segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Socorro! Tem monstro na Fonte Nova!



É quase meia noite/algo maligno está espreitando na escuridão
sob a luz da lua/você vê algo que quase para o seu coração.
Você tenta gritar/mas o terror lhe tira a voz antes 
você começa a congelar/e o horror te olha bem nos olhos
voce está paralisado/porque isto é terror
noite de terror/e ninguém vai lhe salvar.
Thriller: Rod Temperton(autor), Michael Jackson(criador)

Hoje eu vou falar de coisas feias na Fonte Nova. Afinal, nem sempre posso falar do que houve de bom no nosso histórico estádio. Ali estiveram Pelé e Ventilador, Armando Marques e seu clone baiano Garibaldo Matos. Teve gol “de placa” e de barriga. Houve grandes defesas e frangos memoráveis. Jogou o Santos de Pelé e o Ananindeua do Pará. É justamente sobre isto que eu vou falar hoje: os clubes que se constituíram em verdadeiros “monstros” na Fonte Nova.
Eu nunca disse isto a vocês, mas vou dizer agora pois não gosto de esconder nada. A Fonte Nova sempre foi muito vaidosa. Os grandes momentos a acostumaram mal, fazendo com que só vibrasse nos grandes espetáculos. Nunca gostou de clubes desconhecidos, embora tivesse de aceitar todo tipo de partidas que foram realizadas nos 56 anos e dez meses em que sobreviveu.
Não é pra menos. Viu Pelé e Garrincha jogar aos oito anos de idade e obteve o seu primeiro título nacional aos dez anos. Aos dezoito, quase presencia o rei fazer seu milésimo gol. Fez uma operação plástica aos vinte anos que lhe possibilitou abrigar na época dez por cento da população de Salvador. Foi durante os trinta e sete anos que chegaria a um novo título nacional quase repetido cinco anos depois.
Mesmo com tudo isto sua velhice foi triste. Quando fez cinquenta anos muitos a consideravam velha. A Fonte Nova sofria com a situação. Deixou de se pintar e de arrumar o cabelo. Quem pagou por isto foi o torcedor baiano que viu seus clubes descerem pra Segunda, e depois, pra Terceira Divisão. Acho que foi o único estádio que morreu duas vezes, em 2007 e, de forma mais violenta, em 2010.
Quando a CBD começou a organizar o Campeonato Brasileiro nos anos setenta, coincidindo com as gestões da chamada abertura política da ditadura militar, vieram jogar aqui gatos e cachorros. Os primeiros “monstros” que chegaram foram o Tiradentes (PI) e o Rio Negro (AM), pra jogar contra o EC Bahia. Os jogos ocorreram em outubro e novembro de 1973 e “encheram o saco” da torcida. Há anos não se viam jogos tão ruins na Fonte Nova, que, a custo, permitiu que o tricolor ganhasse ambos por magros um a zero. Cinco anos depois vinha outro time do Amazonas, o conhecido Fast Clube (AM)! Chegaria cinco dias antes do Natal, como um “presente” aos soteropolitanos, perdendo de dois a zero.
Até então somente o tricolor pegava estas monstruosidades. Mas em outubro de 1979, no ano em que participaram 94 clubes do Campeonato Brasileiro, o EC Vitória atreveu-se a trazer o Dom Bosco do Mato Grosso. Será que era um remanescente do Império? Aí também já era demais, e a Fonte Nova deu seu grito de protesto. Bateu o pé, atrasou o jogo, o que, aliás, é uma justificativa sobrenatural para a incrível derrota rubro negra por dois a zero. Nesse ano houve uma grita geral dos estádios (embora a história diga que foram só os grandes clubes do Sul) que acabou com a CBD e reduziu drasticamente a politicagem no campeonato.
