com o Sr. Manoel Joaquim de Aguiar Liberato de Mattos um dos quatro fiscais da construção do anel superior da Fonte Nova. Ele tem 41 anos na casa, de onde está aposentado há 14 anos. Diz, porém que “não consigo sair desta mesa”.  
A obra esteve subordinada a uma comissão da Secretaria de Educação que “fazia a licitação, botava pra trabalhar e fiscalizava”. Esta tinha como coordenador de obras Genar Coelho Costa, como chefe da fiscalização Artur de Magalhães Ferreira, os ficais Liberato, Eraldo, Oduvaldo e Eduardo, o pessoal de apoio Vicente e Raimunda (a única mulher do processo) e o motorista Francisco. 
Liberato confirma o início em 1969. Diz que
Diógenes (o arquiteto e urbanista Diógenes Rebouças) tinha previsto apenas alguns degraus a mais. Desmancharam isto porque não gostaram, entenderam que não era suficiente para os anseios da população. Aí eles pediram pra fazer outro.

Afirma que as licitações “foram feitas aos poucos. A media em que Diógenes ia terminando os projetos”. A obra foi dividida em quatro pedaços. A primeira etapa foi ganha por uma empresa de São Paulo, mas foi terminada pela Construtora Norberto Odebrecht mediante contrato.  A segunda etapa (Norte) foi feita pela COSAL, de Nilton Simas, que tinha um mestre de obras italiano, o Luigi Salas. A terceira etapa (Noroeste/Sudeste) foi feita pela Companhia Comércio, Imóveis e Construções – CONCIC, e incluía a Tribuna de Honra. Já a quarta etapa (Sul), foi feita também pela Odebrecht, agora por licitação.  
Esses trechos são referenciados pela engenharia civil, mas, no entanto havia outras tarefas e encarregados feito por empreiteiros. Estes trabalhavam para o estado e eram também fiscalizados pela comissão. Lembra-se da ANGALDI, do engenheiro e professor Reuter, (que ensinava matemática no Colégio da Bahia) que fez o campo, sob a fiscalização de agrônomos.  Da EDNOR, que cuidou da instalação, serviços elétricos e de iluminação. Da EMBACIL dos irmãos Carvalho (de meu pai Franklin e meu tio “Zeca”) que fez serviços elétricos, administram abaixo das arquibancadas e trabalhos de construção. Havia ainda subempreiteiras para serviços menores. 
A obra durou aproximadamente, de setembro/outubro de 1969, até março de 1971. O arquiteto observa que ainda ficou faltando alguns detalhes. Lembra que “a estátua do rei Pelé foi inaugurada com o modelo de gesso”, e que o placar “veio muito tempo depois”. Foi uma sobrinha do governador Luiz Viana Filho que fez a estátua, mas “aí derrubou na confusão(inauguração) e ela tirou para fazer à definitiva”. Diz que nem sabe onde está! Mas sabe que a SUDESB não pagou pela restauração, pois entendeu que quem devia pagar era a prefeitura.
Afirma que a comissão trabalhava muito. “Nós ficávamos lá das oito da manhã e não tinha horário pra trabalhar, às vezes saíamos dez da noite”. A Fonte Nova até então era administrada pelo DEFRE, que funcionava no Ginásio Antônio Balbino. Com as obras, entretanto, a administração não teve onde funcionar. “Depois é que viram onde iria ficar. Aí ficou no prédio que foi feito para o alojamento dos atletas". O Artur(chefe da fiscalização) ainda ficou vários meses, mas ele permaneceu. Ficou nesses dois anos pela Secretaria de Educação, depois na Vila Olímpica, entre 1971 e 1983, e, desde quando foi criada a SUDESB em 1983, até hoje.
Conta curiosidades que dão a dimensão do significado da enorme ampliação do estádio.
Era cheio de casas na encosta e tivemos de desapropriar todas, inclusive as de Dona Anfrísia Santiago. Os moradores alugavam os quintais pro pessoal assistir o jogo.
Lembra que antes do estádio ser inaugurado,
A preliminar começava lá pra uma hora da tarde e terminava as três, e depois vinha o jogo principal que terminava lá pras cinco, cinco e meia. Às vezes nem acendiam os refletores, que eram tão ruins que às vezes não adiantavam. De dia a bola era marrom, mas de noite a bola era branca.
Não aguentei e lhe perguntei como foi o desastre da inauguração. Liberato tem opiniões importantes sobre o ocorrido. Afirma que “o estádio começou(1971) com uma tragédia e terminou com outra. Começou com morte e terminou(2007) com morte”. Confirma minha opinião de que foi o maior público da história da Fonte Nova. Diz que “colocamos 90.000 ingressos pra vender, o pessoal arrebentou os portões”. Lembra que “quando descemos para os portões” pra dar segurança “um guarda saiu correndo” quando viu a multidão que queria entrar. Fala em 140, 150.000 pessoas.
Testemunha que veio um grupo de segurança da presidência da república uma semana antes e que percorreu com eles a área do estádio. Eles “mandaram fechar os apartamentos juntos do estádio. Não ficou uma janela aberta”. Aliás, quando acompanhava o vento fez com que o lixo da varrição lhe atingisse os olhos. Isto lhe afetou por alguns dias. Foi por isto que saiu do estádio antes do segundo jogo Vitória X Grêmio na inauguração de quatro de março de 1971
Só quando chegou a casa é que lhe disseram “o estádio está caindo”. Mas não acreditou. Ainda deu pra ver as pessoas caindo “como cachoeira”. Naquele tempo havia sido instalado sistema de auto falantes que ficaram acalmando as pessoas. Derruba também a versão que foi divulgada daquela época por uma imprensa censurada, de dois mortos e dois mil feridos. “Para ele morreram mais de cem pessoas”. Diz que o general-presidente Médici “foi lá no Pronto Socorro(que na época funcionava no bairro do Canela)e saiu uma foto no jornal com o pessoal no chão”. No outro dia viu que "a multidão arrebentou os torniquetes(presos em concreto)no peito”.
Afirma que a Praça de Esportes da Bahia - PEB foi criada para o esporte amador. Quanto ao estádio diz que “ele ultrapassou a finalidade dele”. Vai buscar em sua ajuda o próprio Diógenes Rebouças que lhe disse uma vez,
- Oh Liberato, eu não volto mais aqui. Vocês estão desfigurando todo o meu projeto!
Lembra que o formato da ferradura “era pra ser assim mesmo”, pois o arquiteto queria que fosse aberto para dar a visão do Dique do Tororó. Em relação ao estádio lamenta que não tenha sido aproveitado, que “não teve uma requalificação”.
Após a entrevista me despedi de todos. Agradeço aqui a recomendação do Sr. Aécio Pamponet, e a atenção com que fui recebido naquela casa pelos funcionários Sr. Julmário, Sr. Liberato e Sra. Ana, que deixam seus afazeres e se desdobram para atender os meus(insistentes) pedidos.

