segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Fonte Nova no reino dos animais

                              
Você já foi em Volta Redonda? Foi saiba que é uma cidade aprazível e progressista. Começou a ser demarcada no Século XVIII, mas só em 1926 foi elevada á categoria de distrito do município de Barra Mansa. A grande alavanca de seu crescimento foi a Companhia Siderúrgica Nacional-CSN, criada em plena Segunda Grande Guerra face os interesses norte americanos no aço e os acordos getulistas pro Brasil entrar na guerra.
Treze anos depois o distrito conseguiria a sua emancipação política como município. Mas pra criação do Volta Redonda FC ainda teria que ocorrer o interesse do general Ernesto Geisel de unificação dos estados do Rio de Janeiro e Guanabara que ocorreria em 1975. Logo depois é criado o clube num momento em que o projeto de “abertura” política faria disseminar o ditado “aonde a ARENA vai mal um clube no nacional”.  Foi seguindo esta política que a CBD empurraria mais de cem clubes no campeonato brasileiro durante os anos 70 e, do novo estado do Rio de Janeiro, entrariam os clubes de Campos (Goitacás e Americano) e o de Volta Redonda.  
O voltaço participaria desta confusão por três anos. Quase agradecemos esta situação por ter a honra de recebê-los em nosso zoológico da Fonte Nova. É o time mais jovem que jogou no estádio onde apareceria aqui antes de completar um aninho. Já possuía seu estádio Raulino de Oliveira, com capacidade de 21.000 torcedores. É que uma jaguatirica fêmea já está grandinha nesta fase alcançando a idade adulta ainda com um ano e meio. Já com os machos só aos dois anos.
                                                        É pra jaguatirica comer!
A jaguatirica apareceria aqui pra disputar dois amistosos na nova Fonte Nova com sua ampliação para o anel superior. E por uma dessas coincidências do destino o primeiro jogo que fez foi contra outro auri negro, em 28 de novembro, o mais querido Ypiranga em um gol.  Gostaria tanto da Bahia que passaria uma semana no estado. É que o bicho é de Mata Atlântica e, enquanto não acabarem, temos muito por aqui. Só então realiza outro jogo, contra o nosso querido rubro negro. A partida também foi dura. A jaguatirica arranhou, mordeu, venderia caro a derrota por três a um. Mas todos ficariam fãs daquele animalzinho tão simpático e, ao mesmo tempo, com tanta disposição de luta. Nem pareciam os times de profissionais, mais chegados pra mercenários, que aqui apareciam.
Mas o sentimento entre baianos e voltenses foi mútuo. Com um ano e oito meses de idade olhe a jaguatirica de novo! Chegou aqui na véspera do Dia das bruxas, o que já recomendava mal, pra jogar de novo contra o Vitória. Desta vez, porém, era “bola no mato que é jogo de campeonato”. Aí a jaguatirica pareceu mais uma onça. Ninguém entendeu o nome científico de felis pardalis. Feliz uma ova, os jogadores do Vitória foram pro vestiário todos arranhados! Sobrou até para o juiz. Os atacantes rubro negros não conseguiram nem sequer chegar perto da área para chutar, tendo que arremessar a bola de longe. Não podia dar outra coisa que um empate sem gols!
Neste jogo (ou caça?) histórico o Vitória de Alfredo Gonzalez formou com Gelson, Jurandir, Valter Silva, Amadeu e Zé Alberto; Dendê, Sena e Edson; Silvinho, Zé Júlio e Sivaldo.  Já a equipe visitante de Sebastião Leônidas esteve com Miguel, Mauro Cruz, Ari Martins, Edinho (Paulão) e Valdir; Nardo e Robenval; Botelho, Paulo Cesar I, Paulo Reina (Gomes) e Té.
                                     A jaguatirica não se arriscou a pescar no Dique do Tororó
45 dias depois era a vez de o Vitória conhecer a aprazível cidade de Volta Redonda. Diz à lenda que a delegação rubro negra se perdeu na CSN e chegou ao estádio em cima da hora. O Vitória não tinha nem uma espingarda, de modo que a caça ao bicho foi na mão e na rede mesmo. Assim não tinha quem aguentasse. E o resultado foi que todo o time saiu “lapeado” no novo empate a um gol.
No próximo ano foi que a CBD descarou. E os baianos foram ao Rio de Janeiro diversas vezes, pra jogar com Americano, Goitacás e Volta Redonda. Em 14 de maio o Vitória pisaria de novo no estádio Raulino de Oliveira. Desta vez, entretanto, estava mais preparado, levou caneleira, bota, uma rede de apanhar jaguatiricas, e passou repelente contra esses bichos.  O resultado é que saiu de lá bem pouco arranhado e conseguiu, por diversas vezes, prender o animal em sua malha. Mesmo assim só conseguiu ganhar pelo escore mínimo.
O EC Bahia soube da façanha do Vitória na cidade da CSN e decidiu se preparar. A tabela marcava pro dia 26 de abril de 1978 o jogo entre os dois times pelo campeonato brasileiro. Muito antes da data os dirigentes tricolores deram pra frequentar o Jardim Zoológico de Ondina. Ali souberam dos hábitos da jaguatirica e como fazer para neutralizá-la. Como não podia levar armas pra Fonte Nova o Bahia conseguiu emprestado pelo menos cinco animais, Douglas, Beijoca, Jesum, Altimar e Washington.
                                                      Invasão da CSN pelo Exército
No dia do jogo os jogadores do Bahia vieram com verdadeiras armaduras. Levaram debaixo das vestimentas morcegos, lagartos, cobras e ovos de tartaruga pra dar de comer ao animal. Aí meu amigo não sobrou nada pra simpática jaguatirica.  A bola foi entrando uma, duas, três, quatro e cinco vezes enquanto o bicho comia. O apetite desgraçado fazia seus dirigentes arrancarem os cabelos. E quem marcou foram os “animais” Douglas (2), Altimar (2) e Washington.
Dizem que uma jaguatirica dura no máximo vinte anos. Mas esses cientistas estão por fora. O voltaço continuou jogando mesmo fora da Primeira Divisão. Nos anos 80 nos lembraríamos dele quando o Exército invadiu a CSN e matou três operários. Foi um tempo duro pra jaguatirica que cairia até pra segunda divisão do campeonato carioca. Mas em 1995 seria vice campeã da terceira Divisão, e, dez anos depois, voltaria por cima no campeonato estadual onde obteria outro vice. Cinco anos depois, ao invés da jaguatirica morrer, quem morreu foi a Fonte Nova.
·         Agradeço as informações dos sites do Volta Redonda, Bola na área, Futipédia, wikipédia e do Almanaque do Futebol Brasileiro. Sou grato ainda as imagens dos blogs animal e de ozamirlima.blogspot.com.

Nenhum comentário:

Postar um comentário