quarta-feira, 20 de abril de 2011

Expresso para o inferno

    

Em 1959 a Bahia se preparou bem para o antigo Campeonato Brasileiro de Seleções. Ninguém se esquecia do tempo do amadorismo em 1934 quando o estado venceu com todos os méritos o certame derrotando a toda poderosa seleção de São Paulo na final.
Naquele ano o estado havia sido beneficiado pela tabela. É que, ao invés de ser incluído na Zona Sul (?) como acontecia há algumas edições, a Bahia ficou na zona “Centro – Oeste / Sudeste” onde pegaria apenas o Espírito Santo e cairia logo nas semifinais. Quer dizer, melhor do que isso só “dois issos”.
 Desde quando começou sua primeira fase, no fim de novembro, os baianos ficaram “ouriçados”.  Tinham tudo pra dar certo. Montaram um expresso pra não falhar, com base na estrutura da equipe do EC Bahia, que naquele ano havia obtido o título de bicampeão do estado, e iria decidir a I Taça Brasil contra o Santos de Pelé.  
                                      Vejam se Jader Barbalho não parece com o demônio!

Os dirigentes da federação então organizaram um “montão” de jogos – treinos contra equipes locais pra entrosar a equipe. Quando julgaram que a seleção estava “na ponta dos cascos” marcaram um amistoso contra o próprio EC Bahia, alguns dias depois deste conseguir a façanha de derrotar a equipe peixeira na Vila Belmiro pelo escore de três a dois.  
A partida ocorreria logo após o Natal, dia 26 de dezembro, e acabaria em empate, com um gol pra cada lado. Para uma seleção com pouco mais de um mês de treinamento estava ótimo, além do mais houve momentos em que a nossa seleção colocou o tricolor “na roda”.
Uma semana depois, quando dobrava o ano, os baianos estreariam no certame na Fonte Nova contra os capixabas. Na ocasião, fizeram tanta propaganda que a Fonte Nova encheu pra ver o “passeio” da seleção que só parou nos três a zero, pois os atacantes deram pra perder gols embaixo da trave. Teve torcedor que achou que se fosse uns nove não faria nenhuma injustiça aos baianos.
                                                            Esse é o próprio!

A segunda partida foi lá em Vitória, no dia dez de janeiro, quando a seleção da casa tinha que ganhar pelo menos do mesmo escore pra poder decidir nos pênaltis. Na ocasião, os baianos armaram um esquema mais defensivo só pra garantir a classificação, que acabou vindo com o chocho zero a zero. Mas isso esteve longe de abalar o otimismo que tomava conta das ruas da Bahia.  
O adversário das semifinais era a temível seleção paulista, que havia até perdido a conta de quantas vezes havia ganhado este certame. Os jogos foram marcados para os dias 19 e 24 desse mês. A seleção paulista, apesar de reunir o que de melhor havia em São Paulo, era á base da mesma equipe que o tricolor baiano havia acabado de ganhar, então não era nada impossível à eliminação pra chegar ás finais.
Ainda mais que os baianos não pararam de treinar. Foi marcado então um novo amistoso contra o Bahia dois dias antes da refrega contra os paulistas na Fonte Nova. Na ocasião nossa seleção deu outro “passeio”, repetindo os três a zero que enfiou nos capixabas, e convencendo a imprensa local que, desta vez, ia mesmo!
       
                                        Arde seleção desgraçada!

No dia marcado para o encontro baianos e paulistas compareceram á fonte do futebol que não cabia mais de gente. Neste dia as residências que ficavam em cima do morro cobraram até mais caro pro pessoal assistir. Teve gente que reclamou, mas não teve “chiada”. Afinal, um jogo como esse não tinha todo dia.
O jogo foi “pau a pau” e nossa seleção jogou “pra pirão”. Mas Gilmar pegou nesse dia o que podia e, também, o que não podia, e, lá na frente, Pelé e Pepe fizeram a diferença. O resultado foi a primeira derrota do expresso baiano.
A derrota baixou o astral da sociedade baiana, mas não dos dirigentes da federação, ainda mais que o tricolor também havia perdido a segunda partida da decisão da Taça Brasil peio mesmo escore, embora ficasse pra decidir a finalíssima no Maracanã. Quem sabe a seleção não poderia fazer o mesmo.
                   
                                             Não adianta chorar Romário que voçê é carioca!

Assim, os baianos treinaram todo dia, deixando pra viajar apenas na véspera. O jogo, aliás, seria no Pacaembu, onde os jogadores do Santos não tinham toda essa intimidade, o que seria uma vantagem. Na quinta feira, dia 24 de janeiro, só se falou isto em Salvador. Foi uma pena que a TV Itapoan só entrasse em operação no fim do ano, perdeu uma boa oportunidade de ter sua grande audiência. O pessoal teve que ficar só no radinho torcendo pra que nosso selecionado fizesse dois gols pra garantir os pênaltis.
O Estádio do Pacaembu pegou um bom público, talvez o maior que via a seleção baiana fora de casa. Quando a seleção baiana entrou teve tanto aplauso que os jogadores pensaram que estavam em casa. Se fizessem uma pesquisa ali não sei quem tinha mais torcida, os paulistas, ou os baianos que foram ajudar a construir São Paulo.
Mas, pra esses, continuou o sofrimento e as discriminações. Além do duro trabalho que suportavam todo dia, particularmente na construção civil, ainda viram o “expresso baiano” ser massacrado pelos paulista. É que nesse dia o ataque santista esteve impossível. A bola só fazia passar para as redes de Albertino, nosso querido gol keeper do EC Vitória. Só no segundo tempo é que conseguiria fazer o seu tento “de honra”. Ao final da partida um placar que os baianos nunca esqueceriam, sete a um pra seleção paulista.

                                                     O jeito é escapar desse trem!

Quanto ao “expresso” ninguém mais falaria nele. Soube depois que foi pros quintos do inferno onde encontrou o diretor do filme Andrei Konchalovsky que já estava lá desde 1985.

·          Agradeço as informações do Almanaque do Futebol Brasileiro e do site RSSSF Brasil. Sou grato também as imagens dos blogs desilusao.wordpress.com,inwarloch.blogspot.com,oplanetaehnosso.blogspot.com,lolnerdadventures.blogspot.com,epipoca.com.br e 2001video.com.br.

Nenhum comentário:

Postar um comentário