sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Quando a Fonte Nova se despediu da Primeira Divisão (I)


Você já ouvir falar que um estádio chorou? Pois isto aconteceu em 2003 na Bahia com a Fonte Nova! Mas antes vou contar porque essas coisas acontecem no Brasil.  Enquanto em outros países começaram a organizar seus campeonatos desde o início do Século XX no Brasil a CBD só o faria em 1971.
É por isto que até hoje há clubes que reivindiquem a chamada “unificação dos títulos” para que um monte de torneios que foram feitos antes sejam equiparados ao atual campeonato. Por traz de tudo isto existe uma luta surda pela hegemonia esportiva nacional, como a que foi feita recentemente, em benefício de São Paulo, trocando a liderança de São Paulo e Flamengo pela da dupla Santos e Palmeiras.
Desde que foi criado o Campeonato Brasileiro sempre foi desigual e submetido a toda espécie de conveniência política no interesse dos chamados grandes clubes. Em noss país, quando algum “clube grande” se aproxima da zona do descenso é um “Deus nos acuda” aparecendo todo tipo de armação pra que isto não aconteça. É por isto que depois de 40 anos de Campeonato “Brasileiro” nenhum dos clubes tidos como grandes está na Segunda Divisão.
A criação do certame nacional coincidiu com os anos mais sombrios da ditadura militar quando interessava fazer concessões as elites estaduais pra garantir a centralização política e esportiva. Em 1979 a Primeira Divisão chegou a ter 94 clubes. Na década de 70 o Nordeste, tradicional reduto de sustentação dos poderosos desde o Império, ganharia algumas migalhas com diversos de seus clubes participando.  
                                                   
