Vão passando os anos, e terminei por assumir minha identidade:
eu não sou mais que um mendigo do bom futebol. Vou pelo
mundo de chapéu na mão, e nos estádios suplico: “Uma linda
jogada, pelo amor de Deus”. E quando o bom futebol ocorre,
agradeço o milagre sem que me importe nem um pouco qual é
o clube ou o país que a mim o oferece.
Eduardo Galeano
Nas minhas pesquisas sobre religião descobri que São Alexis é o padroeiro dos mendigos. Mas que não se confunda com o santo Alexis da Igreja Ortodoxa Russa. Este é o da Igreja Católica Apostólica Romana. Ele foi um verdadeiro antecessor de São Francisco de Assis. E mostrou isto no Século IV em Roma quando atingiu maioridade e, mesmo sendo filho de família rica, deu tudo que tinha aos pobres e viveu por 17 anos como mendigo nas ruas.
Basta fazer uma pesquisa na história do futebol baiano pra ver que os clubes, torcedores e dirigentes professaram o espírito de São Alexis. Que o digam às partidas que ocorreram em homenagem a sua celebração como padroeiro dos mendigos, o 17 de setembro tal a penúria do bom futebol.
Nos primeiros anos que o campeonato baiano foi realizado os dirigentes esportivos se mostravam solidários com as causas sociais. Já no sétimo certame, quando ainda se jogava no Campo da Pólvora, lembraram-se de Alexis. Corria o ano de 1911 com um campeonato pobre com apenas cinco participantes. Foi aí que programaram a partida Rio Vermelho X São Salvador. Uma partida tão carente como a vida do santo que o primeiro ganharia por dois a um. Os dois clubes nem mais existem e seriam, respectivamente, neste ano, o vice-lanterna e lanterna do certame.
Ói ele!
Voltariam a lembrar da solidariedade humana de Alexis 12º campeonato. Naquele ano de 1916 o antigo Fluminense FC tinha um bom time e sonhava repetir o título do ano anterior. Aí resolveram fazer uma homenagem ao santo exatamente no final do certame. O primeiro jogaria contra o Botafogo e o segundo contra o Internacional. Nenhum dos seus adversários tinha condições de disputar o título que apresentava uma disputa renhida entre Fluminense e Internacional.
Acontece que, no dia marcado para a celebração, São Alexis, com toda a sua generosidade, ficou com muita pena do República que ainda não havia ganhado um título baiano. Confidenciou aos dirigentes que o Fluminense já havia ganhado o certame do ano anterior e que era preciso que fôssemos justos e equânimes com todos. O campeão do ano anterior chorou, esperneou, mas não teve jeito, ao final deu Botafogo 1 X 0 Fluminense. E, seis dias depois, ao empatar com o Internacional o República faturaria o título. Foi assim que este clube que nem mais existe ganharia o único título de toda a sua história, graças a São Alexis!
Nao é por ser mendigo que não vai ser conectado!
A próxima homenagem ao santo seria logo no início do funcionamento do novo Estádio da Graça. Mas foi uma sacanagem! Escolheram logo Guarany e São Cristóvão para esta homenagem em 17 de setembro de 1924. O jogo foi uma pobreza só em matéria de futebol. Nesse ano, em que o Guarany não ganhava de ninguém e seria o lanterna do campeonato, agiu de novo a mão de São Alexis, pedindo a Deus que desse ao clube uma vitória. E não é que ela ocorreu, quando os “índios” surpreenderam o mundo derrotando o simpático “cricri” por quatro a um?
A próxima homenagem ao santo seria logo no início do funcionamento do novo Estádio da Graça. Mas foi uma sacanagem! Escolheram logo Guarany e São Cristóvão para esta homenagem em 17 de setembro de 1924. O jogo foi uma pobreza só em matéria de futebol. Nesse ano, em que o Guarany não ganhava de ninguém e seria o lanterna do campeonato, agiu de novo a mão de São Alexis, pedindo a Deus que desse ao clube uma vitória. E não é que ela ocorreu, quando os “índios” surpreenderam o mundo derrotando o simpático “cricri” por quatro a um?
Mas passou-se o tempo e veio o futebol profissional. O futebol começava a deixar de ser solidário e os dirigentes esportivos a não estar nem aí para os mais necessitados. Mas santo Alexis continuava coerente com suas posições e ajudava o início de um clube recém-fundado, o EC Bahia, que precisava se firmar no campeonato. Em 1933 não aceitou, portanto, que a nova equipe fosse escalada para a sua celebração.
Santo Alexis fiscalizando as ruas de Salvador!
Os clubes mais populares da época, Botafogo e Ypiranga (olhados com desconfiança pelos frequentadores do estádio situado no tradicional bairro da Graça) foram designados para a homenagem. Afinal, estavam na segunda e terceira colocação e o título já estava garantido por antecipação para o tricolor. E aí foi o maior “baba” da paróquia. Não houve santo nem torcedor que aguentasse a partida. Muitos dormiram nas velhas arquibancadas de madeira sabendo do resultado a favor do alvi rubro (2 X 1) pelo jornal.
Os clubes mais populares da época, Botafogo e Ypiranga (olhados com desconfiança pelos frequentadores do estádio situado no tradicional bairro da Graça) foram designados para a homenagem. Afinal, estavam na segunda e terceira colocação e o título já estava garantido por antecipação para o tricolor. E aí foi o maior “baba” da paróquia. Não houve santo nem torcedor que aguentasse a partida. Muitos dormiram nas velhas arquibancadas de madeira sabendo do resultado a favor do alvi rubro (2 X 1) pelo jornal.
