sexta-feira, 18 de março de 2011

O mês do cachorro louco!

            
                                                                                Mês terrível funesto mês de agosto,
                                                                                Mês de desgostos, mês trágico e fatal.
                                                                                                                  (modinha Popular)
Dizem que agosto é o mês da desgraça e das infelicidades. Os argentinos até tem um ditado que não se deve lavar a cabeça nesse mês, pois atrai a morte. E o mais curioso é que os romanos deram este nome ao oitavo mês do ano para homenagear a seu imperador Octávio Augusto em função de suas conquistas. Mas depois passaram a não gostar do mês onde se dizia que passeavam dragões.
O folclorista Pereira da Costa afirma que é mês de desgosto, sendo de mau agouro para casamentos, mudança de casa e empreendimentos. Diz que no dia 24 de agosto, dedicado a São Bartolomeu, os diabos se soltam do inferno. Leonardo Mota chega a dizer que é o mês desmancha-prazeres da humanidade. João Alfredo de Freitas fala de um dia de agosto onde se soltam as almas. No Brasil há um ditado popular que diz que “casar em agosto traz desgosto”. Na crendice popular, as assombrações, almas penadas, costumam aparecer nesse mês. Mas a superstição em torno disto é internacional.
Gastaríamos horas falando das misérias que ocorreram em agosto. Lembramos apenas algumas. As duas maiores guerras da história do planeta começaram em agosto. Uma no dia primeiro de agosto de 1914. E a outra, em agosto de 1939. E foi também em agosto, nos dias 6 e 9, que soltaram bombas atômicas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki em 1945. Foi no dia 24 de agosto de 1572 que Catarina de Médici ordenou o chamado massacre de São Bartolomeu matando milhares de pessoas. A Revolta dos poloneses contra os russos em Varsóvia ocorreu em 14 de agosto de 1831 com milhares de mortos.

Foi no dia 6 de agosto de 1890 que o primeiro condenado a morte foi executado em Nova Iorque na cadeira elétrica. Foi com a morte de Hindenburg em dois de agosto de 1932 que Hitler assumiu o governo da Alemanha. Foi no dia 13 de agosto de 1961 que se iniciou a construção do Muro da Vergonha em Berlim e em 21 de agosto de 1968 que o Exercito Vermelho invadiu a Tchecoslováquia para sufocar uma revolução popular. O Brasil entra nesta triste estatística com vários fatos, dos quais só vamos lembrar o suicídio de Getúlio em agosto de 1954 e a renúncia de Jânio Quadros em agosto de 1962.
O mês de agosto também aparece na história do futebol baiano com a ocorrência de coisas muito estranhas.  Pelas minhas pesquisas verifiquei que as coisas começaram em 1932 quando houve um mês estranhíssimo! As coisas começaram com amistosos do tricolor baiano. Parece que influenciado pela chamada Revolução Constitucionalista o Bahia resolveu agradar os militares aceitando jogar no dia 10 de agosto para um time chamado de Guarda Velha (vocês já ouviram falar?) para o qual perdeu por seis a três!  Mas três dias depois arranjaram uma revanche e o tricolor ganhou por quatro a dois.
Logo depois, agora pelo campeonato, foi à vez do Vitória jogar com o time da Companhia de Bebidas Antárctica que seria a única vez que participaria do campeonato. Apesar dos jogadores “tomarem uma” o rubro negro conseguiu ganhar por três a dois.  Quatro dias depois o Botafogo enfiaria sem dó nem piedade sete a um no Guarany que seria mais uma vez lanterna este ano.

No ano seguinte o São Cristóvão (RJ) seria convidado para mais uma excursão na Bahia, e aconteceria exatamente em agosto. Foi uma desgraceira no caminho da feira. Os visitantes só perderam pro Vitória aproveitando o cansaço de viagem (1 X 2). Daí por diante derrotou o 2 de julho (3 X 2), esmagou o Galícia (8 X1), e o Botafogo (5 X 0), ganhou do Ypiranga (3 X 2) e empatou na despedida com o Bahia (1 X 1).
O mês de agosto de 1934 seria outra tragédia, desta vez do Vitória no certame baiano. A equipe estava ganhando todas, mas quando chegou o aziago mês as coisas começaram a degringolar. Tudo começou quando o negro tomou de quatro a um do Galícia. Duas semanas depois seria a vez de o Ypiranga golear os leões por seis a dois. Por último, até o lanterna Fluminense tiraria uma “lasquinha” ao ganhar por um escore de “baba”, cinco a quatro. Nesse ano ficaria em terceiro lugar, a dois pontos de diferença do EC Bahia, e só perderia uma partida em outro mês. Mas o Vitória aprendeu a lição. Quando chegou a agosto do ano seguinte preparou-se e ganhou todas as partidas. O problema é que se esqueceu dos outros meses ficando em terceiro de novo quando o Botafogo abiscoitou o título.
Em 1938 o futebol baiano faria sua primeira decisão de campeonato em agosto. Nas partidas, porém, aconteceu uma coisa estranha. É que o Botafogo, que estava ganhando de todo mundo, não conseguiria vencer o Ypiranga nas finais empatando por duas vezes em três gols. A vingança das almas penadas foi tal que foi o único ano que houve dois campeonatos estaduais, arranjando-se logo outro ganho pelo Bahia, quando o alvi rubro só ganharia uma única partida! Nos próximos dois anos duas goleadas memoráveis em clássicos realizados em agosto. O Ypiranga arrasaria o poderoso Galícia por nove a um (1939) e o Botafogo tomaria do Bahia uma goleada memorável de sete a um (1940).
                                                                 Só se foi em agôsto!
Quatro anos depois o Bahia resolveu arriscar marcando o seu clássico com o Ypiranga pra 27 de agosto. E. não aconteceu nada vencendo por três a um os canários e sagrando-se este ano bicampeão baiano. Mas é que o tricolor estava vacinado contra almas penadas. E estas tiveram medo dos estranhos nomes dos jogadores Ioiô (goleiro), Prazeres (médio), e de Pipiu e Cacetão (atacantes).
Em 1948 os dirigentes esportivos trouxeram de novo um visitante pra jogar em agosto, o “famoso” Ypiranga de São Paulo. Mesmo assim foi um escândalo! O habitual cansaço fez os paulistas perderem na estreia contra o Vitória (1 X 3), mas logo depois se recuperaram contra o próprio rubro negro devolvendo o placar, e arrasaram Ypiranga (7 X 3) e Bahia (5 X 0).
Demoraria muitos anos pra marcarem novos jogos importantes em agosto. Times de fora nem pensar! Mas uma vez na Fonte Nova, dez anos depois, o Vitória resolveu fazer um amistoso contra o Bahia em finais de julho, vencendo por dois a um. O Bahia então pediu revanche. O rubro negro pensou, pensou e decidiu aceitar, mesmo porque a nova diretoria de José Catharino não simpatizava com essas crendices.
                                                 O negócio é entrar numa destas!
No dia três de agosto a dupla entrou novamente em campo, mas não aconteceu nenhuma tragédia, havendo empate em dois gols. Como o público estava agradando, o tricolor resolveu pedir nova revanche. Dois é bom, mas três é demais. Mas o Vitória parece que tinha esquecido este simples ditado popular. Resultado foi massacrado por cinco a um pelo tricolor, além de ficar sete anos longe do título estadual.
Em 1966 o rubro negro resolveu desprezar de novo o mês de agosto, aceitando que marcassem neste mês suas últimas partidas do turno. O Vitória ganharia a primeira etapa do certame no campo da Graça, empatando com o Ypiranga em um gol e vencendo o Botafogo pelo escore mínimo. Mas perderia o campeonato pro Leônico. Uma vingança dos demônios e almas penadas!
Nos anos setenta foi à vez do tricolor passar por cima das superstições. Como ganhava de Deus e o mundo, estando na melhor fase de sua vida, achou que poderia desafiar estas coisas. Mas, no entanto, mandou Lourinho, seu chefe de torcida, passar nos terreiros para que “fechassem o corpo” dos jogadores. Aí não deu pras almas. O tricolor jogou em 1975 e 1976 em agosto e se deu bem ganhando por duas vezes as decisões contra o seu arquirrival rubro negro em agosto. Já os leões da Barra esqueceram-se de fazer este trabalho e ficaram na pior!
                                           Cruz credo, o que os torcedores aguentam!

