domingo, 29 de maio de 2011

Os serial killers


Os assassinos em série são um típico produto da sociedade capitalista moderna quando se estabelece uma sociedade hiper individualista, onde tudo que antes era humano se transforma em mercadoria e a vida cede o lugar ao lucro. Trata-se de um psicopata, que comete crimes com certa frequência, e tem um modo de agir que lhe assegura identidade. Apesar de muitos deles parecerem plenamente integrados na sociedade desfrutando por vezes de respeitabilidade tem temperamento anti social.
Os serial killers não perdem tempo com classificações de sadomasoquismo, perversão, antropofagia, e outros preconceitos, em tempos de mídia integrada onde tudo vale por uma boa notícia, continuam deixando vítimas na nossa sociedade “civilizada” onde cabe perseguir e até eliminar adversários, porém tudo conforme a lei e as convenções. Só há uma diferença, enquanto a maioria dos assassinos em série são pegos em Hollywood os assassinos do dinheiro público continuam por aí até hoje.
Desde o mais famoso, Jack o estripador, espalharam-se as ocorrências em todo o mundo, merecendo destaque a Meca dos serial killers, os Estados Unidos. O Brasil, onde as classes dominantes imitam em tudo o American way off life, já vem fazendo muitos progressos nesta área onde promete virar também país de primeiro mundo. Basta lembrarmos-nos de casos como do bandido da luz vermelha, do maníaco da lanterna e de Wellington, o criminoso de Realengo.
                                                                  Um dos assassinos!

Desculpem-me, mas não posso deixar de destacar a nossa Bahia. Afinal, não foi aqui que Dom João de Portugal mandou esquartejar e espalhar pela cidade os pedaços de participantes da Conjuração baiana? E o que dizer dos crimes do famoso Delegado Quadros nos anos setenta e do aniquilamento da família Souto Maia no bairro da Graça? Há aqui até uma associação de serial killers que vai me processar se eu esquecer que Matheus, que metralhou os espectadores de um cinema de São Paulo, também era baiano.
Mas uma das maiores injustiças que se pode fazer é esquecer a contribuição da Bahia nesta matéria desde a introdução do futebol. Foi aqui que foram perpetrados os maiores assassinatos esportivos que se tem notícia. E os casos não tiveram solução até hoje, o que quer dizer que ficaram por isso mesmo.
Vamos dar apenas alguns exemplos. No início do ano de 1927, muito antes de Marcelino Souto Maia, começaram a ocorrer estranhos assassinatos no bairro da Graça com um intervalo de três a quatro dias entre um e outro. O primeiro ocorreu no dia 30 de janeiro sendo a vítima a equipe do Ypiranga degolada por dois a um. Três dias depois, não tiveram nem pena do decano dos esportes, o Vitória, que foi trucidado por quatro a um. Seguiram-se depois o retalhamento do Botafogo (1 X 3) e, por fim, o corte em fatias de um selecionado de Salvador (0 X 3).
                                                          Nossa, esse é o de Psicose!

Na época uma investigação apontou várias pistas. O criminoso se vestia de branco, era carioca, levava suas vítimas para o gramado do estádio da Graça, e ainda gostava de ser chamado de “São” Cristóvão. Mas como já existia um time com esse nome na Bahia que não ganhava de ninguém ficou o dito por não dito nada sendo apurado
Mas dois anos depois voltaram a ocorrer crimes em Salvador, e no mesmo bairro. Foi em maio de 1929 e tiveram o abandono de suas vitimas no campo de futebol. Desta vez as vítimas foram ilustres, os próprios clubes da elite baiana Baiano de Tênis e Associação Atlética, e o assassino preferiu a arma branca esfaqueando o primeiro quatro vezes e oito ao segundo. Depois vieram o Ypiranga e o combinado Fluminense-Guarany, que tomaram cinco facadas.
Assassinos!

