domingo, 27 de fevereiro de 2011

As bruxas na Fonte Nova

                                                                      
 Muito se fala sobre como começou o Halloween. Tem gente que diz que era o que se chamava também de festa do sol que comemorava o fim de um ciclo do ano. Este povo acreditava que no dia 31 de outubro os espíritos dos que haviam morrido voltariam para tomar o corpo de alguém vivo até o ano seguinte. Para evitar isto a pessoas vestiam fantasias e saiam gritando pelo bairro iluminado com tochas para assustar as almas penadas. Com a imigração estas prática profanas foram estendidas a vários países anglo-saxões como os EUA.
No entanto há quem diga também que há séculos teria sido apropriado pela Igreja Católica estando na origem do Dia de todos os santos que se celebra no dia posterior. Celebrar o Halloween ou o Dia de todos os santos, ou ainda o Dia dos mortos, que ocorrem entre 31 de outubro e dois de novembro, depende muito da força das tradições religiosas de cada país, havendo aqueles onde é excludente.
                                                 Justo ataque a uma dirigente esportiva!
Com o tempo e a depender da região onde eram celebradas as festividades acabaram se constituindo num verdadeiro cadinho cultural adotando lendas, crendices e superstições populares. A crença nas bruxas, porém, continuou sendo um dos seus principais motes. A tradição legada é que elas se reuniriam na troca das estações:
Chegando em vassouras voadoras, as bruxas participavam de uma festa chefiada pelo próprio Diabo. Elas jogavam maldições e feitiços em qualquer pessoa, transformavam-se em várias coisas e causavam todo tipo de transtorno.  (Denethor Prix) 
Para encontrar uma bruxa bastaria vestir a roupa pelo avesso ou andar de costas durante a noite de 31 de outubro.
Esses festejos, porém, demoraram pra entrar no Brasil. É que o país de tradições cristãs preferiu por muito tempo não celebrar o dia de todos os santos e dar um tratamento muito discreto ao aqui chamado Dia de finados. Ao contrário de vários países que organizam festas neste dia aqui os cemitérios se enchem para as pessoas visitarem os seus entes queridos que passaram desta para a pior... ou melhor, a depender do credo de cada um.
                                                               Esse bruxo já foi!
Na América Latina, porém, não puderam evitar que o chamado popularmente Dia das bruxas chegasse ao futebol, esporte tão vinculado a todo tipo de superstições. Aqui prospera o ditado “eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem”. Nos primeiros campeonatos baianos essa questão nem sequer era colocada. É que começavam algum tempo depois do carnaval e terminavam no máximo lá por setembro, e levaria cinco anos pra este limite ser ultrapassado. Um dos motivos disto era o pequeno número de clubes concorrentes, quatro e  até três clubes.
Durante a Primeira Grande Guerra aumentaram os clubes e também o período de disputa do certame que começou a usar datas do restante do ano. No pós-guerra, já com até doze clubes, chegaria a se projetar para o ano seguinte. O certame inchou e voltou a decrescer, ampliou e reduziu datas, mas, mesmo que fosse jogado durante o mês de outubro, a preocupação de não marcar jogos para o 31 de outubro raramente foi desafiada.

A primeira vez seria em 1936 e, só podiam sê-lo pelos diabos rubros que, aproveitando a sua condição de elemento do inferno, venceu o Fluminense por dois a um. Naquele dia poucos torcedores que se atreveram a ir no velho campinho da Graça e sobraria o brutal castigo para o alvi rubro de nunca mais ganhar o título estadual. O clube se lembraria disto dois anos depois quando estava disparado na frente no primeiro turno e acabaram o certame tendo que dividi-lo com o Bahia.
Seriam os mesmos diabos rubros que novamente as desafiariam quando da celebração dos sessenta anos do certame em 1965. Agora jogaria com o Galícia aproveitando-se que a data não é celebrada na Espanha. Desta vez o dois a um seria a favor do Botafogo, mas o castigo novamente viria a cavalo. Naquela época o alvi rubro estava ganhando de Deus e o mundo faturando o super turno contra Fluminense e Ypiranga. Mas, mesmo com um grande time, acabou perdendo o título para o Vitória seis meses depois.
Os clubes já tinham os certames estaduais, os torneios, as excursões e os jogos amistosos, quando o calendário começou a apertar na criação do campeonato brasileiro no início dos anos 70 e a Copa do Brasil, no fim dos 80. A FBF se virava como podia. Quando do Torneio Norte e Nordeste de 1970 o Galícia exigiu o desdobramento da tabela do Grupo três A, só pra não jogar contra o Ypiranga no dia fatídico. O resultado é que Sergipe e CRB se deram mal empatando sem gols, enquanto o Galícia, ao empatar com o auri negro em dois gols se classificava em primeiro lugar.

