sábado, 16 de abril de 2011

Simplesmente complicado



Já falei em outras ocasiões sobre a verdadeira confusão que foi, durante muito tempo, o regulamento do campeonato baiano, fruto de todo tipo de casuísmos e adaptações ao calendário da CBD e da CBF. Mas em 1980 ultrapassou todas as medidas. Não houve um torcedor que conseguiu entender como era que se sagrava campeão. Acho que foi por isso que o Bahia perdeu seu octacampeonato. É que nem os jogadores e dirigentes entenderam!
O campeonato tinha treze clubes, oito da capital e cinco do interior. Mas, mesmo sendo o Leônico da capital jogou em Simões Filho. Houve dois turnos com duas fases cada um. Mas a coisa era feita de modo a que a primeira fase valesse só como treinamento. A dupla BA-VI só jogava em rodada dupla.  
O primeiro turno começou em 25 de maio com jogando todos contra todos. A dupla BA-VI começou com uma rodada dupla na Fonte Nova quando chegamos mais cedo pra ver o rubro negro empatar com os diabos rubros sem gols. Eu quase ia embora, mas acabei ficando pra ver novo empate entre o tricolor e a equipe grapiúna em um gol.

                                                           Ah esses anos oitenta!

No sábado haveria nova rodada dupla, Vitória X ABB e Bahia x Redenção prometendo sonoras goleadas. Mas, no “esquenta sol”, aguentamos a façanha rubro negra de empatar mais uma vez, desta vez em um gol, contra uma equipe conhecida como “caixa de pancadas”. Como tínhamos azarado o esquadrão de aço no último domingo ficamos para ver o jogo de fundo, mas confesso que fui embora no segundo gol tricolor dos três a zero que aplicou no time do bairro de Brotas.
No início de junho os dois sairiam pra jogar fora, na oportunidade o Vitória ganharia do Fluminense (1 X 0) e o Bahia seria vencido pelo Humaitá (0 X 2). Novas rodadas duplas estavam marcadas com a dupla na próxima semana. A primeira foi na quarta feira á noite onde jogavam Vitória X Redenção e Bahia X Jequié. Desta vez iriamos “encher a mula”. Lembro-me que saí mais cedo da Escola de Música e filei uma reunião política pra chegar mais cedo na Fonte Nova para a preliminar. Foi o “fim da picada” quando o Vitória fez força para obter um resultado histórico, perder de dois a um. A raiva foi tanta que nem assisti o jogo principal onde o tricolor ganhou pelo mesmo escore.
Relutei muito pra ir á nova rodada dupla de sábado onde o Bahia enfrentaria a ABB e o rubro negro ao Ypiranga. Confesso que acabei assistindo pelo rádio, tanto o tricolor despachar por três à zero o time dos bancários, como a nova derrota do meu time para o auri negro. Era demais. No ano anterior tínhamos, pelo menos, sido vice, mas não sei onde iríamos parar este ano desse jeito, perdendo pra “Deus e o mundo”!
                        Bob era simples na musica mas jogava futebol de forma complicada!

Graças a Deus meu time se recuperou no fim do mês de junho empatando fora de casa com o |Jequié e ganhando o “fortíssimo” Humaitá (Conquista) na Fonte Nova por três a um em rodada dupla onde o tricolor ganhou também do Fluminense por três a dois. E, o Dois de Julho, foi comemorado com os leões da Barra empatando em um gol contra o time da colônia Pelo menos havíamos parado de perder.
Três dias depois, em nova rodada dupla, o Vitória ganhava do Atlético de Alagoinhas (2 X 1) e o Bahia empatava sem gols contra os alvi rubros.
No dia treze de julho deu-se o grande clássico. Cheguei um pouco mais cedo pra organizar as apostas que tinham virada uma verdadeira “febre” neste tempo. Os apostadores ficavam na torcida do Vitória, mas a minha era uma espécie de “bolo” onde apostávamos o primeiro gol. Distribuíamos vinte papeizinhos cobrando 1,00 do sorteio do pessoal que faria o gol. Só ganhei uma vez, e vocês acreditem que houve gente que “desconfiou” do resultado! Mas é claro que não ganhei nada este dia onde perdemos de dois a zero do tricolor.
                                        Quer mais complicação que a vinda de Ronaldinho?

No domingo seguinte viria nova rodada dupla Vitória X Leônico e Bahia X Galícia. O moleque travesso havia arrasado o Redenção no meio da semana por seis a zero e vinha “quente”. Naquele dia, porém, não teve quem conseguisse vazar as redes, o que só ocorreria na preliminar quando o Bahia ganhou por três a um. O rubro negro fecharia a sua participação no primeiro turno empatando com o Itabuna, novamente sem gols, fora de casa.
Leônico e Galícia encerrariam o turno em primeiro lugar com 17 pontos. O Bahia seria o quarto e o Vitória o sétimo (!). Durma-se com um barulho desses! Agora entra a confusão da FBF quando somente se classificariam oito jogando mais uma fase.
Nos dois primeiros jogos o rubro negro não faria gols, nem contra o Flu em Feira, nem contra o azulino na Fonte Nova. Completava assim quatro jogos sem fazer gols, embora também não tomasse. Reclamamos muito na ocasião. Dissemos que o time tinha um “ataque cardíaco”. Xingávamos Sena, Wilton, Sivaldo, não entendendo que o técnico João Vieira estava consertando a defesa.
                       