Foi um horror, afinal bastava uma facada pra matar. Na Graça as pessoas ficaram até com medo de sair de casa. Houve até quem debitasse os crimes á Liga Bahiana de Desportos Terrestres por ter permitido que clubes populares como o Botafogo e Ypiranga participassem do campeonato. Quanto á Polícia só conseguiu saber que o assassino tinha sotaque do interior paulista e atendia pelo apelido de “peixe”.
                                             Sacanagem, esquartejaram até a estátua de Pelé!

Os serial killers pararam de matar. Quatro anos depois a matança voltou, agora na Vitória. Era o mês de agosto das tragédias e os assassinatos comeram solto. Desta vez cortou pescoços, da comunidade espanhola (atingindo o Galícia por oito a um), dos diabos rubros (5 X 0) e do mais querido (3 X 2). Não poupou sequer a data magna dos baianos, guilhotinando o Dois de Julho (2 X 3).
Só depois de muita investigação que se lembraram de que a Vitória fica perto da Graça onde tinham ocorrido os crimes anteriores. Mas desta vez chegaram bem perto do assassino descobrindo seu modus operandi pois duas quase vítimas conseguiram escapar pra contar a história. O Vitória (que ganhou de dois a um) e o Bahia (que empatou em um gol) disseram que o assassino era o mesmo de 1927, pois falava o idioma carioca, e agia em grupo, de preferencia com onze asseclas, e que tinha ainda massagista e dirigente.  Chegaram perto mas não deu pra pegar.
E acreditem que, dois anos depois, em maio de 1937, o maníaco carioca atacou mais uma vez aterrorizando desta vez a Barra Avenida. No dia 16 matou o Ypiranga na Oito de dezembro por seis a um, três dias depois foi a vez de o Galícia ser estripado em plena Euclides da Cunha por cinco a um. E, em seguida, assassinou covardemente a machadadas Bahia (2 X 0), Botafogo (4 X 3) e Vitória (7 X 2) na própria Rua da Graça.
                                                    Tava russo o negócio por aqui!

Era demais. “Estava na cara” que era o mesmo criminoso de 1927 e 1933 mas a Polícia não podia com ele. Chegou até a mandar investigadores para Nova York pra ver se aprendiam com os americanos.  Enquanto isso um verdadeiro terror tomou conta da elite que naquele tempo habitava naquele bairro.
Mas em abril de 1939 os assassinos atacaram de novo. Em poucos dias esfaquearam Bahia e Ypiranga três vezes. Os crimes aconteciam desta vez no Porto da Barra e deixavam as pessoas de cabelo em pé. Mas desta vez haviam escapado  Galícia(1 X 2 e 3 X 3) e Botafogo(3 X 3) e a Polícia confirmou o sotaque do interior paulista e as facadas e até descobriu o sobrenome do criminoso “Santos”.
Como a Polícia suspeitou que a coisa tivesse a ver com a localização da Barra, que ficava nas proximidades do estádio, chegaram a pensar em transferir este de lugar. Foi aí que alguém teve a ideia de construir um novo estádio. Já que não podiam com os serial killers que pelo menos eles fossem matar o povo de outros lugares tipo Nazaré, Brotas, Federação e Barris, onde mora gente de classes sociais mais baixas e seria localizada na próxima década a Fonte Nova.
                                         Esse negócio de tiro é pra serial killer americano!

Antes do fim da guerra, logo depois do carnaval de 1944 o assassino carioca voltou a cometer crimes, desta vez no Canela, outro bairro próximo do estádio da Graça. Mas desta vez só matou o Bahia por quatro a dois. Tentou, infrutiferamente degolar a Vitória e Galícia mas estes já estavam preparados usando um colete de ferro deste modo empataram em um gol com o tal criminoso que se fazia de santo. Sumiu tão misteriosamente como apareceu não dando nem tempo a Polícia para as habituais tapeações da população.
Os grandes criminosos levaram anos sumidos da Bahia quando voltaram as eleições. Ficamos entregues aos pequenos criminosos do dia a dia. Uma carteira batida aqui, uma bebedeira ali, uma corrupção acolá e assim ia se levando. Até que chegou o governo de Regis Pacheco quando aconteceria um dia de assassinatos em massa. Os baianos nunca vão esquecer esse dia quinze de março de 1953.
Foi uma verdadeira tragédia, o Ypiranga foi enterrado vivo pelo Vasco da Gama(oito a um), o Bahia tomaria sete tiros do Internacional(RS) e o Vitória seria afogado oito vezes pelo Flamengo na própria Baía de Todos os Santos. A coisa foi tão surpreendente fugindo do modus operandis dos santos criminosos de antigamente que a Polícia nada descobriu.
                     Basta ver Amor e revolução pra saber como os serial killers fizeram mescola!

