terça-feira, 15 de março de 2011

O futebol no SPC

                                                   

Todo mundo sabe que os clubes de futebol brasileiros só devem a Deus e o mundo. Só com INSS, IPTU, FGTS e Justiça do Trabalho somam milhões. O site Futebol Finance divulgou o seguinte ranking de dívidas contraídas até 2009.
1.       Vasco da Gama – R$ 377.854.000

2.       Flamengo – R$ 333.328.000

3.       Fluminense – R$ 320.721.000

4.       Atlético Mineiro – R$ 283.334.000

5.       Botafogo – R$ 265.424.000

6.       Corinthians – R$ 255.164.000

7.       Palmeiras - R$ 197.229.000

8.       Internacional – R$ 176.906.000

9.       Santos – R$ 175.565.000

10.   Portuguesa – R$ 155.568.000

Vejam os dirigentes de clubes pedindo a santa Edwiges!

Mas o que muita gente não sabe é que há uma data, 16 de outubro, e uma padroeira dos endividado, Santa Edwiges e que ela foi “homenageada” no futebol baiano.  
Já nos anos vinte, antes do profissionalismo, os clubes faziam dívidas pra colocar sua equipe em campo. Não havia ainda gastos de concentração, transporte e alimentação, mas precisava-se pagar o juiz e auxiliares de linha, as bolas, o aluguel do campo, os uniformes dos jogadores, e, nesta época, já começava o “amadorismo marrom” quando se distribuía alguma grana entre os jogadores, o que mais tarde se tornaria o famoso “bicho”.
Assim, foi pouco antes da grande crise de 1929 que fizeram a primeira homenagem a santa dos endividados. A partida se realizou em 16 de outubro de 1927 e foi jogada por Vitória e Guarany. Na ocasião se disse á boca pequena que Santa Edwiges não gostou da homenagem. É que, além dos clubes estarem muito mal das pernas naquele ano (o rubro negro foi o sétimo e os “índios” o sexto) os leões da Barra foram derrotados por três a zero.  
                                                      O negócio está feio mesmo!

Acho que a santa tinha uma “quedinha” pelas cores rubras negras. Aliás foi por isto que o clube demorou tanto pra aderir ao profissionalismo, pra não se endividar! Aí convidaram de novo o Vitória pra nova homenagem que fizeram em 1938. Seria a única da década e os apostadores, digo torcedores, que ocuparam as velhas arquibancadas de madeira do campinho da Graça, pra ver o Vitória jogar contra o Galícia. Desta vez não havia desculpa pois os times vinham bem no campeonato onde o clube da colônia espanhola ficaria com o vice e os leões da Barra com o quarto lugar. Mas a nova derrota do Vitória, e pelo mesmo escore de onze anos antes, deixou a padroeira com “cara de tacho”.
Como as homenagens eram por década, durante a construção da Fonte Nova agendaram outra, a última realizada na Graça. Foi em 16 de outubro de 1949 e, com exceção do Vitória, os clubes já haviam há muito tempo aderido ao profissionalismo. Na ocasião já havia taxas e impostos pra pagar e o “bicho” campeava. Os endividados, portanto, escolheram os dois melhores times do campeonato pra homenagear a santa pra que ela pudesse “livrar a sua barra”.
O Bahia buscava o “tri” e o Ypiranga pensava em recuperar o título, o que só aconteceria dois anos depois. Mas neste dia aprontaria uma surpresa para o tricolor derrotando-o por três a um.  Conta-se que mais uma vez santa Edwiges não ficou satisfeita com o resultado da homenagem. É que ela, apesar de não ser candidata a nada, era uma santa do povo e, se protegeu durante muito tempo o Vitória pra que não se endividasse, não poderia deixar também de se identificar com o tricolor.
E vai ter que entregar até o celular!

Nas décadas seguintes a santa se aborreceu seriamente. É que a dívida dos clubes ultrapassou as raias de sua imaginação. Desta maneira rejeitou todas os convites para novas homenagens. Afinal de contas de que adiantava apelar pra ela se no dia a dia acumulavam uma série de dividas, no entender da santa, impagáveis? É que Edwiges foi criada num tempo em que ó compromisso era sagrado e cabia ao devedor reparar o dano financeiro ao credor.
Enfim, a santa tinha “vergonha na cara” o que foi se perdendo nos clubes baianos. É certo que havia honrosas exceções. O Guarany, o São Cristóvão, e o recém-fundado Redenção do bairro de Brotas, não tinham embarcado nesta orgia de dívidas. Mas, era impensável que Edwiges aceitasse uma “homenagem” onde jogassem essas importantes equipes.
Esta verdadeira greve de Santa Edwiges se estendeu até quando anunciaram o fim da CBD. Aí a santa voltou a ter esperança que acabassem as maracutaias no futebol brasileiro e a nova CBF pudesse ir aos poucos ajudar a sanar a situação financeira dos clubes. Ela também estava cansada de resolver “pepinos” e poderia, com esta ajuda, finalmente se aposentar.
                                                               O peso é grande!

