quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O suicidio de Getùlio e a Fonte Nova

                                   
Ufa, chegamos em Buenos Aires! Mas foi um sufoco. Nosso voo de Salvador foi cancelado e tivemos que esperar horas no aeroporto. O segundo voo atrasou tanto que iamos perder a conexáo em Sáo Paulo. O jeito foi pegar um terceiro voo pelo Rio de Janeiro. Mas quando chegamos là náo tinha teto pra pousar e aì ficamos meia hora rodando a cidade maravilhosa. Resumo: chegamos no hotel as uma e meia da manhá, 14 horas depois de sair de casa. Assim fica dificil de viajar! Bem mas vamos ao assunto de hoje. 

Outro dia eu estava repassando os fatos que antecederam ao trágico suicídio do presidente da república Getúlio Vargas. Acompanhei então as edições do antigo Diário de Notícias, veículo dos Diários Associados do empresário Assis Chateaubriand na Bahia. Surpreendi-me que somente a partir de 24 de julho começasse a destacar a crise política do país. A manchete tem conotação governista ao assinalar a descoberta de um plano visando assassinar chefes militares e o próprio Getúlio.

Vinte dias antes da morte do presidente o jornal destaca a visita do ator francês Jean Luís Barrault á Bahia. E, três dias depois, admite em manchete de primeira página que “é delicada a situação no país”. Nos próximos dias o jornal alternará reportagens que apostam na unidade das forças armadas, ao tempo em que divulga a campanha do candidato a governador Antônio Balbino.

No dia 10 de agosto anuncia a dissolução da guarda pessoal de Vargas que é substituída por forças militares. Nesse dia passa o Cine Excelsior o filme Só resta uma lágrima com Olivia de Havilland (lembram-se?). O atentado da Rua Toneleiros em Copacabana ocupa praticamente todas as edições, e, acredito, a opinião pública da época. Foi cometido, afinal, contra o jornalista Carlos Lacerda, principal opositor do presidente, morrendo na ocasião o Major Vaz.

Todos os indícios se voltaram para o gabinete presidencial. A cada instante as pressões aumentavam contra o presidente que estava longe de ter poucos inimigos. A participação dos baianos no episódio esteve longe de ser desprezível. Houve uma gigantesca manifestação no dia 12 promovida por uma frente muito ampla que incluía desde o ex-governador Octávio Mangabeira, passando por Nestor Duarte e pelo Centro Acadêmico Ruy Barbosa que, falando pelos estudantes, exigiu a renúncia de Vargas. O jornal, mudando de linha, anunciaria a presença de cem mil pessoas no ato, número discutível se pensarmos que a população de Salvador nesta época era de 417.325 pessoas. Mas Vargas reafirmava que não sairia do cargo de jeito nenhum.
Dez dias antes do desenlace ocorre um BA-VI na Fonte Nova. O jogo era decisivo para as pretensões do EC Bahia no turno mas o goleiro Nadinho com grande atuação concorre para a eliminação do tricolor no empate sem gols. Durante o jogo a política esteve presente no nosso histórico estádio, quando um avião do Aero Clube (lembram-se?) sobrevoou o campo soltando panfletos com os retratos dos autores do atentado pedindo colaboração para a prisão dos criminosos. Três dias depois ocorreria o comício de Balbino no bairro do Engenho Velho.

Na semana decisiva os jornais divulgam que a qualquer momento podia ser descoberto o autor intelectual do crime já que os autores materiais saltavam aos olhos. A 21 de agosto o Bahia empata em um a um seu amistoso com o Galícia. No outro dia o Diário de Notícias estampa a manchete de primeira página

Muito delicada a situação do país

No mesmo dia o Vitória enfrenta o Botafogo numa espécie de turno extra. O jogo é sensacional, concorrendo expressivo público que levou uma renda de mais de cem mil cruzeiros para as bilheterias da Fonte Nova. Os assistentes não pareciam estar nem aí para a crise nacional. Jaime abriria o placar para o rubro negro que manteve o escore quase até o fim quando Teco do Botafogo fez um gol sensacional “de bicicleta” a apenas dois minutos do final. A partida teve que ir para a prorrogação. O primeiro tempo desta terminou sem gols mas um lance fortuito decidiria para o alvi rubro quando um chute do seu ataque resvalaria em Dedeu e entraria no gol de Nadinho.


Na véspera Getúlio anunciava categórico:

Só  morto sairei!

Vários militares de todas as forças exigem sua renúncia. Desta vez seria diferente de nove anos antes, no final da Segunda Grande Guerra, quando sua renúncia foi acordada. No outro dia o boa parte do Diário de Notícias seria ocupada com o suicídio e as repercussões do episódio. Mostra claramente o recuo dos que antes pressionavam o presidente face à comoção nacional. As manchetes assinalam “O povo chora a morte de seu presidente”. “Café Filho procura formar governo de coalizão nacional”. “Dia de luto no território nacional”.

A crise política porém, vinha pra durar. Uma missa de sétimo dia pelo falecimento do presidente atrai enorme multidão na Igreja da Candelária no Rio de Janeiro. Na Bahia grande público prestigia a convenção e comício do PTB, cujo candidato ao governo Antônio Balbino, procura capitalizar o sentimento popular em prol de Vargas. Nas páginas de esportes, porèm, noticias mais prosaicas. É anunciado que o Vitória trará  novo técnico. O Botafogo decidirá com o Ypiranga o super turno. Pouco depois a vida continua, começa outro torneio quadrangular, desta feita com a presença do Santa Cruz de Recife. Mas isso é assunto pra outro artigo! 
  • Agradeço as informações de Guaraci Adeodato de Souza e Marc Herold. Soun grato também as imagens dos blogs sinopsedolivro.com e ericksilveira.blogspot.com.

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