terça-feira, 24 de maio de 2011

O fim do mundo


         
                                                                       O Senhor mesmo descerá do céu com grande brado,
                                                                       á voz do arcanjo, ao som de trombetas de Deus,
                                                                       e os que morreram em Cristo ressucitarão primeiro.
                                                                       Depois nós, os que ficamos vivos, seremos arrebatados 
                                                                       juntamente com eles(...)
                                                                                                    Paulo, em Tessalonicenses, 4:15-17

Não aguento mais ver marcar e adiar o fim do mundo. Esssa história é um saco! Todo dia chega um guru ou profeta novo anunciando a descoberta de um dia final. A Family Radio já anunciou isso no  mês passado  e até Lars von Trier levou o fim do mundo pra Cannes. Marcaram até hora e nada. A última que sobrevivere é o negócio do calendário maia mas pelo menos neste temos ainda mais ujm ano. 
E cada um é mais trágico na libertação da terra das impurezas. Tem quem diga que o fim dos tempos ocorrerá com um grande incendio, tem que vaticine um grande terremoto, mas tem que não deixe por menos de um choque de planetas ou a absorção da terra por um buraco negro. Eu prefiro mesmo as testemunhas de Jeová que não marcam dia nem hora.
Mas o que muita gente não sabe é que o fim do mundo já aconteceu e foi na Bahia. Teve até hora, foi pouco antes das seis da tarde do sábado de 28 de outubro de 2006. E não foi nada tão dramático como desta xaropada de diluvio universal ou choque de planetas. É bem verdade que os profetas acertaram alguma coisa. Afinal causou um verdadeiro terremoto a derrota do EC bahia pelo Ipatinga de Minas naquele dia. Além disto tinha o calendário nacional de futebol. E, como todo mundo sabe, só poderia acontecer na Fonte Nova.
                                           Este fim de mundo vai virar musica do Olodum!

Sem qualquer outro acontecimento 2006 já seria aliás o fim da picada para o futebol baiano. Afinal o que poderia ser pior do que ter a dupla BA-VI na Terceira Divisão? Mas a vida mostraria que a coisa ainda podia piorar.
Naquele ano os dois clubes progrediram na Terceirona aos trancos e barrancos, e assim passaram pela primeira e segunda fase chegando à fase final onde estava previsto a realização de um octogonal de onde se classificariam quatro para a Segundona. Parecia fácil, ainda mais que os companheiros de infortúnio da dupla eram XIII de Campinas (PB), Ferroviário (CE), Ipatinga (MG), Criciúma (SC), Grêmio Barueri (SP) e Brasil (RS).
Mas as primeiras rodadas da fase final já mostravam que a coisa não seria nada tranquila. Tudo começou no dia oito de outubro quando os dois jogaram fora de casa. Mas, enquanto o Bahia perdia em Criciúma o Vitória ganhava ali perto do Brasil, ambos pelo escore mínimo. Na Outra semelhança se verificou na segunda rodada, que ocorreu quatro dias depois, quando ambos empataram seus jogos em casa, desta vez invertendo os adversários.  

                      Desde essa época já estavam esperando!

E, logo depois, a dupla se solidarizaria na derrota fora de casa, o tricolor perderia na Paraíba e o rubro negro no Ceará. Salvaram-se, porém, na quarta, quando se inverteram os adversários e venceram bem na Fonte Nova e no Barradão. Os altos e baixos, entretanto, prosseguiam, e levariam a nova derrota fora de casa na quinta rodada, a do Bahia em Barueri e a do Vitória em Ipatinga.
Foi então que chegou ao dia final de 28 de outubro de 2006. Na ocasião ambos jogariam em casa onde, pelo menos neste certame, haviam se acostumado a vencer. O rubro negro enfrentaria o tal do Barueri e o tricolor o Ipatinga do interior de Minas Gerais. Na ocasião ambos estavam fora da zona de classificação. O Ipatinga era o líder com 12 pontos, depois vinham o Criciúma, com 10 pontos e o XIII e o Barueri com 9(acredite!).
Só então é que aparecia o Vitória, em quinto lugar, com 7, o Ferroviário, com 6, e o Bahia, em penúltimo lugar, com 4. Onde estavam as mais caras tradições do futebol baiano deixando que centros esportivos que consideravam inferiores passassem em sua frente? Esta sétima rodada jogava praticamente a sorte dos baianos. Se não ganhassem dificilmente poderiam aspirar a classificação, ainda mais que logo a seguir viriam dois clássicos BA-Vis.

