sábado, 2 de abril de 2011

Os times de santos na Bahia

                                                         Estão vendo os fiéis? 

Logo que foi recriado o futebol em fins do Século XIX bem cedo apareceu à influência cristã na denominação dos clubes. O primeiro clube a homenagear nos santos na Bahia foi o São Paulo, mas era tão ruim que não mereceria apoio cristão nos primeiros anos onde só perdia pra “Deus e o mundo”. Foi sucedido pelo São Salvador, embora sua denominação se referisse mais á capital. A participação desse clube esteve longe de fazer feio á religião obtendo um vice em 1905 e um bicampeonato em 1906/1907.
A equipe, no entanto, “cairia pelas tabelas” no próximo ano ficando na lanterna após perder todas as partidas, inclusive do Santos Dumont, que nada tinha a ver com os santos, uma vez que era uma homenagem antecipada ao descobridor da aviação. Repetiria o “feito” em 1909. Aí os torcedores religiosos se dividiram com uns adotando o São Paulo e outros o São Salvador. E até que o primeiro não se deu mal em 1910, pois ficou com o vice-campeonato. Enquanto isto o São Salvador emplacava a tri-lanterna (se é que isto existe).
Em 1912 os torcedores agradeceram aos céus por não existir ainda o Livro dos Recordes, pois senão o São Salvador ficaria famoso ao obter a tetra-lanterna do campeonato. Era demais! Aí os religiosos se uniram e tiraram o clube do campeonato. Passariam muitos anos para se arriscarem de novo passarem pela situação de haver um clube representando sua religião.
                                                       Essa é a verdadeira Santa Cruz!

Mas isto não poderia perdurar definitivamente, de maneira que resolveram inscrever no certame a própria Santa Cruz. O time até que não se saiu mal no primeiro campeonato que disputou em 1920, ficando em quarto lugar, mas na última partida perdeu de cinco a zero do Ypiranga constrangendo a sua torcida.
O próprio arcebispo interviu na ocasião inscrevendo também o São Bento no próximo ano. Pelo menos agora haveria dois clubes pra ver se conseguiam um lugar merecido para a fé. Mas este se revelou um verdadeiro desastre. Em suas primeiras partidas (contra o Baiano de Tênis e Associação Athlética) tomou de cinco a zero e oito a um! Ficariam juntos no final, o São Bento em sexto e o Santa Cruz em sétimo. O resultado faria a arquidiocese retirar os dois clubes do certame deixando-os só jogando amistoso onde continuariam sua sina. Passar-se-iam mais anos sem submeter o esporte ás exigências da fé.
Os religiosos acorreriam em massa ao antigo estádio da Graça em 1927 pra ver o simpático São Cristóvão carioca em excursão na Bahia. Aquilo é que era representante da fé. Imaginem que foi detonando os times baianos um a um. O Ypiranga caiu logo (2 X 1), vindo depois o Vitória (4 X 1), o Botafogo (3 X 1) e um Combinado de Salvador (3 X 0). Só o Baiano de Tênis conseguiria alguma coisa ao empatar em três gols.
                                                   Porque não tem o São João Batista FC?

A paixão dos religiosos iria ao auge dois anos depois quando assistiram o Santos de São Paulo arrasar literalmente na cidade. Na oportunidade ganharia do Baiano de Tênis (4 X 2), da Associação Athlética (8 X 1), do Ypiranga (5 X 2), deixando um time misto pra jogar contra o Combinado Fluminense-Guarany (5 X 3), e se despedir empatando em dois gols com a seleção baiana.
A passagem destes clubes pela Bahia animou de novo o cardeal da Silva e foi responsável pela criação do São Cristóvão que disputaria seu primeiro campeonato local em 1931. Na época se dava uma aliança entre Estado e Igreja capitaneada pelo Cardeal da Silva que, se faria a Igreja Católica reconquistar na Constituição de 1934 as prerrogativas perdidas quando da instalação da tal da república em 1889, levaria, porém, à demolição da antiga Catedral da Sé para uma empresa canadense para a instalação de um “importante“ terminal de ônibus.
A participação do novo clube no certame baiano não seria nada reconfortadora, ficando na lanterna, registrando inclusive uma derrota para o recém-fundado time de ateus EC Bahia, por cinco a um.  Neste ano os religiosos tiveram ainda a ocasião de presenciar a seleção do Espírito Santo jogando com os baianos, embora tenha sido derrotada por três a dois. Os tementes de Deus saíram chateados do estádio, pois não entendiam como podia uma “seleção” do santo espírito sair derrotada!
                                                          Kleber Pereira rezando...

