segunda-feira, 4 de abril de 2011

Tragédias a mil

                   

1988 começou muito mal para nossa família, sobre a qual se abateu a tragédia da perda do meu jovem cunhado, o contador Elias Bacellar. O sofrimento de Cybele e da família tornar-se-iam uma prioridade para mim nos próximos meses, fazendo inclusive com que eu não aparecesse no carnaval, limitando-me a tomar parte das negociações do sindicato na festa. 

Não deixei, porém, de saber as coisas. Desde o ano anterior Sarney manobrava indicando conservadores para uma série de órgãos, entre os quais o obscuro reitor Rogério Vargens desprezando o voto da comunidade da UFBA em eleições.

Na Bahia os funcionários estaduais iniciam o ano no “turnão”, medida de contenção encontrada por Waldir para reduzir as despesas com pessoal, colocando servidores para trabalhar em um só turno. Enquanto fazíamos campanha pra eleições pra presidente as eleições municipais seriam realizadas naquele ano.


O campeonato baiano deste ano começou logo após o carnaval. O Bahia estava no grupo A e o Vitória no B. O tricolor tentando o “tri” e o rubro negro buscando voltar a ganhar o título o que não fazia desde 1985. Esse ano foi um daqueles que o regulamento foi a maior confusão. Havia dois turnos e quatro fases, e o campeão de cada uma delas juntava-se com um ou dois times de melhor campanha pra jogar um quadrangular decisivo. Durma-se com um barulho desses!

Na primeira rodada o Bahia ganharia do Botafogo por três a zero na Fonte Nova e o Vitória derrotaria o Fluminense por dois a zero em Feira de Santana. O BA-VI seria logo na terceira rodada e os times ainda empatariam em um gol em uma rodada dupla onde o Vitória jogou contra o Serrano e o Bahia contra a Catuense. Mas o clássico ficaria empatado em um gol. O Vitória ganharia as duas últimas partidas (contra Atlético e Atlanta) e o Bahia venceria o Itabuna, mas perderia do Leônico (1 X 2). Mas os dois seriam os primeiros em seus grupos.

Enquanto se desenrolava a primeira fase do primeiro turno nós adquiríamos uma pequena gráfica tendo em vista o enorme número de candidatos a vereador que apoiávamos nos municípios da Bahia. A campanha de Salvador foi a da professora Geracina Aguiar.

                                      Isso aí é na Barra?

As finais da primeira fase foram no fim de março e a dupla BA-VI só ganharia na primeira rodada, o Bahia vencendo a Catuense (2 X 0) e o Vitória o Serrano (1 X 0). Depois empataram com os adversários trocados e ficariam no zero no clássico. Acabaria havendo uma partida extra que “me virei” pra assistir onde, pra minha decepção perdemos pelo escore mínimo.

Em abril o governo Sarney baixa novo pacote buscando obedecer às diretrizes do FMI e embatem-se “centrão” e “esquerda” no congresso e na Constituinte. As decisões de Sarney acabavam por ser seguidas, indiferentemente, pelos governos apoiadores ou críticos do seu governo. O governo Waldir é um destes, pois, mesmo defendendo publicamente a tese de rompimento do PMDB com o presidente, declara não poder pagar a URP. No período começa a luta dos servidores estaduais pelo Plano de Cargos e Salários –PCS.

A segunda fase do primeiro turno começava alvissareira. É que o Vitória ganharia do Botafogo por três a um e o Bahia perderia em Jequié do Atlanta por dois a um. Nesse turno o tricolor teria altos e baixos. Despacharia uma goleada no Atlético de Alagoinhas e, logo depois perdia para o Fluminense. Mas mesmo assim se classificaria em segundo no grupo pelo saldo de gols. O Vitória terminaria novamente invicto seu grupo.

                              Quer maior tragédia do que essa?

O quadrangular final começou no dia do meu aniversário de 40 anos, 24 de abril, mas não tive este presente saindo da Fonte Nova com o gosto amargo de um clássico sem gols. Mas aconteceria o mesmo com Fluminense e catuense. Na segunda rodada, porém, veio à glória, o rubro negro ganharia da laranja mecânica (2 X 1) e o Bahia perderia para os touros do sertão em Feira (0 X 1).

