quinta-feira, 17 de março de 2011

Coração de mãe não se engana

                                                              Cartão vermelho?

Só faltam dois meses pro Dia das Mães. E eu, mesmo sem ter mais a minha querida Helena estou anotando os filmes que tratam de mães. Mas me cansei de relacionar. Há Tudo sobre minha mãe do Almodovar,Uma mãe em apuros, A mãe, de Pudovkin(do célebre livro de Gorki), Minha mãe quer que eu me case, Minhas mães e meu pai, e muitos outros. Dizem que coração de mãe não se engana. Afinal, mãe é mãe. Essa conversa começou muito tempo antes de Cristo na Grécia e Roma antigas, onde eram celebradas Rhéa e Cybele (que não é a minha esposa) mãe dos deuses. A homenagem dos “pagãos” foi depois encampada pela Igreja Católica e se espalhou pela Europa á medida em que o mesmo acontecia com esta.
Nos Estados Unidos registram o ano de 1872 como a primeira vez que foi lembrado no país. Mas a data é debitada a Anna Jarvis que perdeu a mãe em 1904 e propôs á igreja da cidade um dia dedicado ás mães, que só começou a ser comemorado três anos depois. Na ocasião a cidade fez uma campanha no país que fez com que o presidente Woodrow Wilson (pensando em sua mãe, mas também nos comerciantes) oficializasse o segundo domingo de maio como o Dia das Mães.
No Brasil pouco se sabe quando surgiu esta data. Tal como muitas outras, deve ter sido instituída menos pelas mães e mais pelo comércio, embora os pesquisadores não costumem verificar o esporte. O futebol baiano descobriu muito antes dos outros a necessidade de comemorar o Dia das Mães. E esta necessidade de louvar as mães cobre desde o amadorismo até o profissionalismo. Na primeira fase se destaca a generosidade das mães, assim como os jogadores que sequer recebiam dinheiro dos clubes e jogavam até doentes e contundidos. Na segunda fase, porém, o comércio tomou conta do futebol e até afetou as mães. Vamos ver como foi isto!
                                          Ói a mãe assistindo um desses jopgos horríveis!

No ano em que se iniciou o campeonato baiano, em 1905, souberam da proposta de Anna Jarvis, mas pularam a data.  No ano seguinte decidiram dar a contribuição baiana ao mundo antes que a própria igreja da cidade dela decidisse isto. Assim celebraram discretamente as mães no segundo domingo de maio com o jogo Internacional 4 Baiano de Tênis 0. Mas a homenagem saiu pela culatra, pois o Internacional (que não é o de Porto Alegre) se deu mal tendo que abandonar o campeonato perdendo esses únicos pontos que havia conquistado. Afinal, ainda não era lei.
Isto deixou os clubes desconfiados passando alguns anos antes de se arriscarem com outra homenagem as mães. Em 1911 quase fizeram, mas acabaram trocando o dia pelo sábado programando o jogo SC Bahia 3 X 1 Rio Vermelho. As mães de Salvador ficaram uma “arara” e jogaram uma praga nos clubes que participaram. Resultado, os clubes desapareceram do mapa e só voltaria a ter na terrinha um time chamado Bahia 20 anos depois. É que praga de mãe é fogo!
Como disse antes o presidente dos EUA oficializou o dia em 1914. Vocês sabem que no Brasil as elites tem o costume de seguir o que acontece naquela país. Aliás, não é á toa que o antigo governador baiano Juracy Magalhães disse que “O que é bom para os EUA é bom para o Brasil”. Assim os dirigentes esportivos baianos se sentiram seguros para a comemoração.
                                         Mamães protestando contra dirigentes esportivos!

