quarta-feira, 6 de abril de 2011

O dia do lobisomem na Bahia

                                                         Esse é o meu barbeiro!     

Já falei neste blog sobre o Dia de São Valentim que serviu de base, para que os comerciantes brasileiros criassem, em junho, o Dia dos Namorados. Mas o que muita gente não sabe é que nem sempre este dia foi dedicado a São Valentim. ! Aliás, essas datas são adaptações da Igreja Católica de diferentes ritos e festivais pagãos.
Na antiga Grécia, esse dia era utilizado para a iniciação das crianças em rituais dos caçadores primitivos. As tribos tinham o seu “encantador de lobos” que era responsável pra fazer com que as bestas-feras não atacassem o rebanho. Se eles quisessem podiam também se transformar em lobos.
Na Roma antiga houve a Lupercália, dedicada ao deus Lupercus, onde os filhos eram batizados com sague de cabra e de cachorro (protetor dos rebanhos) quando os homens se comportavam como lobos. Apesar de esta celebração ter mudado de caráter ao longo do tempo há quem diga que a Igreja acabou se apropriando da data consagrando-a a São Valentim que, juram que nunca existiu!
                                                         Esse realmente é "taca"!

Bem, em briga de branco em não me meto. Só contei essas coisas porque tem gente que não sabe que tudo isto repercute no futebol. Na Bahia, desde que souberam desta polêmica, passaram a começar o campeonato entre abril e junho, pra não criar polêmica com os lobisomens. A coisa era seguida tão á risca que, quando construíram o Estádio da Graça, o campeonato chegou a terminar quatro dias antes, em 10 de fevereiro, cancelando-se ainda três jogos! O pessoal não queria conta com a besta!
Dois anos depois a Associação Atlética não permitiria que seu jogo contra o Ypiranga fosse programado neste dia pedindo a sua colocação para o dia seguinte. Foi por isso é que empatou e faturou o campeonato. Aliás, o mesmo fez o Baiano de Tênis em 1927, que antecipou o jogo e ganhou de quatro a dois do Fluminense levando a taça pro clube.
A tradição continuou por muitos anos. Tanto é que a literatura de terror não registra nenhum lobisomem na Bahia neste tempo, não é mesmo? Nos anos trinta o campeonato terminava antes do fatídico dia, chegando ao ponto de em 1937 deixarem de ser jogadas duas partidas. Nesse ano, porém, o tricolor resolvei desafiar a proibição programando amistoso contra o São Cristóvão. Mas não deu em nada, o Bahia ganhou de três a zero e o lobisomem deixou pra lá, pois não gostava de times da Igreja. No ano seguinte, quando foram jogados dois campeonatos, pularam o quatorze de fevereiro pra não terem ainda mais problemas.
                    
                                                Como é que o pessoal ainda insistia!

Nos anos quarenta aconteceram dois problemas. O Galícia conseguiu adiar por dois dias a excursão do Bonsucesso em 1941, conseguindo pelo menos em sua estreia empatar em dois gols com os cariocas. O mesmo fez o tricolor baiano ao antecipar uma partida já agendada do América de Recife em Salvador. Os pernambucanos tiveram que cancelar compromissos e acabaram perdendo por quatro a dois.
Em 1958 o próprio Corinthians seria prejudicado por aceitar que marcassem sua partida no dia da besta. Ainda bem que o pós de arroz não aceitou. A partida foi realizada dois dias antes e o alvinegro paulista levaria três a zero dos cariocas em terras baianas. Nem com a proximidade da ditadura militar quiseram mexer com isso, fazendo com que o pessoal suspendesse o certame no dia nove de fevereiro e só voltasse em 28 de março, exatamente quando já vinham outros lobisomens de farda pra assustar a população brasileira. Mas no ano seguinte o Guarany resolveu afrontar pela primeira vez o mito, pedindo pra jogar esse dia por falta de datas. O Fluminense de Feira, entretanto, não quis de jeito nenhum, conseguindo jogar na véspera. Resultado, os “índios” tomaram de quatro a zero e ainda foram lanternas do campeonato!
No grande ano de “68” o tricolor pensava que estava coberto pelas manifestações estudantis, mas se deu mal apanhando pro Cruzeiro (sem saber se era velho ou novo) por dois a zero. O lobisomem foi tão mal que nem aceitou que o esquadrão de aço arranjasse alguma coisa na revanche, a qual perdeu de novo, agora por três a dois.
                                                   Ora esse é apenas um cara peludo!

