O Guiness Book surgiu em 1955. Desde então passou a computar todo tipo de recorde, desde o mais sério até o mais curioso. Alí voçe pode achar tanto o clube que tem mais campeonatos como a pessoa que mais comeu cachorros quentes em dez minutos. Desde o político que exerceu mais mandatos como o cara que jogou um ovo mais longe ou o record mundial de passar roupa. Eu estou pensando seriamente em propor a seus organizadores que contabilizem 1971 como o ano em que mais se jogou futebol em um estádio inaugurado.
Já antes desse ano o questionamento crescente da ditadura militar no Brasil fez com que ela começasse a entrar no ramo dos espetáculos de massa. Já observamos em artigos anteriores o seu investimento no setor de comunicações e entretenimento musical. A proximidade da Copa do Mundo de 1970 no México fez a ditadura militar brasileira apostar no futebol. Sua primeira experiência, quatro anos antes, havia sido ridícula com a seleção “metendo os pés pelas mãos” eliminada, logo de saída, nas oitavas de final.
Desta vez se prepararia com antecedência, inclusive com intromissão direta na malfadada CBD. Foi neste contexto que foram construídos, ampliados e acabados uma série de estádios brasileiros. Lembramos a inauguração total do Morumbi, ocorrida a 25 de janeiro de 1970, a do novo estádio do Arruda em Recife, em quatro de julho de 1972, assim como a construção do anel superior da Fonte Nova, cuja inauguração se deu a quatro de março de 1971. Todas com a presença em pessoa do general-presidente Garrastazu Médici.
Recorde de prender pregador de roupa no rosto
Estes estádios, com capacidade superior a cem mil pessoas, se juntavam ao Maracanã, e possibilitaram uma nova era de massas no futebol brasileiro. Apoiado pela conquista incontestável do “tri” em terras mexicanas, e por um contexto de “milagre econômico”, o regime realizaria dois anos depois o que se chamou de “mini copa” para a comemoração do sesquicentenário daquilo que convencionamos chamar de independência e, como ninguém é de ferro, a realização das eleições municipais que apresentaria retumbante vitória da ARENA.
A ampliação da Fonte Nova, entretanto, não trouxe apenas efeitos políticos, mas também uma enorme euforia dos dirigentes esportivos da Bahia. O estádio do “Carneirão” em Alagoinhas foi criado nesta época, dando origem a um novo clube, o Atlético, que começaria a disputar o campeonato neste ano através de acordo com a FBF. Ao contrário do que aconteceu em sua primeira inauguração em 1951, a Fonte Nova não mais pararia de funcionar após a inauguração do anel superior. Quem quiser lembrar-se da inauguração sugiro consultar os três artigos anteriores onde tratamos dela.
Já no primeiro ano os torcedores baianos apreciariam o Campeonato Estadual, o Campeonato Brasileiro, amistosos e Torneios Interestaduais. Repare-se que naquele tempo tínhamos vários clubes de Salvador em atividade, a saber, Botafogo, Ypiranga, Palestra, Leônico, Galícia, Vitória, Bahia e Redenção. Além do Monte Líbano que havia disputado o certame do ano anterior. Vários deles jogaram na Fonte Nova, particularmente em rodadas duplas que, de preferência, incluíssem a dupla BA-VI ou um dos dois.
A edição do livro em 1971
O EC Bahia foi o único clube baiano que disputaria o primeiro campeonato brasileiro. Como naquele tempo não existia o critério de equanimidade na relação dos jogos realizados em casa e fora, pode fazer aqui 14 partidas, e apenas cinco fora de casa (duas derrotas e três empates). Mas sua campanha seria sofrível, acumulando cinco vitórias, cinco empates e quatro derrotas. Em casa o resultado mais largo seria a vitória contra o Sport por três a zero, sendo a derrota mais contundente para o América (RJ) por três a um.
É, porém, nos amistosos e nos torneios que se percebe o entusiasmo dos dirigentes esportivos. Como se sabe a inauguração foi feita através de um torneio. No dia fatídico de quatro de março o tricolor ganha do Flamengo pelo escore mínimo enquanto o rubro negro “perde” do Grêmio num jogo inacabado pelo mesmo escore. Três dias depois o meu rubro negro perderia de novo pelo mesmo escore, desta vez contra o tricolor. Porúltimo, Grêmio e Bahia empatariam por um gol, tendo o técnico Oto Glória gentilmente ofertado a taça para o Bahia. Na oportunidade o Flamengo desistiria de disputar o 3º lugar.
No mesmo mês da inauguração já haveria jogos amistosos no estádio. Quatro dias depois o tricolor (festa das faixas?) jogaria com o Fluminense de Feira de Santana vencendo-o pelo escore mínimo. Duas semanas depois seria a vez de o Vitória patrocinar um amistoso com o Atlético Paranaense, perdendo por um a zero e, do Bahia voltar a campo para perder do Botafogo (RJ) por quatro a dois.
Isso também aconteceu em 1971!
Um mês após a inauguração haveria outro torneio na Fonte Nova. Desta vez os participantes eram Bahia, Galícia, Santos e Cruzeiro. A primeira rodada foi exatamente no dia quatro de abril, quando na preliminar o Cruzeiro derrotou o time da colônia espanhola por três a um. Na partida principal, entretanto, o Bahia derrotaria a equipe de Vila Belmiro por três a dois. As finais seriam também no dia sete de março. O Santos não se recusaria a disputar o 3º lugar, derrotando o azulino por dois a zero. Mas as atenções estavam todas voltadas para o jogo de fundo onde a raposa mineira sairia com a taça após bater o Bahia pelo escore mínimo.
