segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O dia em que um jacaré apareceu na Fonte Nova

 
                Oi ele aí, do Dique do Tororó para a Fonte Nova!

O Dique do Tororó é na verdade um lago que fica ao lado da Fonte Nova, mas cujas origens remetem a muito antes da fundação de Salvador. Tenha ou não tenha sido represado em tempos no tempo da guerra contra os holandeses o certo é que isto acabou acontecendo em meio aos aterros e contenções urbanas realizadas a partir do Século XIX e que reduziram seu tamanho as dimensões que tem hoje.
É um lago encantado que desde essa época foi adotado pelos afrodescendentes que o escolheram como ganha pão das lavadeiras e pra lavar presentes pra Oxum e Iemanjá, deuses das aguas doces e salgadas. Seu destino se tornou perene quando colocaram ali as obras artísticas retratando os orixás. De suas aguas emanaram fontes de energia insuspeitáveis para os clubes baianos quando construíram a Fonte Nova, especialmente pela ideia do grande arquiteto e urbanista Diógenes Rebouças de fazer o estádio em forma de ferradura possibilitando a que fosse integrado á paisagem e que os torcedores pudessem apreciá-lo.
Quando se acentuou a falta de manutenção da Fonte Nova no novo milênio conta-se que Iemanjá e Oxum ficaram irados. Esta crônica de hoje é pra contar o que esses orixás fizeram no dia onze de fevereiro de 2004 quando um jacaré saiu de suas aguas e adentrou no gramado do estádio.
O Brasiliense FC é um clube do Distrito Federal que tem apenas uma década. No entanto, neste curto espaço de tempo reuniu várias glorias. É o terceiro clube da cidade-estado a ter mais títulos, foi campeão da Segunda Divisão e vice da Primeira na Copa Brasil de 2002 quando só não ganhou o título graças à arbitragem encomendada que preferiu dar o título ao Corinthians, conquistando o acesso pra Primeira Divisão em 2004.
Clube-animal de papo verde, amarelo e branco suas cores imitam a bandeira de Brasília. É conhecido como “jacaré”, acabou por dar o nome do ant6igo estádio “serejão” que ganhou o apelido de “boca de jacaré”. Os orixás sabiam o que faziam quando o trouxeram aqui. É que como o centro de treinamento do clube fica localizado ao lado do Lago de Paranoá o Brasiliense se sentiu em casa na Fonte Nova jogando ao lado do Dique do Tororó.
A partida foi realizada apenas nove dias depois da data consagrada a Iemanjá e era decisiva pras pretensões de acesso do Bahia para a Primeira Divisão. Afinal, o Brasiliense vinha desfalcado e já tinha conseguido a vaga desde a semana anterior.   Se o tricolor conseguisse a vitória obteria o feito de descer num ano e subir no outro. Foi uma romaria nos terreiros pra convencer os orixás a não protestar contra o descaso do tratamento a Fonte Nova.  Pelo menos não neste jogo! Mas não teve quem convencesse as ialorixás.
                                                            Camisa usada em 2004
O público respondeu bem a partida decisiva comparecendo a Fonte Nova quase quarenta mil pessoas, que proporcionaram aos cofres da Fonte Nova a renda de 292.370 reais. Naquele dia os times jogaram assim. O tricolor de Vadão com Márcio, Ari, Leonardo, Reginaldo, e Bruno; Neto (William), Cicero, Rodriguinho (Luís Alberto) e Robert; Rena (Igor) e Neto Potiguar. Já o Brasiliense de Edinho (o mesmo técnico que havia descido com o Bahia no ano anterior) jogou com Donizeti, Jamur, Jairo, Durval e Possato; Deda Pituca, Jorginho e Fabrício (Rocha); Wellington Dias e Val Baiano (Igor).
William, que havia entrado ainda no primeiro tempo, abriu o marcado para o esquadrão de aço aos 4º minutos, mas Wellington Dias empatou de pênalti antes do intervalo. Fabricio “virou” aos 22 do segundo tempo com um belo chute “de primeira”, mas Igor, novo jogador que entraria no Bahia, empataria oito minutos depois com um chute de fora da área.  A alegria da torcida tricolor duraria pouco. Afinal, o amarelão havia sido mandado pelos orixás que davam assim o seu primeiro alerta aos responsáveis pelo abandono da Fonte Nova.
E foi assim que o zagueiro Jairo de cabeça, num cruzamento da linha de fundo, daria números definitivos no marcador aos 33 minutos do jogo que ainda teria Luís Alberto expulso. Não adiantou a pressão, pois Donizeti agora estava “de corpo fechado”. O Brasiliense subiria e obteria o maior titulo de sua história em plena Fonte Nova, enquanto o Fortaleza, ao bater o Avaí por dois à zero, ficaria com a segunda vaga.
Depois disto o clube de Brasília sempre seria um osso duro de roer para o Bahia. Nesse ano ainda se enfrentariam duas vezes e o tricolor não conseguiria ganhar na Boca do Jacaré, onde empatou em dois gols (27 de agosto) e perdeu de dois a um (seis de novembro). O Bahia iria descer pra Segunda e, depois, pra Terceira Divisão. No ano em que voltou pra Segunda a Fonte Nova havia sofrido a sua primeira morte. Voltariam a se encontrar em campo duas vezes, agora com vitórias tricolores, tanto em Feira de Santana como em Brasília, por um a zero e três a dois.
No ano seguinte o tricolor já estava em Pituaçu, onde conseguiria ganhar do jacaré por dois a um, mas perderia no Distrito Federal por convincentes três a zero.  E, finalmente, no ano passado, quando o Bahia conseguiu enfim depois de sete anos voltar pra primeira Divisão, não conseguiu ganhar do Brasiliense. Ainda lembrava-se do dia em que o clube foi protegido pelos orixás e empatou em Pituaçu por um gol sendo derrotado na “boca”, quando estava em sua melhor fase, por três a dois. As nove partidas que jogaram entre si, todas na Segunda Divisão, registram quatro vitórias para os brasilienses, três para os tricolores, e dois empates.

·       Agradeço as informações do site do Brasiliense, do You Tube, de máe Cida e da Wikipédia e as imagens dos blogs:fiocruz.br,arquivosdeclubes.com,timesdelbrasil.com.br e historiadosclubesnacionais.blogspot.com.  



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