terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O maquinista e a Fonte Nova

                                                   O trem da Desportiva Ferroviária

Muita gente sabe que a antiga Companhia Vale do Rio Doce - CVRD, é a maior empresa brasileira e a segunda maior empresa de mineração do mundo. Que, entre outros materiais, produz carvão, cobre alumínio, níquel, platina, cobalto e minério de ferro. No Brasil atua no setor de logística, ferrovia, minas, usinas e terminais marítimos. Sua história está ligada ao Espírito Santo, em função de ter sido durante a construção da estrada de ferro Vitória-Minas que se soube da grande reserva de minério de ferro na região.
Mas o que alguns não sabem é que a companhia teve um clube de futebol. A coisa foi mais ou menos assim. Nos anos 60 os ferroviários participavam de diversos clubes que costumavam solicitar apoio da empresa. Foi visando reduzir suas despesas que a companhia estimulou em 1963 a fusão de vários clubes que formaram a Associação Desportiva Ferroviária Vale do Rio Doce. O nome não deixava dúvida quem era a dona do empreendimento esportivo.
A Desportiva pode assim montar um sólido patrimônio, que incluiu um estádio (que hoje tem capacidade pra 20.000 torcedores) que chegou a receber a seleção brasileira, muitas conquistas e uma fiel torcida, engrandecendo o estado coirmão.
A tradição de intercâmbio entre baianos e capixabas veio de antes da Desportiva. Remonta ao velho campeonato brasileiro de seleções. Quando foi criada a Fonte Nova o processo se intensificou, com a realização de temporadas entre clubes dos dois estados. Aqui estiveram o Rio Branco e o homônimo Vitória. Mas, foi a partir da criação da Desportiva que o processo ganhou equilíbrio em termos de resultados, particularmente quando da criação dos certames nacionais.
A primeira apresentação da Desportiva na Fonte Nova se deu durante o terceiro Campeonato Brasileiro em 1973. A partida ocorreu dois dias após o dia consagrado as crianças. Na ocasião fui um dos 13.345 torcedores pagantes que viram os capixabas e a atração Fio Maravilha. Não fez muita coisa, mas deu pra assustar a defesa do Vitória, que mostrou que não queria brincadeira e ganhou de dois a um, gols de Valdir Espinosa e André Catimba, futuros técnicos de futebol do clube.
Nesse jogo histórico os capixabas de Sancinelli jogaram com Edalmo, Marquinhos, Elci, Juci e Nelson Souza (Adalberto Souza); Sérgio, Wilson Pereira, Déo (Evandro); Elísio, Fio Maravilha e Zezinho. Já meu rubro negro dirigido técnico Carlos Castilho atuou com: Agnaldo, Valdir Spinoza, Dutra, Valter e França; Deco (Didi), Davi, Fernando Rabelo e Mário Sérgio; Osny, Piolho e André Catimba.
                                     A luz do trem ajudava até os refletores da Fonte Nova!
No ano seguinte a CVRD assumiu a liderança mundial na exploração de minério de ferro e a Desportiva comemoraria o feito esportivo de participar pela primeira vez do Campeonato Brasileiro e enfrentar o EC Bahia pela única vez na Fonte Nova. Os 13.868 que ali compareceram viram o apito de um maquinista misterioso que comandou a equipe no empate em um gol.