Já em 1973 a CBD, pra colocar “gatos e cachorros” no campeonato brasileiro colocou na tabela no dia 31 de outubro o jogo Vitória e Flamengo.  O nosso rubro negro ficou com vergonha de “incomodar” a entidade com aquilo que poderia ser considerado crendice. O resultado é que nem ele nem o Flamengo pediram a remarcação do jogo. O que se viu no jogo desesperou o público presente. É que não houve jeito da bola entrar no gol, e olhem que o Flamengo era dirigido por Zagalo e tinha jogadores famosos como Zico e Dario(do lado do Flamengo). E, no Vitória do técnico e grande ex-goleiro Castilho tinha um dos maiores ataques de sua história, constituído de Osny, David, André Catimba e Mário Sérgio(no Vitória).
Em 1974 seria a vez do tricolor que precisava treinar o time e desrespeitou as bruxas promovendo um amistoso com o CSA na Fonte Nova. Até então o Bahia nunca tinha deixado de ganhar dos representantes do futebol alagoano, cujo CRB sofreria uma goleada histórica em 1959 por sete a um. No entanto neste dia não conseguiu passar do empate em dois gols. As bruxas, entretanto, tem uma boa qualidade, não guardam rancor. No certame nacional seguinte o tricolor voltaria a ganhar com tranquilidade por três a zero.

No ano de 1979 apesar de ter feito uma boa campanha o Vitória perder o campeonato por um frango antológico do goleiro Gelson. A partida foi no dia 28 de setembro.  Mas um mês depois o rubro negro teria nova tragédia. É que novamente estava marcado para o dia 31 de outubro um jogo contra o Dom Bosco do Mato Grosso(já ouviram falar?) pelo campeonato brasileiro. Mesmo com a experi~encia de seis anos atrás o leão da Barra decidiu de novo não pedir a transferência da data. É que Dom Bosco não era Flamengo.

O que houve neste dia deixou os torcedores de cabêlo em pé. O Vitória tinha um bom time onde jogava o goleiro Iberê, os zagueiros Otavio Souto e Zé Preta, os meias Sena e Dendê, e o ponta Sivaldo. Mas o goleiro Mão de Onça pegou tudo neste dia assustando os rubro negros de Aimoré Moreira. George e Adilson completariam o serviço, dois a zero para os visitantes, mostrando que as bruxas novamente estavam soltas na Fonte Nova.    
A FBF continuou intervindo pra colocar ordem no plano espiritual. Em 1980, pra não jogar no Dia das bruxas preferiu empurrar a rodada dupla Vitória 3 X 0 Redenção e Bahia 2 X 0 Atlético de Alagoinhas para o lúgubre Dia de finados. Três anos depois o desavisado diretor de programação pretendeu escalar o próprio BA-VI nesse dia, mas teve que mudar apressadamente para a véspera, 30 de outubro. Mesmo assim a simples menção de jogar neste dia fez penar tricolores e rubro negros, pois a bola não quis entrar “nem que matasse”.

Mas em 31 de outubro de 1985 o EC Bahia resolveu desafiar as bruxas. Afinal, que mal lhe poderiam causar. Estava de vento em popa num campeonato onde já era tetra campeão. O EC Vitória e outros clubes não aceitaram a marcação o que acabou levando ao desdobramento da rodada para alguns dias depois. O tricolor, porém, esqueceu de ganhar sua torcida para o desafio, preferindo esta deixar o estádio “ás moscas”.
Tudo correu bem durante a partida que terminou com a convincente goleada de quatro a um sobre o Fluminense de Feira de Santana. No entanto o que se viu no restante do campeonato foi o Vitória se agigantar e voltar a faturar o título baiano depois de cinco anos. Na ocasião não houve despacho de “Lourinho” que funcionasse.

Depois daí os dirigentes esportivos marcariam jogos pra todo tipo de data, Natal, São João, primeiro de abril, Finados, mas o medo das bruxas superou a preocupação com as punições religiosas e do destino. Mas nunca mais haveriam jogos na Fonte Nova no Dia das bruxas.

·    Agradeço as informações do Almanaque do Futebol Brasileiro, de Denethor Prix, e dos sites RSSSF Brasil, Granadeiros Azulinos e Futipédia. Sou grato ainda as imagens dos blogs:sites.levelupgames.com.br,bithccruz.blogspot.com,rodrigoleony.blogspot.com e angelaandrade.wordpress.com. 

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