quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O baixinho genial da Fonte Nova

                                  Davi vencendo Golias

Galdino Antônio Ferreira da Silva
Desportista e colaborador dos blogs História do Futebol, Memórias da Fonte Nova e Futebol 80.                                                                                       

É comum no futebol do Brasil ou do exterior um jogador atuar por um grande clube de massa e depois de ser negociado com outro clube de outra cidade, estado ou país, voltar para defender o clube rival do qual ele era visto como um terror para suas defesas. O que não é nada comum é esse jogador ter continuado a brilhar no clube adversário, e, mais ainda, de ter um lugar no hall da fama das suas torcidas. Osni Lopes é, com certeza, um dos poucos jogadores da Bahia que pode ostentar este galardão.

Foi um jogador que marcou época no esporte ajudando a derrubar todos os mitos em relação ao tamanho e ao físico do jogador para se jogar bola. Seu desempenho no futebol lembra o de outros baixinhos na guerra, na política e no cinema, tais como Davi, Napoleão e Dustin Hoffmann. Nascido em Osasco/SP em 13/07/1952 e revelado pelo Santos FC, foi emprestado ao Olaria em 1970 onde teve boas atuações em 1971 com o clube peixeiro negociando seu passe para o Vitória. Numa época de profissionalismo jogou em poucos clubes, Santos, Olaria, Vitória, Flamengo, Bahia, Maranhão, Santa Cruz e Leônico..

Na Bahia, quando apareceu no gramado foi uma verdadeira surpresa. Mas como um baixinho daqueles iria conseguir se livrar dos “sarrafos” dos zagueiros? Bastaram, porém, poucos minutos de jogo pra Osny cair nas graças da torcida rubro-negra com seus dribles que humilhavam os marcadores e muitos gols. O “baixinho” foi um dos grandes nomes da equipe do Vitória na conquista do título baiano de 1972, ao lado de André Catimba, Mario Sérgio, Gibira e Almiro.

                                Um outro baixinho famoso!

Nas tardes de domingo a Fonte Nova pegava fogo quando David, digo Osny, enfrentava verdadeiros Golias, Juca (lateral do Atlético de Alagoinhas) ou Romero (do EC Bahia). Houve um BAVI que só faltou sair faísca quando o baixinho arretado fez fila na defesa tricolor e, ao chegar à linha de fundo, voltou aplicando novos dribles sobre Romero. Ai aconteceu uma coisa inusitada quando ele sentou na bola e chamou a defesa do Bahia para novas fintas. O lateral do Bahia perdeu completamente o controle e agarrou Osny pela sua longa cabeleira e um “sururu” foi formado com a confusão gerando várias expulsões.       

                          Osny enfrentando seus marcadores

Em 1974, mesmo jogando por um clube do Nordeste, foi eleito “bola de prata”, ganhando o prêmio de a Revista Placar como o melhor ponta-direita do futebol brasileiro. Até 1976 havia marcado 85 gols com a camisa do Vitória quando foi negociado para o Flamengo.

Depois de se despedir da torcida baiana em 1976 com a perda do título baiano para o Bahia, Osny desembarca de volta ao Rio de Janeiro, para defender o Flamengo, lá apesar de disputar a posição com Tita, ele teve boas atuações no time de Zico e Cláudio Adão, jogando 63 partidas e fazendo 18 gols pelo “Mengão”.


                                        Osny no EC Bahia(1982)

Dois anos depois voltou ao futebol da Bahia, desta vez para defender o maior rival do rubro negro, o Bahia. Não foi uma tão fácil ganhar a confiança da torcida que ainda tinha lembrança dos sobressaltos que lhe fez passar. Mas, logo na estreia ele tem uma atuação além das expectativas marcando um gol de pênalti, apesar da derrota tricolor por dois a um para o Guarani em Campinas. No jogo seguinte mais dois gols contra o CRB em Alagoas.

Nesta nova temporada baiana Osny sofreu horrores com a atuação dos defensores que passaram a marca-lo “no pau”. Passa a sofrer de seguidas contusões que quase o fizeram a abandonar o futebol. Em 1979 passou por momentos delicados, quando uma nova contusão no joelho o levou a mesa de operação. Foi aí que conheci o “baixinho”, fazendo fisioterapia pra fortalecimento do joelho na piscina da Vila Olímpica do Estádio da Fonte Nova com o saudoso professor Walter e o médico do Bahia Dr.Marcos. Osny supera mais este obstáculo, e quando volta faz boas partidas e outros gols. Pouco tempo depois, entretanto, sofre nova contusão que o leva de novo aos cirurgiões. No retorno ao clube é emprestado ao Maranhão.

