sexta-feira, 27 de maio de 2011

O turista


Já estou me preparando pra amanhã á tarde. Ao invés de assistir esse jogo chinfrim entre Barcelona e Real Manchester United em Londres eu vou é ver o jogão entre Vitória X Icasa em Juazeiro do Norte. Temos que acabar com essa mania das coisas europeias no Brasil em detrimento do Nordeste.
Quem quer saber de Messi, Puyol, Xavi, Van der Sar e Rooney se temos Nino Paraíba, Neto Baiano, Marcelo Pitol, Wanderson Cafu e Marciano?  Pra que Guardiola e Ferguson se temos Dado Cavalcanti e Geninho? E, além disso, ao invés do jogo ser apitado por esses chatos juízes europeus vamos ter três juízes autenticamente potiguares.
Não entendo porque esses comentaristas esportivos ficam endeusando estádios como o de Wembley. Até parecem a oitava maravilha. Imaginem que lá não se encontra nem açaí, nem suco de jaca ou uma cerveja gelada. Não tem camelô vendendo churrasquinho de gato nem uma simples baiana de acarajé. Como é que agente pode acreditar nesse tal primeiro mundo?
                                                        Esse é o nosso Guardiola!

Esse negócio de se preocupar mais com os europeus do que com a nossa realidade acaba produzindo filmes como O turista. Imaginem que o diretor Donnersmark engana o pobre do espectador e mostra que os policiais europeus são um “monte de babacas”. Vemos que sonegar imposto de renda lá não dá em nada tal como acontece no Brasil.
O filme quer nos convencer que nem a mulher do bandido sabe a sua aparência. Bota o cara pra fugir o tempo todo, embora só no luxo de Paris e Veneza, e no final quem é preso é seu concorrente de ladroagem. E olhem que ainda quebram um bocado de telhas da cidade dos canais. Uma pena que Angeline Jolie e Johnny Deep não façam coisa melhor.
Aqui na Bahia vimos turistas muito melhores do que esse e mais importantes. Uma delas vou contar no artigo de hoje. Foi quando a seleção brasileira saiu do eixo Rio-São Paulo pela primeira vez. No Brasil se diz que o país é uma “república” cujo poder “emana do povo” e que impera a união entre estados iguais.
                                                Naquele tempo tinha que viajar de navio!

Mas isso é discurso pra inglês ver e fica claro com nossa seleção dita nacional. Imaginem que levou nove anos pra convocar o primeiro jogador fora daquele eixo maligno, o baiano Mica do Botafogo. E, só sairia do Sul vinte anos depois de criada, e exatamente pra vir ao Nordeste.
É bem verdade que o Brasil não foi aquele que acostumamos a ver desde 1938. Teve polêmicas até em ceder jogadores e a CBD teve que aliciar jogadores pra ir á Copa do Mundo na Europa. Nos primeiros trinta minutos da partida de estreia contra os espanhóis já estava perdendo por dois a zero embora Waldemar de Brito houvesse pedido um pênalti. Iriam para o intervalo tomando três e graças a deus a Espanha não fez mais anotando Leônidas nosso gol de honra. Seria desclassificado de primeira ficando em 14º lugar só ficando á frente da Bélgica e dos Estados Unidos.
Mas pra pagar o rombo do caixa pelo aliciamento de jogadores a seleção teve que realizar mais partidas e acabou passando dois meses na Europa, inclusive pra que jogadores e dirigentes pudessem desfrutar de uma mordomia. A primeira partida desta mini - excursão foi um desastre com nossa seleção caindo pra Iugoslávia pelo esdrúxulo placar de oito a quatro!
                                           Angeline esparando o jogo num "apê" da Graça!

Mas, quando ameaçaram acabar com a farra europeia as coisas melhoraram. Empatou em Zagreb com o Gradzanski sem gols, ganhou do Barcelona (4 X 0), de um combinado de Portugal (4 X 2), do Sporting (6 X 1), e, por fim, empatou com o Porto sem gols. Salvou-se Leônidas da Silva. A volta da seleção foi muito discreta, pois não houve jogador que deu desculpa ao clube de estar doente.
A primeira cidade que o Brasil visitou foi Salvador, aonde chegou ás vésperas da celebração da chamada independência do país. A escolha não foi aleatória. É que, seis meses antes, a Bahia havia vencido o campeonato brasileiro de seleções, a única vez em que tal façanha ocorreu. E parou tudo pra ver. Mas não dispensaram a realização da importante partida que iniciava o segundo turno, Energia Circular 4 X 2 Fluminense FC.
A estreia do Brasil foi um agito só. Todo mundo quis ir á Graça. Imaginem as senhoras granfinas com a bunda naquelas velhas arquibancadas de madeira... Meu pai me disse que encheu e achou que a seleção estava com muita raiva do Galícia por ser o time da colônia espanhola. Diz até hoje que descontou a desclassificação do jogo contra a Espanha no pobre do Galícia fuzilando-o pelo astronômico escore de dez a quatro.
                                            Cara do torcedor quando viu Angeline Jolie!