Enquanto isto o São Cristóvão ficava em sexto em 1932 e em vice-lanterna no ano seguinte. A condição lhe levaria a vergonha insólita dos torcedores de fé ter que acompanhar o seu clube na Segunda Divisão.  A insatisfação só pode ser contornada com a nova visita do São Cristóvão carioca nesse ano. Perderia a primeira partida contra o Vitória (1 X 2), mas depois seria iluminado ganhando seguidamente do Dois de Julho (3 X 2), do Galícia (8 X 1), Botafogo (5 X 0) e Ypiranga (3 X 2). Despedindo-se com um empate em um gol contra o Bahia. A “seleção” do Espírito Santo voltaria á Graça em maio de 1934, mas sua derrota (3 X 4) foi desculpada em virtude de a seleção baiana estar tão inspirada que venceu o seu único Campeonato Brasileiro de Seleções.
Enquanto o São Cristóvão local penava na Segunda Divisão o verdadeiro voltaria a Graça em maio de 1935 “lavando a alma” dos tementes a Deus. Desta vez deu no Ypiranga (6 X 1), no Galícia (5 X 1), no Bahia (2 X 0), no Botafogo (4 X 3) e no Vitória (7 X 2). Mandaram rezar missa em todos os dias que o clube ficou aqui. No ano seguinte novas vitórias do Santos, contra Vitória (5 X 1), Ypiranga (6 X 1), Bahia (2 X 1) e Botafogo (1 X 1 e 6 X 3), só perdendo para o Galícia (2 X 3). Mas, três anos, depois veio tal de São Paulo falsificado que causou a maior vergonha aos torcedores de fé, perdendo pro Bahia (4 X 5), Ypiranga (0 X7), Galícia (1 X4) e Botafogo (1 X 2). Nem vamos falar da “seleção universitária” do Espírito Santo (que negocio é este!) que perderia, em novembro, de três a dois para os universitários baianos.
Até o Santos não era mais o mesmo, pois quando voltou á religiosa Salvador em abril de 1939, venceu Ypiranga (3 X 0) e Bahia (3 X 1), mas perdeu e empatou com o Galícia (1 X 2 e 3 X 3), e só empatou com Botafogo (3 X 3). A própria Santa Cruz (PE) nos visitaria dois meses depois pra apanhar do Ypiranga (2 X 3), Bahia (2 X 3) e Botafogo (3 X 4).
                                                        Esse aí é bom mas não é santo!

Graças a Deus, pra suportar a ditadura do Estado Novo, apareceria por aqui o São Cristóvão carioca no início de 1944, embora não estivesse lá grande coisa, mas saiu invicto após empatar com Galícia e Vitória por um gol e ganhar do Bahia por quatro a dois.
O São Cristóvão só conseguiria voltar em 1946 quando havia acabado o Estado Novo e a Bahia possuía um governador eleito, Octávio Mangabeira. Mas... cairia esse ano outra vez pra Segundona, passando a viver, digo sofrer, de amistosos. Que desgraça! A situação pioraria quando o falso São Paulo passou aqui de novo e apanhou de sete a zero do EC Bahia. Foi uma “desgraceira no caminho da feira”, não melhorada com a sua vitória na revanche por dois a um.
As ultimas partidas dos clubes de santos na Graça foram jogadas pela própria Santa Cruz antevendo a desmobilização daquele campo. E, diga-se de passagem, foi “o fim da picada”. Na oportunidade os fiéis sofreram com o Bahia (2 X 5) e o Ypiranga (1 X 5), só se salvando na despedida, que a arquidiocese mandou acelerar, ganhando de dois a zero pro Galícia.


As equipes de santo que primeiro se apresentariam na Fonte Nova, ambas em 1953, seriam o irreconhecível São Cristóvão carioca (perdendo de três a um pro Vitória) e a Santa Cruz (PE) que se vingou por não ter sido convidada a batizou o estádio ganhando do Bahia por dois a um. O São Cristóvão só voltaria ao campeonato muito depois.
O jeito foi se contentar com os santos visitantes. A Santa Cruz (PE), porém, me desculpem, é que sempre que aparecia aqui fazia vergonha. Em 1954 pra perder em maio do Bahia (1 X 5) e em junho pra empatar (1 X 1) com o Bahia e ser derrotada pelo Vitória (1 X 4). Os fiéis nem mais podiam contar com o São Cristóvão, que apareceu em novembro só conseguindo ganhar do Galícia (2 X 1) perdendo logo depois duas vezes pro Bahia (1 X 2 e 0 X 5)!
Em 1956, no Torneio Bahia-Pernambuco a Santa cruz (PE) voltou de novo, ganhando do Galícia (1 X 0), mas, logo depois, o Santos perdia do Bahia por três a um. Esse clube pelo menos voltaria melhor no ano seguinte quando se desforrou do tricolor (2 X 1) e empatou com uma seleção da capital por dois gols. O ano só não acabou bem por voltar a Santa Cruz (PE) empatando com o Bahia (1 X 1), mas perdendo pro rubro negro baiano (2 X 3).
                                                           Nossa! É muito santo!

