quarta-feira, 11 de maio de 2011

Bob Marley e a Fonte Nova

                                               O ano em que BobMarley jogou no Brasil

* Homenagem aos trinta anos da morte de um revolucionário

                                                                                            Você não irá ajudar-me a cantar
                                                                                            essas canções de liberdade?
                                                                                            Porque tudo o que eu sempre tive
                                                                                            são canções de redenção.

                                                                                            Liberte-se da escravidão mental
                                                                                            ninguém além de nós
                                                                                             pode libertar nossas mentes.
                                                                                                                                    Bob Marley

Hoje fazem trinta anos da morte do revolucionário cantor e compositor Bob Marley.  Sua memória já está preservada no mundo inteiro onde se encontrem afrodescendentes ou admiradores da religião rastafári, da África, do reggae e da boa música. Mas o que muita gente não sabe é de sua relação com o Brasil. E olhe que não estou falando da declaração que fez em março de 1980 quando esteve no país afirmando que “meu time é o Brasil”.
Marley, ao contrário de certos intelectuais, apaixonou-se desde cedo pelo esporte popular do futebol que jogava sempre quando podia. Foi por isso que estádios como a Fonte Nova fizeram parte de sua vida.
No mês de fevereiro de 1945 até a Segunda Grande Guerra começava a se encerrar em homenagem ao nascimento daquele que cantou a paz e, segundo a BBC, escreveria a canção do milênio, One love. As comemorações se estenderam a Bahia. Já havia sido lançada a pedra inaugural da Fonte Nova e eram feitos trabalhos de terraplanagem, mas mesmo assim a FBDT patrocinou a vinda do famoso time do Fluminense do Rio de Janeiro.

O clube pó de arroz estreou vinte e um dias após o nascimento do gênio do reggae, empatando com o Galícia, que havia a pouco conquistado um inédito tricampeonato, por um gol. Quatro dias depois submeteria a uma humilhação o rubro negro baiano ao derrota-lo por seis a dois.
Foi em solidariedade com “Bob” que os baianos, quando faleceu o seu pai em 1955, disputaram um de seus maiores campeonatos, o do ano anterior, quando de forma inédita, três clubes (Vitória, Bahia e Botafogo) decidiriam o título do ano anterior em turno extra, ganho pelo segundo.
O seu primeiro álbum, The wailing wailers, gravado em 1965, impactaria o Brasil que era triste por viver nessa época em uma ditadura. Mas não puderam fazer nada contra um gênero que penetrou em cheio o país, notadamente na Bahia e Maranhão, e contaminou multidões de jovens. Nesses dois estados, vocês podem encontrar, até hoje, em qualquer lugar das chamadas periferias de Salvador e São Luiz, o seu rosto nos imóveis e sua música nos carrinhos dos vendedores de café e nas barracas dos camelôs da cidade.
                                              Bem que ele podia ter vindo á Fonte Nova!

No início dos anos setenta Marley estabelece nova parceria para a produção de seus discos e shows, com Lee Perry e a Island Records. Essa nova fase de sua carreira coincidiu com a nova fase da Fonte Nova, que constrói o seu anel superior entrando numa grande era de massas. Em dezembro de 1970, Marley lança o álbum Soul Rebels, num ano em que pela primeira vez o Itabuna iria ás finais do campeonato perdendo para o EC Bahia.
A nova Fonte Nova seria inaugurada em março, num ano de chumbo para o Brasil, mas de criatividade para ambos. Marley gravaria três álbuns, Soul revolution I e II e The best of the wailers, e o estádio realizaria três torneios memoráveis vencidos pelo Bahia, Cruzeiro e Fluminense (RJ).
Começava uma nova era para o futebol da Bahia, a da retomada da hegemonia tricolor, o que coincidia com o sucesso de “Bob” que, além de gravar os álbuns, Catch a fire e Burnin (1973), Natty Dread e Rasta revolution (1974) repercute em todo o mundo com a musica No woman, no cry (1975). É neste ano que deixa a Jamaica para morar na Inglaterra. Este acontecimento marcante em sua vida coincide com o maior torneio já realizado na Bahia, a Taça Cidade de Salvador, que seria conquistada pelo Santos, cujo desenrolar se verifica durante a gravação ao vivo de seu álbum Live.
                                                       Vejam se não parece um baiano?

