quinta-feira, 31 de março de 2011

Um vampiro na Fonte Nova

                         

A lenda dos vampiros é muito antiga, vindo desde a Mesopotâmia.  Com o tempo atingiu praticamente a todas as culturas a ideia de um ser que se alimenta do sangue humano, se transforma em morcego e só é morto quando se crava uma estaca no peito. Por influência da Igreja Católica se divulgou uma série de instrumentos para o seu combate, que incluem a cruz, a hóstia, o rosário, a agua benta e metais consagrados.
Hoje o vampirismo é quase que uma religião, se estendendo á literatura, ao cinema e ao vídeo game. Tolstoi, Rousseau, Alexandre Dumas e Karl Marx falaram de vampiros. Este último comparando-os aos capitalistas que sugam o sangue dos operários.  Os vampiros ajudam também a economia, aumentando o fluxo de turistas na região da Transilvânia na Romênia onde se diz que morou o mais famoso deles, o conde Drácula. 
Mas onde se esqueceram de mostrar os vampiros foi no futebol. No esporte está cheio de vampiros. Desde dirigentes de clubes que ficam ricos explorando a boa fé dos torcedores a empresários que sugam como podem as energias de jovens desde a mais tenra idade. Há Ricardo Teixeira que vai encher “as burras” de dinheiro com os contratos que fez para a Copa de 2014, assim como certos clubes que passam ano dando desgosto aos torcedores, que dão muito sangue para pagar os caros ingressos do nosso futebol.

O artigo de hoje é sobre um ano destes, o de 1966, e o vampiro é o EC Bahia que atravessava uma fase de meter medo. O tricolor havia sido pentacampeão em 1962, mas depois dali ficaria cinco anos sem arranjar nada! Pra piorar a história, no final de 1964 o futebol baiano iria viver grave crise, que durou quase dois anos, quando a imprensa aderiu ao boicote do esporte.
A equipe já tinha ficado de fora do supercampeonato do primeiro turno do ano anterior, que se reduziu a Ypiranga, Botafogo e Fluminense. O ano de 1966, portanto, começou muito mal para o antigo esquadrão de aço. Começou o segundo turno muito mal em 19 de janeiro, perdendo pro Fluminense pelo escore mínimo, gol de Neves. Mas até aí morreu Neves!
O time entendeu que tinha de ganhar conjunto, e aí marcou um amistoso na Fonte Nova contra o Sport. Não sei se estava mal com os rubros negros, o fato é que ocorreu nova derrota (0 X 1), saindo sangue por todos os lados embora nosso vampiro não tenha aproveitado.
                                               Oh, o Batman também é vampiro?
O time pareceu ganhar um sopro de vida ao ganhar do Guarany (3 X 0) e do Galícia (1 X 0) e mostrar o poder de sedução típico dos vampiros. Como a tabela previa que ficasse mais de vinte dias sem jogar, acabou por acertar amistosos pra não ficar parado. O primeiro foi dois dias depois contra o mesmo time da colônia espanhola. A partida acabaria por ajudar o vampiro a desaparecer numa névoa, após perder por dois a um do azulino.
Mais dois dias seria a vez de trazer os vampiros pernambucanos do Náutico, pra quem perderia pelo escore mínimo. A situação já estava feia, obrigando o vampiro tricolor a verdadeiras caçadas pela noite da Bahia pra conseguir um pouco de sangue. O jeito foi inventar. Aí a diretoria foi buscar o “grande time” amador do Periperi do Subúrbio Ferroviário, e promoveu um interessante amistoso na Fonte Nova pras moscas que infestaram o sangue dos suburbanos na vitória por sete a três (sic!).
Aí se animou o vampiro e trouxe o Fortaleza pra guardar um banco de sangue de reserva para disputar o resto do campeonato. Mas a partida resultaria em nova derrota dos chupa-sangues por três a um.  O Nosferatu baiano logo seria acometido por novos ataques com a cruz na mão que lhe tirariam “do sério” ao empatar com Ypiranga e Botafogo por um gol.
                                             Esse bigode é de um vampiro do Congresso!