Na ocasião o tricolor de Paulo Frossard jogou com Zé Luiz, Ubaldo, Sapatão, Altivo e Romero; Fernando, Baiaco e Douglas; Thirson, Piolho, Picolé e Peri (que marcou o gol tricolor). A Desportiva de Silvio Pirilo (lembram-se?) atuou com George, Léo, Elci, Juci e Élson; Evandro (Alves), Russo e Sérgio; Jaldemir (Marques), Paulinho e Zezinho (que marcaria o gol dos encarnados).
Os capixabas continuaram no certame nacional que, em seus casuísmos, não permitia que cruzassem com os baianos. Mesmo assim retornaria três anos depois á Fonte Nova, logo no dia posterior da data celebrativa da alegada república. Creio que o clima contagiou a Desportiva que venceu pela primeira vez os times baianos no nosso histórico estádio, ganhando do Vitória pelo escore mínimo, gol de Corinto.
Na oportunidade menos de 3.000 torcedores pagariam pra ver o maquinista com seus apitos que ecoavam no estádio. A equipe dirigida por Nelsinho Rosa formaria com Samuel, Suemar, Edmar, Paulo Cesar Colorado e Vicente Paixão; Célio (Evandro), Marcos e Sérgio; Corinto (que faria o gol do triunfo), Orlando e Toninho II. Na época o rubro negro de Alfredo Gonzalez tinha jogadores como o goleiro Iberê, o lateral Claudio Deodato, o zagueiro Amadeu e o meia Sena.
                                          A Fonte Nova esperando o maquinista misterioso
O resultado ficaria encravado na garganta do clube que, porém, teria que esperar mais três anos para a desforra. E ocorreu no ano em que os capixabas tiveram seu melhor desempenho no Campeonato Brasileiro, terminando em 15º lugar. Era o dia 16 de março de 1980 e 10.210 torcedores pagaram pra ver um grande jogou que terminaria favorável ao Vitória por quatro a dois.
Os baianos eram treinados pelo grande capitão Orlando Peçanha e tinham jogadores como o goleiro Gélson, a dupla de zagueiros Otávio Souto e Xáxa; a “meiúca” com Dendê, Edson Silva e Sena; e um ataque com Pita, Tatá e Sivaldo.  Já os encarnados de Beto Pretti estiveram com Samuel, Toninho, Edmar, Edson e Vicente Paixão; Adalto, Evandro (Luiz Cláudio) e Botelho; Dario, Vicente Cruz e Zuza (Kléber).
Mas a história entre os clubes dos estados vizinhos ainda não havia terminado e teria seu desfecho nas vésperas do carnaval de 1982. O jogo era pela primeira fase do Campeonato Brasileiro onde a Desportiva se recuperava da desastrosa campanha do ano anterior que havia lhe levado á lanterna do certame.
                                                                   Olhe ele aí!
Naquele dia dez de fevereiro os torcedores que chegaram a Fonte Nova tremeram na base ao ouvir o apito do maquinista misterioso. Será que ia aprontar alguma coisa contra nosso querido rubro negro? Foi uma partida tão franca quanto a anterior, só que com uma diferença. Quando o ataque da Desportiva pegava na bola vinha qual um trem atropelando a defesa rubra negra que fazia o que podia pra aliviar a situação. Foram então se sucedendo os gols de Naldo, Raul Zanata, Naldo de novo e até Batalha, mostrando que os capixabas se empenharam em sua última batalha da Fonte Nova. O rubro negro ainda marcou com Joel e Zé Augusto, mas foi insuficiente pra fazer frente à “máquina” espírito-santense que devolveria os quatro a dois.
Os protagonistas do feito capixaba seriam o técnico Delci Rodrigues, e os jogadores Rogério, Edmar, Gabriel e Raul; Marcos Nunes, Batalha (Raul Zanata), Jorge Luiz e Dario; Marcos Lima (Flecha), Naldo e Zuza. Já o rubro negro de Daltro Menezes caiu com Geninho (lembram-se dele no gol?), Valder, Alexandre, Nad e Marquinhos; Assis, Joel, Jorge Luiz e João Marques (Zé Júlio); Laerte e Zé Augusto.
A derrota calou fundo nos baianos, mas não abalou as relações entre os dois estados, afinal de contas, como o próprio hino dos capixabas afirma, “é o clube que sabe fazer amigos”. O EC Bahia enfrentaria outros clubes do estado nos anos seguintes pra buscar a desforra. Assim, o Rio Branco cairia aqui por quatro a zero, e, o homônimo Vitória, seria esmagado com uma espetacular goleada de sete a zero. Cobraram isto do maquinista que não estava nem aí, afinal pra Desportiva tudo estava quite entre baianos e capixabas.

Os 6672 torcedores que pagaram ingresso não suspeitariam que os encarnados nunca mais jogariam na Fonte Nova. Colaborou pra isto a sua rarefeita participação nos certames nacionais onde só voltaria a estar por duas vezes. Três anos depois sofreria duro golpe em sua subsistência material com a privatização da companhia que lhe levaria á decadência.
A própria empresa não seria mais a mesma que foi criada nos anos quarenta. O regime de economia mista mudaria para capital aberto. A venda do seu controle acionário nos anos FHC foi um crime contra o patrimônio nacional, U$ 3,3 bilhões, o que equivale hoje a 1,6% da avaliação da companhia e a uma pequena parte de seus lucros anuais. Uma década depois incorporaria a INCO canadense. Trocou até de nome sendo agora a Vale S/A.
Tudo isto afetaria a Desportiva. O clube desceria pelas tabelas, caindo para a Segunda, Terceira e Quarta Divisão. Seria rebaixado até no Campeonato Estadual. O clube até trocou de nome pra Desportiva Capixaba. Dizem que nesta época o maquinista deixou de apitar. A Fonte Nova ficaria com saudades daquele apito que lhe fazia correr um frio na espinha. Aliás, o seu destino acompanharia o do maquinista. Deixariam de fazer manutenção no estádio.

Esta situação acabaria com o trágico desastre de 25 de novembro de 2007 que levaria a sua primeira morte e quando a Copa do Mundo 2014 era confirmada para o Brasil. Três anos viria à morte matada da implosão. Pra não ficar na tristeza é bom dizer que a Desportiva há algum tempo começou uma reação e existe muita gente que sonha em ver o trem passar de novo nos estádios do Brasil com o clube no primeiro vagão.


·         Agradeço as informações dos sites Wikipédia e Fitipédia, e do blog folhagrena. blogspot.com. Agradeço também as imagens dos blogs:jessicasalles1.blogspot.com,sofaloaverdade.blogspot.com,loversindie.blogspot.com,corbalan.wordpress.com e blogdofabre.ig.com.br. 

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