Aí logo no outro ano, em 9 de maio de 1915, em plena Primeira Grande Guerra, escalaram um bom jogo para a comemoração, Fluminense 1 Sul América 0. As mães ficaram tão satisfeitas que desejaram que algum daqueles clubes conquistasse o título naquele ano, e não deu outra. O Fluminense conquistou seu único título na história do futebol baiano.
Desde então a homenagem ganhou certa regularidade. Nesta década ainda seriam feitas duas. A de 1917, porém suscitaria mágoa das mães. É que o Sul América não compareceu no dia da homenagem das mães tendo que as tristes mulheres que lá compareceram tendo que se contentar com a saída do Ypiranga para dar de WO.
A desconsideração abalou muitas mães, especialmente a do presidente da federação que foi muito lembrada pelos torcedores. O resultado é que pra comemorar o fim da guerra o próprio presidente da federação marcou uma homenagem especial pras mães abrindo o campeonato no seu dia em 1918. Só não escolheu bem o jogo, pois, apesar do Ypiranga ser bicampeão este ano o Internacional (ói ele de novo) acabou ficando na lanterna conseguindo perder todas as partidas! Mas as mães não disseram nada.

Aí o Dia das Mães já tinha se espalhado por muitos países da América e em 1921 os dirigentes resolveram homenageá-las outra vez. Na oportunidade, porém, tapearam as mães programando uma rodada dupla no novo Campo da Graça, que não ficou pronto a tempo na data. Assim esta teve que ser realizada no velhíssimo campo do Rio Vermelho que sequer tinha onde as mães sentarem. Dizem que muitas mães deixaram de comparecer, não vendo o futuro campeão aurinegro ganhar o clássico contra os diabos rubros por dois a um, depois de uma preliminar “enche linguiça” onde o Santa Cruz (quem é?) deu de três a zero no velho Fluminense FC.
No outro ano, porém, corrigiram o erro programando no novo estádio da Graça o grande clássico da elite da Barra e Vitória na época, Baiano de Tênis e Associação Atlética que foi vencido pelo primeiro por dois a zero, num ano em que o Botafogo sagrou-se campeão. O campo da Graça era uma novidade e as mães viram muitas homenagens ali.
Em 1923 houve um campeonato sensacional, onde empataram quatro clubes com 25 pontos, tendo que haver um supercampeonato entre Botafogo, Associação, Baiano de Tênis e Ypiranga. Mas só os dois últimos participariam da rodada dupla em homenagem as mães, que teve o Fluminense ganhando de quatro a um do Vitória na preliminar e o empate no clássico em um gol na partida de fundo.
                   
                                                                     Mães gaúchas 

Três anos depois nova homenagem onde o Baiano de Tênis ganharia do Fluminense FC por dois a um no ano em que seria vice-campeão. Como as mães reclamavam da descontinuidade da celebração de seu dia resolveram fazê-lo por quatro anos seguidos. Em 1927, aproveitando a primeira participação do Guarany no campeonato, embora tomasse de quatro a um da Associação; em 1928, com a derrota do baiano de Tênis para o Fluminense FC (4 X 5) que lhe custou à perda do título para o Ypiranga forçando um jogo final onde perdeu por sete a dois; e em 1929, com a vitória da Associação contra o Fluminense por três a dois.
No entanto a crise da Bolsa de Nova Iorque e a chamada Revolução de trinta no Brasil fez suspenderem as homenagens, que só voltariam em 1931. Na ocasião seria a primeira participação de um novo clube, criado através da fusão dos dois principais clubes da década anterior Baiano de Tênis e Associação Atlética, que haviam acabado com seu departamento de futebol, o EC Bahia. E foi ele o destacado para a homenagem ganhando o Ypiranga de seis a dois e também o título deste ano.
As homenagens foram de novo suspensas por ocasião da chamada Revolução Constitucionalista de 1932, mas no ano seguinte as mães estavam de novo ás postos. Para celebrar a sua data foi agendado um dos primeiros BA-VI que se tem notícia, ganho pelo tricolor por três a dois.