Levariam onze anos antes de desobedecer de novo a mitologia. Foi na época de Paulo Maracajá e, como o Bahia iria conquistar este ano o inédito heptacampeonato, a glória “subiu á cabeça”. Assim topou enfrentar o velho Leônico, e mesmo assim empatou em um gol. Três anos depois, no entanto, o tricolor ganharia do Misto (MT) fora de casa no campeonato brasileiro pelo escore mínimo. Nesse dia foram a casa do lobisomem e deram uma série de desculpas. O jogo foi marcado pela nova CBF (que nem conhecia essas coisas do além) e o misto era um alienígena, metade homem e metade bicho, portanto, um colega da fera. Aí ficou “o feito pelo não feito”.
Nos anos noventa, porém, houve problemas e o lobisomem teve que tomar providencias contra os baianos. O Bahia aceitaria jogar pela Copa Brasil em Volta Redonda no dia fatídico e “se lenhou” feio, empataria a partida e, mesmo eliminando o “Voltaço” nos pênaltis, daria o azar de pegar e cair pro Cruzeiro. Mas não aprenderia a lição. No ano seguinte nova escalação nesse certame entre Gama e Bahia. Na ocasião o esquadrão de aço até que ganharia fora (1 X 0), mas, de novo, não passaria pelo Curitiba.
Em 1997, com uma nova geração de dirigentes “profissionais” o problema foi relegado marcando-se toda uma rodada no dia 14 de fevereiro. Uma verdadeira provocação ao lobisomem. Na ocasião só o tricolor se recusaria a jogar na data. Dizem que a besta apareceu em todos os estádios onde houve partidas infernizando os torcedores que sequer assistiram aos jogos até o final. O Vitória só não perderia o título este ano porque estava “o bicho” ganhando todas as fases do certame, e, aliás, decidindo com o Poções.
                                                     Não adianta rezar meu amigo!

Dois anos depois a dupla BA-VI não protestou contra nova rodada marcada pro 14 de fevereiro. Só de última hora os medrosos conseguiram alterá-la colocando-a pro domingo seguinte. Naquele dia os torcedores ficariam sem futebol, mas o campeonato não terminaria este ano, tendo que ser decidido pelo tribunal que, de forma salomônica, dividiu a taça entre os dois clubes.
Em 2004 incorreriam na falta de respeito aos lobisomens agendando Catuense e Camaçari na data. O BA-VI foi no outro dia. Mas a laranja mecânica pagaria caro pela ousadia, conseguindo chegar as semifinais do certame quando seria arrasada por cinco a zero pelo rubro negro campeão. Em 2006 houve muita discussão se a rodada seria em 14 ou 15 de fevereiro. Na ocasião o Colo Colo resolveu escalar um time misto perdendo pro Atlético de Alagoínhas por um a zero. A rodada acabou sendo no dia quinze, mas não adiantou pro lobisomem, que decidiu castigar os clubes dando o título, de maneira inédita, ao Colo Colo.
A última vez que os dirigentes esportivos escalaram jogos no dia 14 de fevereiro foi exatamente em 2007. Na ocasião pensou que a situação não podia piorar afinal a dupla BA-VI estava na terceira divisão. O que podia ser pior do que isto? Marcaram, para a Fonte Nova, Bahia e Catuense pelo campeonato baiano e, no Barradão, Vitória e Baraúnas pela Copa Brasil. O tricolor daria de cinco a um no time da terra da laranja e o Vitória empataria em um gol no Rio Grande do Norte.
                                                   Só os cegos é que não acreditavam!

Mas a vingança do lobisomem seria cruel. A Catuense seria rebaixada esse ano pra Segunda Divisão, o Bahia não conseguiria subir pra Segunda do Campeonato Brasileiro, o Vitória só passaria por este esquisito time nos pênaltis tropeçando no Atlético Paranaense logo depois, e a própria Fonte Nova seria interditada após o desastre memorável de 25 de novembro onde caiu um trecho do estádio matando sete torcedores.


·          Agradeço as informações de dougspedotto, dos sites O esquema, Cansei de ser cowboy, Futipédia, RSSF Brasil e do Almanaque do Futebol Brasileiro. Sou grato ainda as imagens dos blogs regociodojapao.com.br,blog.tj.net,devilout.unbrode.com.br,miniweb.com.br e folclore-lobisomem.blogspot.com. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário