sexta-feira, 15 de abril de 2011

De imperialismos e baianadas


Em 1956, enquanto o cantor norte-americano Bing Crosby visitava Cuba pra jogar golfe as forças armadas bombardeavam a Província de Oriente derrotando uma tentativa de insurreição popular. Na época os jornais chegaram a divulgar a morte de Fidel castro e “Che” Guevara. No entanto estes se embrenhavam na Sierra Maestra vindo do Golfo do México onde, sairiam para assumir o poder na revolução vitoriosa.
N Argentina a ditadura militar tentava de todas as maneiras apagar a memória de Juan Domingo Perón. Mesmo que fosse preciso pra isso fuzilar trabalhadores. Manda-se. Inclusive, demolir a residência presidencial. Até o corpo de Evita é desterrado. Enquanto isto um avião leva o moribundo ditador Anastácio Somoza, que estava há vinte anos no poder, para um hospital norte-americano. Na ocasião, o presidente Eisenhower felicita o seu “legítimo” sucessor... seu próprio filho.
No entanto, nem só de misérias o mundo vivia. Antes do carnaval baiano Nikita Kruschev atacava o mito de Stalin como “guia genial dos povos” e em março o Marrocos e a Tunísia declaram sua independência da França. No cinema são lançados uma série de clássicos. Elia Kazan e Cecil B. de Mille dirigem Baby Doll e Os dez comandantes. Ingrid Bergman e Yul Brinner estreiam Anastácia e David Niven e Cantinflas, A volta ao mundo em oitenta dias.   
                                                      Poxa, essa não era imperialista não!

Enquanto Marilyn Monroe está em Parada de ônibus, Gregory Peck atua em Moby Dick, Brigitte Bardot e Jean-Louis Trintignant, E Deus criou a mulher, e Frank Sinatra, Grace Kelly e Bing Crosby fazem Alta sociedade. No esporte, o Real Madrid ganhava a Liga dos Campeões da Europa, o Vasco da Gama é campeão carioca e Juan Manuel Fangio leva o seu quarto título na Fórmula Um.
Nesse ano na Bahia o campeonato só começou em abril, em função do Torneio Bahia-Pernambuco. Os candidatos ao título pareciam os de sempre, além da dupla BA-VI, obrigatória nas apostas nos últimos anos, havia, desde o ano anterior, as fortes equipes de Botafogo e Ypiranga. Aliás, o alvirrubro havia entrado o ano com o pé direito, com boa campanha no torneio onde, entre outros resultados, arrasou o tradicional América de Recife (que o Bahia teria dificuldade pra derrotar) por cinco a zero, e venceu o rubro negro baiano por quatro a dois.
Antes do início do certame resolveram “comemorar" o primeiro de abril, quando o Bahia ganharia do Fluminense carioca por dois a um. Mas foi mesmo coisa de baiano. O clube, que ficou na Bahia duas semanas treinando sua equipe só perdeu esta partida, embora se desforrasse do tricolor na despedida ganhando por três a dois.
                                     Não podia faltar o Elevador Lacerda numa baianada!

A Bahia começava um concorrido campeonato, onde o EC Bahia voltaria a ganhar o título, desta vez decidindo pela primeira vez com o clube do interior, o Fluminense de Feira de Santana, que jogava então o seu terceiro certame. Os touros do sertão pegariam logo de início a dupla BA-VI, derrotando o tricolor pelo escore mínimo e empatando com o rubro negro em três gols na Fonte Nova.
Logo depois, entretanto, enquanto o tricolor da capital ganhava, inclusive, o clássico contra seu arquirrival (2 X 0), o do sertão perdia seguidamente para Ypiranga (0 X 1) e Botafogo (1 X 2). Somente na última rodada faria as pazes com o trunfo contra os “índios” do Guarany por dois a um. A campanha lhe rendeu um discreto quarto lugar, embora a dois pontos de Bahia e Botafogo que tiveram de fazer uma partida extra pra definir quem seria campeão do turno: dois a um pro esquadrão de aço.
No intervalo entre o primeiro e o segundo turno o Bangu aproveitaria para vir ao estado em excursão. Jogaria duas partidas em 24 horas, contra Botafogo e Vitória. Estrearia ganhando de quatro a dois para os diabos rubros embora caíssem para o rubro negro por dois a um. O segundo turno começou com nova vitória do Fluminense contra o Bahia, desta feita por dois um. Na oportunidade o clube emenda outra vitória, contra o mais querido por três a um. Foi nesse dias que o rubro negro despachou os diabos rubros enfiando-lhe cinco a dois na Fonte Nova.

