No ano de 1955 começa a se desenhar uma nova época. Cria-se o Pacto de Varsóvia que estenderá a guerra fria ás divisões militares da Europa. Rosa Parks irá se recusar a ceder seu lugar para um branco dando início ao movimento pelos direitos civis dos negros norte-americanos. Morria o grande cientista Einstein e, na música, se inicia a carreira de Elvis Presley, embora não preencha o espaço da morte de James Dean. Na Argentina é derrubado através de um golpe militar o líder populista Juan Perón antevendo o futuro no Brasil onde surge o ISEB, que teria contribuição importante na elaboração de projetos político-ideológicos que frequentariam a cena brasileira até 1964. E a era da televisão ganha a TV Itacolomi em Minas Gerais.
Foi neste ano, no mês de junho, que o Corinthians resolveu passar um fim de semana na Bahia. Falemos um pouco do contexto esportivo de sua chegada. O campeonato baiano do ano anterior havia acabado muito tarde, ao fim de maio, com a vitória do EC Bahia contra o Botafogo por dois a zero. E, como era comum nestas ocasiões, os times promoviam amistosos e saiam em excursões aproveitando o intervalo até o início do novo certame.
Os dirigentes do Botafogo ainda estavam aborrecidos pelos acontecimentos da recente decisão. Chegaram até a protestar contra o tricolor por estar supostamente jogando sem alvará de funcionamento. No entanto, a iniciativa de trazer o Corinthians no fim da semana seguinte serviu para aparar arestas.
Seriam apenas dois jogos, no sábado dia quatro de junho, a estreia contra o Botafogo e no domingo, dia cinco, a partida contra o Bahia. As partidas caíram no gosto da imprensa que ressaltou o mérito da promoção. E aí chegamos à primeira partida. O alvi negro paulista apresentou-se com um ótimo elenco tendo a renda do sábado chegado perto de cem mil cruzeiros. Na ocasião o alvi rubro tinha um timaço onde pontificavam o médio Nelinho e o centro avante Zague. Foi neste jogo que o atacante atraiu a atenção dos visitantes.
Na preliminar jogaram os amadores de Leônico e Ypiranga com a vitória do primeiro por dois a um. No jogo principal os “diabos rubros” surpreenderam. Só dava Zague no ataque, e, em uma de suas escapadas só restou ao zagueiro Olavo cometer pênalti. A cobrança de Alberto, porém, seria em cima do goleiro Gilmar do alvi negro paulista e só na rebatida é que seria aberto o placar para os baianos. Não decorreu muito tempo pra Zague assinalar o segundo gol em nova penetração da defesa corintiana. Os visitantes tiveram que fazer muita força no segundo tempo pra empatarem a partida, inclusive com a injeção de sangue novo através de substituições, com gols de Luizinho e Mato.
As equipes jogaram com: (Botafogo) Leça, Tatuí e Alberto; Flávio, Nelinho e Júlio; Dedeu Teco, Zague, Roliço e Nivaldinho (Lamarona); (Corinthians) Gilmar, Homero e Olavo; Idário, Julião e Roberto; Nonô, Luizinho, Paulo, Rafael e Nelsinho. Entrando ainda no time paulista Mato e Goiano. A atuação dos “diabos rubros” alertou os corintianos que entraram prevenidos no jogo contra o tricolor no outro dia.
O cientista Albert Einstein
O Bahia jogava uma semana após ter voltado a ganhar o campeonato sendo a partida uma verdadeira “festa das faixas”. Será que o resultado de véspera o levou a baixar a guarda? Procedem as alegações do Diário de Notícias da falta que fez o goleiro Osvaldo Baliza? O resultado a seguir seria um dos maiores desastres da sua vida na Fonte Nova. Teve torcedor que saiu antes do fim por não aguentar mais a bola entrar, uma, duas, três, quatro, cinco, seis vezes na meta do Bahia.
Foram quatro gols de Paulo e dois de Nelsinho. Naquele tempo o jornal da cadeia dos Diários Associados não saía na segunda feira, de modo que, quem não acompanhou o jogo, teve que esperar até a terça feira pra saber do resultado. Mas, quem leu o jornal naquele dia teve uma decepção. Ao contrário do destaque que havia sido dado ao empate do Botafogo desta vez pouco se falou do desastre do Bahia. A reportagem sobre o jogo é curta e grossa. Nem sequer nos fornece a renda, o público, ou o andamento da partida. Não nos dá outras pistas para explicar o que houve durante a partida para que tomasse tal direção.
O certo é que foi um verdadeiro massacre que deixou as orelhas dos torcedores e dirigentes tricolores quentes e que levou a maior gozação nas esquinas de Salvador. O jeito foi pedir revanche ao Corinthians que refutou, refutou, mas acabou aceitando quando se tocou na parte mais sensível dos clubes, o bolso. Quatro dias depois (sic!) os times entraram novamente em campo na Fonte Nova.
Pelo menos Idário,Rafael e Zague estão aí!
Desta vez o tricolor estava completíssimo, sem esculpas, entrando em campo com Osvaldo Baliza, Chagas e Bacamarte; Rui, Job e Raimundo; Marito, Naninho, Foca, Ruivo e Lierte. Já o Corinthians estava com Gilmar, Homero e Olavo; Idário, Julião e Rodolfo; Nonô, Luizinho, Paulo, Rafael e Nelsinho. Na ocasião, a Miss Bahia Maria Eunice foi ao estádio e deu a saída da partida. Talvez isto tenha dado sorte ao tricolor cujos jogadores ficaram muito entusiasmados com a sua beleza.
O gol de Naninho, logo de saída, contribuiu para o lado emocional do tricolor. Depois, um raro acontecimento naquela época, o próprio goleiro Osvaldo bateria o pênalti que ocasionou o dois a zero pro esquadrão que voltava a ser de aço. Após o intervalo o ponteiro Nelsinho perderia uma falta máxima chutando na trave de Osvaldo. Para, somente ao “apagar das luzes”, fazer o gol de honra do time alvi negro. Nesse mesmo dia o Vitória iria a Feira de Santana atuar contra o Madureira colhendo um empate em um gol.
O Bahia se desforrou dos impiedosos visitantes, mas por um placar que em não esteve á altura da sua vingança: dois a um. Três dias depois seria realizado o torneio início do Campeonato baiano de 1955 ganho pelo EC Vitória ao derrotar o EC Bahia na final por um a zero, gol de Aduce. Quanto ao fenômeno Zague embarcaria para São Paulo no próximo ano onde daria muitas alegrias ao time do Parque São Jorge. Mais tarde teria também grande sucesso no México.
· Agradeço ao Setor de Periódicos raros da Biblioteca Central do Estado (Coleção Diário de Notícias). Sou grato também as fotos e imagens do Museu dos Esportes, do site travessa.com.br, e dos blogs linklouco.com,submarino.com.br,alcindoalmeida.blogspot.com e anatholia.blogspot.com.
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