quinta-feira, 28 de abril de 2011

Saramago e o vice do Vitória em 1993

              
         Não importa que Dali tivesse sido tão mau pintor
         se pintou a imagem necessária para os dias de 1993.               
                                                               José Saramago

O ano de 1993 é um livro de ficção de José Saramago, que utiliza uma metáfora da ocupação militar de uma cidade em trinta capítulos para questionar o  estilo de vida das nossas sociedades. Mas a história do grande escritor português bem que podia se aplicar á Fonte Nova.
O ano de 1993 na Bahia foi muito estranho. Até parece que a Bahia havia sido invadida por alienígenas. O campeonato baiano foi de uma estranheza só. Nele, o tricolor, desembestou a ganhar de todo mundo e só parou quando levou os quatro turno para o Fazendão. Coisa rara no nosso futebol.
A Fonte Nova já estava definitivamente enquadrada no calendário imoral da CBF que não deixava datas vagas para os clubes. Como o Vitória já tinha seu próprio estádio, o Barradão, a coisa “pegou” para o nosso histórico estádio, que teve o menor número de partidas em um ano, apenas quatro amistosos.

O ano foi marcado por uma série de despedidas em jogos amistosos. Em onze de julho foi o último o clássico BA-VI amistoso, e, em trinta e um desse mês, a última vez que o Sport vinha a Fonte Nova, sendo derrotado pelo Bahia por dois a zero, para logo depois empatar com o Vitória sem gols.
As partidas daquele ano se encerrariam em agosto, conhecido como mês das tragédias, também sendo o antepenúltimo jogo do Vitória na Fonte Nova, que terminaria com uma goleada de quatro a um no Santa Cruz.
Mas as surpresas estariam definitivamente reservadas para o campeonato brasileiro. O Vitória, que até o ano anterior estava na Segunda Divisão, voltava para a Primeira sem esperar grandes coisas neste primeiro ano. Como o Bahia estava muito bem esperava-se uma melhor campanha do tricolor.
                              Esse aí não arranjou nada!

O rubro negro caiu no grupo C e o Bahia no A. O Vitória estrearia no dia quatro de setembro ganhando fora de casa o Goiaís por três a zero. Quanto ao tricolor só no dia em que se diz que Dom Pedro I proclamou a independência as margens do riacho Ipiranga, ficando na fonte do futebol com o empate em um gol com o Flamengo.
Logo em seguida o Bahia perderia aqui mesmo para o Cruzeiro por três a um começando uma via crucis que iria leva-lo ao penúltimo lugar no grupo onde ganharia apenas duas partidas e perderia oito, anotando dez gols e tomando 29!Enfim, um verdadeiro desastre do time que havia sido campeão baiano disparado.
Enquanto isso lá ia o rubro negro. Empataria sem gols na Fonte Nova com o Fortaleza mas a seguir ganharia. Novamente fora de casa, deste vez o Ceará por três a zero. Estava jogando melhor fora que dentro de casa onde penaria pra ganhar do Remo(2 X 1).
                               "Rolou" tudo em 1993!

Sairia pra jogar com Paissandu e Náutico perdendo a primeira e ganhando a segunda pelo mesmo escore de dois a zero. Quando voltou ganhou do Santa Cruz(2 X 1) e do Goiais(3 X 1). Depois cansaria na mini excursão onde jogaria três partidas fora, com Fortaleza(1 X 3), Santa Cruz(0 X 0) e Remo(0 X 2).
Mas a vingança viria a cavalo na Fonte Nova onde faria as três partidas finais, contra Ceará(2 X 1), Nautico(4 X 1) e Paissandu(5 X 2). Foi assim que se classificou para a fase final em primeiro lugar com vinte pontos.
Esta fase previa dois grupos de quatro clubes e o Vitória caiu no pior deles, tendo como companhia o Santos, o Corintinhas e o Flamengo. Ninguém de sã consciência esperava mais do Vitória. Na primeira rodada, porém, o Corinthians ganhou do Santos(3 X 2), e 33.000 torcedores viram o Vitória derrotar o Flamengo na Fonte Nova por um a zero, gol de Roberto cavalo0 de pênalti.
                              E o caneco foi embora de novo!

E a surpresa ainda foi maior quando o rubro negro venceu o Corinthians por dois a um. Claudinho e Alex Alves marcaram para o Vitória e Tupanzinho fez o “gol de honra” mosqueteiro no último minuto, num jogo presenciado por 35.000 pessoas. Pra melhorar a situação Flamengo e Santos empataram. O primeiro turno terminaria com o Vitória empatando no Parque Antártica com o Santos(3 X 3), enquanto Corinthians e Flamengo empatavam também.
Seria fogo de palha? Agente veria no primeiro dia de dezembro quando os leões da Barra empatavam de novo com os santistas agora por dois gols. A partida foi presenciada por 42.000 pessoas e foi um verdadeiro jogão.
Nos primeiros quinze minutos o rubro negro colocou dois a zero, ambos os gols de Paulo Isidoro. Mas o Santos reagiu ainda no primeiro tempo com Guga e Cuca e o jogo acabaria empatado.Mas estava com sorte pois Corinthians e Flamengo também empatariam, e pelo mesmo placar.
                         E depois ele diz que só tem 40 anos!