                                            Pô, é sacanagem acabar com a Cidade Baixa!

O rubro negro até que iria bem. Ao ganhar as duras penas do Barueri entrou na zona de classificação, onde, apesar dos percalços, se manteria até o fim logrando voltar para a Segundona. Mas o mesmo não aconteceria com o tricolor. E as coisas também se definiriam neste dia de terror.
O Bahia entrou em campo naquele sábado com Darci, Dadico, Rodrigão, Emerson e Peris; Salvino, Sandro leite, Luís Alberto e Elias; Isac e Sorato, e seu técnico era Lula Pereira. Enquanto isso o Ipatinga de Alexandre Barroso, colocava em campo Rodrigo Rosso, Luizinho, Matheus, Henrique e Léo Oliveira; Jailton, Leandro Salino, Charles e Everton; Luizinho Paulista e Diego Silva.  A arbitragem estava a cargo de um trio nada elétrico sergipano, conduzido por Antônio Hora Filho.
O final dos tempos, porém, não se circunscreveria ao campo. Após um começo promissor o tricolor foi cedendo espaço para o Ipatinga que acabaria por dobrar o primeiro tempo com um gol de vantagem, feito por Luizinho Paulista no gol do Dique do Tororó. Quem ouvisse o clima nas arquibancadas já poderia ter uma ideia do que poderia acontecer. A raiva com a diretoria e os jogadores era praticamente incontrolável e se mostraria inclusive nos próximos resultados.
Essa é taca!

O time do Bahia era um arremedo em campo. E nem a Fonte Nova conseguia assistir, salvando-se talvez, jogadores como Elias e Sorato. O início do segundo tempo pareceu mostrar alguma reação. Afinal, o Bahia atacava para o Dique onde estava localizado o núcleo de sua grande torcida que esperava uma reação. Nesse momento, porém, ocorreu a primeira tragédia quando um choque entre os jogadores Dadico (Bahia) e Charles (Ipatinga) deixaria os dois jogadores desacordados em campo. E foi logo após que o mundo começou a vir abaixo com um novo gol de Luizinho Paulista selando dois a zero no placar.
Pois bem, bastou o operador mudar o placar para acontecer os primeiros movimentos no estádio. Inicialmente foi um pequeno grupo de torcedores que começou a pressionar o portão de acesso ao campo, o que foi rapidamente reforçado por outros, na medida em que poucos policiais para lá acorreram.
Quebrado facilmente este obstáculo o grupo penetrou na pista estimulando a que muitos torcedores saltassem diretamente da arquibancada para o fosso que cerca o gramado. O juiz Antônio Hora Filho parou quase de forma incontinenti o jogo ainda antes dos quinze minutos. Sucederam-se então cenas de selvageria e horror.

                                              Se for só com agua é canja pros baianos!

É que os soldados da PM, que haviam sido incompetentes em barrar a entrada de poucos ao gramado agora se voltavam contra a verdadeira multidão que acabara invadindo o campo. E olha que os primeiros torcedores que haviam conseguido chegar aos jogadores tricolores na verdade os abraçavam e se ajoelhavam em campo pedindo garra, espirito de luta e amor por sua equipe.
Mas o major Ricardo e seus comandados não estavam nem aí. Foram desocupando o campo através de cacetetadas, bombas de gás lacrimogêneo e agressões, chegando a dar pontapés em um torcedor que já estava estirado em campo. Não contentes com isso passaram a carregar os feridos para fora do gramado (visando continuar que jogo?) e jogaram bombas nas arquibancadas onde os demais torcedores assistiam incrédulos o que ocorria.
A esta altura várias ambulâncias chegaram ao estádio para recolher os cerca de quarenta feridos que se encontravam deitados no gramado e foram cercadas pela PM como se algum torcedor tivesse interesse em ataca-las.  Os torcedores foram conduzidos ao Hospital Geral do Estado (HGE) e os dois jogadores passaram a noite internados no Hospital Jorge Valente.
                                                   Isso é fim de mundo de americano!