No mês de maio voltamos a celebrar o Dia dos Trabalhadores no Campo Grande. Vivi neste dia uma grande indecisão. É que o ato coincidiu com a final Da segunda fase do primeiro turno do campeonato baiano entre Vitória e Fluminense. A solução foi levar um rádio para acompanhar mais uma vitória do meu clube, desta vez por um a zero. Dois dias depois houve a greve das estatais e funcionalismo federal que aqui produziu uma concorrida manifestação no Campo Grande pelo “fora Sarney”.  

Começava o segundo turno invertendo as coisas. A dupla BA-VI jogava fora de casa, mas era o Bahia quem ganhava (dois a zero contra o Atlético) e o Vitória quem perdia (um a zero contra o Itabuna). O time parecia que tinha desaprendido. Empatou com o Botafogo em dois gols e depois perdeu de três a um para nosso arquirrival. Sequer se classificaria para o quadrangular pois empataria com a Catuense (1 X 1) ganhando apenas do Leônico (3 X 2).Enquanto isto o tricolor ganhava quase todas. E continuaria assim nas finais desequilibrando de novo o certame a seu favor.

                                      Nossa, essa foi dura!  
                         
Em meados do ano o bloco independente do PMDB “racha” com o partido criando o PSDB. Foi aí que começou a última fase do certame a também a última chance de igualarmos a situação. Devido á militância só pode assistir aos jogos pelo rádio. O Vitória ganhou quase todas e o Bahia acabou perdendo uma para a Catuense. Fomos novamente para as finais com o rubro negro em primeiro e o tricolor em segundo nos grupos.

Nesta época as manifestações no cortejo do Dois de Julho haviam se consolidado e os candidatos do partido teriam destaque, havendo polarização com a comitiva do prefeito Mário Kertész e vereadores aliados. O episodio suscitaria incidente na Praça Municipal, inédito até então, com os seguranças da prefeitura, quando vaias impediram o discurso do presidente da Câmara, vereador Ednaldo Santos.

No entanto, minha alegria pelo desfile se transformou numa profunda tristeza logo no outro dia quando fomos vergonhosamente goleados pelo nosso arquirrival por impensáveis quatro a zero! Uma verdadeira desgraça tomou conta da equipe rubro negra que ainda conseguiu perder do Serrano (0 X 1) antes de ganhar a última para o Botafogo (5 X 3).

                      Nesse ano vinha fogo não se sabe de onde!

As finais do certame foram na semana anterior do III Congresso Nacional da CUT em Belo Horizonte. Eu assistiria as duas primeiras rodadas onde o meu rubro negro ganhou do Fluminense (1 X 0) e empatou com a Catuense (1 X 1) tendo que tirar a diferença de dois turnos no jogo contra o Bahia.

Mas aí eu já estava viajando. E, no domingo, enquanto Jair Meneghelli era conduzido pela terceira vez á presidência da central, eu rodava pelo salão em busca de notícias do BA-VI. Só de noite é que eu saberia que o meu rubro negro “pulou esta fogueira” vencendo pelo escore mínimo. Estava tudo empatado de novo, mas, desta vez, só faltavam três jogos.

Foi o maior de todos os congressos que já compareci registrando a presença de mais de seis mil delegados. As mudanças que ali seriam aprovadas impactariam no futuro da central. As propostas de alteração nos estatutos contaram com a oposição de muita gente, sendo aprovado o combate ao pacto social proposto por Sarney que envolveria então, empresários e a CGT.

                                  Ah, isso aí é de todo dia!

A primeira rodada das finais foi na semana em que chegamos do congresso. Na primeira rodada a dupla BA_VI ganhou fora de casa, o Vitória do Fluminense (1 X 0) e o Bahia do Catuense (3 X 0). Mas na rodada dupla seguinte sentimos um frio na espinha pois, enquanto suamos pra ganhar da Catuense pelo escore mínimo o nosso rival goleava o Fluminense por quatro a zero.

