quarta-feira, 25 de maio de 2011

Os piratas da Bahia


Todo dia tenho que falar neste blog contra a danada da discriminação contra a Bahia. A última foi a dos piratas do Caribe. Eu pergunto: porque apenas no Caribe? Quem disse que esta região tem privilégio na pirataria? Será que não sabe que o Brasil e a Bahia foram infestados de piratas?
E a pirataria de hoje onde se falsifica de tudo e vende sem autorização de seus proprietários que campeia no mercado exterior? Pra que maior pirata que a China que falsifica oficialmente qualquer produto? E os EUA que arranja guerras pra ficar com o petróleo dos países? Chegaram até a fazer a conta de que a pirataria reconhecida faz evadir bilhões de dólares por ano de impostos e impede a criação de milhares de empregos
Pirata é uma das "profissões" mais antigas do mundo. Muito antes da Grécia antiga já existiam. Tanto os por conta própria como aqueles governamentais. Na época os gregos roubavam dos mercadores fenícios e assírios. Os romanos pilhavam os turcos. O costume entrou pela chamada “Idade Média” quando os normandos pilhavam os bretões e todo mundo tirava um pedaço do Império Romano.

                                                      Quer mais pirata do que este?

Até os muçulmanos, com Allah e tudo, pilhavam as costas da África até a chegada dos portugueses que foram os que mais pilharam, inclusive sequestrando as populações locais pra trazer para as Antilhas, a Ilha da Madeira e o Brasil. Ou seja, o Caribe entrou nesta história na mesma época que o Brasil, embora isso não seja reconhecido por esses filmes chinfrins!
Só hoje é que se precisa fazer cursos pra pirata e que esse precisa de ter a profissão regularizada pelo Congresso Nacional. Antigamente não tinha essas coisas, qualquer um podia ser. A maioria eram ex-marinheiros e homens do mar que queriam obter riquezas. Outros eram fugitivos da justiça ou ex-escravos. Seus navios eram pequenos e rápidos e muitos alçavam a bandeira negra da pirataria.
Tinham uma ética própria, não matando só por matar como se faz hoje, deixando pra atacar um navio ou uma cidade que “valesse a pena”, entenda-se, de onde saísse dinheiro ou ouro.  O capitão e o sub capitão levavam uma parte maior do botim, mas todo homem tinha direito á sua parte do roubo... digo das riquezas apreendidas pelo fisco pirata.
                                              Dizem que enterraram tesouros em Brotas!

Se alguém largava a “profissão” era abandonado numa ilha deserta com garrafas de água e de pólvora, arma e munições. No entanto, se roubasse, lhe davam apenas uma bala. Quem desrespeitasse o código deveria ser punido com quarenta chibatadas nas costas. É claro que havia o que adotavam castigos mais cruéis como cortar as orelhas e o nariz. Imaginem se fizesse isso com os piratas brasileiros!
No auge da piratagem os piratas controlavam cidades, traficavam mercadorias, consertavam navios e recrutavam novos piratas. Tive um até que virou nobre na Inglaterra, Francis Drake. Os compêndios de história da pirataria dizem que, á medida em que não foram mais de interesse dos poderosos, os piratas passaram a ser caçados e se reduziram a atuar em regiões como na China, no Caribe e Sudeste Asiático. Foi a necessidade dos piratas de fugir ás pressas e enterrar suas riquezas que originou o mito do caça a tesouros.
Os portugueses entraram neste negócio desde o Século XIV quando a pirataria era coisa de Estado chegando a ponto de pagar um quinto de seus lucros ao rei. Na época valia tudo pra enfraquecer o domínio muçulmano de Granada. E o que fez Vasco da Gama (o navegador não o time) nas África a não ser pirataria?
                                               Veja como parecem piratas esses juízes!