A torcida neste dia foi pra casa quadruplamente machucada. O seu time havia perdido e ficava na vice-lanterna do octogonal, o rubro negro ganhou do Barueri (1 X 0) e entrava na zona de classificação. O STJD daria o golpe final nas pretensões do Bahia naquele ano interditando a Fonte Nova, suspendendo o mando de campo do Bahia por oito jogos e intimando-lhe a pagar uma multa de 140 mil reais. Mas o maior castigo foi deixar o tricolor longe de sua torcida, obrigando-o a jogar em Feira de Santana com portões fechados.
Nesse dia mesmo os mares começaram a cobrir as terras e os incendios a se propagarem por todas as partes em que viviam humanos. As aguas do Dique do Tororó cobriram até a Fonte Nova pois nem precisava dela pros demais jogos do tricolor. Deixaram porém Canabrava tras partidas do Vitória embora houvesse tricolor que pedisse a Deus pra levar o estádio. 
Mas desta vez Deus faria o fim do mundo por etapas, aliás Ele mesmo queria ver onde iria bater a dupla BA-VI.  A próxima partida seria no Dia de finados, e foi neste ambiente que as almas penadas daquele time saído do cemitério tricolor conseguiriam recuperação ao derrotar seu arquirrival dentro do Barradão por dois a um. Mas, logo a seguir perderia em feira pelo mesmo placar. No dia oito de novembro voltaria a jogar com o Ipatinga, agora em Minas, perdendo mais uma vez (1 X 3).
                                               Mas o planeta bateu justamente na Bahia?

Naquele tempo ainda não haviam aderido á moda de contratar jogadores toda segunda feira que o time perdia. Também ainda não existia o presidente-político Marcelo Guimarães. De maneira que o time não saiu do lugar. Quatro dias depois suaria pra ganhar do Barueri no Estádio Joia da Princesa por quatro a três.
O que viria depois faria a torcida tricolor desacreditar de vez da chamada república brasileira. Como é que esta permitia que o time fosse humilhado e enxovalhado pelos cearenses apanhando pelo fantástico escore de sete a três? Realmente esta “república” seria muito ingrata com os seus filhos, particularmente com os que viviam longe do Sul. Aquilo é que era realmente o fim do mundo pra torcida tricolor. E o pior é que o rubro negro praticamente conseguia sua volta á Segundona ao ganhar do Treze por quatro a dois em Campinas.
A campanha do tricolor neste certame foi digno do fim do mundo. Serviu de consolo ganhar do Treze (3 X 1), embora perdesse do Brasil (0 X 1) e empatasse com o Criciúma (2 X 2), não lhe servindo de consolo nem a goleada tomada pelo seu rival em Criciúma quando já havia subido de divisão.
                                                                 Fizeram até filme!

Mas uma boa notícia. Deus passou a dar tanta risada com o futebol que adiou, ele  também, o fim do mundo pra outra hora. A tragédia do Bahia antecipou o fim do nosso histórico estádio. Um ano depois, mesmo que o clube conseguisse subir de divisão, num jogo contra o Vila Nova (GO) cede um trecho da arquibancada matando sete torcedores. Aí seria definitivamente interditada a praça de esportes.  Foi outro fim do mundo, marcado, datado, mas não realizado. Esse Deus...

·        Agradeço ao jornal A Tarde, á Agência Estado, a Erick Issa, e aos blogs hypescience, Lustosa. net, voudekombi.blogspot.com.

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