terça-feira, 22 de março de 2011

Todos os amistosos da Fonte Nova

               
Hoje eu vou dar uma de estatístico. Afinal não é todo dia que agente pode fazer brincadeira neste blog. Piada quem faz mesmo é Obama que mesmo trazendo duzentas pessoas ao Brasil e conseguiu na façanha de não atender a nenhuma das pretensões do Itamaraty. Não vai faltar quem diga no congresso norte americano que foi uma viagem turística, pois poucas coisas concretas foram acertadas a não ser o aumento de bolsas para estudantes nos EUA (!).   Mas pra isto bastaria um simples fax.  De quebra, enquanto estava no Brasil, mandou invadir o espaço aéreo da Líbia pra “ajudar o povo” e, naturalmente, meter a mão no petróleo líbio, pois o imperialismo não é de ferro.
Mas vamos às estatísticas de hoje. Como em breve vamos lançar um livro de memórias sobre a Fonte Nova estamos pesquisando todos os jogos que foram realizados no estádio. A tarefa não é brincadeira, ainda mais porque não pude ver até agora as súmulas do acervo da SUDESB. Assim, temos que nos contentar por enquanto com fontes de pesquisas diversas. O Almanaque do Futebol Brasileiro (AFB) dedica-se aos amistosos. Os sites História do Futebol, o RSSF Brasil e os Granadeiros Azulinos atuam principalmente com os jogos oficiais embora tenham também os torneios. E o Bola na área e o Futipédia são melhores nos certames nacionais.
Mas há uma série de problema. Uns copiam as informações dos outros. Faltam jogos, há inversão de resultados, confundem-se torneios com amistosos, não se divulga os estádios onde foram realizados os jogos, e até mesmo há vários anos sem qualquer amistoso. Tudo isto exige muita pesquisa pra achar os números exatos. Mas creio que já dá pra fornecer uma boa ideia pra nossos leitores sobre como foram os amistosos entre times nacionais ao longo da história da Fonte Nova, e até mesmo do futebol da Bahia.
                                                                 Nossa! Oí ele aí!
Segundo o AFB o primeiro jogo amistoso entre times nacionais realizados na Bahia foi entre Vitória e São Paulo (Bahia), no doía treze de setembro de 1903, registrando-se o escore de dois a zero para os futuros leões da Barra. A maior possibilidade é ter sido jogado no Campo da Pólvora ou no Campo do Rio Vermelho. Mas havia outros campos de várzea onde pode ter acontecido também.
Pro AFB houve apenas este jogo durante o ano, enxergando mais três no ano seguinte, de onde pula pra 1907(um jogo) e 1909(mais dois). Sete jogos na primeira década, muito pouco para uma época onde começaram a ser disputado o campeonato local, e que, por contar apenas com a presença de três a cinco clubes, tinha muito tempo vago pra amistosos.
Na segunda década o AFB só achou três jogos. Será por causa da Primeira grande Guerra ou por falta de informação? Informa que houve um em 1910 (Vitória 2 X 1 Rio Vermelho), outro em 1917 (República 6 X 0 Seleção Sergipana), e o último em 1919(a sensacional goleada do Botafogo (RJ) na Seleção baiana por sete a um).
                                         Bem que esses números poderiam sair no Fantástico!
Os anos vinte são de pós-guerra, embora se registrem movimentos políticos e militares como a revolta dos 18 do Forte de Copacabana (1922), a revolta de São Paulo que chegou inclusive a ser bombardeada pelo governo em 1924 (na certa também foi pra ajudar sua população!), e a Coluna Prestes que percorreu o Brasil até 1928. Era um época onde já existia o rádio e o futebol começava a crescer como o esporte favorito dos brasileiros. Entre os campo de futebol criados na ocasião se encontra o da Graça.
Aí o AFB já registra trinta e três jogos. A maior parte desses nos anos de 1921 e 1923(nove em cada), ficando sete jogos para 1929, cinco para 1927 e três para 1920. Estranhamente não há jogos no ano de inauguração do Campo da Graça em 1922. Ressalte-se o inicio do intercâmbio (que será sempre presente) com os clubes cariocas, onde visitam Salvador o América, o Vila Isabel, o Fluminense e o São Cristóvão, mas também o Santa Cruz, o primeiro pernambucano a visitar o estado.
