A relação esportiva dos baianos com os paranaenses é bem antiga. Data desde o antigo campeonato brasileiro de seleções quando os baianos foram incluídos no grupo sul(sic!) do certame. Um dos primeiros amistosos entre clubes dos dois estados se deu quando se finalizava a construção da Fonte Nova em cinco de abril de 1950.
Naquele dia, quem estava no velho campinho da Graça jura que viu o céu escurecer quando o “furacão” entrou em campo. Foi um duelo de rubro-negros. De um lado o EC Vitória, formando com Ferrari, Cláudio e Valder; Joel, Diogo e Alírio; Edson, Moacir(Juvenal)(, Nouca, José(Bahiano) e Simbaúma. Do outro o Atlético Paranaense, atuando com Laio, Nilo e Delson; Valder, Wilson e Sanguinetti; Viana, Villanuieva, Nino(Jackson), Rui e Cireno. A Bahia viu pela primeira vez um furacão naquela época e só mesmo o rugir de um leão furioso com os ventos poderia contê-lo. O resultado seria um empate sem gols.
Os especialistas em metereologia dizem que os furacões se formam porque o mar concentra e conserva calor e, no verão, recebe uma maior quantidade e se aquece. Que quando chega sua superfície a certa temperatura a evaporação da agua passa a ser mais rápida e o ar começa a subir em forma de coluna, em volta da qual começam a soprar ventos. As gotas de agua formariam nuvens e, em alguns dias, chuvas e trovões.
Oi ele aí chegando!
Aqui na Bahia agente sempre ficou neste estágio. Mas em outros lugares o negócio “pega” pois, quando os ventos chegam a 120 quilômetros por hora é o diabo. Aparace o “olho do furacão” e os ventos são acompanhados de fortes chuvas e grandes ondas, maiores ou menores que podem arrasar tudo a depender do nível de classificação do fenômeno da natureza.
Mas não concordo com os metereologistas. Pelo menos no esporte os furacões não surgem assim. O do Atlético Paranaense teve até data e local, apareceu no campeonato paranaense de 1949 quando o clube literalmente causou a maior ventania já vista no Sul encaixando onze goleadas seguidas! Mas numa coisa os metereologistas tem razão, os furacões são viajantes e duram poucos dias.
Durante muitos anos o “furacão” não voltaria ao Paraná nem a Bahia. Os estados seguiriam caminhos diferentes. O Vitória iria aderir definitivamente ao profissionalismo voltando a ganhar títulos estaduais e a Fonte Nova seria vitoriosa em dois certames nacionais. Já o Atlético Paranaense entraria numa era de vacas magras que duraria mais de duas décadas (só quebrada com os títulos de 1958 e 1970) incluindo até uma passagem pela Segunda Divisão do estado.
Uma efêmera recuperação, entretanto, o levaria á condição de primeiro clube paranaense a participar de um Campeonato Brasileiro. E foi o intercâmbio dos certames nacionais que reaproximaria os dois estados fazendo com que o Atlético voltasse a jogar na Bahia em 16 de março de 1973.
Nos dias que antecederam a partida o céu ficou carregado. Ondas perigosas corriam pela Baía de Todos os Santos num furacão grau três. A partida redundou em novo empate, desta feita por dois gols. Na ocasião histórica, o “furacão” paranaense seria comandado por Vail Mota, numa época em que vestiam sua camisa jogadores como o goleiro Gainete, o lateral Vanderlei, o meia Didi Duarte e o atacante Buião. Já no rubro negro baiano, treinados por Castilho, se destacavam o lateral-esquerdo Jorge Valença, o meia Davi e o atacante Osny. Três meses depois mais um empate ocorreria entre as duas equipes, desta vez em Curitiba.
Na sua última década de ostracismo o Atlético Paranaense jogaria apenas mais uma vez na Fonte Nova, em outubro de 1976. Na ocasião sequer seria acompanhado de furacões. Talvez tenha sido por isto que sofreu sua primeira derrota para os baianos (um a zero com gol do ponta esquerda Jésum). Também seria muita sacanagem com as crianças pois o jogo foi na véspera do dia dedicado a elas. Como acabou fazendo sol a partida foi assistida por mais de doze mil torcedores numa época em que não pode trazer o craque Sicupira que não jogava mais.
Arena da Baixada
O Atlético dirigido por Geraldo Damasceno jogaria com Altevir, Ladinho, Alfredo, Gilberto e Marinho; Gerson Andreotti, Rota, Bira Lopes(Cláudio Radar); Nilton Batata, Tadeu(Nenê) e Tião Marçal. Já o Bahia do técnico Orlando Fantoni atuaria com Joel Mendes, Perivaldo, Sapatão, Zé Augusto e Romero; Alberto, Baiaco, Edu (Gibira); Jorge Campos, Douglas e Jésum.