O serial killer carioca ficou tão estimulado com o arrastão criminoso que resolveu voltar. E o diabo é que havia escolhido a Bahia pra matar. Chegou em outubro de 1954 e foi logo matando um espanhol, o Galícia por dois a um. Aí quis imitar o ano anterior e se machucou. Até então ninguém havia notado a sua presença o que só se deu quando ele começou a recrutar os pequenos assaltantes da praça pro maior evento criminoso da história. Escolheu o dia de finados pra isso onde haveria crimes de Brotas e Itapoá e da Fazenda Grande à Itapagipe.
Mas os ladrõezinhos baianos não estavam com nada. Não estavam acostumados a manejar uma guilhotina e sequer sabiam tirar um coração ou um fígado como um cirurgião. Foi um fracasso total não morrendo ninguém e o nosso assassino carioca ainda perdeu pro Bahia por dois a um. E, finalmente foi apanhado, 27 anos depois, no dia seis de novembro ao ser massacrado pelos tricolores e pelas famílias dos que ele matou por cinco a zero em pleno estádio da Fonte Nova.
A população baiana estava vingada fazendo justiça com as próprias mãos. O assassino carioca foi preso e identificado, chamava-se São Cristóvão da Silva e foi levado imediatamente pra Delegacia que ficava na Feira do Curtume na Cidade Baixa. Mas pegou só 14 anos. Estávamos numa época de justiça e o criminoso conhecido como “peixe” cairia dois anos depois. Foi no dia 25 de março de 1956, quando este chegou de São Paulo pra cometer um crime em Brotas e o Bahia que o pegou(3 X 1) e levou pra Polícia.
                                                        Jason junto deles era fichinha!

Parecia acabada a boa vida dos serial killers na Bahia mas haviam se esquecido da nossa impoluta “Justiça”. É que os dois pegaram trinta anos mas, como tinham “atenuantes”, podiam sair pra estudar e trabalhar. De modo que o peixeiro saiu por 48 horas no mês de agosto do ano seguinte e vingou-se esfaqueando por duas vezes o Bahia que quase morre. O absurdo mostrou que “peixe” estava longe de ter se recuperado e foi engaiolado mais uma vez passando a ter bom comportamento. E foi esse serial killer já trabalhado pelas assistentes sociais e psicólogos de plantão que perderia as finais da I Taça Brasil para o tricolor.
Em 1968 ao acabar a pena Cristóvão da Silva voltou para as ruas. Foi trabalhar como feirante em São Joaquim. Não se atreveu nem a passar na porta da Fonte Nova quando jogavam os grandes clubes da Bahia. Mas, um dia seu homônimo baiano foi guilhotinado por quatro a zero, e despertou suspeitas das autoridades. Ele foi detido para averiguações mas negou peremptoriamente que tivesse alguma coisa a ver com a derrota do simpático time alvi negro. Por vias das dúvidas foi preso novamente.
                                    E quem mandou retalhar Tiradentes não era serial killer?

O “seu” Santos, criminoso inveterado, sairia da prisão por bom comportamento nos anos setenta onde atazanaria a dupla BA-VI. A situação chegou ao ponto de assassinar vários clubes brasileiros que vieram á Bahia jogar o Torneio Cidade de Salvador em 1975 ficando com o título. Distribuiu tantas facadas que foi trancafiado novamente. Mas como tinha bons advogados saiu novamente. Quanto ao serial killer carioca que era feirante está preso até hoje.

·          Agradeço ao Almanaque do Futebol Brasileiro, ao site Wikipédia e aos blogs alltopmovies.com,spun.com e indiatalkies.com.

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