Peço desculpas por demorar um pouco hoje para postar o meu artigo. Sei que vocês estão interessados em conhecer ou relembrar o último ano em que a Fonte Nova esteve na Primeira Divisão. É que Cida, nossa trabalhadora do lar, está de férias e Cybele inventou de fazer faxina na casa neste sábado. Realmente, depois de 36 anos de casado, eu ainda não entendi porque minha mulher se aplica com tanto entusiasmo nesta tarefa!
Na divisão de trabalho coube a mim importantes ações. Teria que passar a vassoura na casa, o pano nos móveis, lavar as meias e os copos(não juntos), e fazer as compras. Cybele ficou com o resto, inclusive com a limpeza do banheiro, pois ela não confia no meu apreço nesta tarefa(veja só!). Gastei cerca de uma hora nestas desgastantes funções e aí sentei cansado para ler o jornal, quando ouvi a voz:
- Franklin, voce passou o pano nos móveis?
Havia me esquecido, não foi por má vontade. De forma que tive de cumprir mais uma empolgante tarefa. Sentei então no computador pra postar o artigo pra voces, quando minha mulher se aproximou dizendo que a cadeira deste estava um horror de suja. Aí também é demais. Não sei como ela enxerga sujeira em minha cadeira! Mas resolvi não brigar, passando apressadamente um pano(tinha que ser úmido, vejam!). Pronto, agora podia trabalhar. Mas, qual nada, a voz voltou a ecoar:
- Franklin, vá fazer as compras!
Bem, esta é uma tarefa mais interessante, pois já haviam acabado as frutas, sorvete e iogurtes. De sorte (ou de azar) que foi mais uma hora gasta. Mais uma sentada na cadeira do computador e me lembro que já estava na hora de botar a mesa. E o pior é que não posso esquecer de nada pois senão levo bronca!
Mas agora vai. Ufa! Sentei de novo ao computador e ninguém mais vai me tirar daqui até eu postar este artigo. Ontem estávamos falando do mau início do EC Bahia no Campeonato Brasileiro de 2003, o último da Fonte Nova na Primeira Divisão. Aí o tricolor mudou de técnico, saindo Bobô e entrando Gil Sergipano. A torcida sofria com o clube que, desde a década anterior, havia perdido a hegemonia no futebol do estado.
Que maldade!
Mas o nosso histórico estádio ainda acreditava no esquadrão de aço mesmo sem muita gente nas arquibancadas. Quando foi feita nova substituição do técnico, agora por Evaristo Macedo, campeão de 1988, infundiu-lhe mais esperanças, confirmadas logo pela vitória contra o Grêmio por dois a um, dois dias depois das manifestações do Primeiro de Maio, as primeiras da Era Lula.
O EC Bahia apresentou certa melhora, voltando a São Januário onde empataria com o Vasco por um gol, e voltaria a ganhar na Fonte Nova, graças a dois gols de Nonato, contra o Paissandu. O time pareceu estar mais estabilizado. Experimentar-se-ia nova derrota na saída contra o Figueirense(0 X 1), voltaria pra ganhar pela terceira vez seguida na Fonte Nova, agora contra o Goiás(2 X 1), colhendo na sequencia um excelente resultado no Morumbi contra o São Paulo(2 X 2).
Mas o melhor estava reservado para os tricolores na fase Evaristo, ganhar no último BA-VI na Primeira Divisão na Fonte Nova por dois a um. Apesar do público não ser o esperado, apenas 22.000 pagantes, os gols de Lino e Nonato(contra o de Nadson para o rubro negro)fizeram esquecer todas as mazelas e afastar o fantasma do rebaixamento.
O próximo jogo seria contra o Curitiba em casa e nenhum torcedor aceitava outro resultado que a quinta vitória consecutiva do tricolor. A torcida, entretanto, ainda desconfiava da equipe dos desconhecidos e esta amargaria um empate em dois gols com a Fonte Nova ás moscas. Parecem que estavam adivinhando o que viria. O time faria dois jogos fora de casa contra Santos e Fluminense e veio com duas derrotas na mala. Na Vila Belmiro foi de quatro a zero, e no Maracanã pelo escore mínimo.
