terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Osório, a imprensa e os bastidores da decisão da I Taça Brasil (II)

              
                                                   O capitão herói no oeste americano
Hoje continuamos o artigo de ontem sobre os bastidores da decisão da I Taça Brasil. Começamos após as eleições da FBDT que reconduziram o coronel Bendocchi Alves ao cargo em meio á uma férrea oposição do Diário de Notícias.
Em quinze de fevereiro uma reunião pacifica a relação entre a federação e o Tribunal de Justiça Desportiva e uma semana depois um encontro de pesos pesados coloca frente a frente os presidentes Eisenhower e Juscelino. Quatro dias depois o EC Vitória ganha o segundo turno, durante a realização dos gritos de carnaval, ao empatar sem gols com o EC Bahia mesmo tendo um gol de Matos injustamente anulado. E, parece final a proposta da CBD para que a decisão da I Taça Brasil seja no máximo no dia 15 de março. Porém, o Santos está excursionando pela América do Sul.
O mês de março começa com o DN dando espaço a críticas a CBD por não impor ao Santos a realização do jogo. No dia seis o jornal lança uma edição especial comemorativa aos seus 85 anos onde o caderno esportivo homenageia a dupla BA-VI. Logo depois se inicia o terceiro turno do campeonato baiano onde o Bahia estreia a todo vapor arrasando o Ypiranga por cinco a zero. Nesta ocasião o tricolor passa à ofensiva. Primeiro substitui o técnico Geninho que tinha levado o time á decisão por Carlos Volante. E, segundo, propõe ao time santista que a partida decisiva seja realizada mesmo em Salvador onde o Fluminense (BA) abriu mão de jogar no dia 27 de março.  Olhei todas as edições do período e não vi o time peixeiro se dignar a responder esta oferta.
O EC Bahia na sua estréia na I Taça Brasil em Maceió. Em pé: Marito, Wassil,Hamilton, Ari e Biriba. Agachados:Leoni,Haroldo,Henrique,Nadinho,Vicente e Florisvaldo.

