quinta-feira, 19 de maio de 2011

Desventuras em série



                                                              Que cara cínico!


Nunca vou esquecer do Ano de 1959. Foi o único que começou com uma revolução, a cubana, que acompanhávamos diariamente pelas rádios e jornais, com a desconfiança de americanófilos jornalistas. Mais tarde começaria também a guerra do Vietnam onde o anão desafiaria e venceria o gigante de pés de barro. Um ano tão incrível que o presidente JK declararia moratória ao FMI.
O Real Madrid começa a entrar para a história ao vencer o Stade Reims conquistando a Taça dos Campeões da Europa que levaria por cinco vezes seguidas, Jack Brabham venceria a fórmula um do automobilismo e a Argentina o torneio de futebol dos Jogos Pan- Americanos em Chicago.
Foi um ano rico para o cinema onde assistimos Ben-Hur de William Wiler (lembram-se de Charlton Heston?), O diário de Anne Frank, de George Stevens, Hiroshima meu amor, de Alain Resnais, Porgy and Bess, de Otto Preminger, e até a produção franco-brasileira Orfeu negro, de Marcel Camus. Num mundo de atenções com Cuba não faltaria sequer Nosso homem em Havana, de Alec Guiness.

    
Só tivemos essa alegria neste ano!
Mas, devo dizer, infelizmente, que mesmo com essas alegrias meu ano esportivo e musical foi um verdadeiro desastre que teve desventuras em série, inclusive com a perda de importantes referências artísticas.
O Vitória começou o ano num dia treze de azar, garantindo ao Fluminense carioca sua primeira vitória na excursão que fazia na Bahia, caindo por três a zero! Três dias depois o time, que buscava voltar a ganhar o campeonato baiano, faria o mesmo com o Sport (0 X 2), na única partida que os pernambucanos ganharam esse ano na Fonte Nova. Mas além da queda coice, pois, cinco dias depois, saberia da morte do diretor de cinema Cecil B. de Mille quando ouvia pela rádio as últimas notícias dos “barbudos” de Cuba em janeiro. Foi uma grande perda para os filmes épicos.
O carnaval ia próximo, mas ainda passaria agua por debaixo da ponte até lá. É que os clubes cariocas visitariam o estado e, logo no dia primeiro, haveria uma concorrida rodada dupla na Fonte Nova. O rubro negro jogaria com o pós de arroz e o tricolor contra o antigo time de General Severiano. Mas deu chabu, o Vitória perdeu de dois a zero e o Bahia só de um. Lembro-me bem, pois dois dias depois morreria uma legenda do blues Buddy Holly aos 23 anos de idade. Nem tinha acabado o mês e os leões da Barra perderiam novamente, agora para um misto do Vasco da gama por um a zero. Era demais!

                       Foi pior que perder do Bahia de Feira!
O jeito foi esquecer as mágoas no carnaval pulando na Rua Chile. Em março assistiríamos á passagem do Taubaté de São Paulo (já ouviram falar?) que vinha fazendo uma inédita excursão pelo Norte e Nordeste. Na ocasião aproveitaram pra trazer o único dos grandes clubes cariocas que faltava, o Flamengo e organizaram um torneio.
Os torcedores rubro negros riram á tôa quando o tricolor empatou com esse clube do interior paulista em dois gols, ainda mais que empatamos com o poderoso time da Gávea pelo mesmo escore. mas a alegria se transformou em tristeza três dias depois quando perdemos para o tal do Taubaté por três a um! Pra piorar o nosso arquirrival ganhou do Flamengo por dois a zero. Graças a Deus o torneio foi suspenso quando estavamos a pique de perder outra vez. Acho que sumiram com a taça.
Mas não escaparíamos ilesos. É que duas semanas depois arranjaram um "caça níquel" entre a dupla BA-VI e meu pai nem me levou ao estádio, tendo que suportar Zé Athayde narrar a goleada que sofremos de quatro a um.

                                Ih, é só isso que é desventura?

O certame baiano começava com o Bahia na frente. Graças a Deus o Vitória só traria clubes de fora no mês seguinte, fazendo com que, pelo menos, eu comemorasse aniversário em paz.  Mas no dia dez de maio o sofrimento retornaria pois o Cruzeiro faria uma excursão ao estado e faria sua estreia logo contra o Vitória conseguindo o seu único sucesso na temporada, dois a um.
Os torcedores e dirigentes reclamaram muito. Mas porque colocavam sempre o Vitória "de gaiato"?Acho que a queixa funcionou pois quando o Atlético Mineiro chegou, logo depois, desta vez quem "entrou pelo cano" foi o tricolor perdendo por dois a uma, enquanto o rubro negro faria a façanha(acreditem!) de ganhar por um a zero! Lembro-me bem desta partida pois ocorreu dois dias depois do diabo levar pro inferno o secretário de estado norte-americano John Foster Dulles.
Choveram pedidos na sede do Vitória pra não programar mais jogos com times de fora encerrando com este sucesso o ano, mas qual! Só que neste ano uma reunião da confederação sul-americana criou a Taça Libertadores, e aí a CBD acabou criando também a Taça Brasil pra definir o representando do país que a disputaria. Foi muita sacanagem com o rubro negro. Porque não a criaram dois anos atrás quando ´fomos campeões?

                               Só matando mesmo Osório!