A apresentação da seleção causou verdadeiro pavor no restante dos clubes. O próximo era o Ypiranga cujos jogadores tremiam mais do que vara verde. É bem verdade que o mais querido havia ganhado também o azulino no turno mais foi somente pelo escore mínimo. Aí colocaram os onze na defesa pra ajudar o fenomenal zagueiro Popó, ao ponta Almiro e ao meia Pedro Braz deterem os comandados de Leônidas e Valdemar de Brito.
O jogo foi dois dias depois e o Brasil não teve dó nem piedade do mais querido goleando-o com retranca e tudo por cinco a um. O pavor continuou se espalhando pela cidade. O próximo clube que os jogadores não conseguiram dormir foi o EC Vitória. E foi num belo dia de domingo de tarde que os rubro negros, com alguns jogadores emprestados, compareceram ao bairro da Graça pra mais um jogo da seleção. As apostas corriam soltas e só meu pai não esperava mais de cinco.
Mas os craques da seleção teriam uma surpresa com o decano dos esportes da Bahia. Afinal o rubro negro tinha jogadores como o goleiro De Vecchi, os zagueiros João Silvino e Mila, e ainda os eficientes Dudu, Raul e Romeu.  Os jogadores rubro negros se agigantaram em campo, lutaram como leões e venderam caro uma derrota por apenas dois a um, num resultado que se manteria até hoje, quase oitenta anos depois, como a menor vitória do Brasil em jogos contra clubes baianos.
                        Torcedores do Vitória que viram o Bahia tomar de oito da seleção!

Aí a coisa mudou alegrando os tricolores que eram os próximos adversários. Se os leões da Barra que vinham mal no campeonato, pois haviam perdido as duas últimas partidas pro Ypiranga (2 X 6) e Fluminense FC (4 X 5), conseguiram esse resultado o que o glorioso Bahia podia fazer? O pessoal surfou na maionese esperando, quem sabe, até ganhar da seleção.
Os tricolores vinham se preparando por semanas pra aquela quarta feira, dia 16 de setembro, e não quiseram enxertar a equipe pra elevar as glórias do Bahia. Não podemos esquecer que o Bahia tinha quase um time inteiro na seleção baiana vitoriosa. Ali jogavam o goleiro Nova, o zagueiro Bisa, os meias Milton, Gia e Astério, os pontas Pelágio e Sandoval, e ainda Guga, Bayma e Betinho, Afinal, estavam na liderança do campeonato baiano, o qual iriam ganhar esse ano pela terceira vez.
                                                          Olhem aí o turista!

Mas o que iria acontecer no campo da Graça seria um verdadeiro massacre quando o ex -  esquadrão de aço foi buscar por várias vezes a bola nas redes, oito a um pra seleção. Uma verdadeira “desgraceira no caminho da feira”, que obrigou a própria seleção baiana, campeã brasileira, a enfrentar no domingo os visitantes.           
A seleção baiana que entrou em campo era quase a mesma daquele luminoso onze de março quando venceu os paulistas por dois a zero ficando com o título. Usou jogadores do Vitória, Bahia, Ypiranga, Fluminense e outros clubes, e mostrou porque ganhou o título brasileiro. Foi um jogo magnífico Brasil X Bahia, digno de campeões, sendo que ao final levou vantagem a seleção dita nacional, vencendo os baianos pelo escore apertado de dois a um.
Os baianos se despediriam da Bahia enquanto esta continuava o seu campeonato, indo pra Recife massacrar os clubes de lá. Fez jogos notáveis em Pernambuco que nunca serão esquecidos, mas perdeu a sua invencibilidade para o clube coral que hoje está na Quarta Divisão, mas que á época conseguiu a façanha de derrotar a seleção brasileira por três a dois.
Foi aí que o Bahia decidiu pedir revanche á seleção. Aqueles oito a um estavam engasgados na garganta dos tricolores e aí mexeram tudo quanto foi “pauzinho” pra que a seleção, na volta de Recife, passasse de novo em Salvador. Além do mais havia começado muito bem o segundo turno do certame baiano ganhando de cinco a zero do forte Fluminense FC.
                                 Ah Angeline Jolie!

Dito e feito. Bastou dar uma grana pro caixa dois da CBD que resolveu o assunto. A seleção brasileira passou aqui de navio antes de seguir para o Sul. Mas nem tirou as malas do barco indo direto pro estádio da Graça onde massacrou novamente os pobres tricolores por cinco a um. E não é que estes ainda cantaram vitória dizendo que desta vez haviam tomado só de cinco?

·          Agradeço aos sites RSSF Brasil, Adoro cinema, campeões do futebol e aos blogs books. google, ambrosia.com e naoentendonadadecinema.blogspot.com.

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