                                                Opa, esse tá na praia mas não é baiano!

No primeiro fim de semana de setembro aconteceria uma situação inusitada na Fonte Nova. O Botafogo carioca foi acertado para três jogos na Bahia. No entanto estávamos em meio ao certame e o próprio Bahia jogaria no sábado contra o difícil auri negro. A promoção era do Galícia não tendo o tricolor ingerência na questão. A questão foi resolvida com mais uma temporada de 24 horas e uma rodada dupla. No sábado o tricolor jogou na preliminar contra o Ypiranga pelo campeonato perdendo pelo escore mínimo.
No jogo de fundo o Galícia lembraria seus tempos de glória ao empatar sem gols contra a equipe carioca. Quanto ao time de General Severiano voltaria de novo no outro dia á Fonte Nova, onde conseguiria novo empate, desta vez contra o Bahia e por um gol. Na terça feira o alvinegro viajaria para Feira de Santana onde teria seu terceiro empate (1 x 1) desta mini excursão. A noite, porém, teria um fato ainda mais inusitado. É que o Fluminense jogou duas vezes.
Na preliminar ganharia do Botafogo pelo campeonato baiano (1 X 0), e na partida principal enfrentaria outro Botafogo, o carioca, que sairia da Bahia com mais um novo empate, agora por um gol. O saldo deste fim de semana foi que a derrota tricolor acabaria por lhe custar o segundo turno, ganho pelos touros. E quase que o Flu se machuca também ganhando do Bota no sufoco. Digamos, foi uma baianada e meia. O Fluminense ainda empataria com o azulino (1 X 1) e venceria de novo o Guarany (3 X 0) faturando o turno deixando agora o quarto lugar para o Bahia.
                                                                 Obama louro?

As inéditas finais foram em melhor de quatro pontos e começaram em 28 de outubro na fonte do futebol. A partida foi muito disputada com lances perigosos de parte a parte. Atreveria-me a dizer que, se não fosse o avante tricolor Carlito, terminaria mesmo sem gols. O Bahia precisava de outra vitória ou dois empates pra levar o título. Parecia favas contadas o triunfo, ainda mais que os feirenses não conseguiram levar o jogo pra sua casa. Naquele tempo a liberação do certame para excursões já era “ouro” e o clube já tinha várias propostas até o próximo campeonato.
No entanto o que se viu foi uma grande resistência dos interioranos que venderam caro o empate em dois gols. Para a equipe da capital marcaram Hamilton e, de novo, Carlito, enquanto que para a do interior anotaram Eduardo e Valter Vieira.
Teria que ser decidida a taça de qualquer maneira naquele dia 11 de novembro de 1956. O tricolor do sertão já estava alerta para Marito e conseguiu marca-lo de forma eficiente aquela tarde. No entanto, os comandados de Ivon Oliveira tinham outras peças importantes. Jair no gol e o campeão Juvenal Amarijo na zaga neutralizaram o ataque taurino enquanto Hamilton e Meruca marcavam os gols do esquadrão tricolor da capital. A renda neste dia passou de quinhentos mil cruzeiros.
                                                  Ói quem está aí com o Madureira?

Quatro dias depois o Bahia colocaria as faixas jogando com nada menos do que a própria Seleção Baiana que então treinava para mais uma edição do Campeonato Brasileiro de Seleções.  O jogo era em comemoração a chamada república. E aí os tricolores “se acharam”. De tão convencido cometeram um erro fatal, o de emprestar jogadores para a equipe rival. O que se viu na Fonte Nova foi a pior festa das faixas da história do futebol baiano quando o ex-esquadrão de aço caiu por cinco a um para o nosso selecionado. Foi realmente uma baianada.

·          Agradeço as informações de Eduardo Galeano e dos sites Wikipédia e RSSSF Brasil. Sou grat ainda as imagens dos blogs destaqueiro.sacrehome.net,imagohistoria.blogspot.com,jornallivre.com.br,mundoeducacao.com.br e portaldocinema.com.br.

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