sábado, 22 de janeiro de 2011

Tem macaca na Fonte Nova!


Fiquei contente pelo fato do site da CNN ter indicado o povo brasileiro como o “mais legal” do mundo. Já tinha percebido isto em minhas andanças pelo mundo. Temos mais senso de humor, vivemos melhor a vida tendo mais solidariedade nas dificuldades. Uma vez, em Valparaíso, cheguei a chorar de saudades da nossa terrinha. No entanto, este canal de comunicação norte-americano deve ter deixado de fora os nossos políticos e empresários que estão entre os mais corruptos e exploradores do mundo. Seria bom tamb´´em que o "jeitinho" brasileiro de resolver as coisas ajudasse a construir instituições mais sólidas.
Agora mesmo estamos vivendo um grave problema na cidade onde moro, Salvador, que está sob ameaça de se extinguir. A cidade suportou séculos de colonização portuguesa, quase setenda de Império. Aguentou a perda da capital, e sobreviveu ao boicote de suas elites as chamadas república e revolução de 30. Agora está ameaçada de afundar no pântano da irresponsabilidade administrativa, da violência, do transito infernal e do abandono ás vésperas da Copa do Mundo de 2014. Aqui é o único lugar no mundo onde há 25 anos está sendo "construido" um metrô de seis quilometros. Enquanto ocorre isto o prefeito João Henrique dilapida os poucos recursos do município subornando vereadores tentando escapar de ficar inelegível em função da rejeição de suas contas.  
Bem, mas deixemos pra lá Salvador e vamos pro assunto de hoje, a simpática Associação Atlética Ponte Preta de Campinas-SP. Tem este nome em função de ter sido criada no bairro da ponte preta naquele município em 1900 o que lhe dá a condição de um dos clubes mais antigos do Brasil. A Ponte, tem um estádio, o Moisés Lucarelli, e sua mascote é a macaca. Mas, apesar das muitas glorias e de cinco vice campeonatos paulistas, tem poucos títulos. Vestiram sua camisa grandes jogadores brasileiros, alguns com passagens na seleção brasileira, como Dicá, Washington, Carlos, Oscar, Palozzi, Juninho, Luiz Fabiano, Marco Aurélio, Jorge Mendonça, Dadá Maravilha e Jair Picerni.
O clube tem, pelo menos, uma profunda identidade com a Bahia devido ao fato de ter sido um dos primeiros a permitir negros que já compareceram desde a fundação e de se orgulhar disto.  Quando estava na Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro veio jogar na Fonte Nova com Bahia e Vitória sendo sempre um adversário “duro de roer”.
A presença da macaca na Fonte Nova, tal como muitas outras, se deve a criação do Campeonato Brasileiro. Mas, apesar do clube ter tido 18 participações na Primeira Divisão, e algumas de suas 13 presenças na Segunda ter coincidido com a estadia de clubes baianos, jogou aqui poucas vezes. Ou seja, por causa dos interesses da CBD e da CBF os baianos ficaram muitos anos sem ver o simpático clube campineiro.
A primeira vez que um time de Campinas jogou na Fonte Nova foi em 26 de março de 1978 empatando sem gols com o EC Bahia. Antes houve duas partidas contra o Guarany, em 1974 e 1976 em Campinas, com o tricolor perdendo em ambas as oportunidades. Pra assegurar o futuro da relação baianos e campineiros o resultado não poderia ser outro senão empate, embora sem gols.
                                                         O Estádio Moisés Lucarelli
Na inédita ocasião 32.123 torcedores pagaram ingresso. Os tricolores de Zezé Moreira jogariam com Luiz Antônio, Toninho, Sapatão, Ademilton e Ricardo Longhi; Alberto (Washington), Altimar e Dil; Osny, Freitas e Jesum. Já os alvinegros de Milton dos Santos prestigiariam a Fonte Nova trazendo alguns dos melhores jogadores de sua história, formando com Rafael, Jair Picerni, Eugenio, Juninho Fonseca e Odirlei; Marco Aurélio, Dicá e Vanderley; Lúcio, Tuta e Dadá maravilha.