* Agradeço as imagens dos sites correio24horas.com.br e sudesb.ba.gov.br, e do blog barropreto.comunidade.blogspot.com.

2 comentários:

  1. Parabéns pelos comentarios, e entrevistas que resgatam a memória de parte da história da cidade do Salvador. Os depoimentos de pessoas que viveram Àquela época enriquecem a materia postada e avaliza as informações.
    Adorei

    ResponderExcluir
  2. Acho muito rico de informações e super interessante esse Blog.

    Porque?
    A memoria no Brasil é muito pobre e o brasileiro esquece tudo muito rápido.

    Por isso acho importante lembrar fatos importantes que aconteceram e que não estão registrados e são importantes porque pertencem a história da cidade do Salvador e de um ÍCONE QUE FOI O ESTADIO DA FONTE NOVA.

    O estádio pode ter sido implodido, mas a memória dos fatos que ali aconteceram estão vivas, com certeza ,na mente dos seus frequentadores.

    Mas , para aqueles que não vivenciaram esses fatos,que hoje pertencem à história daquele local, o conteúdo desse Blog vai contar a história para eles; vai também avivar a memória daqueles que vivenciaram os fatos mas não os tinha mais na lembrança;vai ficar registrado para consulta de pessoas que no futuro queiram escrever também sobre o assunto; teses de universidades; trabalhos de faculdade;etc

    Você como históriador está fazendo um excelente trabalho, em todos os sentidos.

    Quem sabe outros " locais" da cidade possam também ser lembrados, por você, no blog. Nós leitores vamos agradecer

    ResponderExcluir