A última homenagem ao santo foi em 1939 quando estava praticamente resolvida a profissionalização do futebol na Bahia. Nesta ocasião os dirigentes se sentiram a cavalheiro pra colocarem na tabela do campeonato uma nova homenagem ao pobrezinho do Alexis. Mais uma vez o jogo escolhido foi um clássico, Galícia e Vitória. Mas os granadeiros ainda estavam armando o time que seria tricampeão na próxima década e o rubro negro voltava lentamente ao campeonato após seu afastamento em 1937.
São Alexis assumindo a negritude!
O jogo foi chato de dar dó. Os jogadores sequer conseguiram cobrar um corner (como se chamava o escanteio naquele tempo) corretamente. O que teve de “furo” na bola nem é bom falar. E os dois a um para o time da colônia espanhola só saiu graças a erros dos goleiros. O resultado foi de uma pobreza franciscana, digo alexiana, com o Vitória na lanterna do campeonato.
O jogo foi chato de dar dó. Os jogadores sequer conseguiram cobrar um corner (como se chamava o escanteio naquele tempo) corretamente. O que teve de “furo” na bola nem é bom falar. E os dois a um para o time da colônia espanhola só saiu graças a erros dos goleiros. O resultado foi de uma pobreza franciscana, digo alexiana, com o Vitória na lanterna do campeonato.
Muitos anos se passaram e esqueceram-se do pobrezito Alexis. A grande indústria se instalou na periferia de Salvador, que viu também o Polo e o CIA, emigrando pra ela grande contingente populacional do interior. Entre 1971 e 1980 a capital do estado dobrou sua população. Foram tempos onde à pobreza atingiu as raias do inimaginável com a favelização chegando a alcançar trezentas comunidades.
São Alexis de barba na porta da Igreja do Bonfim!
Foi aí que, depois de quase meio século, voltaram a se lembrar de Santo Alexis, embora haja quem diga que foi demagogia com a pobreza. Estávamos na Era da Fonte Nova e a CBF, por solicitação da FBF, escalou um Operário (o do Mato Grosso) pra jogar contra o Bahia celebrando a data. Afinal, se o santo fosse vivo haveria de ver com carinho esses novos pobres modernos. A partida incluía outras homenagens. Os clubes escalaram jogadores com nomes bíblicos, com o tricolor utilizando Estevão e Adão e os visitantes o técnico Malaquias.
Foi aí que, depois de quase meio século, voltaram a se lembrar de Santo Alexis, embora haja quem diga que foi demagogia com a pobreza. Estávamos na Era da Fonte Nova e a CBF, por solicitação da FBF, escalou um Operário (o do Mato Grosso) pra jogar contra o Bahia celebrando a data. Afinal, se o santo fosse vivo haveria de ver com carinho esses novos pobres modernos. A partida incluía outras homenagens. Os clubes escalaram jogadores com nomes bíblicos, com o tricolor utilizando Estevão e Adão e os visitantes o técnico Malaquias.
Os torcedores porém, esperavam que, independente da celebração, o Bahia desse pelo menos uns dez no pobre Operário. Mas aí agiu de novo a mão do santo. Não podendo ficar contra os promotores da homenagem (pois pensava em recuperá-los para a prática da solidariedade social) fez de tudo pra reduzir o ímpeto do tricolor. E olhem que este já prefigurava a equipe que seria campeã brasileira dois anos depois, com craques como Bobô, Sandro, Cláudio Adão e Paulo Martins, dirigida pelo experiente técnico o “tio” Orlando Antônio.
A criatividade dos mendigos baianos é impressionante!
Quando o esquadrão de aço conseguiu fazer dois a um (que parece mais escore oficial de São Alexis) a bola não houve jeito de a bola continuar entrando no gol. Passeava de um lado a outro na defesa do Operário, batia na canela de Adão e ia pra fora. Contribuiu para o magro placar um atacante visitante chamado Calango cuja cara horrorizava os atacantes tricolores.
Quando o esquadrão de aço conseguiu fazer dois a um (que parece mais escore oficial de São Alexis) a bola não houve jeito de a bola continuar entrando no gol. Passeava de um lado a outro na defesa do Operário, batia na canela de Adão e ia pra fora. Contribuiu para o magro placar um atacante visitante chamado Calango cuja cara horrorizava os atacantes tricolores.
Em termos de homenagens dos dirigentes de clubes e da federação foi só isto que coube ao pobre Alexis. Mas acho que ele merecia muito mais. Mas a grande celebração do santo quem fez foi os pobres da Bahia. É que quando a Fonte Nova foi interditada para jogos em 2007 o estádio foi tomado pelos sem teto que ocuparam várias de suas dependências.
Seus vestiários e vãos foram ocupados pelas poucas roupas, pelos papelões que serviram de camas, daqueles que passaram a viver, dormir, comer e rezar na Fonte Nova. Conta a lenda que viram o próprio Santo Alexis por ali. Juntou-se a seus filhos pra pedir esmolas e morar pobremente. Foi sua grande glória e dada pelos baianos. Isto até que não lhe fizessem nova desfeita três anos depois com a implosão do estádio.
Sem Tetos de Salvador morando na Fonte Nova
Sem Tetos de Salvador morando na Fonte Nova
· Agradeço as informações de Eduardo Galeano(El futebol a sol y sombra), do Almanaque do Futebol Brasileiro, dos sites RSSSF Brasil e Futipédia, e do blog Repórter de Cristo.com. Sou grato ainda as imagens dos blogs fala-bosta.blogspot.com,sontiagonezorian.blogspot.com,holt.zip.net,sabeomaario.wordpress.com,sisha.fanclubes.com,diadechuvadiadesol.worpress.com,blogview.worpress.com,inolisilva.blogspot.com e felipearaujo.blogspot.com.
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