                                                        Mãe moderna no salão!
Passada a crise somente em 1937 a federação voltaria a insistir na homenagem. As mães estavam em alta e só colocavam clássicos em seu dia, desta vez cabendo a Bahia e Ypiranga as honrarem com a vitória tricolor por três a um. Mas a crise voltou quando menos se esperava. Crise política (com o estabelecimento do Estado Novo) e crise no esporte, com a ocorrência de dois campeonatos no mesmo ano.
Mas as mães só foram homenageadas no primeiro, e desconsideradas pelo segundo, que acabou antes do seu dia. No campeonato ganhou pelo Botafogo foi o próprio alvi rubro que fez as honras da casa, embora enfrentasse o desconhecido Yankees vencendo por quatro a um. O estado passou a ser governado por interventores embora tivessem mães. Assim não ficou ruim pra elas que tiveram homenagens em 1941, 1943 e 1944, mesmo estando o mundo em nova guerra. Na primeira tiveram a satisfação de ver o campeonato novamente se iniciar em seu dia, com o clássico Bahia 2 Ypiranga 1, fazendo com que o auri negro parecesse que não tinha mãe, pois perdia todos os jogos contra o tricolor neste dia.
Na segunda novo clássico, no segundo jogo do campeonato, onde o Vitória bateria o Galícia por quatro a três forçando a que este ano houvesse um supercampeonato entre os alvirrubros (campeões), os azulinos (vice) e o próprio rubro negro (terceiro lugar). Na última foi escalado o clássico do pote entre Bahia e Botafogo com o tricolor ganhando de três a um, embora os diabos rubros fossem vice lanternas.
                      