Três dias antes do clássico, pra treinar mais a equipe, providenciaria novo amistoso, agora com o outro cearense, o Ceará Sporting. Na ocasião, nova derrota tricolor, agora por dois a um. O resultado prenunciava maus augúrios para a partida contra o rubro negro, e não deu outra, perdendo por uma hóstia a zero.
Conseguiria a façanha de ficar em quinto lugar no segundo turno entre os sete clubes que disputavam o certame, apreciando “de cadeira” as finais do turno entre o rubro negro e o azulino, e as do campeonato, entre Vitória e Botafogo, onde seu inimigo se sagraria bicampeão, e o veria disputar a Taça Brasil.
O vampiro tricolor ficaria parado por mais de três meses, quando se recusaria (junto com outros clubes) a disputar o novo campeonato cujos jogos seriam realizados no campo da Graça. Nesse tempo atacou os poucos bancos de sangue que haviam em Salvador. Não tendo mais onde buscar sangue deu pra atacar mulheres menstruadas. Nosso vampiro nunca havia chegado tão baixo.
                                                          Coitado, faltou sangue!

Por ocasião das festas de São João resolveu trazer alguns incautos na Fonte Nova. Não era possível que nem este o ajudasse, mas o primeiro “amistoso” (pois o vampiro passou o jogo todo tentando morder a garganta do Leônico) terminou sem gols. Graças a Deus (ou ao Diabo?), no segundo amistoso, o vampiro conseguiria algum sangue ao derrotar os azulinos por dois a um. Mas, logo depois, seria derrotado pelo Fluminense de Ferira de Santana pelo escore mínimo.  
Mas a crise do futebol ameaçou seriamente a sobrevivência do vampiro, quando o governo do estado resolveu interditar a Fonte Nova. Aí foi um “Deus nos acuda” que levou mais de três meses. Enquanto isto seu arquirrival ganhava o primeiro turno no campo da Graça. Ao final os clubes acabaram entrando em acordo pra terminar a crise. Pra arranjar sangue o vampiro tricolor arranjou duas incríveis partidas, contra uma “seleção de bancários” e a ADESG. Assim não vale, mas pro vampiro valeu!
Estava muito fraco e com uma cor de Leite Ninho, mas conseguiu ganhar esses dois grandes adversários por um a zero e dois a um. Três dias depois, entretanto, iria a Cruz das Almas jogar contra a seleção local, onde perdeu por um a zero. Também com alma penada era fogo! Antes de começar o campeonato arranjaria mais três amistosos, contra Botafogo, Galícia, e. a Federação Universitária(sic!).
                                                            O torcedor do vampiro!

Podem falar mal à vontade, mas sangue é sangue venha de onde vier. Assim ganhou do Botafogo (1 X 0), levando algumas bolsas para casa, empatou com o Galícia em dois gols, e pegou o pouquíssimo sangue dos universitários ao derrota-los por três a dois.
O campeonato se iniciaria na véspera do Natal, mas o Bahia só jogaria na véspera do réveillon. Penalizados com o vampiro a FBF programou uma partida dele com o Estrela de Março, outro chupa sangue de seus poucos torcedores, e que só tinha perdido para Deus e o mundo, registrando-se até um dez a zero do Vitória e um nove a zero do Fluminense.
                                                                Esse é o próprio!
Aí o vampiro “lavou a égua”. Foi sangue pra todo lado na vitória por cinco à zero. Levaria ainda tempo pra voltar a ganhar alguma coisa na Bahia, mas, pelo menos, guardou uma boas bolsas de sangue em sua casa.

·         Agradeço as informações aos sites do RSSSF Brasil e Wikipédia, e ao Almanaque do Futebol Brasileiro. Sou grato ainda as imagens dos blogs desciclo.pede.ws,malvada-online.com,maniadeler-mbk.blogspot.com,redevampyrica.com,escelofonarios.com,barracodasmoreira.zip.net e eosmedeiros.wordpress.com.

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