Faltavam só duas partidas e o Vitória teria que conseguir pelo menos três pontos se todos ganhassem. No dia quatro de dezembro o Santos enfia dois a um no Flamengo enquanto o Vitória empata no Morumbi com o Corinthians(2 X 2). A decisão ficaria para o último jogo em oito de dezembro.
Mas era dia de Nossa Senhora da Conceição. E, por causa dela, o Santos perderia para o time do Parque São Jorge enquanto o Vitória empatava no Maracanã em um a um com o Flamengo se classificando pela primeira vez para uma final do campeonato brasileiro.   
A histórica final Vitória X Palmeiras começou na Fonte Nova no dia cinco de dezembro, um domingo, para 77.000 torcedores. A Fonte Nova se pintou de vermelho e preto. O jogo foi duro com o juiz aplicando vários cartões amarelos. Mas seria este e não os jogadores a “estrêla” da noite Renato Marsiglia(RS) ao não dar um  pênalti claro em Pichetti faltando apenas quinze minutos para acabar a partida.
                  Saramago se preocupava com a Fonte Nova! 

Logo depois, o baiano Edilson recebe um lançamento e entra pela direita da defesa do rubro negro pra decretar o único gol daquele dia que prometia ser tão radioso no gol do Dique do Tororó. O melhor time que o Vitória teve em sua vida, recheado de craques como Dida, Alex Alves, Roberto Cavalo, João Marcelo e Claudinho caiu para outra constelação onde haviam Edilson, Evair, Mazinho, Roberto Carlos, Zinho e Amaral.
No dia doze estava tudo consumado, com os dois a zero para o Palmeiras no Morumbi. Desta vez não houve “garfada” mas não precisava, o mal já estava feito, ficando o nosso rubro negro baiano com o vice nacional.Aliás o último feito de um clube baiano no campeonato brasileiro.
É por isso que interpreto assim os capítulos desse livro escrito para homenagear o EC Vitória.
                     O rubro negro estava iluminado neste ano!

2. Os habitantes da cidade doente de peste estão reunidos na praça grande(...)foram tirados de suas casas por uma ordem que ninguém ouviu(...). Isto significa a tristeza dos brasileiros de ver sempre os mesmos clubes disputando o título “nacional”.
3. O elevador deixou de funcionar não se sabe quando mas a escada ainda serve(...). Nenhuma novidade aqui até o Elevador Lacerda as vezes enguiça.
5. A cidade que os homens deixaram de habitar está agora sitiada por eles(...).Na cidade apenas vivem os lobos(...)alí onde em tempos mais felizes combinara com parentes e amigos intrigas calúnias. E caçadas aos lobos. Saramago está falando dos tempos antigos de Salvador.
6. Nenhum lugar é suficientemente belo na terra para que doutro lugar nos desloquemos a ele(...). Nossa, aqui se declara inimigo do turismo. É que ele não veio a Bahia!
                         Nesse ano os terreiros bateram forte!

8. Está determinado que hoje se travará uma grande batalha e não obstante o número de mortos previstos assim se fará(...). Foi uma previsão digna de Zaratustra, que só iria ocorrer 14 anos depois e interditaria a Fonte Nova.
9. Todas as noites três vezes se faz a contagem dos habitantes que foram autorizados a viver na cidade(...). Isso é o que os torcedores do Vitória disseram pros do Bahia neste ano.
10. Certos homens embora não adaptados morfologicamente passaram a viver debaixo do chão(...). É que os tricolores se esconderam...
12. A primeira vitima de que se houve notícia foi a mulher do governador escolhido pelo ocupante(...). Ah isso realmente não é na Bahia, aqui isto seria a última coisa a ocorrer!
        José e Pilar dando desculpas para o vice do Vitória!

14. Estão sentados de pernas cruzadas atentos a todas as sombras e gritam, quando há perigo(...). Não me venham dizer que Saramago falou da preguiça dos baianos!
17. A mais terrível arma da guerra do desprezo foi o elefante(...).Isso é lá em Portugal, aqui foi o juiz da final contra o Palmeiras.
18. Mas ao  apagar-se o fogo acontecera a desgraça de todas mais temida porque com ela seria o tempo do pavor sem remédio do negrume gelado da solidão(...). Nossa, como ele descreve bem o sentimento que os torcedores ficaram com o gol de Edilson naquela tarde!
20. Todas as calamidades haviam caído já sobre a tribo ao ponto de se falar da morte com esperança(...). Isso foi antes de 1993...

                               Mais um pra galeria de titulos...

22. Enquanto as águas por sua vez transportam ao céu e ao sol se o há a turvidão salgada das lágrimas e do suor(...). Aí é canja, está falando do Dique do Tororó.
24. Nenhumas armas a não ser os toscos paus arrancados dificilmente aos ramos mais baixos das árvores e as pedras raladas colhidas nos leitos das ribeiras(...). Perante o ataque do Vitória o adversário não tinha arma que prestasse.
25. Embora houvesse já muito tempo que não nasciam crianças não se perdera por completo a lembrança de um mundo fértil(...). Ora é claro que não podiam nascer pois os baianos estavam na Fonte Nova!
27. É este o preço da paz quando o amanhecer vem perto e o medo de morrer é esse mais humano de não viver bastante(...). O preço seria o Vitória ganhar o título é por isso que uma parte da Bahia briga até hoje.

*  Sou grato aos sites do Futipédia, Bola na Área, ao Almanaque do Futebol Brasileiro, ao próprio livro de Saramago da Editora Companhia das Letras, e aos blogs  aluzdoaboim.worpress.com,balsadanane.blogspot.com, e medabooks.com.

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