                                        Juiz já é complicado, imaginem Armando Marques!
Mas a torcida ficou realmente satisfeita quando o Vitória ganhou o clássico contra seu arquirrival devolvendo o resultado da primeira fase e desclassificou o tricolor do quadrangular final (ainda tinha isto!). Mas foi por esta retranca que o time acabaria por perder o turno pro Galícia, pois empataria mais dois jogos (Itabuna e Galícia) _sem gols, só ganhando do Fluminense (3 X 1) quando não adiantava mais nada.
Vá anotando a confusão. O Galícia levava três pontos pras finais do certame e o Vitória ficava com o crédito de um ponto. Foi ruim, hein? Mas seria graças a este pontinho que o rubro negro teria uma grande vantagem no final.
O segundo turno começou no dia do suicídio de Getúlio Vargas, 24 de agosto. A imprensa registrou os 26 anos disso e fiquei com medo. Não é que o Vitória perdeu pro Yopiranga pelo escore mínimo! Mas a retranca funcionava, a equipe empataria com o Humaitá fora de casa sem gols, e “lavaríamos a alma” nas vitória contra o time de Brotas por cinco a zero. Logo a seguir novo empate, agora contra os diabos rubros (1 X 1).
                                                A imprensa também complica as coisas!

Agora viria o clássico. O tricolor havia ganhado as quatro partidas e precisava ser parado de qualquer forma, pois senão podia ganhar o turno e voltar de novo a ser campeão na decisão. Foi um dia glorioso onde encheu o estádio e saímos de lá com um “gude preso”. Se não me engano o gol foi de Sena.
Na semana seguinte a retranca nos levaria a passar com dificuldades pelo Jequié na fonte do futebol (2 X 0) e a um esforço desesperado contra o Redenção (1 X 0) voltando as criticas da torcida. A situação pioraria com a derrota para o Atlético fora de casa (2 X 3), ocasião em que o time reage ganhando do Itabuna (1 X 0), do Fluminense (3 X 1), e volta a empatar com Leônico e Galícia sem gols.
Na classificação final do primeiro turno daria Bahia (em primeiro), Leônico (2º) e Vitória (4º). Seria a vez de o Galícia ficar em sétimo. Um curioso fato ocorreria. É que o Leônico foi o clube que teve mais pontos corridos. E, se o campeonato tivesse o critério de dois turnos diretos, sem grupos, finais e outras maracutais, o moleque grená seria o legítimo campeão de 1980, conseguindo o seu segundo título depois de 14 anos.

No entanto partiu-se para a “segunda fase” do segundo turno entre os oito novos classificados. Fui a primeira rodada dupla, no dia 22 de outubro, presenciando o Bahia ganhar do Redenção (4 X 0) e o Vitória do Atlético (3 X 1). Logo depois ocorreria o clássico que sairia empatado em um gol. A dupla não pararia de jogar nem no dia de finados, Quando o rubro negro ganhou do time de Brotas (3 X 0) e o tricolor do Atlético (2 X 0).
O Bahia começaria o quadrangular final empatando com o Galícia, enquanto o Vitória saia na frente com sua habitual “goleada” no Leônico por um a zero. As finais veriam ainda novas vitórias rubro negras pelo escore mínimo, contra o Galícia e Bahia. Agora viriam as finais.
Vejam se conseguem entender as coisas. O Vitória entrava na finalíssima com quatro pontos, três por ter ganhado o segundo turno e um por ter sido vice do primeiro turno. O Galícia entrava com três pontos, por vencer o primeiro turno, e o Bahia com um por ser vice do segundo turno. O Leônico, que havia ganhado as duas primeiras fases não entrava nem levava nada.
          Computador parece simples mas é muito complicado, eu que o diga aqui no batente!

Nesta, porém só houve dois jogos. O primeiro foi entre tricolor e azulino onde se o segundo ganhasse jogaria pelo empate com o rubro negro, mas terminou empatado. Assim o Bahia ficava definitivamente fora perdendo o “octa”. E foi no dia 23 de novembro que se realizou o jogo decisivo.
Naquele dia tinha quase cinquenta mil pessoas na Fonte Nova. Quem ganhasse seria campeão. O Vitória começou melhor, mas logo o Galícia equilibraria as ações e mostrava que era real concorrente a título. Foi no segundo tempo que o rubro negro se arriscou a ir mais á frente. E, em uma dessas jogadas, um atacante foi derrubado dentro da área não tendo contemplação o juiz ao marcar o pênalti.
Enquanto o zagueiro Paulo Maurício se dirigia para a bola cheguei a virar de coas, pois não queria olhar o que aconteceria. No entanto, me virei na última hora pra ver a bola no fundo das redes do Galícia. Depois foi “bola no mato que é jogo de campeonato” e dar a volta olímpica depois de oito anos na fila de espera.
                                          Só trouxa mesmo pra assistir esses campeonatos!

O Vitória voltava a ser campeão, mas num ano em que ninguém entendeu o campeonato, que de tão simples virou complicado!

·         Agradeço as informações dos sites Futipédia e RSSSF Brasil.

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