Os artigos sobre o Ginásio Antônio Balbino, o “Balbininho”, são ainda poucos neste blog. Ciente desse problema procurei descobrir a data de sua inauguração durante muito tempo. É que as informações que eu tinha não conferiam. Primeiro me disseram que tinha sido em 1957, e com um jogo de basquete entre paulistas e baianos. Depois me falaram que na abertura ocorreu a queda do forro que cobria o ginásio ocasionando muita correria e feridos. Ainda estou investigando esta tragédia que, seguramente, não foi no dia da inauguração.
Há dois meses pesquiso, dia após dia, os jornais entre 1957 e 1959 para tentar descobrir. Mas nesta semana matei a charada! É que me lembrei de que, tal como o estádio, o ginásio deveria também ter sido inaugurado em vésperas de eleição. Isso reduziu em muito a procura passando me concentrar no mês anterior as eleições de três de outubro de 1958. Foi assim que me deparei com meu objeto de desejo, a inauguração do Ginásio Antônio Balbino, então um dos maiores do Norte e Nordeste do país. Tal como a de 1951 esta traz inúmeros ingredientes políticos que passo a contar a vocês.
Nas eleições de 1958 estava em jogo quem iria ser o próximo governador e os parlamentares que atuariam “em prol dos baianos” (vocês acreditam?). No ringue dos peso pesados batiam-se o candidato oficial, o engenheiro Pedreira de Freitas, e o ex-governador Juracy Magalhães. Entre os muitos candidatos a deputado, disputava uma cadeira na Assembleia Legislativa o futuro governador Antônio Carlos Magalhães, que viria a ser líder do próximo governo.
Acompanhei a refrega pelo Diário de Notícias que, como já falei aqui, era integrante da Cadeia dos Diários Associados do jornalista Assis Chateaubriand. Percebi que o veículo fazia de tudo para equilibrar-se em meio da disputa. Como devia ter suas informações da correlação de forças contra o candidato de Balbino reservava a primeira página para Juracy que, em setembro, ocuparia por oito vezes um terço da sua primeira página para a sua propaganda eleitoral que anunciava “Um homem para reerguer a Bahia”. Para Pedreira ficavam outras páginas, de preferência a terceira e a quinta.
No começo do mês de setembro a campanha do candidato oficial intensifica-se no interior do estado, ao mesmo tempo em que o EC Bahia estreia bem em Maceió, quando obtém vitória de dois a zero contra o CRB. Me lembro da campanha de Juracy. Pelo menos da musiquinha:
Cacau, petróleo, Paulo Afonso
as riquezas da Bahia
tem nas mãos de Juracy
sua grande garantia(...)
Para a Bahia governar
em Juracy vamos votar
Vije! Esconjuro! Bato na madeira! Mas, voltemos a nossa história de hoje. Em sete de setembro comemorou-se o chamado grito do Ipiranga (não confundir com o do simpático clube auri negro) com muita política e o jogo Galícia X Ypiranga na Fonte Nova. Logo depois estoura o escândalo do cheque denunciado pelo deputado Nelson Sampaio na Assembleia. O episódio teria imediata resposta de Balbino, que faz publicar na primeira página do DN uma matéria paga onde expõe um fac-símile de cheque e recibo que, segundo o jornal, provariam que o cheque de 16 milhões a favor do Instituto de Fomento Econômico da Bahia jamais foi emitido. Foi neste dia que o EC Vitória perderia a liderança do turno ao ser abatido pelo Fluminense de Feira de Santana por três a um. Na imprensa continuava o “chumbo grosso” com munição dos dois lados.
Cacau, petróleo, Paulo Afonso
as riquezas da Bahia
tem nas mãos de Juracy
sua grande garantia(...)
Para a Bahia governar
em Juracy vamos votar
Vije! Esconjuro! Bato na madeira! Mas, voltemos a nossa história de hoje. Em sete de setembro comemorou-se o chamado grito do Ipiranga (não confundir com o do simpático clube auri negro) com muita política e o jogo Galícia X Ypiranga na Fonte Nova. Logo depois estoura o escândalo do cheque denunciado pelo deputado Nelson Sampaio na Assembleia. O episódio teria imediata resposta de Balbino, que faz publicar na primeira página do DN uma matéria paga onde expõe um fac-símile de cheque e recibo que, segundo o jornal, provariam que o cheque de 16 milhões a favor do Instituto de Fomento Econômico da Bahia jamais foi emitido. Foi neste dia que o EC Vitória perderia a liderança do turno ao ser abatido pelo Fluminense de Feira de Santana por três a um. Na imprensa continuava o “chumbo grosso” com munição dos dois lados.
Antônio Balbino. Só achei pequeno assim.
No dia dez o DN anuncia o apoio de líderes sindicais a Pedreira. E somente no dia quatorze de setembro anuncia a inauguração do ginásio, prevista para ocorrer entre 23 e 24 deste mês. A obra estaria “quase concluída” podendo comportar cinco mil pessoas (tranquilamente sentadas) em seus 18 lances de escadas. Embora a programação ainda não tenha sido definida, informa-se da realização de diversas competições e a apresentação da Companhia Brasileira de Folclore. Cinco dias depois a divulgação da campanha do deputado ACM também vai para a primeira página do Diário de Notícias.
