Foto do estádio no dia da inauguração?
* Ao engenheiro Nilton Simas
Em um artigo postado neste blog há mais de um mês dei informações sobre as origens da Fonte Nova e as intenções de seu projetista o arquiteto e urbanista modernista Diógenes Rebouças. Disse que os ousados idealizadores imaginaram um centro onde se articulasse a prática esportiva à educação física, congregando futebol, o esporte amador, a ginástica, o atletismo, a natação as regatas, e um pavilhão de eventos esportivos. Em que a capacidade inicial e projetada da obra atendesse as perspectivas de crescimento de Salvador.
A ideia esteve, pelo menos, nas cabeças e nas bocas, desde o início dos anos 40, no entanto somente no pós guerra é que se pode coloca-la em prática, quando do assumimento do governo desenvolvimentista de Octávio Mangabeira e da inviabilidade prática mostrada nesses anos das acanhadas dependências e das arquibancadas de madeira do Campo da Graça, que receberia, inclusive, um FLA-FLU.
As pressões políticas, entre as quais se inclui uma passeata, resolveram o problema, sendo criado grupo de Trabalho, lançado edital (agosto de 1947) e três meses depois colocada à pedra fundamental do estádio. A proposta apresentada a Secretaria de Viação e Obras Públicas previa uma construção em etapas, terminando em 1949, que além de ser véspera da Copa do mundo de 1950 comemoraria o quarto centenário de Salvador.
Hoje vou falar sobre a inauguração do estádio. Muita coisa já foi dito sobre ela mas não o suficiente. A maioria delas observa apenas os jogos que ocorreram, mesmo assim sem observar detalhes importantes. Esse esforço faz com que se apague o contexto do episódio que aparece como uma inauguração tradicional. Mas os acontecimentos de sessenta anos atrás estiveram longe de ser “normais”.
No dia seis de janeiro o Diário de Noticias estampava na página esportiva:
A Bahia terá afinal, um estádio
Uma leitura atenta da matéria, porém, perceberá que o jornalista acredita pouco que o estádio será inaugurado na data marcada, 28 de janeiro. Para isto também interferem motivações políticas. É que já havia sido eleito o novo governador, Regis Pacheco, e quem tinha o poder se despedia, embora fosse o maior interessado na inauguração antes que entregasse o cargo. Assim, esta foi marcada apenas três dias antes da sua saída do governo. Ou seja, foi um evento feito “a toque de caixa”. Basta uma leitura dos jornais da época pra perceber isto. Especulava-se por exemplo, o que estaria pronto no dia da inauguração. Poucos dias depois os jornais começam a usar a denominação de “inauguração simbólica” para intitular o evento.
Octávio Mangabeira visitou as obras do estádio no dia oito de janeiro. Foi acompanhado do secretário de viação, o engenheiro Pimenta da Cunha, e chefes da casa civil e militar. No outro dia se divulga que 450 operários estão trabalhando na obra e que o número será ampliado até o dia 28, quando está marcada a inauguração. Na ocasião é dito que as arquibancadas agasalharão dez mil espectadores. Só a dez de janeiro é que se informa que todos os clubes filiados á FBDT estarão na festa, o que mostra que a programação foi também definida de última hora. O governo anuncia que não serão cobrados ingressos, tendo os clubes reagido solicitando do governador um “módico auxílio” para se apresentar condignamente no evento.
O jornal dedica várias edições a esta polêmica que alterna situações quanto ao valor e quem receberia. Houve até um movimento contra o recebimento da quantia pelo EC Bahia pois colocaria time misto para a disputa uma vez que se encontrava em excursão. No final acabou saindo 150 mil cruzeiros, 15 mil pra cada um dos sete clubes e 45 mil para a federação (sic!).
A Ladeira da Montanha
No dia onze o Diário de Notícias eleva o seu cálculo admitindo que o estádio “poderá apanhar vinte mil pessoas”. Observa que a inauguração será parcial e que quatorze mil pessoas poderão ficar sentadas, oito mil nas populares e seis mil nas numeradas. A tribuna de honra será provisória e, uma boa noticia não prevista antes, é que os dois vestiários (árbitros e jogadores) estarão prontos. Nesse dia o cordato governador Octávio Mangabeira se excede ordenando o aumento da carga de trabalho dos operários para dezesseis horas por dia! No outro dia é anunciado o início do trabalho noturno e que o Conselho Arbitral da FBDT liquida de vez a pretensão dos clubes de cobrar ingresso.