Bem, pra encurtar a história passamos o segundo semestre vendo o Bahia ganhar de seus adversários neste torneio e o Vitória ir mal das pernas no certame local. Rezávamos de pés juntos pra acabar logo aquele ano e o nosso sofrimento. Mas tinhamos um consolo, o que poderia nos acontecer de pior do que tinha ocorrido? Não sabíamos de nada..
Em julho foi duro o golpe da perda da maior cantora da história, minha amada Bille Hioliday, com apenas 44 anos e o time continuava mal no campeonato.E em agôsto, o mês das tragédias, o São Paulo resolvia excursionar na Bahia.  O jogo contra o rubro negro foi o segundo e notei meu pai preocupado no estádio, mas acabamos empatando ás duras penas por dois gols. E imagine, depois do sufoco, a diretoria teve a "cara de pau" de acertar uma revanche na semana seguinte para Aracaju, mas a partida terminou com um novo empate, desta feita por um gol. Foi nesse dia que jogaram em Salvador Bahia e CSA pela taça onde o tricolor ganhou por dois a zero eliminando os alagoanos.
O mês de setembro foi de desgosto, estávamos mal no certame baiano, a Argentina ganhou os jogos olímpicos e o Bahia eliminou o Ceará após dois empates. O jogo desempate foi no dia 29 tendo o tricolor vencido por dois a um. E o que dizer de outubro? No dia 14 morria o grande ator Errol Flynn, e quatro dias depois, inventavam um novo BA-VI. Nesse dia nem fomos ao estádio e confesso que liguei o rádio já no meio do jogo em virtude da preocupação.Mas deu pra empatar por um gol. Aliás nunca entendi porque chamam essas partidas entre a dupla de "amistosos"!

                   Perto da desgraça do Vitória essa é fichinha!

Mas continuaram as tragédias. No dia 23 morreria a cantora Dolores Duran(com apenas 29 anos) , uma semana depois, nosso rival faria a primeira partida contra o Sport ganhando por três a dois. Além da queda coice pois o tricolor ameaçava ir longe nesta tal de "Taça Brasil". Mas o consolo viria no último dia do mês quando o bahia foi arrasado na Ilha do retiro por seis a zero.
Confesso que, fora o meu aniversário, foi o único dia em que rimos lá em casa neste ano. Parecia que o ano não terminaria tão mal. Mas naquele tempo não havia saldo de gols, assim foi necessáriua uma terceira partida, e aí, empleno dia de finados, por mais incrível que possa parecer, o tricolor enterrou um Sport de "sapato alto e tudo" por dois a zero.
O Vitória havia parado de jogar amistosos, agora só perdia no campeonato local. De maneira que a nossa diversão era torcer contra o rival nesta tal de taça nas semifinais, onde tinham sobrado, além dele,  Santos, Grêmio e Vasco. As disputas começaram em 17 de novembro, mesmo dia em que morreeu Villa Lobos, o maior compositor de música erudita no Brasil, e Pelá e Cia despacharam os gaúchos por quatro a um. Depois tivemos que assistir pelo rádio o tricolor ganhar dos cruzmaltinos em pleno Rio de Janeiro pelo escore mínimo.

                         Cadê voce Pelé, porque se escondeu?
Mas, enquanto o peixe empataria em Porto Alegre, o esquadrão necessitaria de uma terceira partida para eliminar o Vasco pois perderia a segunda em plena Fonte Nova por dois a um. No dia 26 de novembro, enquanto os capitalistas viam com preocupação Che Guevara assumir a presidência do banco Nacional de Cuba o bahia passava pelo Vasco na Fonte Nova ganhando por um a zero.
Dezembro prometia fortes emoções. O Vitória continuava !ararstando lata" e o nosso inimigo juramentado iria decidir um título nacional. Até hoje acho que os paulistas desprezaram os baianos. Meu pai acompanhou com atenção naquele dia dez o jogo da Vila Belmiro. O Santos abriu o placar e levou uma "virada" tricolor. Aí foi "pra cima" e, despreocupando-se da defesa, conseguiu empatar mas tomou um gol de Alencar em cima da hora nos últimos minutos quando presssionava o Bahia.
A Fonte Nova estava superlotada na véspera do reveillon, quando acharam de colocar a segunda partida da decisão.É claro que eu e meu pai não fomos, azaramos o Bahia de casa mesmo. Mas perdemos uma exibição de gala de Pelá e Cia que fizeram pouco com os sonhos tricolores na fonte do futebol derrotando-o por dois a zero.

                          E  ainda tivemos de ler os jornais!


Parecia que o nosso sofrimento tinha terminado. O Vitória não arranjara nada naquele ano azíago, mas pelo menos o tricolor havia perdido as asas. Mas não perdíamos por esperar. O título não foi decidido na semana seguinte como mandava o regulamento. Pareceu coisa de liquidação de fim de ano quando se começa a pagar em abril.
Foi nesse mês que o ano de 1959 terminou para a Bahia. Depois de excursões do time peixeiro,das esperteza do dirigente Osório Vilas Boas, da contratação do técnico argentino  Carlos Volante, da seleçãoa baiana ser esmagada pelos paulistas no Pacaembu por sete a um, da contusão de Pelé e de outros jogadores santistas, o bahia ficou com á taça após vencer um peixe arrogante(3 X 1)no Maracanã que terminou a partida com sete jogadores.
Vade retro 1959, ninguém aguenta mais um, ano desses!

* Agradeço as informações do site Bola na Área, do Almanaque do Futebol Brasileiro e do Setor de Periódicos Raros da BCE.

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