Mais tarde a França e a Inglaterra estimularam a pirataria contra os domínios espanhóis e portugueses na América e os holandeses vieram piratear Bahia e Pernambuco. Se você vê a lista de piratas notáveis vai encontrar conhecidos. Thomas Cavendish por exemplo foi o capitão dos piratas que assaltaram São Vicente, atual São Paulo. Verifiquem que tem até um bucaneiro chamado de Roc Brasileiro!
Mas os estudiosos nada sabem na pirataria brasileira pois quando surgiu o futebol a pirataria "comeu solto" no Brasil e na Bahia. Ao ser introduzido o profissionalismo no “esporte bretão” por aqui uma das primeiras coisas que os piratas inventaram foi a venda do passe dos jogadores. Aí foi tal de trafico que ninguém aguenta.
Foi nos anos trinta que a pirataria voltou á Bahia. Estava meio em baixa pois a União havia resolvido controlar os falsários baianos pra acionar a guitarra do Ministério da Fazenda. Só para ter uma ideia quando D. João aqui se imprimia 40% da moeda falsa. Nessa época os piratas haviam se aposentado como agiotas e intrujões e viviam sem grandes luxos. Mas aí resolveram explorar novos negócios com o profissionalismo no futebol, passando a apostar nos resultados dos jogos. Desde esta época passaram a acontecer coisas muito estranhas em nosso futebol.
                                                Os piratas fazendo negócio em Itapoan!

Tudo começou antes do carnaval de 1932. Nesta época iria acontecer um jogo entre o recém criado EC Bahia e um combinado baiano. Ora, parecia canja a vitória do selecionado mas os piratas baianos resolveram pagar a três por um por cada gol que a seleção tomasse. Foi uma das maiores barbadas da paróquia com os torcedores pensando que iriam ganhar uma grana nas costas dos piratas. E entraram pelo cano pois o tricolor ganhou estranhamente por nove a um passando da conta dos piratas.
A atividade, porém, não era permitida por lei, embora muitos a fizessem como é costume na Bahia, “por baixo do pano”. Só no ano seguinte atacariam outra vez, quando o São Cristóvão visitou a Bahia. Deixaram pra fazer isso no jogo contra o Galícia, conhecido como demolidor de campeões. O time carioca vinha de dois jogos discretos onde perdera pro Vitória na estreia (1 x 2) e ganhara a duras penas pro Dois de julho (3 X 2). Aí deram sete gols de vantagem pra quem apostasse e choveu gente na Graça. Os espanhóis foram os que mais investiram. No final, mais dinheiro pro bolso dos piratas, oito a um para o São Cristóvão que engrenaria de vez a excursão.
Depois disso houve uma reunião no palácio do governo. O próprio Juracy Magalhães interveio. Afinal tinham feito uma revolução pra acabar com o coronelismo e a corrupção, como é que podia acontecer uma coisa destas, piratas roubando... digo ganhando mais do que os governantes? Aí os piratas se esconderam por alguns anos. Passaram a falsificar as novas caminhonetes e bondes e entrar no ramo das comunicações.

                                             Perto dos piratas baianos esse era fichinha!

Mas assim que passou o regime de Getúlio voltaram novamente na época de Dutra. Foi em 1947 quando o Paissandu visitou a Bahia e já estavam construindo a Fonte Nova. Os paraenses estrearam enfrentando o forte Guarany, que havia sido campeão do ano anterior, e venceram por três a dois. Aí os piratas baianos espalharam pra todo mundo que eram tricolores desde criancinhas e estavam dando de novo sete gols de diferença no jogo da semana seguinte.
Mais uma vez vieram a Graça se encheu de apostadores. Dizem que ninguém viu o jogo ficando apenas no escritório dos piratas. Imaginem que a própria imprensa transmitiu as apostas que chegaram a pagar cinco por um. Mas quem é que sabe o que fazem os piratas? O resultado foi que mandaram o verdadeiro Paissandu para o Pará e arranjaram um falso que perdeu pro Bahia de sete a zero.
O episódio só não saiu no Jornal nacional porque este não existia. Octávio Mangabeira não admitiria mais a presença de piratas na Graça passando a ser inspecionados os torcedores. Quem chegava com lenço na cabeça e tapa olho não entrava de jeito nenhum. Aí os piratas tiveram que “dar um tempo” e só voltariam quando foi criada a Fonte Nova.
                                                Que é isso, é uma convenção de piratas?

