domingo, 2 de janeiro de 2011

Marta Rocha e a temporada esquisita do São Cristóvão

                          A inesquecível baiana Marta Rocha

Gente, só hoje que eu reparei que nao falei onde estamos hospedados aqui em Buenos Aires. É no simpático Avenida Petit Hotel! Ele fica na Avenida de Mayo, entre as plazas de Mayo e del Congresso, e ocorre de tudo por aqui. Até uns quinhentos metros para a esquerda há uma livraria anarquista, o hotel onde Gabriel Garcia Lorca se hospedou quando esteve em Buenos Aires em 1935, e uma comunidade indígena acampada reivindicando suas terras.

O Palácio Barollo, um prédio inspirado no poeta Dante Alighieri, fica na frente do nosso hotel, em cuja rua há ainda dois teatros. Anteontem passou na porta uma manifestacao com umas mil pessoas cobrando solucao para o caso do incendio culposo de uma boite onde morreram quase duzentas pessoas. É que ninguém foi punido até hoje. Está parecendo um certo país que conhecemos! Além disto Cybele me lembra que tem também ladroes pois fomos roubados por aqui!

Nosso hotel é realmente ¨petit ¨. A janela do quarto dá pra avenida. Tem uma cama de casal, uma televisao (com um controle sempre dificil de acionar), e um enorme ventilador no teto, que faz um barulho danado e estamos sempre esperando que caia em nossa cabeca. O ar condicionado depende da portaria ligar, o que só faz as noites. Mas, como saímos o dia todo, vamos levando!

Só conseguimos puxar a porta corredica do banheiro no quarto dia. Foi aqui que descobri, as custas da devassa na nossa intimidade, como é importante um banheiro com porta. Demo-nos, entretanto, por felizes pelo fato do quarto ter banheira. É que da última vez que aqui estivemos nao tinha e, quando tomávamos banho, o quarto ficava todo molhado tendo que perder um tempao enxugando.

São Cristóvão 1954. Em pé: Manfredo,Hélio, Haroldo, J.Alves, Severino e Mauro.Agachados: Geraldino, Sarcinelli, Cabo Frio, Ivan e Décio.

Bem, mas deixemos de enrolacao e vamos ao assunto de hoje, uma visita do Sao Cristóvao do Rio de Janeiro a Fonte Nova. Foi uma promoção do Galícia EC que, entre outubro e novembro de 1954, organizou um importante torneio sem taça onde trouxeram os alvos cariocas e o América do Ceará. Foi realizado  através de rodadas duplas e teve início em 30 de outubro.

Na preliminar o Vitória despachou o América por três a zero com três gols do artilheiro Juvenal. Na principal o jogo esperado. Era a primeira vez que o homônimo do São Cristóvão local pisava na Fonte Nova. Na oportunidade saiu-se bem. O desempenho do Galícia foi até elogiado pelo Diário de Notícias, mas não deu pra segurar os visitantes. Cabo Frio e Jota Alves marcaram para os cariocas, todos vestidos de branco, contra o gol do azulino marcado por Breno no finzinho do jogo. O Sao Cristóvao formou na ocasião com Hélio, Conceição, Jorge, Zé Alves e Valdir; Décio e Jota Alves; Nelsinho (Cabo Frio), Santo Cristo, Cosme e Carlinhos. A renda foi de 93 mil cruzeiros e o juiz foi Willer Costa.

Quatro dias depois outra rodada era realizada. A expectativa havia crescido e agora jogaria contra o EC Bahia, que seria campeão baiano daquele ano. Um grande público compareceria ao estádio trazendo uma renda de 230 mil cruzeiros. Além dos dirigentes esportivos e políticos de sempre se faria presente nada menos do que Marta Rocha, que poucos meses antes ficaria em segundo lugar no Miss Universo, vice que até hoje os baianos não engoliram.

Ela demorou pouco. Mas o tempo que passou deu pra deixar o pessoal “babando”. Estava vestida de vermelho e preto e conduziu por certo tempo o pavilhão do EC Vitória. Deu a volta na pista saudando a assistência, oportunidade que recebeu um “custoso presente” do Galícia. Pelo menos foi isto que disse o Diário de Notícias em 3 de novembro.

O time da colônia espanhola jogou na preliminar, perdendo de novo, agora para o América de Recife, pelo escore mínimo.  Na partida principal o placar se repetiria, mas desta vez favorável aos tricolores, com o gol assinalado através do atacante Lierte. A equipe do São Cristóvão perderia sua invencibilidade com Hélio, Conceição e Jorge; J.Alves, Valdir e Décio; Zé Alves, Cabo Frio, Santo Cristo, Cosme e Carlinhos.  


Na última rodada o time do santo ia jogar contra o Vitória, mas, por motivo de revanche, acabou jogando de novo contra o Bahia. Antes nao tivessem esta funesta ideia. A motivação do público não foi à mesma, trazendo aos cofres da Fonte Nova alguma coisa em torno de sessenta mil cruzeiros. Na preliminar o Galícia teve também sua revanche do América ganhando por três a dois. Mas na principal os cariocas acabaram arrasados pelo esquadrão de aço por cinco a zero!

Walter Costa foi o juiz, e os gols foram de Carlito, Foca (2), Naninho e, de novo, Lierte. Os brancos jogaram com Hélio, Conceição e Jorge; J. Alves, Valdir e Décio; Zé Alves, Santo Cristo, Cabo Frio, Cosme e Carlinhos. Já o Bahia atuou com Osvaldo (Gilbert), Chagas e Bacamarte; Ivan, Guiu e Rui; Foca (Lierte), Fontoura, Carlito, Naninho e Lierte (Isaltino).

A goleada, entretanto, não terminou com o cartaz do simpático time carioca na Bahia, tanto é que está sendo aqui lembrado nesta temporada de há cinquenta e seis anos atrás.

  • Agradeço as informações do Setor de Publicações Raras da Biblioteca Central do Estado (Coleção Diário de Notícias). Sou grato também as imagens e fotos do Museu dos Esportes e bahiaminhavida.futblog.com.br.

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