Aí aceitou várias homenagens nesta década. A primeira foi em 1980 e “pra lá de Marrakesh”, uma rodada dupla com Ypiranga e Fluminense e Botafogo e Humaitá na principal. Auri negro e alvi rubros já estavam reduzidos a uma pálida imagem do passado e, apesar da torcida da santa, o primeiro amargou uma derrota pelo escore mínimo para os touros do sertão. E, o segundo, conseguiu a façanha de empatar em dois gols com o “saco de pancada” de Vitória da Conquista. 
Programaram nova homenagem dois anos depois. A santa era de massas viu de novo o Bahia, jogando com o Serrano, uma equipe da cidade do frio. Nesse dia santa Edwiges vibrou ao lado da numerosa inchada tricolor, torceu, torceu e...nada. A bola não quis mesmo entrar, terminando a partida sem gols. E o pior é que ainda houve torcedor que entendeu que a padroeira dava azar chegando a ser vaiado o anúncio que a santa estava no estádio!
Santa Edwiges ficou muito magoada e foi com dificuldade que aceitou a nova homenagem da FBF. É que a esta altura já começava a perceber que a CBF não era mesmo de nada e as dívidas dos clubes estavam aumentando. Mas aí os dirigentes esportivos baianos armaram uma homenagem “tiro e queda”. Programaram um jogo entre Vitória e Redenção. Não podia dar errado pra santa ficar satisfeita.
                                                  E nem vai adiantar cartão de crédito!

O Vitória não era mais aquele estando recheado de dívidas. E, sem coragem de continuar apelando pra santa Edwiges, procurava agora outros santos, São Itaú, São City Bank o estrangeiro, São Bradesco, e outros menos votados. Neste ano de 1985 voltaria a conquistar o título baiano que passou por, no dia da homenagem, vencer o fraquíssimo Redenção por três a zero.
Apesar de santa Edwiges sair satisfeita foi sua despedida dos estádios baianos. É que quando ia saindo ouviu as reclamações dos torcedores rubro negros que pensava estarem satisfeitos. Sem falar dos habituais palavrões, teve gente que vaiou até o minuto de silêncio. Outros saíram xingando os atacantes rubro negros que perderam muitos gols. Alguns estavam aborrecidos pois tinham apostado na vitória rubro negra por uns oito a zero.  
Como ela tinha ficado á esquerda das cabines de rádio do anel superior da Fonte Nova verificou pessoalmente a quantidade de apostadores que se concentravam na torcida do Vitória. Ali se apostava de tudo. O primeiro gol, os erros do juiz, o frango do goleiro, as substituições, o placar, e o que quisessem.
                                                            Não adianta roer as unhas!
Sua decepção com a mercantilização do futebol levou-a a se afastar dos estádios de futebol baianos. E o pior é que começou a saber dos processos que os clubes tinham na justiça. Que não pagavam IPTU. Que não recolhiam o FGTS dos seus funcionários. Que um clube baiano, o EC Vitória, constava em 14º lugar entre os clubes mais endividados do Brasil, com R$ 91.313.000. Lembrou-se das inúmeras pessoas que ela tinha tirado da cadeia quando viviu neste vale de lágrimas entre os séculos XII/XIII.
Mas isto não funcionaria hoje pois não se prende mais por dívidas e ela, com seus recursos, não teria condição de honrar dívidas astronômicas. Além disto não era somente as dívidas, começavam a haver as “malas” branca e preta no futebol.  Santa Edwige soube ainda das “viradas de mesa” do campeonato brasileiro e até das maracutaias do certame de 2004 quando a corrupção dos juízes deu margem a anularem somente os jogos do Corinthians que acabou ficando com o título.
Mudou-se pro céu pra ficar bem longe dos estádios baianos. E foi ela que recebeu ali a Fonte Nova quando foi implodida em 2010.

·         Agradeço as informações do Almanaque do Futebol Brasileiro, de Gustavo Pereira, e dos sites Blogols e Wikipédia. Sou grato também as imagens dos blogs pco.org.br,g1.blogo.com,veja.abril.com.br,saiunojornal.com.br,cilenebonfim.com,tonimartins.zip.net e blogdeumsem-mdia.blogspot.com.

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