domingo, 3 de abril de 2011

Os gringos na Bahia

                                                               Messi não veio! 
O porto de Salvador já chegou a ser o segundo das Américas. No entanto os baianos não figuram com destaque no intercâmbio internacional do futebol. Seus clubes não estão entre os que mais excursionaram ao exterior, e seus estádios receberam, proporcionalmente, poucos jogos internacionais.
Mas isto não quer dizer que os baianos não tiveram momentos memoráveis a nível internacional no esporte. Segundo o Almanaque do Futebol Brasileiro os primeiros jogos internacionais ocorreram na Bahia, é bem verdade que entre equipes baianas e tripulantes de navios que visitavam o aprazível porto de Salvador.
Consta naquela publicação que o primeiro jogo internacional do Brasil foi entre o EC Vitória e um Combinado de marinheiros de navios ingleses, vencido pelos baianos por três a dois no dia 22 de maio de 1901. Dois anos depois seria ainda aqui que se realizariam mais três jogos internacionais, entre um Combinado baiano e combinados de navios ingleses e norte-americanos, registrando o primeiro um empate sem gols, e os outros dois novas vitórias da gente da boa terra por três a zero e dois a zero.
                                                        Os americanos também não!

Mas, passariam muitos anos até que o primeiro clube estrangeiro jogasse em Salvador. Foi o Celta de Vigo, da região da Galícia da Espanha, onde já existiam muitos emigrantes galegos. S partida ocorreu em dez de agosto de 1928 e registrou a vitória dos europeus por dois a um contra o baiano de Tênis.
Nos anos trinta, num quadro de mudanças políticas no país, se intensificaria o intercâmbio internacional dos baianos, embora continuassem a comparecer o pessoal das fragatas. O novo clube a aqui aparecer foi o Sud América de um Uruguai que havia acabado de se tornar campeão da primeira Copa do Mundo. Jogou três partidas no estádio da Graça em abril de 1931. Estreou empatando com o Botafogo em um gol, enfrentando após Ypiranga e Bahia, aos quais venceria por convincentes quatro a dois e cinco a um.
Em 1932 e 1932 seriamos visitados pelo navio Presidente Sarmiento cujos tripulantes passariam o maior "papelão” ao enfrentar a dupla BA-VI. No primeiro jogo tomaram de onze a um (é isso mesmo!) do tricolor, e no segundo, sete a dois do rubro negro. A década veria ainda o Atlanta da Argentina que, em janeiro de 1937 enfrentaria Ypiranga e Galícia, perdendo na estreia para o mais querido (1 X 2), mas vencendo o quase sempre demolidor de campeões (4 X 2).

 
                                              Mas que tinha uns jogadores pesados tinha!

No Estado Novo só veríamos mais o Gimnásio y Esgrima (Argentina), que em janeiro de 1941 venceria Bahia (4 X 1) e Vitória (3 X 2) caindo na despedida para o Galícia (1 X 2).  E, logo após a Segunda Grande Guerra, quando a Bahia voltava á “normalidade” de sua tragédia política, novamente os Hermanos nos visitariam, agora o Rosário Central, vencendo a Galícia (2 X 1) e Bahia (5 X 4), só não encerrando definitivamente os jogos internacionais do velho campo da Graça pois um time “B” de uma fragata inglesa se apresentaria nos anos cinquenta jogando na preliminar do São Cristóvão.
Seria na Fonte Nova que os baianos veriam o maior número de partidas internacionais quando sumiriam definitivamente os tais times de marinheiros. A primeira partida ocorreu quando da excursão do Cerro Porteño (Paraguai) ao Brasil em setembro de 1955. Na oportunidade o Bahia venceu por dois a zero e o zagueiro Juvenal, dando uma prova de espírito esportivo, bateu pra fora um pênalti inexistente marcado pelo árbitro.
Antes de terminar o ano seguinte viria a Salvador nada menos do que o Independiente, que nos anos 60 e 70 iria se consagrar como grande campeão da Taça Libertadores da América. A seleção baiana se preparava para o Campeonato Brasileiro de Seleções e não poderia encontrar melhor sparring vencendo os argentinos por dois a um.
                 
                                                      E eu doido pra voltar á Roma!