Naquele dia sete de agosto de 1988 eu fiquei louco para que alguma tarefa me afastasse do estádio. Mas não apareceu nenhuma. O resultado deixou desconsolados os rubro negros. O Bahia praticamente passeou em campo. Eu aguentei até os dois a zero e depois fui assistir lá da boca da arquibancada.  Quando veio o terceiro desci rapidamente as escadas e me encaminhei para os portões antes que a inchada tricolor viesse com as gozações. O Bahia levava o “tri” e o Vitória ficava sem nada.

Agora só o campeonato brasileiro e as eleições me animavam. Mas eu não sabia o que ainda iria passar em matéria de futebol este ano. A CBF havia inventado tal disputa de pênaltis quando o jogo terminava empatado. No início pareceu bom pois tanto Vitória como Bahia venceriam nos pênaltis os cariocas América e Bangu em rodada dupla na Fonte Nova no dia 2 de setembro.

                     Vije,cruz credo, isso não é pra Bahia não!

Logo depois o rubro negro perdeu novamente pro tricolor, desta vez pelo escore mínimo. O leão da Barra terminaria em oitavo e o esquadrão de aço em terceiro. Mas só classificavam dois pras finais.

Perto das eleições o governo Sarney continua a cantilena do “pacto social”. Nesta época nosso presidente Jair Meneghelli compareceria ao Colégio Dois de Julho para prestigiar o I Congresso Estadual dos Trabalhadores de Educação. Na ocasião daria entrevista á imprensa despertando risos de todos nós quando declarou “já estar cheio desta história de pacto”.

Nossa campanha eleitoral foi muito ajudada pelas greves. A agenda da nossa candidata era cheia. Os servidores municipais fazem greve para receber a URP, sendo seguidos pelos policiais civis, previdenciários, médicos, Justiça, BANEB, assim como pela Escola de Agronomia da UFBA. Havia movimentos dos professores da rede particular, da rede municipal de ensino, petroleiros, petroquímicos, Banco do Brasil, DRT, LIMPURB, CAR, e do Ferry-boat.

                                     Que diabo é isto?

Waldir anuncia reajuste para quem não recebia URP na vésperas das eleições mas seu candidato à prefeitura de Salvador Virgildásio Sena não consegue “decolar”. Até a eleição ainda dá tempo pro Exército invadir a CSN matando 3 operários e ferindo diversos outros durante a greve dos metalúrgicos de Volta Redonda-RJ.

As eleições foram responsáveis pela minha única satisfação nesse ano. O partido ganhou em uma série de cidades importantes, entre as quais São Paulo, com Luiza Erundina. Na Bahia, porém, apenas duas prefeituras, Amélia Rodrigues e Jaguaquara. Além disto tivemos Geracina Aguiar como a sétima vereadora mais votada de Salvador. Mas a maioria dos nossos candidatos “quase” se elegeram. O sucessor do prefeito Mario Kertész seria Fernando José, funcionário de Pedro Irujo, empresário de comunicação espanhol naturalizado brasileiro ficando Zezéu Ribeiro (PT) em quarto com 4,6% dos votos. Pra completar George Bush pai se elegeu pra presidência dos EUA.



A segunda fase do campeonato brasileiro começaria depois das eleições com o Vitória sofrendo um desastre apanhando de seis a um do Goiás no estádio de Serra Dourada. Depois disto “cairia pelas tabelas” só voltando a ganhar, e em pleno Maracanã, do Flamengo pelo escore mínimo. Mas foi “fogo de palha” pois voltaria a sua via crucis e terminaria agora em penúltimo lugar.

Já o Bahia continuaria surpreendendo ganhando diversas partidas (no tempo de jogo e nos pênaltis) e terminaria em quarto lugar. Aí, como o Vasco se classificou nas duas fases, o tricolor ficaria com uma vaga e participaria da terceira fase pelo somatório geral dos pontos. Não adiantou torcer contra o Vasco.

Outras tragédias se aproximavam pra quem gostava de política e era rubro negro. Primeiro foi o assassinato de Chico Mendes, militante do PT e presidente do STR de Xapuri no Acre, e depois foi aguentar as gozações dos tricolores pela conquista do campeonato brasileiro pouco tempo depois.



·        Agradeço as informações dos sites RSSSF Brasil e Bola na Área e do Almanaque do Futebol Brasileiro. Sou grato ainda as imagens dos sites da abril,uol,desastres áereos.net e dw-wordl.

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