O ano de 1976 iria trazer alegrias e tristezas pra Marley. No dia 30 de abril grava seu novo álbum Rastaman vibrations. Mas, nas vésperas do show que promoveu para a campanha do primeiro ministro Michael Manley ocorre um atentado em sua residência trazendo ferimentos graves em sua companheira Rita Marley e ocasionando-lhe ferimentos assim como em outros residentes.
A atitude debitada ao conservador Jamaican Labour Party não evita a sua derrota eleitoral, e, aliás, o mesmo ocorre com a ARENA local nas eleições municipais deste ano. As coisas também não iam bem para o futebol da Bahia onde seus clubes não conseguem ganhar nenhuma das grandes equipes brasileiras que vão á boa terra neste ano.
No ano seguinte gravará seu álbum antológico, Exodus, em junho, mas, no mês seguinte, aqueles torcedores que viram o empate sem gols na Fonte Nova entre Bahia e Flamengo, não podiam supor que seu já ídolo estivesse descobrindo uma ferida no pé que, mais tarde, se descobriu ser um melanoma maligno. Logo em quem lutou a vida inteira contra os espíritos malignos.
                                               Ôpa que é isso? Morreu ou não morreu?

O álbum Kaya é gravado uma semana depois que o Londrina derrota o Vitória em amistoso na Fonte Nova pelo escore mínimo. Como é fácil se entender fez muito mais sucesso que a campanha do rubro negro no certame local e no brasileiro. Três meses depois o artista iria receber a medalha da paz das Nações Unidas, e, mais três meses veriam a gravação do seu segundo álbum ao vivo, Babylon by bus.
O agravamento de sua doença coincide com as atitudes de solidariedade aos países africanos, numa época em que alguns alcançam sua independência após eras de colonialismo.   Marly vai gravar o álbum Survival com a grande música África unite em dois de outubro de 1979. Enquanto isso o tricolor baiano alcança uma das maiores glórias de sua história ao conquistar o heptacampeonato numa partida memorável com o EC Vitória decidida por uma falha do goleiro Gelson.
Não havia como o revolucionário artista não vir ao país onde pulsava a sua música. E isso ocorre num dos intervalos da gravação de seu novo álbum Uprising. Foi o jogo do século e aconteceu no Brasil. Marley desembarcou no dia 18 de março de 1980 no Aeroporto Santos Dumont do Rio de Janeiro, e, no outro dia, faz um jogo que será sempre lembrado. Um mês depois, interromperia de novo as gravações pra participar de um acontecimento igualmente importante, as comemorações da independência do Zimbabwe. Terminaria aquele que seria o seu último álbum em vida três meses depois.

O jogo foi num campinho de terra, e a equipe de Bob venceu a de Alceu Valença por três a zero, gols do próprio artista, de Chico Buarque e do jogador Paulo Cesar “Caju” (lembram-se?). O time de Marley formou com Ele próprio, o guitarrista do The Wailers Junior Marvin, Paulo Cesar, Toquinho, Chico e o vocalista Jacob Miller. Já os adversários atuaram com Alceu Valença, o contrabaixista brasileiro “Chicão”, e quatro funcionários da gravadora Ariola. No outro dia Bob Marley foi embora após jogar e vencer no “país do futebol”. Alguns dias depois um dos participantes daquele jogo histórico morreria num acidente de carro, Jacob Miller.
Ao fim deste ano não conseguiria completar uma excursão á Europa e EUA sofrendo um desmaio no Central Park de Nova York. A hegemonia do EC Bahia terminava com o Vitória arrebatando-lhe o título e prenunciando uma nova era no futebol baiano que ainda iria demorar um pouco.
Em fevereiro de 1981 Marley recebeu a ordem do mérito da Jamaica. O primeiro turno daquele ano começou em abril enquanto piorava dia a dia a saúde do artista. Os torcedores que compareceram á rodada de encerramento da primeira fase do primeiro turno não esperavam que fosse a última vez que o tão adorado futebol de Marley ocorreria na Fonte Nova com o gênio do reggae vivo.

É que naquele dez de maio houve uma rodada dupla no nosso histórico estádio. Na preliminar jogaram Redenção X Itabuna, empatando em dois gols, e na principal o clássico Bahia X Galícia. Era um jogo importante, onde peleavam os líderes das suas chaves, e o tricolor venceu o azulino por dois a um. Soubemos do seu internamento em hospital de Miami na Florida, mas todos torciam mais ainda para a sua recuperação.
O falecimento daquele que revolucionou a música e a atitude no mundo ocorreria no outro dia, há trinta anos. Mas há pessoas que não morrem, ausentam-se um pouco, mas continuam vivendo através dos seguidores de suas ideias. Dizem que a Fonte Nova quando morreu no ano passado pediu a suas milhões de admiradoras, no woman, no cry. Deixo aqui algumas palavras de “Bob” da canção One love.
Um só amor!
Um só coração!
Sobre o que?
Vamos seguir juntos para ficarmos bem
como estava no começo (Um só amor)
Então será no final  (um só coração)
Tudo certo.

·          Agradeço ao Almanaque do Futebol Brasileiro, aos sites Futepoca, Wikipédia e RSSSF Brasil, e aos blogs maxdanger.com.br, grandesfrasesbobmarley.blogspot.com e ladoz.blogspot.com.br.

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