sábado, 11 de junho de 2011

A época da inocência

     
    Antigamente o céu ficava colorido de balões
    como estrelas a brilhar.
    Eram mensageiros de perdidas ilusões
    que seguiam seus caminhos sem voltar (...).
    Tudo era tão lindo, era diferente,
    Nas noites de junho. 
                                                      Luiz Gonzaga

Em 1993, quando o Vitória foi vice-campeão brasileiro, o diretor Martin Scorsese lançou o filme À época da inocência. Trabalharam no mesmo artistas conhecidos como Winona Ryder, Michelle Pfeiffer e Daniel Day-Lewis. É um drama com o tradicional triangulo amoroso. Fulano gosta de beltrano, que por sua vez gosta de sicrano. Mas o interessante é a crítica da conservadora sociedade norte-americana que, na época (em meados do Século XIX) ainda levava relacionamentos afetivos aos tribunais.
Mas o que a critica cinematográfica não diz é que foi mais um filme inspirado na Bahia. Aqui houve uma época de inocência, particularmente no futebol. Foi um tempo em que os baianos eram conhecidos como “boa terra” e recebiam generosamente seus visitantes. Quem visitava a Bahia saia com a “cuia” cheia de gentilezas. Quando se perguntava um endereço o baiano ia levar lá. Convidava pra almoçar em casa. Parava o carro pro pessoal passar. Que diferença pros dias de hoje.
                                                Ah, nem tinha ainda Vanderley Cardoso!

No futebol também era assim. Vivíamos suspirando pra ver os paulistas e cariocas jogarem. E quando vinham os clubes baianos pensavam que os jogos eram mesmo “amistosos”, jogando muitas vezes completamente abertos com o visitante. Qualquer timeco do Sul fazia sua fama na Bahia, como o Andaraí, o Vila Isabel, o Bandeirantes, e outros bichos.

Do São Cristóvão nem é bom falar, pois veio aqui várias vezes pra submeter os baianos à vergonha. Houve tempo em que Madureira, Taubaté, Bangu saiu invicto de excursões por aqui e até os únicos títulos da história do Bonsucesso foram obtidos na Bahia. Quer dizer, durante as décadas de vinte a quarente quem jogava na Bahia fazia festa.
Hoje vamos falar da segunda excursão do Santos á Bahia em 1936. Já tinha vindo em 1929 e deu o maior passeio nos times baianos. É bem verdade que havia sido campeão paulista do ano anterior. Mas os baianos chamaram o peixe mesmo assim. A atração foi a existência de várias taças a serem disputadas.

                                                    Nem tinha lambreta na Bahia! 

O clube santista havia começado este ano de modo atribulado quando duas de suas partidas “amistosas”, contra o Palestra Itália (que viria posteriormente a ser o atual Palmeiras) e o Corinthians não terminaram em função da pancadaria. Mas, no mês de março ganharia a Taça Carlos de Barros ao derrotar o Combinado Portuguesa-Hespanha por quatro a um.                                  
                                   Cid Teixeira sabe!                             

E, no fim desse mês, aportou na Bahia para disputar seis taças. A delegação santista chegou de navio no dia 21 e, logo no outro dia, disputaria a primeira taça. O time base dirigido pelo técnico Bilu nesta excursão era constituído de Cyro, Neves e Agostinho, Dino, Ferreira e Jango; Sacy, Tupan, Raul, Araken e Junqueirinha e consagraria Raul como grande artilheiro. Na ocasião, ao derrotar o mais querido por seis a um, levaria o troféu dado pela Companhia Aliança da Bahia. 
Quatro dias depois enfrentaria o EC Vitória em jogo sob os hospícios da Companhia Sul América de Seguros da Bahia que bancou o troféu da partida. A porfia mostrou o desequilibro dos baianos em relação aos paulistas que venceram por cinco a um levando a segunda taça pra São Paulo.
Era o terceiro caneco conquistado pelo Santos neste ano, e o time passou a “se achar”, o que fez com que sofresse uma surpreendente derrota do Galícia, clube da colônia espanhola na Bahia, que ficou com o único troféu entre todos os que o peixe disputou em partidas isoladas com clubes naquele ano. Aí os santistas aperfeiçoaram sua máquina mortífera em um jogo-treino contra o Periperi, o qual goleou por quatro a zero.
                                                           Nem existia Lady Gaga!

Logo a seguir disputaria mais taça na Bahia, desta vez com o tricolor que seria campeão aquele ano. Desta vez foram dois troféus para a mesma partida, um oferecido pela Prefeitura de Salvador e outro pela Companhia Construtora Nacional. Os canecos estão até hoje na sala de troféus do Santos em função da nova vitória, agora por dois a um.
                                           Depois ainda dizem que só acontece na Bahia!

O quinto troféu foi mais difícil de ser ganho. O adversário era o forte Botafogo, que havia sido campeão no ano anterior. A partida foi uma das mais duras que os santistas enfrentaram na excursão, acabando num empate em um gol. Desta forma os paulistas tiveram que adiar o seu retorno para São Paulo concedendo uma revanche pra decidir quem levaria a taça.
                           Nem havia coisas como Palozzi!

O alvirrubro baiano, entretanto, confiado no resultado anterior, se “machucou”, jogando de forma franca e perdendo de seis a três num jogo inusitado, que teve três pênaltis, quatro gols do santista Raul e três do botafoguense Lindinho, num jogo que teve três pênaltis, um deles assinalado pelo ponteiro dos diabos rubros através de uma das primeiras “paradinhas” ocorridas no Brasil.
O peixe voltaria para a capital paulista a tempo de disputar o torneio inicio da liga, mas não passaria da segunda rodada, eliminado pelos escanteios concedidos. No primeiro turno ficaria em segundo lugar, só deixando á sua frente o Corinthians, no entanto acabaria o campeonato paulista mesmo em quarto lugar no ano em que veio a Bahia.

                                             Olhem a Fonte Nova lá atrás nos anos 40!

·       Agradeço ao Almanaque do Futebol Brasileiro, ao site Adoro Cinema e aos blogs do professor Guilherme, dublanet.com.br e americanas.com.br.

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