No dia onze o Diário de Notícias eleva o seu cálculo admitindo que o estádio “poderá apanhar vinte mil pessoas”. Observa que a inauguração será parcial e que quatorze mil pessoas poderão ficar sentadas, oito mil nas populares e seis mil nas numeradas. A tribuna de honra será provisória e, uma boa noticia não prevista antes, é que os dois vestiários (árbitros e jogadores) estarão prontos. Nesse dia o cordato governador Octávio Mangabeira se excede ordenando o aumento da carga de trabalho dos operários para dezesseis horas por dia! No outro dia é anunciado o início do trabalho noturno e que o Conselho Arbitral da FBDT liquida de vez a pretensão dos clubes de cobrar ingresso.
Quinze dias antes da inauguração vem a público a informação de que o campo não terá as dimensões regulamentares. Esse assunto frequenta as edições até quando a CBD diz que apenas não tem “as dimensões olímpicas” mas que está apto às competições internacionais. O jornal informa que a população tem ido visitar as obras.
Só no dia 16 de janeiro sai à tabela dos jogos. A única forma de contemplar todos os clubes foi fazer uma espécie de torneio início onde entraram os sete filiados da federação. O puxa-saquismo, oh desculpem, a intenção de homenagear nossas autoridades foi evidente. Olhe lá:
1º jogo: Botafogo X Guarani Paraninfo: secretário de segurança pública
2º jogo: São Cristóvão X Ypiranga Paraninfo: secretário da fazenda
3º jogo: Galícia X Vitória Paraninfo: secretário de educação e saúde
4º jogo: Bahia X vencedor do 1º Paraninfo: secretário do interior e justiça
5º jogo: vencedor do 2º X vencedor do 3º Paraninfo: secretário de viação e obras públicas
6º jogo: vencedor do 4º X vencedor do 5º Paraninfo: prefeito da capital
Apenas cinco dias antes da inauguração é que seria demarcado o campo. E, três dias antes, saiu o “auxílio” do governo. Nesse dia houve uma reunião com o governador onde o pessoal das obras esteve representado pelo engenheiro Nilton Simas, que trabalharia também na ampliação da Fonte Nova entre 1969/1971 e morreria de desgosto pelas dividas não honradas pelo governo de ACM e assumidas por sua firma.
O Diário de Notícias informa que o governador inaugurará uma placa em homenagem a si próprio, e a nota oficial da FBDT onde está contido o regulamento do certame e a decisão de que o público somente entrará pela Ladeira da Fonte das Pedras, ficando a outra entrada para autoridades, funcionários e o pessoal envolvido nos jogos. Da leitura das edições que ficamos sabendo que foi colocado um portão de madeira para o acesso ao público. Dá pra imaginar as condições em que foi feita essa inauguração!
O evento teria uma “parada”, que começaria às 13 horas. As partidas seriam de vinte minutos com tempos de dez minutos sem intervalo. Só haveria exceção para a partida final, de tempos de meia hora cada um e com intervalo para descanso de dez minutos. Caso houvesse empate nas partidas os critérios de desempate seriam escanteios ou disputa de pênaltis após sorteio para ver quem inicia. Os árbitros seriam designados pela Associação baiana de Árbitros de Futebol.
Foi com curiosidade que acessei a edição do jornal da inauguração. Vi várias fotos na primeira página mostrando uma multidão e o governador Octávio mangabeira sob a manchete “Massa humana jamais vista na Bahia”. Mas chamou a minha atenção a existência de pessoas fantasiadas e a afirmação de que teriam comparecido cem mil pessoas! É que naquele tempo o jornal não circulava segunda feira e aconteceu do clube Vassourinhas de Recife se apresentar em Salvador na segunda feira abrindo o carnaval. Se concentrou no clube Cruz Vermelha do Campo Grande pra sair pela Avenida Sete. A PRA-4 transmitiu tudo.
(CONTINUO AMANHÃ FALANDO DO DIA DA INAUGURAÇÃO)
· Agradeço as informações de Luiz Eduardo Dórea, Marcio Correia, Ana Fernandes, Thiago Pacheco, do Setor de Periódicos Raros da Biblioteca Central do Estado (Coleção Diário de Notícias e Estado da Bahia) e do blog história do futebol.Sou grato ainda as imagens dos blogs flickr.com,futebolinternauta.blogspot.com,nublog.com.br,mgallo.zip.net e blogdoriovermelho.blogspot.com.
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