sábado, 12 de março de 2011

Os funerais na Fonte Nova

                  
                                     
Descobri outro dia que Santo Antão e São Dimas são os santos representantes das gloriosas categorias dos coveiros e agentes funerários cujas celebrações se dão nos dias 17 de janeiro e 25 de março. O primeiro é uma referência nas práticas dos monges cristãos. Já o segundo é o “bom ladrão”, o que foi crucificado ao lado de Jesus Cristo e acreditou no que dizia.
No entanto, até onde entendo, este negócio de ladrão arrependido não funciona no futebol, a não ser talvez pra alguns dirigentes de clubes. Firmei ainda mais esta posição depois que fui verificar estas datas no futebol da Bahia.
A primeira vez que programaram uma partida na Fonte Nova em homenagem a Santo Antão foi em 1954. Aliás o jogo era importante e fazia parte dos preparativos para a seleção baiana participar do campeonato Brasileiro que haviam começado em dezembro. No início nossa seleção até que foi muito bem derrotando os visitantes mas após o Natal degringolou perdendo para o EC Bahia por três a zero. Nesse dia os baianos abririam a própria cova perdendo para o Vasco da Gama por dois a zero. Logo depois os paranaenses enterrariam de vez o nosso selecionado que ficaria como o santo, solitário e sem passar da primeira fase.
                                                               Festa em funeral?

A experiência foi tão ruim que levaram treze anos pra fazer outra homenagem ao ramo, mesmo assim aos agentes funerários. Foi no dia 25 de março de 1967. Era a última partida do segundo turno ainda pelo campeonato do ano anterior. O Bahia pretendia se reabilitar contra o Leônico que apontava na liderança do turno. Mas qual! Deu mesmo o moleque travesso que, ao ganhar do tricolor por três a dois, teve uma recaída roubando o ex-esquadrão de aço deste mundo, digo do campeonato.
O resultado custou mais um período de discriminação desta valorosa categoria na sede da FBF. Agora, inclusive contando com o veto do Bahia. No entanto, no fim da década, quando o tricolor perseguia o heptacampeonato, julgou-se em condição de afastar a superstição. Afinal (diziam os dirigentes) não é possível praticar futebol prendendo-se a estas crendices.
Diga-se de passagem, a categoria costuma contribuir financeiramente nas eleições e não podem ser desprezados os seus votos. Olhem que não estou fazendo uma relação entre a prática de São Dimas antes de se arrepender e s destes dirigentes de clube. Inclusive pelo fato de Paulo Maracajá ser hoje o respeitável presidente do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia.
                                                        
Desta maneira o Bahia aceitou que marcassem o clássico contra o seu arquirrival rubro negro pra 25 de março de 1979. O resultado fez correr um suor frio na espinha nos seus dirigentes e torcedores. O Vitória ganharia de um a zero e, neste ano, conseguiria ficar vários jogos sem perder para o Bahia só não ganhando o título graças a um “frango” antológico do goleiro Gelson.
Mais uma série de anos se passou sem que se homenageassem de novo os coveiros ou agentes funerários. E olha que durante esse tempo deu Vitória na cabeça (1980), depois mais um “tetra” do Bahia (1981-1984), voltando o rubro negro a ganhar em 1985. Em compensação nada de votos pra Paulo Maracajá presidente do clube. A má vontade só terminou em 1987, quando o esquadrão de aço disputava o “bi” e julgou-se em condição de enfrentar a “crendice” . Além do mais, o deputado estadual-presidente iria concorrer a sua reeleição no ano posterior e precisava amealhar apoio.
Assim programaram uma rodada dupla amena pelo campeonato no dia 25 de março de 1987.  Na preliminar jogavam Ypiranga X Bahia de Feira de Santana. E na principal Botafogo X Galícia. No primeiro jogo deu empate entre os aurinegros e o homônimo da cidade que é a Princesa do Sertão. No jogo principal os granadeiros tinham deixado de ser favoritos. É que não eram mais aqueles estando há anos fora da primeira linha do nosso futebol.
                                       É issso aí o ganha pão de quem São Dimas protege!

Nesse ano só perderia pra Deus e o mundo sendo rebaixado para a Segunda Divisão estadual. Mas o que parecia “sopa no mel” pro Botafogo (que fazia boa campanha este ano) quase acaba mal com a equipe da colônia espanhola por pouco não tirando valiosos pontos dos diabos rubros que, á custo, ganhariam por três a dois. A renda foi tão pouca que houve quem desconfiasse que São Dimas houvesse se arrependido de se arrepender.
Três anos depois o rubro negro decidiria arriscar. Havia sido campeão do ano anterior e já tinha construído o “Barradão” estando se despedindo da condição de mandante de jogos na Fonte Nova. Além do mais seu presidente Paulo Carneiro estava de olho na política onde, pouco depois seria eleito vereador de Salvador.
O jogo foi à estreia do Vitória no segundo turno e apresentaria um péssimo resultado naquele 25 de março de 1990, três a um pro Fluminense de Feira de Santana. Uma das poucas derrotas da campanha do “bi” e quase que a equipe perderia sua classificação para as finais no seu grupo.
                                            E Michael nem imaginava que estava na fila...

Não acredito em bruxas mas que las hay las hay. As últimas tentativas de homenagear a categoria são aterrorizantes. Parece coisa de Alfred Hitchcock. Aconteceram as duas 17 anos depois, em 17 de janeiro e 25 de março de 2007. O Bahia ganhou as duas, pro Camaçari(2 X 0) e pro Atlético de Alagoinhas(1 X 0). Mas imaginem que os times do Pólo e da terra da laranja ofereceram a maior resistência ao tricolor que teve que suar pra vencer.
Mas depois disto ocorreria uma série de coisas extraterrenas! O Bahia continuaria na Terceira Divisão, enquanto o Vitória subiria pra Segunda. E, exatamente oito meses depois, uma tragédia aconteceria durante o jogo Bahia e Vila Nova (GO) quando cederia uma fresta do estádio caindo por ela várias pessoas ocasionando sete mortos. Na época havia sido anunciada a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil e o governador Jacques Wagner aproveitaria a ocasião pra proibir a realização de jogos no estádio.
                                            Será que ainda dá?Longa vida pro nosso blog!
Foi o dia da primeira morte da Fonte Nova. Mas o que eu fico impressionado é como é que São Dimas e Santo Antão dão tanto azar a quem os homenageiam!

·         Agradeço as informações do Almanaque do Futebol Brasileiro, e dos sites RSSSF Brasil, Granadeiros Azulinos, Wikipédia, ICP, Futipédia e Esporte. uol. Sou grato também às imagens dos blogs freetela.com,estreladeorion.blogspot.com,irrestrito.com,download-ditudo-gratis-blogspot.com e pegaki.com.

Nenhum comentário:

Postar um comentário