Gente, em minhas pesquisas esportivas descobri que nós torcedores-palhaços, por assistirmos tantos jogos ridículos, temos dia e até santo protetor. O dia é 21 de novembro e o santo é São Gelásio que foi até papa mas é um palhaço triste. Apesar de ter conseguido promover uma renovação litúrgica não conseguiu conciliar as igrejas no Ocidente e no Oriente do Império Romano e assistiria, em 476 DC os germânicos derrotarem o último imperador de Roma.
Coitado de São Gelásio. Será que foi por isto que ele é o padroeiro dos palhaços? Por curiosidade fui verificar como foi celebrado o seu dia na história do futebol baiano. A primeira vez que resolveram celebrar o santo foi em 1920 quando ainda nem existia estádio na Bahia. Programaram uma rodada dupla no campinho do Rio Vermelho. Os jogos prometiam. Na preliminar estava marcado Fluminense e Itapagipe e na principal Vitória e Sul América. Naquele tempo quase não existiam palhaços a não ser os torcedores. Aliás os times eram tão ruins que só sobrou o rubro negro.
Como era de costume também naquele tempo o pessoal só chegava pra assistir a partida de fundo, deixando assim de ver os nove a zero com que o finado Fluminense esculhambou a equipe de bairro. Mas uma grande palhaçada os esperava. É que o Sul América não compareceu fazendo com que o Vitória precisasse só dar a saída pra ganhar o jogo por WO.
Olhem os torcedores do Bahia protestando!
Como os poucos palhaços de circo reclamassem muito resolveram fazer nova “homenagem” ao santo, seis anos depois, no estádio da Graça. Desta vez escolheram pelo menos o Botafogo embora o fizessem jogar com o Yankees (alguém já ouviu falar?). O alvi rubro ganharia por quatro a zero este time tão ruim que perdeu neste ano TODAS as partidas do campeonato. Sua miséria iria continuar nos próximos anos quando só ganharia uma em 1928, e aí, aproveitou a chance e sumiu. Nunca mais se ouviu falar dele!
Em 1932 o Brasil seria sacudido pela chamada revolução constitucionalista. Na verdade uma disputa dos paulistas contra o resto do mundo, mas que teve repercussão até na Bahia. Aí os dirigentes esportivos ficaram com medo e resolveram não tratar os torcedores como palhaços e aproveitaram a temporada invicta do Flamengo pra programar a celebração de São Gelásio num jogo com o Ypiranga. Esta foi à única homenagem verdadeira que os palhaços tiveram na vida quando viram o auri negro agigantar-se e fazer os cariocas amargarem a sua única derrota na excursão na Bahia, três a dois.
Cinco anos depois arranjaram uma farsa na política. É que Getúlio Vargas vendo que vinha crescendo a campanha por eleições presidenciais no país inventou o Plano Cohen, dizendo que os comunistas estavam tentando tomar o poder. E aí suprimiu os direitos políticos e instituiu o Estado Novo. Ele fez os brasileiros de palhaços. Só faltava fazer os baianos de palhaços, e quem fez isto foram os dirigentes esportivos.
Quer mais palhaçada que o deputado Tiririca na Comissão de Educação?
Eles providenciaram uma nova “homenagem” ao santo convidando um clube falsificado, o São Paulo Athlétic Club. E aí “lavaram a jega” em cima deste cover paulista. Imaginem que o Bahia deu de sete a zero, e o Galícia, no dia da celebração, deu de quatro a um. Foi assim que acabaram as homenagens aos palhaços no campo da Graça.
Na Fonte Nova elas só viriam em 1956. Pra isto escolheram a dedo um jogo, a última partida do segundo turno, quando Galícia e Guarany não aspiravam mais nada no campeonato. Salvador já tinha uns quinhentos mil habitantes na época e muitos circos apareciam por aqui. Desta maneira muitos palhaços compareceram ao jogo pra presenciar a homenagem ao santo e acabaram se confundiram com os torcedores. Nunca vi uma coisa destas. Imaginem que o time da colônia espanhola derrotou os “índios” por dois a um e acabou na vice-lanterna do turno. Enquanto isto o Guarany perdeu todas as partidas que disputou! Ou seja, continuamos todos palhaços!
Depois disto foram os próprios palhaços que não quiseram mais homenagens. Os clubes foram até em comissão nos circos e nada! Também pudera, ói os jogos que propuseram? Redenção X SMTC, Monte Líbano (se lembram?) X São Cristóvão, ou Ideal de Santo Amaro X Humaitá. Assim não há São Gelásio que aguente! O resultado é que passaria um quarto de século pra ter outra “homenagem”.
São Gelásio, o palhaço triste!
E ela veio em 1981 quando já havia dez anos de campeonato brasileiro. Mas como acharam que os palhaços não mereciam tal honraria escalaram pra compensar um jogo pelas finais do certame baiano. O jogo foi Bahia X Catuense, este último, o time de uma empresa de ônibus local. Ora, coincidiu que nesta época haviam alguns circos em temporada no estado e todos estavam no interior. E compareceu ao jogo uma delegação de palhaços de Alagoinhas.
A emenda saiu pior que o soneto. Todos os palhaços torceram pro time da laranja mecânica e o empate em dois gols levou á sua eliminação. Resultado, os palhaços saíram com “cara de tacho” da Fonte Nova. Nunca mais quiseram outra homenagem destas ao seu santo. Três anos depois criariam seu próprio Dia do palhaço e não quiseram mais saber do futebol da Bahia.
E ainda bem que fizeram isto. É que no dia 25 de novembro de 2007, quando uma nova geração de palhaços poderia celebrar seu santo, cuja data havia ocorrido quatro dias antes, um trecho do estádio cedeu ocasionando uma tragédia onde morreriam sete torcedores.
· Agradeço as informações do Almanaque do Futebol Brasileiro e dos sites Igreja on line, Futipédia, Wikipédia e RSSF Brasil. Sou grato ainda às imagens dos blogs oerronte.blogspot.com,jornalocal.com.br,juruverso.blogspot.com,semprebahia.com.br,cincodejulho.blogspot.com,questoesinsanas.com e cot.org.br.
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