O verdadeiro São Paulo viria no ano seguinte, mas perderia do Bahia por três a dois, num ano em que a arquidiocese não conseguiu se entender se o Cruzeiro era realmente um clube da fé. È que alguns achavam que homenageava o cruzeiro sagrado e outros que não era mais do que um clube materialista preso a vil moeda. Foi por isto que os fiéis não foram à temporada que o clube fez na Bahia em maio que o fez voltar no ano seguinte. Mas neste ano o Santos voltou ganhando do tricolor baiano por dois a um alegrando os católicos.
No início dos anos sessenta os fiéis foram honrados com três decisões da recém criada Taça Brasil, decidida entre Bahia e Santos. Foi duro pro torcedor, afinal era o time do Santos contra o da terra de todos os santos. Acabou dando a primeira para cá e as outras duas pra lá, ficando o seis por meia dúzia. No ano em que o tricolor foi campeão a Santa Cruz viria aqui abençoar o título em julho, ficava chato haver um vencedor, então providenciaram um empate em um gol. No ano seguinte, porém o Bahia “não caçou conversa” derrotando-a por três a um, salvando-se na saída pelo empate contra o Ypiranga em dois gols.
O São Cristóvão, no entanto, voltaria a atazanar os cristãos, no triste ano de 1964, quando conseguiria a façanha de somente obter um empate,(sem gols contra o campeão Vitória) perdendo o restante das partidas. Salvou-se por não existir naqueles anos o rebaixamento. No ano seguinte repetiu a dose sendo riscado seu nome de quase todas as missas da capital. Nesses anos de início da ditadura nem os times de santos apareceram por aqui.
                                                        Lá vem este alegre paulista!

O São Cristóvão só se reergueu em 1966, quando havia protestos na rua, obtendo um honroso sexto lugar com resultados expressivos contra muita gente boa. O Santos foi o primeiro a aparecer após o golpe ganhando do Bahia (3 X 2) em setembro de 1967.
1968 foi o ano em que o São Cristóvão voltaria para o seu lugar, a lanterna, sem ganhar de ninguém. Nesse ano faria um jogo histórico na Fonte Nova contra o seu homônimo carioca, num dia em que os fiéis não souberam pra quem torcer. Mas, como o daqui não ganhava nada mesmo, acabou apanhando de quatro a zero.
Não teve mais jeito. Não ia mais ninguém em suas partidas. Os próprios cristãos haviam cansado de sofrer neste vale de lágrimas. Mas os torcedores promoveram logo a sua substituição criando o Redenção de Brotas. No entanto, em sua primeira participação em 1970 o clube seria rebaixado, apenas subindo de novo seis anos depois.
                                                           Com carneiro não dá pra jogar!

Saiu a emenda pelo soneto. A história do Redenção é a de baixos e ainda mais baixos. A santa cruz deu-lhe todas as oportunidades, deixando que ficasse por dez anos na Primeira Divisão. Depois não conseguiu segurar os fiéis, pois não há santo que aguente tanta derrota, entre as quais as maiores que a Fonte Nova já viu!
Mas a Igreja já tinha preparado uma solução consagradora. Aliou-se com a CBD e colocou no nascente campeonato brasileiro o Santos, o São Paulo e outros times de santos. Assim acabou de vez com os constrangimentos de seus fiéis. Até hoje a poucos anos em que os times “da Igreja” não disputam alguma final. Mas, quanto ao campeonato baiano, é diferente. Conformou-se em nunca mais colocar um clube, sob o argumento que “todos são filhos de Deus”.

·    Agradeço as informações dos sites RSSSF Brasil e Futipédia e do Almanaque do Futebol Brasileiro.Sou grato as imagens dos blogs luzdavida.org.br,grupojocmdoitamaratiu.blogspot.com,blogpaulinas.blogspot.com,katrix.com.br,portaldasnoticiass.com,doutrinalinear.nom.br e padreisaias.blogspot.com.

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