Logo depois nesse mês em 1975, porém, o tricolor não ganharia uma no certame brasileiro, empatando com o Flamengo sem gols, e perdendo pra Portuguesa de Desportos (1 X 2) e o Santos (0 X 2) fora de casa. E não foi nesta época que o rubro negro foi arrasado pelo Internacional por cinco a zero em plena Fonte Nova?
Nos anos 80 continuaram as tragédias de agosto. Em 1980 o Galícia ganhou o turno neste mês e, por conta disto, acabou por perder aquele que seria seu último campeonato depois de muitos anos. E, três anos depois, aconteceria o mesmo com a Catuense. Ambos em benefício do Bahia. Aí o Vitória resolveu tomar uma providência pedindo a federação pra começar o campeonato em agosto evitando qualquer jogo importante durante o mês. E não é que funcionou? Deu Vitória na cabeça voltando a ganhar o título depois de cinco anos.
Em 1989 o esquadrão de aço seria eliminado pelo Grêmio na primeira Copa Brasil ao perder dentro da Fonte Nova por dois a zero, completada por nova derrota em Porto Alegre, agora pelo escore mínimo. Mas o tricolor continuava sob a proteção dos orixás, enquanto Lourinho não foi morar no Piauí. E dois anos depois se arriscou a decidir o título em agosto contra a Catuense e ganhou as duas partidas, lá e cá. O Vitória teve que continuar fazendo expediente. E, em 1990, adiou em cima da hora a data do jogo decisivo contra o Bahia para primeiro de setembro, empatando em um gol e ganhando o título.
                                                      Mais um que se foi em agôsto!

O Bahia descontou quatro anos depois com o famoso gol de Raudnei no finzinho do jogo decisivo de agosto contra o Vitória naquele ano empatando o jogo e levando o campeonato perante 94 mil pessoas. Aliás, nas pesquisas de opinião, este é o jogo mais lembrado pelos tricolores.
Depois deste jogo o Vitória nunca mais permitiria jogos em agosto pelo campeonato. Aquele havia sido o último. No ano seguinte voltou a mudar a data do jogo final contra o Galícia vencendo por um a zero e ficando com o segundo turno e o campeonato em 30 de julho. No campeonato brasileiro a dupla BA-VI passaria apertos por duas vezes no mês de agosto.  Em 2002 aconteceu com o Bahia e em 2004 com o Vitória.
No primeiro o tricolor só ganharia do Gama perdendo pro Atlético Paranaense (0 X 4) e do Cruzeiro (1 X 2), e empatando com o Goiás (1 X 1) fora de casa, e, na Fonte Nova, sendo derrotado por Curitiba e Figueirense pelo escore de dois a um. Já o rubro negro em 2004 só conseguiu ganhar do Cruzeiro, perdendo de quatro do Paraná no Pinheirão, e do São Caetano em pleno Barradão (1 X 2). Recentemente, já com mais amizade com o pessoal do candomblé, ganharia do Vasco da Gama, em agosto de 2008, por cinco a zero!
                                                          Ói as almas penadas!
Nem a Fonte Nova nem seu amigo Barradão veriam certames com jogos no mês fatídico. Dizem que foi por causa das tabelas da CBF, porém, eu prefiro acreditar que foi por medo das almas.

·       Agradeço as informações de Luís da Câmara Cascudo, Pereira da Costa, Leonardo Mota e João Alfredo de Freitas e dos sites Jangada Brasil, RSSF Brasil e Wikipédia. Sou grato ainda as imagens dos blogs flickr.com,forgetthefew.blogspot.com,restreiodecozinha.blogspot.com,osinimigosdorei.blogspot.com,curiosidadesdaana.com.br,vilamulher.terra.com.br,portaldocrente.com,jornale.com.br e pagina20.uol.com.br.  

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