Ontem eu fui ao cine Glauber Rocha com Cybele e a amiga Dilza. Fomos ver o filme Cisne Negro. Mas, apesar de ser anunciado como drama, é propaganda enganosa. Na verdade é um filme de terror melhor para interessados em psiquiatria do que simples mortais como nós. O argumento do filme trata de uma moça simples e tímida que, para alcançar a condição de primeira bailarina, passa por uma metamorfose complexa transformando-se de “cisne branco” num “cisne negro”.
O diretor Darren Aronofsky tem pelo menos um mérito: o de fazer a música romântica e sensível de Tchaikovsky servir a um roteiro esquemática de sexo, intrigas e terror, com o conveniente protagonismo de uma atriz famosa. Antes havia feito A fonte da vida(será que estava pensando na Fonte Nova?), neste folme porém, a banalidade do argumento só não é superada pelo reacionarismo que, num clima retro, vê com preconceito sensualidade, masturbação e até tatuagem. O que posso dizer é que senti saudades de Alfred Hitchcock.
Salva-se pelo menos a atuação da atriz Natalie Portman, embora na maior parte do tempo as suas tomadas só sejam feitas da cintura pra cima por não poder executar os passos exigidos pelo balé. Seria o caso de se colocar uma bailarina pra representar, o que dispensaria o constante apelo para uma sósia da atriz. Mas isto não seria a indústria cultural!
Oi o rádio lá de casa!
Bem, mas vamos ao assunto de hoje do nosso blog, recordações da Fonte Nova. No dia vinte de agosto de 2010, apenas nove dias antes da implosão do nosso histórico estádio, o blog Cidadão Repórter, ligado ao jornal A Tarde, fez uma enquete perguntando aos visitantes quais eram as lembranças que tinham da Fonte Nova.
Mais de cem pessoas responderam a pergunta sendo que vários admitiram se emocionar, e até choraram, com as lembranças. São depoimentos notáveis que dão conta dos sonhos de uma época e que mereceriam uma análise sócio psicológica. Por ali se percebe o papel social dos estádios. Aquilo que alguns intelectuais e políticos entendem ser destinado apenas á prática do futebol é um veículo de iniciação, de sociabilidade, de urbanidade, de catarse coletiva, de racionalização de sentimentos.
O depoimento dos visitantes do blog Cidadão Repórter mostra um tempo onde não haviam as torcidas organizadas e as famílias compareciam sendo que o estádio acompanhava seus momentos marcantes de criança ao estado adulto. A falta de dinheiro pra comprar ingressos compensada através de assistir aos jogos das casas vizinhas, a entrada no “xaréu” ou até mesmo tentar arrombar os portões. Os pais que os ensinaram a gostar do esporte. A esposa que conheceram ali. As jovens que paqueraram e da juventude que passaram na Olimpíada baiana da Primavera. Os “babas” que bateram nos campinhos que haviam do lado externo do “Balbinínho” ou atrás do placar.
Só não dava pra carregar como o celular!
Mostra-se todo tipo de relação com o estádio. Seja daqueles que o viam apenas como um local de trabalho, vendendo suas mercadorias ou apostando tudo o que acontecia nos jogos. Seja daqueles que passavam o jogo todo bebendo e até depois compareciam ao Pelourinho pra continuar os prazeres etílicos. Seja dos que gostavam de encontrar com os amigos e, fosse qual fosse o resultado, sempre ganhavam. Até aquele torcedor apaixonado que vivia através do futebol uma vida que não podia desfrutar na sociedade.
Os moradores da região sentem falta da algazarra dos domingos, descrevem nos mínimos detalhes como a comodidade dos bairros e ruas do entorno do estádio eram afetadas pela movimentação em torno dos grandes jogos.
Falar da Fonte Nova é lembrar de uma capital quando transitou de uma cidade comercial de terceiro maior aglomerado metropolitano do Brasil na segunda parte do Século XX. Com todos os problemas desta transição que repercutiram em nosso esporte.
Aí se jogava bola do lado de fora!
Alguns depoimentos são emocionantes. Max Matos fala de uma Fonte Nova em três tempos. O de 1956, quando ainda criança, comparecia a um estádio (levado pelo saudoso pai) onde havia duas torcidas, a do Bahia (do lado direito das cabines de rádio) e a da “coligação” que reunia os torcedores do Vitória (ainda sem peso próprio), Ypiranga, Galícia, Botafogo e Guarany.
O de 1971, quando já adulto, onde participou da reinauguração da Fonte Nova e viu grande jogos e grande tragédia onde parecia que o estádio era um imenso balde derramando gente no campo. E o terceiro tempo, em 2007, já maduro e morando em frente ao estádio, onde acompanhou da varanda de seu apartamento o jogo Bahia X Vila Nova e viu um clarão nas arquibancadas e pensou que fosse devido à briga, mas era a segunda grande tragédia da existência do estádio.
Ah que saudade!
Israel Souza, depois de lembrar de vários fatos com saudade. Diz que
vai ser estranho descer a Ladeira da Fonte, olhar para a direita e ver aquele vazio... tão vazio como o coração de cada ser que amou aquele lugar santo. Amo a Fonte e sempre amarei! Pena que nossos governantes sejam tão insensíveis.
E Ana Moreira arremata:
É um pouco da história da gente que será demolida... É como se estivessem arrancando de mim uma parte...
Como um dos acessantes do blog Cidadão Reporter diz:
ainda bem que existe o You Tube!
· Agradeço aos jornais A Tarde e Tribuna da Bahia, ao blog Cidadão Repórter, A Antônio Matos, Max Matos, Israel Souza e Ana Moreira.Sou grato ainda as imagens dos blogs yohicelaebg.blogspot.com,letras.com.br,crisolsil.blogspot.com,prolix.com epaulafranke.blogspot.com.
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