Logo depois o clube se afastaria mais uma vez da boa terra, em função, particularmente, dos percalços das estranhas tabelas do certame nacional. Os baianos tiveram que se conformar com esses temporaiszinhos daqui. Só voltaria depois que a CBF substituiu a antiga CBD e se extinguiu a ditadura militar.
O clube já havia feito as pazes com o título estadual por três vezes, e, no ano seguinte á última conquista, em 12 de outubro de 1986, voltou á velha Fonte Nova. Na ocasião os baianos lhe dariam o maior público da história dos confrontos entre os dois estados, com mais de 41 mil pagantes, que acorreram ali, certamente, com saudades do “furacão”. Mas na ocasião não passou do grau um, chovendo um pouco, se ouviu umas trovoadas, mas isso o baiano “tira de letra”. O jogo contra o tricolor não tiraria o zero do placar.
O olho do furacão
Os paranaenses eram treinados por Levir Culpi e formaram com Marola, Cambé, Marcão, Orlando Fumaça e Haroldo; Barbosa, Deu, Roberto Cavalo(que mais tarde seria vice campeão brasileiro pelo Vitória) e Mauro Madureira; Agnaldo, Joãozinho e Renato Sá. Já o esquadrão de aço de Orlando Fantoni, atuou com Rogério, Edinho, Estevão, Claudir e Joel Zanata; Leandro, Paulo Martins, Bobô e Zé Carlos(Humberto); Marinho e Sandro.
No ano seguinte o grau do furacão aumentaria. Estávamos no módulo amarelo(uma invenção da CBF)e eu e mais apenas 7.700 torcedores pagaria pra sentir frio e saír molhados da Fonte Nova onde o Atlético Paranaense obteria sua primeira vitória em terras baianas ao derrotar o meu Vitória, dirigido pelo técnico Abel, por dois a um. O jogo foi poucos dias depois da data consagrada ao que dizem que foi a independência do país, e, naquele dia, só mesmo um Lula “mamão” conseguiria fazer um gol pra gente com aquele vento.
Em 1988 o “furacão” voltaria a ganhar o título paranaense no entanto o furacão não apareceu por aqui. Sem mudanças na atmosfera o tricolor baiano nem quis saber derrotando-o na Fonte Nova em 15 de outubro por dois a zero, gols de Renato e Zé Carlos, para pouco mais de oito mil pagantes. Não veio mais gente por medo do vento que poderia “rolar”.
A cidade ficava assim quando o Atlético jogava na Fonte Nova
O ano de 1989 seria um dos mais ativos no calendário baiano. Baixou um furacão na política local que levou de roldão até o governador Waldir Pires que renunciou. No esporte a dupla BA-VI foi de mal a pior no certame nacional, tendo que disputar o apelidado “Torneio da Morte” que rebaixaria para a Segunda Divisão. Mas foi o ano em que o Atlético Paranaense mais visitaria a Bahia.
Na primeira partida deu até um ventinho e umas chuvas na Fonte Nova, quando do seu empate com o tricolor sem gols em outubro. Na ocasião jogavam no Bahia Naldinho e Charles e no Atlético Mazinho Oliveira. Como não teve nem ensaio de tempestade os baianos perderam o medo e quem pagaria seriam os paranaenses que perderiam (1 X 2) e empatariam(1 X 1) com o rubro negro baiano que acabaria sendo o vencedor do malfadado certame. O time de João Francisco que conseguiria este “título” de morte tinha valores como os meias Bigu e André Carpes e o atacante Hugo.
Nos anos 90 traria boas condições atmosféricas para o Paraná. Fruto disto o “furacão” só ganhou dois campeonatos estaduais, embora apresentasse vitórias administrativas e em seu patrimônio. Estava se formando nos mares do Sul uma tempestade de grandes proporções e que só seria percebida na década seguinte. Seu antigo estádio Joaquim Américo entraria em reforma e três anos depois viria abaixo para dar lugar a uma moderna arena de esportes. Na Bahia o EC também construiu uma nova praça de esportes, o “Barradão”, que lhe permitiu mandar os jogos.
Só de barco se chegava á Fonte Nova nos dias de furacão
A despedida dos jogos entre os dois rubro negros na Fonte Nova ocorreu em num confronto memorável pela Copa Brasil. Tudo estaria resolvido na última semana de fevereiro quando os baianos empatariam em um gol em Curitiba. No dia 28 de fevereiro de 1991 e eu e mais 4.193 torcedores comprariam ingresso pra ver o Vitória de Pedro Toledo na Fonte Nova ir adiante na copa.
Nesse dia histórico não deu nem um ventinho sequer. Lembro-me ainda de alguns jogadores que atuaram nesta partida, como o goleiro Ronaldo, o lateral Paulo Robson e os meias André Carpes e Tobi. Já os paranaenses de Procópio estiveram com craques como os atacantes Eder Antunes e Serginho. O rubro negro baiano iria mais adiante na copa com a vitória por dois a um, com tentos assinalados por André Carpes e Junior ainda no primeiro tempo.