A ameaça de um nova crise foi descartada pela retomada do caminho da vitória em casa contra o Guarani(2 X 0). Mas quem ia ao jogo já percebia que algumas áreas do estádio estavam embranquecidas, é que a Fonte Nova estava com os cabelos brancos de tanta apreensão. No entanto os próximos jogos não pareciam difíceis, Ponte Preta e Atlético Paranaense (fora de casa) e São Caetano na Fonte Nova. Desses jogos dependia a esperança da retomada. No entanto, os resultados foram péssimos para o Bahia que perdeu em Campinas(0 X 1) e em Curitiba(1 X 2), e empatou sem gols contra o São Caetano na Fonte Nova com mais moscas que torcedores. Agora o clube estava rondando a zona de rebaixamento e a sua torcida sofria as gozações dos rubro negros, que só cairiam no próximo ano.
Agora nem gols o time fazia, empatando de novo com o Corinthians para a plateia mais reduzida que viu a equipe paulista jogar na Fonte nova, dez mil pessoas. Só a condição de equilibrista mantinha Evaristo no cargo. O técnico vitorioso tinha voltado 15 anos depois para rebaixar o tricolor? Era a pergunta que se fazia!
Pois foi nesta situação que o Bahia viajou pra enfrentar o Cruzeiro no “Mineirão” onde levou de cinco a dois com Aristizábal fazendo a festa na defesa tricolor. Mesmo assim preferiu manter o técnico que não conseguiria ganhar do Criciúma na Fonte Nova(2 X 2) e, ao sair de novo, seria massacrado no Maracanã pelo Flamengo por seis a zero com um show de Edilson que ajudaria o rebaixamento do Vitória no próximo ano. Era o caos!
Aí não deu mais e o tricolor contratou o seu quarto técnico no certame, Marcelo Chamusca. A ocasião era propícia para o recém-chegado pois haveriam dois jogos seguidos na Fonte Nova. Esta, entretanto, já começava a se desesperar com aquela situação onde nem havia torcida nem subida na tabela. Foi assim que o tricolor ganhou do Fortaleza(1 X 0) e voltou a perder, agora pro Inter(1 X 3).
A diretoria não sabia mais o que fazer. Trocou de técnico, mudou boa parte do time e nada! Aí trocou de treinador mais uma vez, o quinto foi Lula Pereira. Este, apelou pra um recurso muito conhecido. Para os dois próximos jogos fora de casa colocou o tricolor na retranca, embora não evitasse novas derrotas, contra Juventude e Atlético Mineiro, pelo escore mínimo. Pelo menos parecia ter passado a fase das goleadas.
Dentro de casa porém, colocou o time pra jogar pra frente. Houve na época quem achasse que o esquema era demasiado ofensivo no entanto foi logo abafado pela vitória de 4 X 2 contra o Paraná. Outro problema foi que nenhum atacante fez gol neste jogo apreciado por apenas sete mil torcedores. A própria Fonte Nova se iludiu aplaudindo o “jogo aberto” do Bahia. Parecia dar certo o esquema de Lula(o técnico não o presidente)que colheria um ótimo empate no estádio Olímpico contra o Grêmio em um gol e voltaria para arrasar o Vasco com convincentes três a zero. Nesse dia até a torcida melhorou, dezoito mil pagantes, e um atacante fez gol, Didi.
O Bahia havia subido na tabela e parecia que afastaria definitivamente a ameaça do rebaixamento. O próximo jogo seria em Belém com o time do Paissandu teoricamente mais fraco. Foi aí que Lula Pereira abandonou a tática defensiva fora de casa, colhendo como resultado uma acachapante derrota por quatro a zero. Este resultado foi decisivo para o que viria a seguir no campeonato derrubando a moral da equipe.
No retorno a Salvador a Fonte Nova chorava a olhos vistos. Quem chegava para o jogo e via as arquibancadas molhadas pensava que era devido às chuvas e não as lágrimas do nosso histórico estádio que começou a prever o que ia acontecer. O Bahia empata com o Figueirense em um gol ainda sem desempenho dos atacantes. Logo depois sai pra perder do Goiás (1 X 3) com Didi salvando a “honra” dos atacantes.
Os próximos jogos sugeriam dificuldades, o poderoso São Paulo em casa e o Vitória no “Barradão”. A preocupação era evidente entre os torcedores do esquadrão de aço. Mas, por incrível que possa parecer, o tricolor surpreendeu a todos e transformou as lágrimas de tristeza da Fonte Nova em uma torrente de alegria ao enfiar três a zero no tricolor paulista, sem que se preocupasse com a falta de gols dos atacantes. Na ocasião Lula Pereira voltou a utilizar a tática de “peito aberto” na Fonte Nova.