Os nãos trinta são da revolução civil-militar que se propôs a modernizar o Brasil. No entanto muitos historiadores brigam entre si até hoje pra saber o que aconteceu, uma revolução burguesa, um golpe de estado, ou um revolução de verdade. Os anos mais agitados foram de 1932(Revolta Constitucionalista), 1935(revolta da Aliança Nacional Libertadora) e 1937(golpe do Estado Novo). Ao fim da década ainda veio a Segunda Grande Guerra pra atrapalhar o futebol (desculpem por esta!). O futebol não podia deixar de ser afetado por estes acontecimentos que limitam o intercâmbio esportivo.
                                                        O recordista é um urubu!
Mas isto não é desculpa pro AFB que mostra uma instabilidade ano a ano nos amistosos nacionais realizados na Bahia. Seriam seis amistosos em 1930(e olhem que a chamada revolução só ocorreu em outubro), apenas três no ano seguinte (aqui é possível, pois foi a maior confusão na Bahia, inclusive a “revolta do bonde” e os problemas que encontrou o interventor cearense Juracy Magalhães). A partir de 1932 a situação começa a mudar com a realização de dez partidas, ampliadas ao máximo para 25 no ano seguinte.
A realização das eleições para a Assembleia Constituinte (com a eleição indireta do interventor-governador) faz cair de novo os amistosos para sete em 1934, subindo logo após em 1935(21) e 1936(20). No ano em que houve o golpe do Estado Novo é, coincidentemente, o de maior número de amistosos entre clubes nacionais até então, 29. E, surpreendentemente caí para onze no ano seguinte, voltando para 27 no último ano da década que, não obstante todos os percalços é a maior registrada pelo AFB até agora, 159 partidas.
Ressalte-se a presença de vários clubes pela primeira vez na Bahia. O Flamengo e o Vasco iniciam uma longa carreira na Bahia, complementados pelos cariocas Andaraí, América, Brasil, Madureira, Botafogo e São Cristóvão. Chegam, pela primeira vez os paulistas, com Bandeirantes, Hespanha, Palestra Itália, Santos, Corinthians, e a própria seleção estadual. Assim como Paissandu, América (MG), e os pernambucanos Náutico, Santa Cruz e Sport.
                                                  Não estou falando desses números...
A década de quarenta está em boa parte comprometida pela guerra, mas as ações militares só vão se intensificar entre 1942/1944, tempo em que caem verticalmente os amistosos. Em 1940 ainda são 18, e, no próximo ano, são 16. Oportunidade em que a Seleção do Pará e Bonsucesso e Vasco da Gama nos visitam. Mas a guerra é implacável abatendo os amistosos para números como cinco (1943) e seis (1944). Não deixamos de ter a presença dos valorosos cariocas do São Cristóvão e Botafogo que, em pleno conflito mundial, deram um “passeio” nos baianos. Devem ter aproveitado que os baianos estavam distraídos com a guerra!
O pós-guerra elevou esses números trazendo de imediato Fluminense, Corinthians, Sport e América de Pernambuco e até, pela primeira vez, os gaúchos com o Internacional. Em 1946 já são jogadas 23 partidas chegando Salvador ao final desses anos com 155 partidas recuperando os níveis da década anterior. Tivemos nessa época a presença de Cruzeiro, dos cearenses Ceará, Fortaleza e Ferroviário, do América (PE) e dos grandes clubes do Rio de Janeiro Botafogo, Vasco, Flamengo e Fluminense, registrando-se inclusive um FLA-FLU ganho pelo primeiro por cinco a zero no Campo da Graça.
Antes da inauguração da Fonte Nova o acanhado estádio de arquibancadas de madeira obteria o seu ano mais profícuo em amistosos e o terceiro da história do futebol baiano, com a realização de 39 partidas em 1950, o que cai para 14 em 1951, ano em que já estava em funcionamento precário a Fonte Nova.

A Era da Fonte Nova não chegaria de imediato aos grandes números, particularmente devido ao fato das obras básicas demorarem alguns anos. Só ao fim da década foi que o projeto do estádio se concluiu com a realização de todas as obras previstas, incluindo o ginásio e a piscina, como sempre, nas proximidades de anos eleitorais ou fruto de promessas de campanha.