O tricolor é que faria as honras da casa na Fonte Nova a partir de agora, algumas vezes em datas estranhas, como, logo depois, em 31 de março de 1991, onde as vivandeiras lembravam os 27 anos do golpe militar, empatando em um gol. Nesse dia além do vento o céu escureceu totalmente e não houve refletor que iluminasse. Mas o que os paranaense nunca vão esquecer é o da volta do furacão em 1992.
Vejam se alguém da Orla Marítima aguentava isto!
Foi um mês de calamidades em Salvador. Choveu logo no verão e continuou piorando o tempo no período habitualmente de chuvas de abril/maio, mas os trovões e o mau tempo se estenderam durante boa parte do ano. Todo mundo reparou que, na proximidade dos jogos contra o Atlético Paranaense, a coisa engrossou. Nesse ano até São Pedro mudou de lado. Foi sob o vento frio do Sul na Fonte Nova que o furacão venceria o tricolor por duas vezes seguidas, três a dois(23 de fevereiro) e dois a um(dois de outubro).
O elenco de jogadores capazes desta façanha foi treinado por Geraldo Damasceno e José Carlos de Oliveira, e era integrado pelo goleiro Gilmar (Sadi), pelos meias Leomar e Negrini(Pedralli), ou ainda Mineiro e Alex Lopes, e pelos atacantes Renaldo e Oséas(Valdir Benedito). O tricolor até que tinha um bom meio de campo, com Lima Sergipano, Osmar, Lenilton e Paulo Rodrigues e um ataque onde havia Naldinho, Marcelo Ramos e Vandick. Mas os ventos arrastaram tudo que se movia na Fonte Nova.
O ano azíago para a Bahia não voltaria a ser repetido. Se não houvesse outro motivo seria pelo fato do “furacão” passar a acumular forças para a “virada” do novo milênio. Assim, esteve irreconhecível no restante da década na Fonte Nova. Salvador vivia tempos de calmaria e o Atlético perderia por dois a zero a partida realizada em 21 de agosto de 1996. Na ocasião ainda jogavam juntos pelo tricolor Charles e Bobô e Fito Neves dirigia a equipe, e, por sua vez, Evaristo de Macedo tinha trocado de lado para treinar o Atlético onde atuavam o lateral campeão Branco e o atacante Paulo Rink.
E tome agua na Fonte Nova...
Quatro anos depois o tempo continuava bom e novamente o ex-furacão foi derrotado, agora por dois a um para um esquadrão de aço onde havia retornado Evaristo enquanto Artur Neto dirigia o Atlético. O Bahia tinha é época o goleiro Emerson, os defensores Felipe Alvim e Jefferson, os meias Bebeto Campos, Luiz Capixaba e Jorge Wagner(Bahia). E o rubro negro paranaense os meias Kléberson, Silas(que depois seria técnico)e Luiz Carlos Goiano e o centro avante Kléber Pereira(que recentemente passou pelo Vitória).
Três anos o clube voltaria a assustar os baianos. Havia sido campeão brasileiro em 2001 e iria continuar levando o nome do Paraná cada vez mais distante, obtendo vices campeonatos seguidos, no Brasil(2004) e na Libertadores da América(2005). Só muito fanatismo levaria 19. 535 torcedores á Fonte Nova naquele 23 de novembro de 2003. Foi uma semana de chuvas em Salvador e quase chegamos ao grau cinco.
O jogo foi um rosário de despedidas. O Atlético dava adeus ao nosso histórico estádio e o Bahia a Primeira Divisão da qual ficaria ausente por sete anos. Naquele ano o agora técnico Mário Sérgio, bem conhecido dos baianos, levaria o rubro negro paranaense ao 12º lugar no certame nacional. As equipes desse jogo histórico formaram com (Bahia do técnico Edinho)Emerson, Chiquinho, Marcelo Souza, Paulinho(Marcelo Nicácio) e Valdomiro; Danilo Gomes(Cláudio),Neto, Ramos e Preto Casagrande; Didi e Elias(William); (Atlético) Diego, Alessandro, Alessandro Lopes, Daniel e Rogério Correa; Michel Bastos(Izaías), Alan Bahia e Luciano Santos; Adriano Gabiru, Alex Mineiro e Jadilson(Ricardinho).
O vento levou até a estátua de Pelé!
Não ficou nenhum jogador em pé pra contar a história desse jogo, dois a zero para os paranaenses. A Bahia continuou atingida por todo tipo de calamidade, deslizamentos, enchentes, mas nunca mais um furacão apareceria por aqui. Muita gente gostou pois melhorou muito o tempo mas tem gente que até hoje sente saudade daquele ventinho frio que percorria o corpo e a espinha quando o Atlético Paranaense jogava na Fonte Nova.
· Agradeço as informações dos sites do Atlético Paranaense, Vivo Fiocruz, do Wikipédia, do Futipédia, do Canal Vitória e de Juliana Rocha. Sou grato também as imagens dos blogs internet.net,bbc.co.uk,blog10.wordpress.c om e emtemporal.com.br.
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