Em 1980 ele retorna de novo pra Bahia. Está com a corda toda, e durante algum tempo parece mesmo no auge de sua forma. Porém, mais uma vez se contunde agora no joelho esquerdo, sofrendo sua terceira cirurgia. Parecia o fim mais o pequeno notável. Osny, porém sabia que tinha de vencer o Golias do departamento médico e voltar a ser ídolo da massa que acreditava nele e no seu futebol. É emprestado ao Santa Cruz em 1981. No retôrno, mesmo entrando no meio do campeonato, participa da decisão contra o Vitória com todo o gás, abrindo caminho para um novo tetracampeonato tricolor com o gol de empate que sacramentaria a “virada” através de outro baixinho, Gilson Gênio.

                                        Osny no EC Vitória (1973)

Volta a se destacar inclusive no Campeonato Brasileiro e, no próximo campeonato estadual, come literalmente a bola, voltando a consagrar-se frente à galera do Bahia. As bruxas, porém, já o perseguiam, fazendo com que durante o campeonato sofresse nova contusão que o deixa de fora dos jogos finais, mas não da festa do título invicto do tricolor.

Nos anos de 1983 e 1984, Osny é o destaque maior na equipe baiana, sendo artilheiro nos campeonatos que disputa. Faz gols de falta, de pênalti, de cabeça (mesmo sendo baixinho!), de fora da área, de canhota, de direita, de tudo quanto é jeito. Chegou a ser o “chefe” do time dentro e fora de campo quando da saída do treinador Zé Duarte. Na ocasião ele assume o comando do time no quarto turno (que tinha Serrano, Catuense e Bahia como vencedores dos turnos anteriores) e leva a equipe á conquista do último turno e do campeonato para delírio da massa tricolorida na Fonte Nova. No jogo decisivo do turno contra o Leônico ele faz o terceiro da goleada por 4 a 1.

Mas faltava um gol para voltar a ser artilheiro do campeonato ao lado do nigeriano Ricky do Vitória. Assim, na rodada final do quadrangular ele marca contra a Catuense o seu décimo quinto gol, pra fechar o ano com “chave de ouro”, como técnico, jogador e artilheiro do certame. Nesse ano só faltou fazer chover na Fonte Nova!

                         Um "baiano" adotado pela Fonte Nova

Mas o gol que lhe daria a artilharia foi também o ultimo dos 138 gol que marcaria pelo Bahia. Apesar de tudo o que fez pelo clube os dirigentes tricolores foram ingratos com o “baixinho” e, para a revolta da torcida, não renovaram seu contrato para a nova temporada. Iria encerrar sua carreira no Leônico. 

Esta homenagem que aqui lhe faço é também um depoimento, pois, se era pequeno na estatura, sempre foi um gigante dentro e fora do campo. Sua alegria contagiava a todos desde quando chegava ao clube. Fui jogador das divisões de base do Bahia em 1984 junto com Dico Maradona e pude ver isto pessoalmente. Osny sempre tratou de maneira especial a todos os jovens da base. Estava sempre presente nos treinos da garotada dos juvenis e juniores e dava o maior apoio e solidariedade a todos.


                                    Osny no Flamengo(1977)

Em 1986 eu estava com dificuldades de manter o peso ideal. Era do tipo Neto, meio gordinho mas bom de bola. Na época os técnicos Fantoni e Paulo Amaral, e jogadores mais antigos, me chamavam de Puskas. Tive também problemas no joelho.

Osny ganhou um título pelo Vitória em 72, e quatro pelo Bahia em 1981, 1982, 1983 e 1984. Marcou 223 gols pelos dois clubes. Proporcionou muitos momentos de amor e ódio na Fonte Nova entre as duas torcidas. Mas, se faz parte de um pequeno círculo de ídolos dos dois clubes como o goleiro Nadinho, o atacante Raul Coringa, o lateral Boquinha, os atacantes Carlinhos, Matos, Siri, o meia Uesléi, nenhum deles fez tanto pelos dois clubes como Osni, O PEQUENO GIGANTE DE DUAS GRANDES TORCIDAS.



Engraçado, não conheço uma só estatua de Golias enquanto as de Davi passaram a fazer parte do patrimônio da humanidade.

·         Fontes: Revista Placar e EC Bahia uma história de lutas e glórias de Carlos Casaes e Normando Reis e wikipédia. Fotos: Revista Placar, jornal A Tarde, almanaquedecomunicacao.com.br, sporttv.globo.com, serfranco.wordpress.com, enciclopedia.com.pt,flaguara.blogspot.com e spectrum.webolb.com.pt.




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