Logo a seguir o Bahia perderia de novo, agora para o seu arquirrival no “Barradão” que descontaria a derrota do turno pelo mesmo placar enfiando o tricolor “na zona” e logo no Dia das crianças. A tabela previa ainda outro jogo fora de casa, contra o Curitiba, levando o tricolor a nova derrota(2 X 3). Com o tricolor nesta situação só restava convocar a torcida pra partida contra o Santos onde jogaria pra vencer.
Na oportunidade Lula Pereira empregaria mais uma vez o seu esquema de jogar “de igual para igual” dentro de casa, sequer se lembrando de que o Bahia havia perdido de cinco para os santistas na Vila Belmiro. A campanha até que deu certo atraindo 17.000 torcedores. A Fonte Nova ficou desconfiada mas decidiu apostar. Mesmo que no jogo os atacantes voltassem a marcar fazendo quatro gols à maneira aberta de enfrentar o Santos foi uma lástima fazendo com que este enchesse o balaio do Bahia com sete gols. Foi um dos resultados mais desastrosos em certames nacionais na Fonte Nova. Eu não fui ao jogo mas tem gente que foi que jura que ouviu as ferragens do estádio rangendo: era o choro copioso da Fonte Nova.
Faltavam oito partidas pra acabar o certame e o Bahia avaliava a conveniência de contratar um sexto técnico. Enquanto isto discutia com o técnico para mudar a tática suicida que vinha empregando, de tudo ao nada, por jogar com mais cuidado na defesa e melhorar o ataque fora de casa. Os primeiros efeitos foram sentidos no jogo contra o Fluminense na Fonte Nova(2 X 2)mas o time tinha deixado de ganhar dentro de casa.
Sobrou para o técnico sendo contratado o sexto do certame, Edinho Nazareth. Acreditem, para seis jogos! Coube-lhe a responsabilidade de livrar o clube do rebaixamento. Na verdade o que os dirigentes estavam atrás era de um milagre! Edinho promoveu o equilíbrio entre ataque e a defesa e este mostrou evolução em Campinas, mesmo perdendo por três a dois. Depois voltaria a jogar dentro de casa com nova filosofia, buscando ganhar e garantir o resultado, o que lhe valeu uma vitória para a Ponte Preta por um a zero.
Em cinco jogos o Bahia decidiria sua vida. A nova saída porém não seria nada auspiciosa caindo de quatro a um para o São Caetano fora de casa. Não havia mais jeito a não ser manter o técnico. A tabela programava dois jogos na Fonte Nova e dois fora pra livrar-se do rebaixamento. A torcida acorreu em número maior contra o Atlético Paranaense, quase vinte mil pessoas, mas o tricolor foi de novo derrotado, agora por dois a zero. Agora sairia em excursão pra encerrar sua campanha contra o futuro campeão Cruzeiro em casa.
Haveria uma heroica reação tricolor como tantas do passado? Não foi o que aconteceu, registrando-se derrotas para o Corinthians(1 X 2) e para o Criciúma(2 X 3) antes de enfrentar a raposa mineira. O Bahia ficaria em último lugar, sendo rebaixado junto com o Fortaleza, por “coincidência os dois do Nordeste”. O desastre experimentado contra a equipe de Wanderley Luxemburgo em 14 de dezembro de 2003 foi o maior de toda a história do Bahia na Fonte Nova. Até que teve um bom público, mais de vinte mil torcedores compareceriam a última vez que se jogaria pelo Campeonato Brasileiro em nosso histórico estádio. Eis o time do EC Bahia daquele dia “inesquecível”: Emerson, Chiquinho, Acioly, Paulinho e Valdomiro; Otacílio, Ramos, Cícero e Preto Casagrande; Cláudio e Didi. Ah, não podemos esquecer-nos do “milagreiro” Edinho Nazareth.
Os torcedores que estavam ali ainda saíram da Fonte Nova com a “cabeça inchada” e não puderam esquecer, não só os cinco gols de Alex, assim como os de Mota e Felipe Melo (aquele que faria um papelão na Copa da África!), mas o choro da Fonte Nova. Quem diria Greta Garbo acabou no Irajá! Um estádio que tinha abrigado cinco decisões nacionais agora passava a ser um equipamento “de segunda”, e, logo após, “de terceira”. Era realmente pra chorar mesmo!
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