Quatro dias depois o tricolor perderia em Campinas para o seu arquirrival, o Guarany, por dois a um. Mas a Ponte provaria que estava aberto o intercâmbio enfrentando, quase três meses depois, o EC Vitória. Foi o primeiro e único jogo entre rubro negros e alvi negros na Fonte Nova, e seria assistido por 8.406 pagantes. No mês anterior o rubro negro havia perdido para os ponte pretanos em Campinas por dois a zero, e eu assitiria a este jogo histórico. A partida, porém, terminaria em empate, com Joãozinho marcando o gol do Vitória e Dicá o da Ponte, num belíssimo gol de falta.
As equipes formariam assim. O Vitória de Pinguela, com Gelson, Jurandir, Edson, Darci Menezes e Valdir; Joel Zanata, Dendê e Sena; Coquinho (Zé Júlio), Mardone (Joãozinho) e Sivaldo. Já a Ponte de Milton dos Santos, formou com Rafael, Odirlei, Eugenio, Juninho Fonseca e Toninho Oliveira; Marco Aurélio, Dicá e Vanderley; Afrânio (Jair Picerni) Dadá maravilha (Mirandinha) e Tuta. O clube campineiro não iria muito bem este ano acabando o campeonato em 17º lugar.
                                                     O jogador Darío "Maravilha"
Três anos depois o alvi negro aportaria de novo na terrinha em onze de março. Seria o ano da sua melhor campanha na Primeira Divisão onde terminaria em terceiro lugar. Foi a maior arrecadação de todos os seus confrontos no estádio sendo o jogo assistido por 32.504 torcedores saudosos da macaca.  Na ocasião colheria novo empate com o tricolor. Gilson Gênio marcaria pro esquadrão de aço enquanto o lateral Odirlei anotaria para o clube campineiro.
Os clubes formariam assim. A equipe tricolor, agora do irmão Aymoré Moreira, iria com Renato, Edinho, Edson Soares, Zé Augusto e Nilton; Paulo Cesar, Léo Oliveira (Sales), Toninho Taino (Helinho) e Washington; Dirceu e Gilson. O time, agora dirigido por de Jair Picerni, jogaria com Robinson, Edson Boaro, Nenê Santana, Rodinei e Toninho Oliveira; Zé Mário, Dicá, Humberto (Lola) e Osvaldo; Serginho e Abel.
Vivíamos então os tempos da ditadura militar e o seu fim parece que aborreceu os dirigentes da recém-criada CBF que levaram 19 anos pra colocar jogos da Ponte na Fonte Nova! Enquanto isto só dava o Guarany atuando quase todo ano por estas bandas (onde jogou oito vezes) e em Campinas (mais cinco jogos). Será que foi inveja desta amizade?
                                                         O grande meia armador Dicá
Os baianos não aguentavam mais de saudades da Ponte. Vocês imaginem que houve gente que viajou pra São Paulo só pra assistir a macaca jogar. A sacanagem só ia acabar no fim da década de 90 quando voltaram a programaram jogos do clube no “Barradão”, onde o Vitória mandava seus jogos há alguns anos, e na Fonte Nova. Aliás, a amizade do clube campineiro com o rubro negro é tão sólida que, entre 1999 e 2003, seus confrontos continuaram resultando em empates!
A Ponte só voltaria a pisar o gramado da Fonte Nova em 25 de outubro de 2000, quase vinte anos depois da última vez! A satisfação do estádio com sua presença fez com que esquecesse que tinha de “puxar a brasa” pros times da casa, o resultado é que a Ponte colheu sua única vitória entre as nações campineira e baiana. Jorge Wagner marcou o gol tricolor contra os de Claudinho e Hernani para o alvi negro, no que, aliás, foi o único desgosto dos 20.919 pagantes. Na época Evaristo de Macedo dirigia o Bahia que formou com:
Foi outro jogo histórico onde o time de Campinas, treinado por Nelsinho Batista, atuou com Adriano Basso, Daniel Martins, Alex Oliveira e Ronaldão; Adrianinho (Dionísio), Claudinho (Adriano Ferreira), Clodoaldo, Marco Aurélio (Samuel) e Hernani; Mineiro e Roberto. Já o Bahia de Evaristo formaria com Emerson, Jefferson, Carlinhos Paulista e Felipe Alvim; Reginaldo Nascimento, Iranildo, Jorge Wagner e Luís Carlos Capixaba; Jajá (Nonato), Marcos Chaves e Fabio Costa. No entanto, a Ponte não teria melhor sorte no certame ficando em 12º lugar este ano.