A escolha do argentino Carlos Volante que teve menos de um mês para preparar o time e a alegria com a volta do Bahia á Primeira Divisão ofuscaria os cem anos de seu nascimento em novembro de 2010. Um técnico de apenas um jogo em uma campanha, mas que tinha, seguramente, bem mais experiência do que Efigênio Bahiense, o “Geninho”. Destaque-se a sua intimidade com o Maracanã, com o futebol do Rio de Janeiro e da Bahia, aonde foi tricampeão pelo Flamengo e responsável por tirar o Vitória em 1953 do jejum de títulos. 
A próxima investida de Osório é o juiz da partida, onde faz desta vez uma jogada magistral. Toma a iniciativa de indicar o juiz José da Gama Malcher para dirigir o jogo imediatamente vetado pelo Santos. O tricolor então reage propondo que o próprio alvi negro indique que juiz ele quer. A situação constrange o time da Vila que acaba propondo a CBD que o Bahia indique uma lista o que é aceito por este, para a qual indica Frederico Lopes e Eunápio de Queiroz. Desta maneira o Santos acaba indo para uma decisão onde os juiz programado pela CBD sabe que apitará a final por que foi proposto pelo Bahia.
Uma semana antes do jogo o Olaria chega a Salvador onde joga com o Bahia (perdendo por um a zero) e Ypiranga (empatando sem gols). Enquanto os jornais preferem se concentrar na possibilidade de uma transferência para Maceió do coronel Bendocchi Alves que está sendo articulada nos bastidores. Especula a possibilidade de assumimento da federação do dirigente botafoguense Augusto Carneiro.
O Santos na excursão de 1959.Em pé:Lula(técnico),Lalá,Calvet,Fioti,Zé Carlos,Dalmo,Zito,Laércio,Formiga,Mauro.Agachados:Tite,Sormani,Mengalvio,Coutinho,Pagão,Pelé,Ney,Dorval e Pepe.
Quatro dias antes da final o DN informa que Pelé não jogará por estar no Departamento Médico. E, um dia depois, o agredido Moacyr Nery se ele presidente da ABCD após ganhar por 26 a 13 do jornalista Nilton Calmon. O que “rola” na página política são as candidaturas a presidente da Câmara Municipal onde vemos com surpresa o nome do vereador Osório Vilas Boas.
No domingo dia 27 de março o Santos empata com o Palmeiras sem gols pelo Torneio Rio-São Paulo e o Vitória enfia uma “balaiada” no Guarany pelo campeonato baiano: sete a um. Parece que nestes dias houve um estranho consenso dos cinemas baianos pois o Excelsior, o Itapagipe, o Rio Vermelho e o Aliança estão passando Da terra nascem os homens com Gregory Peck e Charlton Heston. O filme épico de aventura de William Wiler conta a história de um capitão que em sua saga pelo Oeste norte-americano acaba por encontrar invejosos e rivais perigosos, lutando por sua vida e a dos seus.
Mas o mais estranho de tudo é o jornal DN no dia da grande final Bahia X Santos no Maracanã. Nada é publicado com destaque na primeira página e, quem ler as páginas esportivas desse dia pensará que não está na Bahia tal o pouco destaque do importante episódio. A abordagem do jornal destoa completamente com o que será feito depois da partida.
                                                     A revolução cubana de 1959
Como já se disse o jogo no Maracanã foi apitado por Frederico Lopes, que foi auxiliado pelos bandeiras Ayrton Vieira de Morais e Wilson Lopes de Souza. Ao contrário do receio do Santos os cariocas atenderam ao apelo da partida a qual pagaram ingresso 17.330 pessoas que deram uma renda de 642.000 cruzeiros. Elas viram o primeiro tempo terminar em um a um gols de Coutinho pouco antes dos trinta e do zagueiro baiano Vicente cobrando falta dez minutos depois.
O time peixeiro não se deu ao trabalho de analisar os jogos anteriores do tricolor. A equipe tinha a prática de ir pra cima do adversário nos primeiros minutos da partida segurando o resultado depois. E, o clube foi bafejado pela sorte no segundo tempo, quando no primeiro ataque Léo Briglia coloca a bola para o fundo das redes após um cruzamento. O gol do artilheiro do certame foi o verdadeiro decisivo da partida pois tirou a equipe santista, que experimentava importantes desfalques, do sério.
A partir daí os seus ataques não guardavam o mesmo senso de organização enquanto a defesa parava os contra ataques tricolores de qualquer jeito. Há muito tempo os baianos eram prejudicados pelas arbitragens que deixavam campear o jogo bruto quando era de interesse dos clubes sulistas mas nesta noite de terça feira não foi assim. O juiz Frederico Lopes reagiu à situação expulsando seguidamente aos santistas Getúlio e Formiga ainda no meio do segundo tempo.
                                        Santos X Bahia na Fonte Nova sem o anel superior
Estávamos a dezoito minutos do final com o tricolor tendo a vantagem de onze homens contra nove, mais cinco minutos e Alencar “fecharia o caixão” dos paulistas anotando o três a um. Coutinho (SAN) e Vicente (BA) seriam expulsos quase que imediatamente, e Dorval pouco antes do final. Nesse dia histórico os times jogariam assim:
Bahia com: Nadinho, Beto, Henrique e Nenzinho; Flávio e Vicente; Marito, Alencar, Léo, Mário e Biriba. O Santos com: Lala, Getúlio, Mauro e Zé Carlos; Formiga e Zito; Dorval, Mário, Pagão (Tite), Coutinho e Pepe. O Bahia tinha mudado apenas um jogador em relação ao jogo da Fonte Nova, saindo Flávio e entrando Nenzinho, o resto foram alterações de posição. No entanto, no Santos haviam cinco importantes mudanças. O goleiro Laércio havia saído para dar lugar a Lala, da zaga só sobraram Getúlio e Formiga, o meia Urubatão saiu para dar lugar a Mário, e no ataque a principal, onde Pelé havia sido substituído por Pagão.
Um dia depois nem se reconhecia o Diário de Notícias da véspera que estampava em pelo menos três páginas a vitória do EC Bahia. A manchete da primeira página foi
Ao fim do jogo carnaval tomou conta da cidade

A efusão continuaria nos próximos dias. É através dela que sabemos que os jogadores, técnico e dirigentes desfilaram em carros abertos (na verdade foram jipes) que começou ás quinze horas. Apenas dez dias após o título Osório renunciaria ao cargo, no mesmo dia em que o tricolor joga contra o Náutico na festa das faixas de campeão brasileiro vencendo na Fonte Nova pelo escore mínimo. O dirigente voltaria à presidência mas depois de muitos dias de conversa, num mês em que o Vitória inaugura sua nova sede no Edifício Themis (19 de abril) um dia antes da estreia do Bahia na Taça Libertadores da América em Buenos Aires quando apanharia do San Lorenzo de Almagro por três a zero. Mas aí já se faz uma campanha (frustrada) em todo o mundo pra livrar Caryl Chessman da morte na câmara de gás nos Estados Unidos.

·         Agradeço as informações do Setor de Periódicos Raros da Biblioteca Central do Estado, do site da Confederação Sul-Americana de Futebol, do Wikipédia e do Blog do Marcão.  Sou grato também as fotos e imagens dos sites Museu dos Esportes e adorocinema.

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