Na consulta do jornal estranhei a absoluta ausência de divulgação dos momentos finais da obra que se reputa da maior importância esportiva para a Bahia. Mas, voltemos à cronologia. No anunciado dia 24 “neca de pitibiribas”, apenas a vitória (difícil!) do Bahia contra o Guarany por dois a zero. Não teria dado tempo pra acabar antes da eleição?
O "bi" ou "tri" governador Juracy Magalhães
Mas era só a minha impaciência. A inauguração ocorreria no dia seguinte, só sendo coberta pela imprensa na edição do dia 26 de setembro. Fiquei triste de não me lembrar de nada. É sinal que “painho” não nos levou. Será que estava viajando na época, afinal eu já tinha dez anos! Na ocasião o Diário de Notícias afirma que grande multidão assistiu a solenidade. Observa a presença do governador Antônio Balbino, do candidato Pedreira de Freitas, e do secretário de Viação Josafá Borges, pois era á pasta deste último que esteve afeta a construção do ginásio. O governador teria recebido grande ovação desde que apareceu no alto das escadarias do ginásio, sendo
uma das mais concorridas homenagens já prestadas a um homem público na Bahia
Difícil de acreditar é que os aplausos teriam acompanhado o seu trajeto até quando se acomodou como afirma o jornal. Logo após deu-se o discurso do secretário Josafá Borges e a benção do equipamento pelo famoso Cardeal da Silva. Não “rolariam” as competições especuladas pelo DN ficando a noite entregue ao grupo folclórico que brindaria os presentes com belíssimas apresentações de dança e musica popular e ofertaria uma corbeille de flores ao governador, ocasião em que se renovaram os aplausos.
A avenida que é agora do cardeal em Salvador
Mas confesso que uma coisa me incomodou ao ler o jornal. É que na primeira página não havia nada, ficando a matéria da inauguração circunscrita á um pequeno espaço na página cinco. Como dar apenas esta divulgação a uma obra que constou do próprio balanço esportivo feito pelo DN em primeiro de janeiro como um dos destaques do ano? O governo havia conseguido inaugurar o ginásio a apenas oito dias da eleição. No entanto, as disputas políticas “neutralizaram” certos veículos de imprensa que acabaram não dando a divulgação que a obra merecia.
No rastro do estádio, que havia sido inaugurado sem condições, procurei no resto do mês de outubro por jogos e evento, mas seria frustrado o meu esforço. A inauguração do ginásio levanta a questão: será que foi mais um que abriu mas logo fechou para terminar as obras?
O último campeonato de karatê no "Balbininho"
Após a inauguração a vida seguiu seu curso. No sábado o “emocionante” jogo onde o Galícia ganharia do Botafogo pelo escore mínimo. No domingo, apenas três dias depois, Balbino e seu candidato realizariam comício no Largo do Tanque. Foi o dia em que o Galícia achou pra começar a curta temporada do Bangu na Bahia. Na ocasião um empate com o Vitória em um gol perante um público que traria para as bilheterias do estádio uma renda de cento e setenta mil cruzeiros e fração. Beto marcou para o alvI rubro carioca e Matos empatou para o decano graças ao que teria sido uma falha do goleiro banguense.
As eleições estavam marcadas para a próxima sexta feira, três de outubro, no entanto ainda daria tempo pra muita coisa no futebol e na política. Na quarta feira Bangu e Galícia empatariam sem gols fechando a excursão carioca. Na quinta um escândalo esportivo tem quase tanta repercussão como as eleições. É a ameaça de rompimento de relações entre Bahia e Vitória por causa do jogador Iga. Este, que vinha de Jequié para o tricolor, havia sido bypassado pelo Vitória no avião assinando contrato com o rubro negro. Como era de se esperar os leões da Barra negam e passou-se as eleições neste clima. No fim das contas ficou o dito por não dito, ou o feito pelo não feito!
No domingo, enquanto os jornais dão os primeiros resultados eleitorais (que começam a se inclinar pra Juracy) o Bahia ganha do Botafogo por um a zero mantendo-se na liderança do certame daquele ano. As expectativas com a alternância de títulos da dupla BA-VI começam a ir pro “beleléu” pois o tricolor iria em breve comemorar o bicampeonato.
O que sobrou do nosso querido ginásio
destruído por causa de um estacionamento
Passada a inauguração e a eleição a desgraça viria a cavalo. Na primeira quinta feira morreria o Papa Pio XII consternando fiéis na Bahia. Já as apurações só resistiriam até a outra semana quando o governador Balbino reconhece a derrota. No próximo ano Juracy emplacaria mais um mandato de governador. Para alguns, que contam desde a intervenção de 30, seria "bi", e, para outros, que consideram as "eleições" de 1934, seria "tri".
· Agradeço ao Setor de Periódicos Raros da Biblioteca Central do Estado (Coleção Diário de Notícias). Sou grato também as imagens dos blogs pensar grande, nonhores.com, jornalatarde.com e shobukan.com.br.
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