Mas depois que veio a CBF e, principalmente, que se organizou o campeonato por pontos corridos, foi “o fim da picada” para os nordestinos. Nunca mais viram um título brasileiro. Pra se classificar para a Taça Libertadora da América só sobrou mesmo o recurso da Copa Brasil ou ser campeão da Copa América. A coincidência é que este modelo de campeonato começou no ano em que a Fonte Nova se despediu da Primeira Divisão.
                A era do Campeonato Brasileiro por pontos corridos
Ano           clubes       Sul + Sudeste       Centro-Oeste       Norte         Nordeste                          
2003            26             7        14                      2                         1                   2 (Bahia-Vitória)
2004            24             8        13                      1                         1                   1 (Vitória)         
2005             22            6        12                      2                         1                   1 (Fortaleza)
2006             20            6        11                      1                         0                   2(Fortaleza/Santa Cruz)
2007             20            6        10                      1                         0                   3(América(N), Sport e.
                                                                                                                                Náutico)
2008             20           5         11                      1                        0                    3(Vitória, Sport e Náutico)
2009             20           5         11                     1                       0                   3(idem)
2010             20           4         12                      2                      0                   2 (Vitória e Ceará)
2011             20           6         11                      1                      0                   2 (Bahia e Ceará)
Bem, acho que isto basta pra ver que se reproduz no futebol a mesma discriminação regional secular que faz com que o Brasil seja uma república “pra inglês ver”. O Sul e o Sudeste tem apenas sete estados mas nunca ficaram com menos de 16 representantes. Dentre eles, um só estado, São Paulo, já teve sete clubes na primeira divisão. Desde que instituíram vinte clubes no Campeonato Brasileiro estas regiões nunca tiveram menos de 80% dos representantes.
O campeonato paulista, somente em cota de TV, reparte com seus clubes 67 milhões de reais, ficando quase 60% disto com os quatro grandes(Palmeiras, Santos, Corinthians e São Paulo). Enquanto isto o campeonato baiano em 2011 receberá apenas quatro milhões, ficando pra dupla BA-VI 25% deste montante. Ou seja, num país de desigualdades um campeonato paulista vale quase 17 campeonatos baianos.
O sonho de alguns dirigentes paulistas é transformar o Campeonato “Brasileiro” em um convescote dos times do estado. Enquanto isto o Nordeste, com nove estados, neste modelo de campeonato, sofre com a “cota” de dois clubes. Não é a toa que temos os piores índices sociais, de saúde, educação, e, como se vê, até no futebol! A politicagem da CBF tem sido para o Nordeste uma verdadeira madrasta. Desde que instituíram a opção “democrática” de todos jogarem contra todos, o Nordeste não saiu do lugar, expulsaram os clubes do Norte, e as vagas perdidas por outras regiões ficaram com o Sul e Sudeste.
O que se chama de Campeonato “Brasileiro” não é nada mais que um certame de duas regiões (parecido com o antigo “Robertão” ampliado) com três ou quatro convidados. Quando as reclamações apertam demais a CBF aceita incluir apenas mais UM clube das regiões mais pobres. Isto ficou evidente no último campeonato. Quando o EC Bahia começou a garantir o seu ascenso a Primeira Divisão começaram a acontecer coisas estranhas. O Sport, que estava ganhando de todo mundo, estancou passando a perder jogos fáceis. Aqui em Salvador apareceram estranhos juízes e bandeirinhas pra apitar os jogos do EC Vitória. 
Pênaltis não eram marcados e a toda hora “rolava” o cartão amarelo. Nem vou falar de impedimentos e inversões de faltas. Mas o pior mesmo estava reservado pros jogos decisivos para o rubro negro contra o Corinthians e Atlético Goianiense. No jogo contra o alvi negro paulista o juiz deixou de marcar um gol legítimo do centroavante rubro-negro Junior e um pênalti escandaloso do goleiro corintiano em Adailton.
Como tinha que manter a vaga do Centro-Oeste o jogo final foi tragicômico. Ali, mesmo  jogando mal o Vitória poderia ter ganhado a partida não fosse pela atuação do juiz da federação paulista. Deu pra ver nas emissoras de televisão locais (porque não sai isto nos programas esportivos do Sul-Sudeste) o meia rubro negro Ramon ser empurrado dentro da área e o gol sensacional de “bicicleta” de Junior. Mas para o juiz não houve gol nem pênalti e o time foi rebaixado para a Segunda Divisão.
Desde o império os nordestinos estão submetidos a um Estado Federal que incorpora algumas demandas das elites baianas mas diz não aos seus grandes interesses. Desde que foi inventado o futebol vimos à consolidação do poder esportivo no Sul-Sudeste. A partir da criação do “Brasileiro” aos poucos nos deixaram escanteados. E esta situação conta com o apoio dos dirigentes esportivos beneficiados. Eles aceitam toda esta situação injusta, um calendário esportivo estafante, e fazer os campeonatos estaduais em apenas quatro meses, em troca de apenas dois clubes participarem do dito certame nacional.
Durante oito meses os demais clubes ficam numa situação de dar pena! Alguns zanzam pela segunda divisão de onde nunca saem. Outros ficam numa ainda pior, amargando a terceira e quarta divisões. Há quem sequer participe de divisão nenhuma. Como o dinheiro das televisões e da CBF é distribuído com base na Primeira Divisão dá pra imaginar quem fica com a parte do leão. Aí o Norte e o Nordeste sofrem com a falta de estrutura esportiva, com o privilégio da mídia a favor dos clubes do Sul-Sudeste, com as dificuldades pra manter seu elenco tendo em vista os custos astronômicos da Primeira Divisão, etc., etc.
O assunto deste artigo é o último campeonato por pontos corridos realizados no estádio foi em 2003, que também foi o último ano que participaram a dupla BA-VI no nosso histórico estádio. Naquele ano, nosso histórico estádio foi tomado por uma profunda tristeza, pois parece que estava adivinhando que não veria mais os clubes baianos na Primeira Divisão.  
O campeonato começou no fim de março, em meio à disputa da Copa Brasil. Na ocasião a tabela foi ingrata para o tricolor. Apesar de só haver dois clubes do Nordeste, os colocaram para abrir a primeira rodada do “nacional”, no “Castelão” prejudicando logo de saída Bahia e Fortaleza em função do empate sem gols. Logo depois pegaria o Flamengo(em casa) e o Internacional(no estádio do “Beira Rio”).
Assim, o tricolor perderia do Flamengo(1 X 2) e do Inter(0 X 2). O primeiro foi o único jogo que a torcida prestigiou em massa acorrendo na estreia 50.000 pessoas. O técnico do Bahia era Bobô e o time uma lástima. Veja se lembra de alguém: Márcio, Guto, Marcelo Souza, Valdomiro e Lino; Otacílio(Nilson Sergipano), Jair, Luiz Alberto, Preto Casa Grande e Paulo Sérgio(Marcelo Nicácio); Claudio. Conseguiu? Eu só recordo de Preto(que hoje é comentarista) Márcio(que está no Atlético Goianiense), e tenho vaga lembrança de Otacílio e Marcelo Nicácio, que nem sei mais onde estão.
Mas agora o esquadrão de aço emendaria duas partidas seguidas na Fonte Nova e tinha esperanças de recuperação. A primeira foi contra o Juventude quando apareceram somente oito mil torcedores, que viram o tricolor se reabilitar ganhando por três a um. Mas três dias depois o time seria goleado em plena Fonte Nova pelo Atlético Mineiro por quatro a dois! Jair e Nonato evitaram que o desastre visto por onze mil torcedores não fosse ainda maior.
Foi no início do certame que o Bahia cruzaria com o Vasco da Gama pela Copa Brasil. Os jogos seriam muito disputados mas as rendas nem tanto. A primeira partida ocorreu na véspera de meu aniversário de 55 anos, quando. o tricolor derrotaria os cruzmaltinos por dois a um na Fonte Nova. Antes do jogo de volta, porém, estava marcada uma partida contra o Paraná fora de casa, que resultou em uma derrota contundente do esquadrão de aço por três a um.  
Aí se estabeleceu a primeira crise deste ano sendo Bobô substituído por Gil Sergipano ás vésperas do segundo jogo contra o Vasco. O castigo veio a cavalo fazendo com que o time não conseguisse impedir a vitória carioca pelo escore mínimo, sendo eliminado pelo critério de gols fora de casa.  Agora cuidaria somente do Campeonato “Brasileiro”.
                              ( CONTINUA AMANHÃ) 
·   Agradeço as informações dos blogs Wikipédia, bola na área e futipédia. globo.com. Sou grato também as imagens dos blogs vozesdaagua.arteblog.com, armadilhadotempo.blogspot.com, odeburro.blogspot.com e euseiquepossovencer.blogspot.com.














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