Deixaram passar o governo de Mangabeira e, em março de 1953, durante o de Regis Pacheco, atacaram de novo, e justo no torneio que iria homenagear o governador. Esse dia nunca será esquecido na Bahia, onde jogaram Vasco X Ypiranga, Flamengo X Vitória e Bahia X Internacional (RS). Aí os piratas espalharam que dariam seis gols de “lambuja” nos três jogos pra quem quisesse apostar.
Ora, desta vez todo mundo achou que iria ganhar dinheiro. Pagou dez por um. Até Dona Mariquinha pegou suas economias e foi ao estádio. É que, vá lá, uma tragédia poderia acontecer em algum jogo, mas nos três nunca! A fila de apostas chegou a subir a Ladeira da Fonte das Pedras. Aí os piratas agiram. Colocaram uma baiana de acarajé nos vestiários dos clubes baianos que tiveram de se apresentar com os aspirantes. Resultado, oito a um para o Vasco, sete a um para o Inter e oito a dois para o Flamengo. Os piratas ganharam “os tubos” mas o dia 15 de março de 1953 foi de desgraceira geral do futebol baiano.
Regis Pacheco nunca se esqueceu desta ofensa que exculhambou seu governo. Vetou de todas as formas o ingresso de piratas na Fonte Nova. Desse dia em diante a pirataria passaria a ser oficial. Extorquiu a recém criada PETROBRAS para que se encarregasse de fazer as estradas do Recôncavo. Começou a fazer da Pituba um inferno de condomínios e passou a bola pra Antônio Balbino continuar o trabalho. Este chegou até a copiar o Plano de Metas de JK pra esvaziar as atividades dos piratas.


Os pobres piratas “se viraram” pra sobreviver. Inventaram o jogo do bicho, aderiram a frota de ônibus que foi criada, pegaram dinheiro na SUDENE pra fazer indústrias no CIA largando as fábricas logo que acabaram as isenções, e, mais tarde, entraram no ramo da especulação imobiliária. Foi nesta última que se esqueceram do futebol pois deram seu lance mais genial, a de se apossarem dos terrenos da Avenida Paralela antes que fosse tão valorizada.
Não havia pirata que aguentasse tanta facilidade. Mas, mesmo estando meio sumidos, apareciam de vez em quando na Fonte Nova. Conta-se que falsificaram a defesa do Vitória em 1966 quando este decidiu o título com o Leônico, que apostaram que a Copa do Mundo viria para a Bahia (foi uma mini copa em 1972 mas valeu!) e que trocaram a bola do jogo final de 1979 quando o goleiro Gelson tomou um frango antológico contra o Bahia.
                                      Naquele tempo ainda apareciam no Dique do Tororó!

Mas a concorrência estava muito grande.  Desde a finada CBD se falsificava idade para traficar jogadores com o exterior e se vendia gato por lebre nas excursões ao exterior. A confederação que viria a lhe substituir, a CBF, se revelou um reduto de piratas, João Havelange, Heleno Nunes e Ricardo teixeira. Este último está lá até hoje. Esteve por trás da maracutaia das negociações sem separado da Globo com os clubes do campéonato brasileiro e acaba de ser denunciado na Inglaterra por receber propina pra aceitar que o país fosse sede da Copa do Mundo.

·         Agradeço ao Almanaque do Futebol Brasileiro,ao site Wikipédia e aos blogs prof-tathy.blogspot.com,guiadicas.net,universodoslivros.com.br e cafehistoria.ning.com. .

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