A AD Guarany foi um clube tradicional da Bahia. Apesar de ter um contencioso de derrotas e más colocações no campeonato estadual, e passar pelo seu melhor período nos estertores do Estádio da Graça, teve alguns bons momentos na Fonte Nova. A primeira vez que daria o ar de sua graça no novo estádio foi no último turno do campeonato de 1954 de um certame que só foi decidido no ano posterior. Mas como façanha bem que poderia ser a última antes de desaparecer!
Em janeiro de 1955 os clubes gozavam o intervalo entre o segundo e o terceiro turno. E, na ocasião, aproveitaram pra promover amistosos e sair em excursões. Um deles foi o EC Bahia que viajou pra realizar jogos contra os fortes times de Pernambuco. O tricolor estreou no dia treze de janeiro, enquanto era realizada em Salvador a Lavagem do Bonfim.
Acredito que foi a raiva dos jogadores por perder a festa, somada ao estranhamento dos gramados de Recife, que o faria jogar tão mal na estreia, onde perdeu por dois a zero do Santa Cruz. Naquela ocasião passava no Cine Aliança em Salvador o filme Na sombra do disfarce estrelado por Joel McCrea.
Cartaz do filme Sua última façanha
Aqui, a torcida tricolor mergulhava nas festas do verão baiano e deixava de acompanhar pelo rádio pois a coisa prometia ficar pior! Enquanto isto outras notícias frequentavam os órgãos dos Diários Associados, como a posse do seu dono e jornalista Assis Chateaubriand como “imortal” da Academia Brasileira de Letras onde iria ocupar a cadeira 37 antes pertencente a Getúlio Vargas.
Cartaz do filme Sua última façanha
Aqui, a torcida tricolor mergulhava nas festas do verão baiano e deixava de acompanhar pelo rádio pois a coisa prometia ficar pior! Enquanto isto outras notícias frequentavam os órgãos dos Diários Associados, como a posse do seu dono e jornalista Assis Chateaubriand como “imortal” da Academia Brasileira de Letras onde iria ocupar a cadeira 37 antes pertencente a Getúlio Vargas.
Acho que a equipe do esquadrão de aço deve ter tomado um bom puxão de orelha. O certo é que o tricolor se reabilitaria de forma espetacular no resto da excursão. No próximo jogo descontou a frustração no Náutico ganhando de quatro a zero. E, no dia da festa da Ribeira assombraria os pernambucanos esmagando o Sport em seu próprio estádio por cinco a dois!
O Guarany baiano havia estreado no campeonato no dia oito de janeiro, perdendo pro Vitória por três a um. Todo mundo já pensava que iria cumprir a sua habitual via crucis de olho na “cobiçada” lanterna. Ainda mais que agora toparia pela frente o tricolor vitorioso em campos pernambucanos. Durante a semana do jogo, porém, ninguém reparou as afirmações dos “índios” de que não tinham mêdo do Bahia.
Atacante do Guarany
Atacante do Guarany
E veio o dia 23 de janeiro quando Bahia e Guarany entraram em campo. A renda não foi lá essas coisas, apenas setenta mil cruzeiros, mostrando que o povo ainda estava em clima de festa. O Bahia veio com o que tinha de melhor e que, com algumas mudanças, conquistaria o turno extra sagrando-se campeão baiano: Osvaldo Baliza, Bacamarte e Juvenal; Ivon, Job e Raimundo; Fontoura, Naninho, Sandoval, Clóvis e Isaltino. Já o Guarany, com exceção do zagueiro Arnaldo e do atacante Tombínho, chegou com um time praticamente desconhecido: Celso, Arnaldo e Cal; Paulinho, Roberto e Vermelho; José, Miltinho, Tombinho, Mundinho e Netto.
O juiz, definido por sorteio, foi o veterano Antônio Bernardo Ferreira, que havia apitado na rodada de inauguração do estádio, sendo ajudado pelos também veteranos Carlos Pratts e José Peixoto Nova. Após algumas trocas de passe do ataque tricolor os “índios” passaram a equilibrar o jogo. E qual não foi à surpresa dos torcedores quando o centro avante Tombínho empurrou a bola pro fundo das redes tricolores!
Teve gente que pensou que tinha bebido!
Logo que fez o gol o alvi negro recuou. A atitude ocorreu cedo demais e a impressão aos presentes que era “fogo de palha” e não podia manter o resultado por tanto tempo. O experiente time do Bahia então não se afobou e continuou jogando na mesma toada. Mas saiu pro intervalo perdendo.
Logo que fez o gol o alvi negro recuou. A atitude ocorreu cedo demais e a impressão aos presentes que era “fogo de palha” e não podia manter o resultado por tanto tempo. O experiente time do Bahia então não se afobou e continuou jogando na mesma toada. Mas saiu pro intervalo perdendo.
A situação não estava nos planos do Bahia, mas o esquadrão de aço havia enfrentado momentos bem mais difíceis e tinha conseguido sair vitorioso. A volta dos times ao gramado inaugurou um jogo de um lado só da Fonte Nova. O Bahia atacava e o Guarany se defendia. A bola ia e voltava e “vire e mexe” estava com os tricolores. Mas não havia jeito de romper a verdadeira barreira montada pra neutralizar os ataques do esquadrão de aço. Nos momentos finais a defesa dos “índios” jogou de qualquer jeito, foi “bola no mato que o jogo é de campeonato”!
O Guarany parecia com Hulk
O Guarany parecia com Hulk
Quando o juiz apitou estava estampado no placar do lado do Dique do Tororó, Guarany um, Bahia zero. Foi uma comemoração só! Os alvi negros se abraçavam, parecia que haviam ganhado o título. Pensam que acabou aí, naninha! No início do mês seguinte iria a Feira de Santana enfrentar o todo poderoso Fluminense e voltaria com o mesmo resultado positivo: um a zero contra os “touros do sertão”, que disputava o seu primeiro campeonato. A esta altura o time estava na vice-liderança, somente atrás do EC Vitória. E os “índios” não se continham de orgulho pela surpreendente campanha.
Veio então à partida contra o Ypiranga, onde pela primeira vez depois de muitos anos o clube tinha chances reais do disputar o titulo do terceiro turno. Os torcedores que foram á Fonte Nova naquele dia doze de março jamais irão esquecer aquela partida. Durante todo o turno o Guarany havia jogado cônscio de suas limitações. Sua receita era fechar-se bem na defesa e atacar quando podia, fazendo o possível pra não deixar espaços por onde o adversário pudesse lhe surpreender.
O Guarany que entrou em campo naquele dia foi outro. Meteu na cabeça que estava “por cima” e começou logo atacando o mais querido. Caiu assim numa verdadeira “esparrela”. E a bola foi entrando na meta dos “índios”, uma, duas, três, quatro, cinco vezes. Só Deus sabe por que o auri negro não fez mais: cinco a zero. Foi assim que acabou em 1955 o sonho do Guarany de repetir 1946. Eu acho que David Miller tomou o Guarany como exemplo pra filmar, sete anos depois, o clássico do faroeste Sua última façanha.
· Agradeço ao Setor de Periódicos Raros da Biblioteca Central do Estado (Coleção Diário de Notícias). Sou grato também as imagens do site filmesdecinema.com.br e dos blogs indioesportew.blogspot.com e publicult.blogspot.com.
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