Durante mais de um mês deixaram a Fonte Nova somente pro campeonato estadual. Mas, nem tinha acabado maio e o Bahia traz o Atlético Mineiro. É outro mineiro para o qual perde pelo escore mínimo. O mês de junho é de trégua para acabar o campeonato vencido pelo tricolor que assim se sagra bicampeão. Mas o título é o primeiro na nova Fonte Nova, pois o do ano anterior havia sido jogado no campinho da Graça.
A trégua só é quebrada quando o governo resolve celebrar a data magna da Bahia o dois de julho promovendo um amistoso entre Bahia e Flamengo que termina com a vitória dos visitantes por três a um. O Campeonato Brasileiro começa em agosto e limita os espaços para amistosos. Mesmo assim os clubes insistem em jogar no estádio. Três dias após o Bahia estrear contra o Santos (0 X 0) ocorre o interessante jogo Ypiranga e Leônico, vencido pelo primeiro pelo escore mínimo.
A despedida de Pelé no Morumbi foi também em 1971!
A data da chamada independência do Brasil é celebrada no mesmo nível, e com um empate chinfrim entre Vitória e Ypiranga em um gol. O Vitória, em função de só entrar no campeonato brasileiro no ano seguinte, não pode ficar parado, e realiza outros amistosos. No dia nove de setembro traz o Fortaleza pra Bahia, vencendo-lhe pelo escore mínimo. Logo a seguir é o promotor da temporada do Bangu que faria três partidas no estádio.
O rubro negro, porém, não consegue bons resultados contra o alvi rubro carioca, empatando sem gols num primeiro jogo e perdendo de três a um na revanche, no mesmo dia em que Bahia e Grêmio empatam sem gols em Porto Alegre. O resultado que acaba sobrando para o Bahia “salvar a honra do estado”, o que ocorre em 22 de setembro vencendo por três a zero.
Mas não era somente o Vitória que era o “dono do pedaço”, pois o Bahia, mesmo disputando o certame nacional, usaria datas pra fazer amistosos e experimentar jogadores. Exemplo disto foi o que fez em 6 de outubro, jogando com um time misto contra o XIII de Campinas (PB) quando empataria em um gol.
Uma das primeiras pornochanchadas
Pouco antes de terminar o campeonato brasileiro em novembro o Vitória promoveria dois bons amistosos. No primeiro se “daria bem” contra o Atlético Mineiro, saindo vencedor pelo escore mínimo. Mas no segundo voltaria a tropeçar no América carioca com o qual empataria sem gols.
O campeonato brasileiro terminaria três dias depois, e, acreditem se quiserem, mesmo sendo perto do fim da temporada os clubes continuariam afoitos pra jogar e, naturalmente, tirar uma lasquinha da Fonte Nova. No último mês do ano conseguiriam a façanha de trazer pra aqui mais um torneio. Foi entre a dupla BA-VI e a dupla FLA-FLU. Fui assistir a primeira rodada no dia primeiro de dezembro mas não haveria gols entre Vitória e Fluminense e Bahia e Flamengo. Na segunda rodada foi um pouco melhor. Pelo menos houve gols e o Bahia perdeu pro Fluminense por um a zero enquanto o Vitória empatava com o Flamengo em um gol. Eu nem me lembro se o time das Laranjeiras levou taça neste dia!
Estão prensando que “aquetaram o facho”? Que nada! Quatro dias depois eu estava na Fonte Nova pra ver o meu rubro negro empatar em um gol com o CRB de Alagoas. O Bahia não fez por menos trazendo o Cruzeiro na semana seguinte, mas perdendo de novo por dois a um. Mais quatro dias e era a vez do Vitória trazer o Náutico, o qual (até que enfim!) ganharíamos por três a zero.
Será que é por isto que tem tanta gente fora do Brasil?
Esta disputa absurda por datas da Fonte Nova que os clubes fizeram o ano todo só se “resolveria” nos últimos dias do ano. Vocês acreditam que ainda marcaram três BA-Vis “amistosos”? Foi o fim da picada! O primeiro, realizado em 21 de dezembro, ainda deu público. Eu mesmo iria, com esta cara de pau que Deus me deu, assistir o Vitória apanhar de dois a um. Mas no segundo jogo não houve quem me fizesse ir na Fonte Nova. Também, meu amigo, jogo no dia de Natal? Deve ter sido o único jogo do mundo neste dia e o BA-VI mais chocho de toda a história do clássico, só podia acabar mesmo empatando (1 X 1). E, três dias antes do réveillon, ainda assisti pelo rádio meu time perder mais uma, pelo escore mínimo.
Desde a inauguração a Fonte Nova teve umas setenta partidas em 302 dois, o que dá uma média de um jogo a cada 4,3 dias. Se o ano não tivesse somente 365 dias até hoje ainda estariam jogando!
· Agradeço as informaçõe do Almanaque do Futebol Brasileiro e dos sites Wikipédia e Futipédia. Sou grato também as imagens dos blogs abrangente.blogspot.com,acemprol.com,zisno.com,estranhoencontro.blogspot.com e joserenato.midiasemmedia.com.br.
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