Quando acabou a Segunda Grande Guerra foram buscar as mães pra comemorar a sua data. Era o segundo domingo de 1947 e foi o clássico BA-VI o responsável pela honraria. Na oportunidade o tricolor ganhou pelo escore mínimo com gol de Viana, disputando e ganhando também nesse ano a sua primeira final de campeonato contra o arquirrival rubro negro.
No novo estádio da Fonte Nova a primeira homenagem às mães só saiu em 1954. As mães baianas ficaram muito aborrecidas por isto. Pra enrolá-las a antiga FBDT programou a celebração da data em pleno supercampeonato deste ano, onde disputavam Bahia (campeão), Botafogo (vice) e Vitória (terceiro). Vocês já repararam que o rubro negro não tem sorte nesses “super.”? Nem teria na partida onde perderia, na frente das mães, por dois a zero. A outra ocasião na década seria dois anos depois, onde a federação homenagearia as mães da capital e do interior, já que o Fluminense de Feira de Santana seria vice-campeão estadual em sua terceira participação, no jogo em que empatou com o time da colônia espanhola sem gols.
Dez longos se passaram desprezando as homenagens. Às vezes fico pensando que dirigente esportivo não tem mãe. A federação agora só pensava no interior, e este ano marcou jogos no Dia das Mães pra Ilhéus e pra feira de Santana, esquecendo-se da Fonte Nova, que sempre foi uma mãe do futebol de Salvador. O resultado é que as mães jogaram uma praga tão forte que todos os times que tomaram parte na rodada não arranjaram nada no campeonato, que acabou sendo ganho pelo Galícia.
                                                       Até os rinocerontes tem mãe!
 O rompimento das mães soteropolitanas com a nova FBF durou quase vinte anos que estava mais sintonizada com a ditadura militar. Só quando veio a chamada “abertura política” é que a federação veio se abrir para as mães. Aí programaram sucessivas homenagens em seu dia. A primeira foi em 1975 quando Vitória e Atlético (1 X 1) e Bahia e Botafogo (1 X 0) abriram a fase; a segunda em 1976, com Vitória e Leônico (1 X 0) e Bahia e Atlético de Alagoinhas (3 X 0) na segunda fase do primeiro turno; e a terceira em 1977, quando o Bahia se classificou em seu grupo para um dos quadrangular decisivos, ganhando do Galícia pelo escore mínimo.
Depois do general-ditador Geisel viria Figueiredo que diria “prendo, mato e arrebento” quem for contra a abertura. No futebol continuavam promovendo homenagens ás mães. A primeira foi no ano em que o general-presidente (que gostava mais de cavalo do que de gente) tomou posse, em 1979. Na ocasião se deu a primeira rodada do quadrangular decisivo do primeiro turno, quando o Bahia ganhou do Leônico por dois a zero. Mas a segunda só saiu depois que a oposição ganhou as eleições pra governador em vários estados.
No fim deste ano começaria a campanha das Diretas Já e os dirigentes esportivos ficaram preocupados pensando que uma nova situação poderia ameaça-los. Aí fizeram no Dia das Mães a rodada de abertura do campeonato, embora com jogos chinfrins, onde o redenção perdeu da Catuense (1 X 2) e o Botafogo ganhou do Itabuna (1 X 0).
                                                     Coração de mãe é grande mesmo!
Quando terminou o regime militar, logo após se enturmar de novo com os governantes, os dirigentes resolveram fazer novas homenagens às mães. Em 1986 jogaram pesado colocando a própria dupla, que decidia o campeonato, na programação, que apresentou a vitória tricolor por dois a zero. Mas, em 1987, de novo não se lembrariam das mães de Salvador, programando em seu dia somente jogos no interior na decisão da segunda fase do segundo turno. Isto voltou a chatear as mães que acabaram torcendo pra Catuense, que acabou ganhando a fase e criando muitas dificuldades pro tricolor vencer o campeonato.
Os dirigentes aprenderiam a lição marcando novas homenagens seguidas. No ano seguinte o Dia das Mães iniciaria a primeira fase do segundo turno, embora com o sem graça Botafogo e Serrano (2 X 1). E, em 1989, uma rodada dupla no segundo turno, entre Galícia e Itabuna (3 X 1) e Leônico e Serrano (0 X 1).
Com o resultado das eleições presidenciais de 1989 os dirigentes botaram as “mangas de fora”. O país passaria á hegemonia neoliberal que se prolongaria por toda a década, mesmo com uma breve interrupção em 1992 com o impeachment de Collor. A reestruturação produtiva fez a cabeça desses dirigentes, embora eles não quisessem mudar coisa nenhuma.
                                                           Essa também é mãe!
Desta forma só haveria homenagem em 1997, quando FHC já estava em seu segundo mandato, e no Barradão, que já merecia a atenção das mães. Na oportunidade o rubro negro ganhou do seu arquirrival tricolor pelo escore mínimo. As mães levariam nove anos pra voltar a ser homenageadas na Fonte Nova, e sua mágoa se expressaria no seu dia fazendo com que torcessem pro Camaçari, que ganharia do Bahia por três a um no estádio.
O novo milênio, com o crescimento do PT, mudou os dirigentes esportivos baianos da agua pro vinho.  Agora já não eram liberais, mas trabalhistas.  Mas se machucaram com as mães em 2000 ao começar o campeonato no segundo sábado de maio, quando o tricolor suou pra ganhar do Vitória da Conquista na Fonte Nova. Corrigiram o erro no ano seguinte convidando as mães pra assistir o grande clássico Bahia e Vitória, que seria vencido pelo rubro negro pelo escore mínimo.
Os anos de 2003/2006 seriam trágicos para o futebol baiano presenciando a queda sucessiva da dupla BA-VI para a Segunda, e daí para a Terceira Divisão.  E foi bem feito, pois não tiveram a menor consideração com as mães, terminando o campeonato antes de seu dia. Lembrariam-se delas apenas em 2006, programando o jogo entre Vitória e Fluminense no Barradão, nas quartas de final do certame baiano. Como as vacas estavam magras colocaram no seu dia, no ano seguinte na última rodada, o grande clássico BA-VI no Barradão, que terminou empatado em dois gols.
                                                          Vejam que angelical!
Foi por isto que as mães torceram para que os clubes baianos voltassem para o seu lugar de direito. O primeiro foi o Vitória que subiria pra Segunda em 2006, e logo no ano seguinte para a Primeira Divisão. O Bahia subiria em 2007 pra Segunda, mas cumpriria estágio de três anos pra voltar pra Primeira.

·        Agradeço as informações dos sites RSSF Brasil e Wikipédia, do Almanaque do Futebol Brasileiro, e do Blog da Larissa. Sou grato ainda às imagens dos blogs cinedica.com.br,assistir-filmes.com,blig.ig.com.br,filhosdamisericordia.blogspot.com,inblogs.com.br e infoesporte.com.br.

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