No ano da inauguração houve apenas nove partidas, contando a comemoração da ABCD não anotada pelo AFB. Ressaltem-se as primeiras visitas do Fluminense (RJ), Portuguesa de Desportos, Vila Nova (MG) e Vitória (ES). No ano seguinte apenas onze jogos. Até o certame baiano seria decidido ainda no Campo da Graça pois o nosso histórico estádio somente foi “definitivamente” entregue em meados do ano. Destaquem-se os jogos da Seleção baiana com o Internacional (RS) e o torneio ganho pelo Bahia com a participação do Curitiba.
Em 1953 a Fonte Nova começa a engrenar com a realização de 21 amistosos. Dentre eles o desastre de março, onde os baianos foram esmagados no Torneio Régios Pacheco, por Internacional-RS (campeão) e Flamengo (vice), e o Torneio Bahia-Pernambuco. Já em 1954 chegamos ao nível de 35 partidas, descendo para 22 em 1955, e alçando-se de vez no restante da década, aonde chega a 28 partidas em 1956, trinta em 1957 e os dois maiores anos do futebol baiano em 1958(40) e 1959(45), quando, descontando-se as festas, se realizou quase que um amistoso por semana.
                                    Que é isto! Eu estou falando de estatística e não de circo!
Vivíamos então o maior intercâmbio da nossa história esportiva, com 194 amistosos entre clubes nacionais, talvez responsável para o fantástico desempenho do EC Bahia nos três anos iniciais da próxima década onde ganhou uma taça Brasil e chegou à decisão de outras duas, todas contra o Santos. Nesta era fomos visitados pelos cariocas do Bangu (seis vezes), Vasco (três vezes), Fluminense (três vezes),Flamengo (quatro vezes), Botafogo (quatro vezes),América (duas vezes), Madureira, São Cristóvão (duas vezes) e Olaria (três vezes).
Pelos paulistas da Portuguesa de Desportos (duas vezes), Corinthians (três vezes), Santos (duas vezes), São Paulo (quatro vezes),Taubaté e Palmeiras, pelos pernambucanos Náutico (três vezes), Sport (quatro vezes) e Santa Cruz, pelos mineiros do Atlético (três vezes), do Cruzeiro (duas vezes) e do Democrata de Sete Lagoas, pelos cearenses do Ceará e Fortaleza, pelo Remo, XIII de Campinas, Vitória e Rio Branco do Espírito Santo, Santa Cruz (SE),CRB e Campinense.
Os anos sessenta se ressentem da crise política e da crise esportiva na federação baiana. Ainda se mantem vinte e duas partidas em 1960 e 26 em 1961, para caírem para 13 em 1962 e 1963. No ano fatídico de 1964 descem a onze, voltando a 30 em 1965, recuando para oito em 1966 em função de o primeiro turno ser jogado no campo da Graça em face da crise no futebol. O retorno apresenta 27(1967) e 20(1968), retornando a 11 partidas em 1969 quando o estádio já começa a entrar em obras para a ampliação do anel superior.
                                         E como atrsavam os clubes pra chegarem e sairem!
Mesmo assim a década completa 181 partidas, a segunda da história do nosso futebol. ((Sendo visitados pelos cariocas Vasco (7), Bangu (5), Bonsucesso, Flamengo, Canto do Rio, Portuguesa, América e São Cristóvão (duas vezes),Olaria e Madureira, pelos pernambucanos Sport)4), Náutico e Santa Cruz (duas vezes), pelos paulistas do Corinthians (3), Santos, Portuguesa de Desportos, Comercial (RP),pelo Cruzeiro e Confiança (2), pelos cearenses do Fortaleza (3) e Ceará , pelo XIII de Campinas, Desportiva Ferroviária e Remo. E inclusive pela própria Seleção Brasileira.
Os anos 70 se iniciam com jogos na Graça mas em março passaríamos ao agora grande estádio da Fonte Nova já ampliado que ainda daria pra haver 33 partidas amistosas neste ano. Era porém, uma época de criação do Campeonato brasileiro, e, este fato, assim como a implementação progressiva de um calendário nacional que os clubes tinham que seguir, foi debilitando a realização de amistosos. É que passou a não dar mais tempo pra eles, tal os compromissos dos grandes clubes estaduais.