A nova década começou amena. No início de 1981 o Botafogo (é o da Paraíba hein!) viria por aqui pela “Taça de Prata”, mas o tricolor só conseguiria ganhar por um a zero, graças a um gol de Toninho Taino. A ditadura fazia agua e voltaram os monstros. É que a recém-criada CBF reservou o Campeonato Brasileiro pros clubes mais conhecidos e criou outro pros monstros: a Copa Brasil. Mas isto foi aos poucos. Em janeiro/fevereiro  de 1982 o Bahia enfrentaria outros clubes do Mato Grosso, o Mixto (é com “x” mesmo!)e o Operário ganhando o primeiro por inacreditáveis três a dois e empatando com o segundo por um gol.
Mas o pior ainda estaria por vir quando o tricolor enfrentaria o time com “x” no novo torneio no ano seguinte. Havia perdido naquele progressista estado por dois à zero, mas o jogo aqui seriam “outros quinhentos”. Pelo menos é o que o torcedor pensava. Quem foi a Fonte Nova naquele nove de fevereiro de 1983 esperava no mínimo uns oito a zero. Mas não atentaram pro fato que, três dias antes, o tricolor teve a maior dificuldade pra vencer aqui outro time do estado, o Comercial (!), pelo escore mínimo, graças a um gol de Sabino. A magérrima vitória de dois a um tiraria o Bahia da copa. Nesse ano estiveram por aqui vários “monstros”. O Vitória jogou no início do ano contra o Guará (BSB) e o Guarapari (que até então eu pensava que era somente uma praia aprazível do Espírito Santo) ganhando por dois a zero e três a um.
Os monstros continuaram a chegar após o fim da ditadura. Em julho de 1985 foi à vez do esquadrão, não tão de aço, ser eliminado da Copa Brasil por outro “monstro”, o Brasil de Pelotas-RS, com uma incrível derrota por três a dois, tendo já perdido o jogo fora por dois a um! Aí a Fonte Nova estrilou. Doravante não receberia esses times se os baianos não os “colocassem em seu lugar” de monstruosidades. Se eles quisessem que fossem participar de um campeonato no inferno! A pressão deu resultado. Tanto que, entre julho/agosto do ano seguinte, o tricolor derrotou aqui o Botafogo da Paraíba e o Rio Branco(o “barão” do Espírito Santo) por seis e quatro a zero. E, no ano seguinte, quando pegou o Comercial pela Copa Brasil, conseguiu passar ganhando por três a um no nosso estádio após ter perdido no Mato Grosso por um a zero.  
Por certo tempo os monstros sumiram da Fonte Nova. Mas o que é bom dura pouco. Nos anos 90 eles voltaram! Primeiro foi o Vitória que, foi eliminado da Copa Brasil pelo Taguatinga (BSB) durante os festejos joaninos de 1990, em plena Fonte Nova, perdendo ambos os jogos pelo escore mínimo. Dois anos depois empatava com o Itaperuna(!) sem gols pela Segunda Divisão nas proximidades do carnaval. Nesse tempo, chegaram ao cúmulo de marcar um jogo do Sorriso (esta é pra rir mesmo!) do Mato Grosso. Um amigo que foi ao jogo me disse que o time era tão monstruoso que o rubro negro deixou de dar a maior goleada da história vencendo apenas por ridículos quatro a zero! Isto tudo só fez confirmar que não se deve marcar jogo de baiano em época de festas.
Quanto ao Bahia, pelo menos teria melhor sorte na Copa Brasil contra o tal Taguatinga, ganhando lá por dois a zero (olhe o nome do estádio, Boca de Jacaré!) e aqui (2 X 1) eliminando este fantasma. Mas no último ano da década o tricolor passaria pela horrível humilhação de jogar contra o Lagartense de Sergipe (sic!) e empatar em um gol pela Copa Nordeste. Nesse dia nem os poucos tricolores que foram a Fonte Nova nem vibraram com o gol de Ronald com medo dos repteis que invadiram a Fonte Nova. Na época já haviam deixado de fazer a manutenção da Fonte Nova e ela estava irada. Assim, voltou a ameaçar que não permitiria esses monstros em seu gramado.
A ameaça deu algum resultado. Afinal há tempos que o Vitória tinha ido jogar no “Barradão” levando alguns monstros pra lá! Logo no início da nova década, num intervalo de quinze dias, caíram por cinco à zero, tanto o Ji-Paraná de Rondônia (nossa!) como o São Raimundo de Amazonas, aproveitando-se Marcio Griggio, Aldrovani (lembram-se?) e outros pra encherem as redes.
Mas a Fonte Nova ia ficando cada vez mais depressiva com a falta de reforma em suas instalações. Tudo podia acontecer, e aconteceu! Foi a era em que mais monstros vieram pra Bahia.  Tudo começou com o CFA (mas o que é isto?) de Rondonia pelo qual passou o tricolor na Copa Brasil em março de 2003 por quatro a um (após empatar lá em três gols) graças a Nonato. No ano seguinte voltava o São Raimundo em jogo da Segunda Divisão, arrancando aqui um empate em dois gols. Lembram-se quando Viola jogava no Bahia? Pois foi ele o principal responsável pela vitória (3 X 0) contra esse time no ano posterior. Mas nada adiantou, pois o tricolor caiu pra Terceira Divisão.
Nos dois últimos anos em que funcionou a Fonte Nova choveram monstros. Não dava nem pra passar perto do estádio, pois só se ouvia gritos de horror. Em 2006 apareceram por aqui o Coruripe (AL) (ninguém merece!), o Ananindeua(PA) (o time que nenhum torcedor sabia pronunciar) e o Rio Negro(AM) (lembram-se?),quando o tricolor ganharia suado, o primeiro por dois a um e os outros pelo escore mínimo. O Bahia conseguiria ser eliminado da Copa Brasil pelo Ceilândia(?) por incríveis dois a um, após empatar sem gols em Brasília.
No último ano chegou a doer. Logo em fevereiro o Bahia se classificaria na Copa Brasil a duras penas contra...o Itabaiana(SE). E só porque ganhou lá por dois a um, pois na Fonte Nova perderia pelo escore mínimo! Em agosto/setembro foi a vez do Linhares (ES), Nacional (Patos), Atlético Cajazeirense (PB) e o Rio Branco (esse é do Acre) na Terceira Divisão. Tenha paciência! A torcida agradecia a boa fase de Nonato pelas vitórias, mas o escore ia diminuindo, 5 X 0, 2 X 0, 3 X 1 e 2 X 1. Por último, enfrentaria o Fast Clube disputando a sua classificação para a fase final. Naquele dia sete de outubro, foi preciso muitas malas pra ganhar de um a zero, sendo que o gol de Charles acabou saindo dez minutos após o tempo regulamentar.
O tricolor entrava no sufoco na fase final do certame onde pegaria mais monstros! O primeiro foi o CRAC (GO). Acreditem que tem um time com este nome e que não tem craques! Foi novo desespêro pra ganhar de um a zero pois a Fonte Nova já estava cansada de sofrer com os monstros. Logo depois chegou o Barras-PI, mas o tricolor não seria barrado! O último monstro que jogaria na Fonte Nova foi o Nacional de Patos(alguem sabe onde é?) em sete de novembro de 2007, exatamente quando nosso histórico estádio estava dando seu grito de basta. Agora preferiria morrer a aceitar mais um monstro que fosse em seu gramado.
Poucos dias depois, no jogo contra o Vila Nova (0 X 0) onde o tricolor subiria pra Segunda Divisão, um trecho do estádio cederia ocasionando a morte de sete pessoas. O estádio seria interditado. Advinhe quem morreu? A Fonte Nova. Os mostros estão por aí até hoje!

·    Agradeço as informações dos sites futebol 80, letras.terra.com.br e futipedia. globo.com. Sou grato também as imagens dos blogsdiplomaticacsi.blogspot.com,bokadoinferno.hpg.com.br,oaltooforteeomoyle.blogspot.com e bricabrac.com.br

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