                                                          A Ponte Preta em 1981
A vitória animou os ponte pretanos que aqui compareceram nos três anos posteriores aproveitando o fim da discriminação. Em 13 de outubro de 2001 proporcionou aos 11.795 pagantes um grande jogo, que terminou com o maior escore da história de sua presença na Fonte Nova: três a dois pros tricolores. Ramos, Preto Casagrande e Robson marcaram pro time de Evaristo de Macedo que formou com: Emerson, Denílson, Carlinhos Paulista, Jean Elias e Jefferson; Bebeto Campos, Preto Casa Grande Ramalho e Ramos; Nonato e Robson. Os gols da equipe de Vadão foram de Humberto Foguinho, formando os alvinegros com Alexandre Negri, André Silva, Alex Oliveira, André Santos (Adrianinho) e Carlos Alexandre; Dionísio, Elivelton Fabinho e Marco Aurélio; Marcelo Sergipano (Humberto Foguinho) e Washington.  
O de 16 de outubro de 2002 seria o segundo grande público desses confrontos, 31.409 pagantes. Pro Bahia a amizade agora ficava fora de campo, e mostrou isto com nova vitória, agora por dois a um, tentos de Robson e Nonato. Na ocasião o time tricolor de Candinho formou com Emerson, Daniel Alves(lembram-se é o da seleção brasileira mas nunca seria convocado se ficasse na Bahia), Marcelo Souza, Valdomiro e Calixto; Carlinhos, Ramalho, Geraldo e Jair; Nonato (Gil Baiano) e Robson. Já a equipe ponte pretana de Vadão atuaria com Alexandri Negri, Luciano Baiano, Marinho e Rodrigo; Caico, Elivélton (Daniel Fernandes), Hernani (Macedo), Izaias e Piá (Regis Pitbull); Roberto e Lucas.
Finalmente, a seis de novembro de 2003, apenas quatro dias depois do Dia de Finados, o simpático time campineiro pisaria pela última vez nos gramados da Fonte Nova. O jogo foi mais uma vez muito disputado. Eu diria que o empate contribuiria mais pra amizade construída entre baianos e campineiros ao longo de um quarto de século. Mas o Deus do futebol assim não quis, nem os 20.811 torcedores que pagaram pra ver uma das poucas vitórias tricolores deste ano, e pelo escore mínimo. 
Neste jogo histórico os times jogaram assim. O tricolor de Edinho (quinto técnico no certame), com Emerson, Luiz Fernando, Marcelo Souza e Chiquinho (Fabiano); Otacílio, Neto, Preto Casa Grande e Elias(Ramos); Didi e Nonato (Cláudio). Já a Ponte de Abel formou com Lauro, Marquinhos, Gabriel Santos, Gerson, Rodrigo e Luiz Carlos (Lucas); Adrianinho (Ronildo), Piá e Romeu; Gigena, Jean Carlos e Nenê.
Agora, vejam o que ocorreu. Era o sétimo jogo da Ponte Preta na Fonte Nova, e o EC Bahia se despediria da Primeira Divisão ficando afastado dela por sete certames. Dizem que sete é conta do mentiroso, que é coisa da cabala e da superstição, mas como explicar isto? E olhem que quando o Bahia subiu o Vitória desceu pra continuar jogando com a Ponte Preta na Bahia!

*  Agradeço as informações do site da Ponte Preta, do Futebol 80 e do blog futipedia.blogo.com e as criticas de Alexandre Teixeira. Sou grato também as imagens dos blogs julianomacaca.blogspot.com, kigol.com.br, taiguaraonline.blogspot.com, futebolnordeste.com e entretenimento.r7.com.

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