Acompanhem a estatística do AFB.  São onze partidas em 1972, 17 em 1973, ape4nas oito no ano da Copa do Mundo de 1974, e trinta em 1975(em função do Torneio Cidade de Salvador). Os números caem para 15(1976), oito (1977) e chegam a seis (1978 e 1979), completando a década com 134 partidas, retrocedendo a níveis de trinta anos atrás. Mesmo assim tivemos visitantes constantes, como os sergipanos Itabaiana (2),Sergipe e Confiança (2), os cariocas Flamengo (com o recorde de estar presente onze vezes),Fluminense (5),Vasco da Gama (3),Botafogo (2),América (2),Olaria (2),Bangu e Volta redonda.

Anda estiveram na Fonte Nova o Londrina, o Vitória (ES), o Botafogo e o Treze (PB), o Figueirense e o Grêmio, os mineiros do Cruzeiro (4) e Atlético (2), Santos (3),Portuguesa de Desportos e São Paulo, o Fortaleza, os alagoanos do CRB e CSA por duas vezes, os pernambucanos do Náutico (3),Sport (2),Santa Cruz (2) e América, os paraenses do Remo e do Paissandu, o Curitiba (2) e a Desportiva.
Os amistosos da Fonte Nova entrava em decadência comprovada ainda nas próximas décadas. Vela os números dos anos oitenta:1980(7),1981(5),1982(5), 1983(14),1984(4),1985(4),1986(11),1987(5),1988(1) não se registrando, segundo o AFB jogos amistosos no ano de 1989 na Fonte Nova.  Destaquem-se a presença de Grêmio e Inter, do Botafogo-SP (2), do Sport (5) e Náutico, do Fluminense (3), Vasco, Flamengo e Botafogo do Rio de Janeiro, do Atlético, Cruzeiro e América de Minas Gerais, do santos e Corinthians, e do Confiança, Fortaleza, Desportiva e CRB. Chama a atenção a presença da Seleção Olímpica Brasileira que empatou sem gols com o Bahia.
Os anos de 1990 deram um golpe ainda maior nos amistosos entre clubes nacionais na Fonte Nova, particularmente com o recolhimento do Vitória ao Barradão. E olhem que ainda foram estimulados pela realização de três edições do Troféu Maria Quitéria (1995-1997). Para o SFB os anos de 1990 e 1991 só houve um amistosos, e nenhum em 1992,1994 e 1995, sobrou alguns para 1993(4), 1997(4), 1998(6) e 1999(2). Poucos clubes vieram fazer amistosos por aqui, como os pernambucanos do Náutico, Sport e Santa Cruz, os paulistas do palmeiras (3) e Corinthians (2), o Curitiba, o Internacional e até o recordista Flamengo.
                                                        Praticantes de Cabala
Aos amistosos foram diminuindo até o final da Fonte Nova em 2007, quando em toda a década somente foram realizadas nove partidas. Segundo o AFB nada aconteceu em 2001, 2002, 2004 ou 2006, salvando-se apenas 2000 (Bahia 2 X 0 no Universal-RJ, 2 X 1 no Náutico e 3 X 0 no Galícia), 2003(Bahia 3 X 0 no Leônico), e 2005 (Bahia 2 X 3 e 3 X 1 com a Catuense, e 2 X 0 com o Camaçari).
Os últimos amistosos da Fonte Nova ocorreram no ano em que foi fechada para o futebol. Foram os sergipanos me feirenses que tiveram esta honra. O Sergipe, ao empatar com o EC Bahia em um gol, e o Fluminense, literalmente, fecharia o caixão, ao perder para o tricolor por três a um no dia 21 de junho de 2007, quando se começava a comemorar as festas juninas. Amistoso agora só lá com São Pedro onde está a Fonte Nova.

·         Agradeço as informações do Almanaque do Futebol Brasileiro e do Setor de Periódicos Raros da Biblioteca Central do Estado. Sou grato também as imagens dos blogsmundodadanca1.blogspot.comn,jornalopcao.com.br,jie.itaipu.gov.br,emomilhoes.blogspot.com e bookhouse.com.br.

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