1957 seria um grande ano para o intercâmbio internacional dos baianos.Viriam a Salvador nada menos que Rosário Central (Argentina), Wanderers (Uruguai) e Benfica (Portugal). O primeiro, faria duas partidas contra o tricolor baiano empatando sem gols a primeira e perdendo de três a zero a segunda. O segundo perderia pro expressinho tricolor por um a zero.
O “misto quente” tricolor seria quem enfrentaria os portugueses obtendo uma fantástica vitória sobre Aguas, Coluna, Costa Pereira e Cia por quatro a um. O Bahia estava em sua primeira excursão á Europa desde abril, mas sua equipe chegaria a tempo da segunda partida contra o Benfica, embora perdesse por dois a um.
A primeira excursão internacional de um clube baiano seria um amplo sucesso. Após as primeiras partidas o tricolor jogaria de igual para igual contra os europeus obtendo resultados memoráveis e um ou outro “escorregão”. Destaque-se as grandes partidas contra o Chelsea inglês (1 X 3), o Estrela Vermelha iugoslavo (2 X 3) e o Dínamo de Kiev (1 X 3), as vitórias contra as seleções da Tchecoslováquia (3 X 1), de Bruxelas (2 X 1), e de Copenhagen (5 X 4). Ao final foram 29 partidas com quatorze vitórias, nove derrotas e seis empates, com 71 gols assinalados e 59 sofridos
                                       Teve jogador na excursão na Europa que ficou por lá!

Os clubes do exterior demorariam em vir á Bahia. Mas quando Maomé não vaia montanha a montanha vai a Maomé. O ditado funcionou pelo menos com os baianos que continuariam fazendo excursões ao exterior nos anos sessenta.
O ano de 1960 foi memorável. O Bahia foi o único representante brasileiro na Taça recém criada Taça Libertadores da América ao vencer a I Taça Brasil. Na oportunidade, porém, é eliminado logo de saída pelo bom time do San Lorenzo (Argentina). Este havia vencido os baianos em seu país por três a zero, levando-=o a uma situação de ter de vencer por alto saldo de gols pra obter a classificação. A vitória veio na Fonte Nova mas Sanfilippo estava infernal fazendo os dois gols argentinos na derrota por três a dois.
No segundo semestre a dupla BA-VI sairia do país para uma incrível temporada na Europa que foi motivo para gozações de parte á parte. O Bahia saiu primeiro, em agosto, e jogaria mais do que o rubro negro. Quando o Vitória embarcou o tricolor já havia feito dez partidas, com destaque para a estreia contra o Dínamo de Kiev (1 X 4), a vitória contra o Anderlecht, muitas vezes campeão da Bélgica (2 X 0), e o histórico empate em um gol no dia três de setembro contra o Milan no Estádio de San Siro.
                                                Os baianos quase foram com os gringos!
O rubro negro estreou na Suíça perdendo pro Lausanne (0 X 1), e, no dia em que o tricolor ganhava na Bélgica do Standard de Liége (2 X 0) seria novamente derrotado, na Bulgária para o Levski Sófia (1 X 2).   Depois disto se aprumaria na Bulgária, empatando com o Votev (2 X 2) enquanto era a vez do esquadrão de aço de perder na Escócia para o Motherwell (0 X 3). Sua primeira vitória na excursão, contra o Miners Club (3 X 2) chegaria ao conhecimento dos baianos no mesmo dia em que o tricolor cumpria sua sina na Escócia perdendo pro Aberdeen por dois a zero.
O mês de outubro de 1960 não será esquecido por seus torcedores. Foi nele que a dupla BA-VI enfrentou as seleções da Romênia e da Holanda, com a derrota rubro negra por dois a zero e a vitória tricolor pelo mesmo escore. O rubro negro ainda empataria com um Combinado Romeno (4 X 4), venceria o Motor Jena alemão (1 X 0) e perderia pra grande equipe do Fenerbache turco (1 X 2). Mas neste mês também sofreria a grande tragédia da Polônia, ao perder de um Combinado da Silésia por sete a zero!
Quanto ao Bahia venceria o Combinado Victoria-Berlim (2 X0), e iria á Argélia jogar com o Racing de Paris (4 X2),Seleção Montagna (8 X 0) e a própria seleção deste país (3 X 1). Mas uma semana estranha surpreenderia sua torcida. No dia 18 de outubro o clube faz a façanha de derrotar o poderoso Bayern Munich por vezes campeão da Europa por seis a um, e uma semana depois cai perante o Sporting de Lisboa por cinco a um!

 Ah que pena que não vimos esse grande clube 

O tricolor se despediria da Europa com uma revanche contra os portugueses (2 X 2) em pleno Dia de Finados. Esperaria quatro anos para novos amistosos internacionais, na Venezuela e em New York. Já o rubro negro, voltaria para a Bahia uma semana depois, após perder para o bom time do Eintracht Frankfurt por dois a um. Quanto a nossa postagem fica por aqui, fazendo um certo suspense para a segunda parte do artigo que tratará dos anos setenta até o fim da Fonte Nova.

·          Agradeço as informações do Almanaque do Futebol Brasileiro e do Setor de Periódicos raros da Biblioteca Central do Estado. Somos gratos ás imagens do site da Wikipédia e do Fluminense.

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