domingo, 19 de junho de 2011

A minha versão do amor

                                                  Se dando  bem hein Giamati?

Gente estou em débito com vocês. Bati meu Recorde em não postar artigos, quatro dias. É que eu estava no lufa-lufa do lançamento do meu quinto livro, Camarada Júlio: confissões sinceras de uma militância. A obra trata dos bastidores das lutas sociais, culturais e políticas da Bahia e do Brasil nos anos 60,70 e 80. Tudo recheado de ironia e casos engraçados.
Então acho que estou perdoado, pois tive que fazer de tudo nesta semana, desde carregar caixas de vinho a levar horas dando autógrafos. E vocês nem apareceram lá, hein! Mas fui abraçado por muita gente e acabei vendendo 180 livros. Que chique!
Talvez seja por meu entusiasmo que decidi falar hoje de amor. E nada melhor pra isso que o filme de Richard J. Lewis A minha versão do amor. O filme trata de um homem da minha idade, Paul Giamatti, e suas tentativas atrás do amor com sucessivos casamentos, namoradas e “ficantes”. Sobra até uma “ponta” pro experiente ator Dustin Hoffman.

                                               Quem pode gostar de uma "bandeirinha"?

O futebol também comporta o amor. Quem achar ao contrário é só ir a um estádio pra ver o afeto que alguns torcedores tem pelos seus clubes. Alguns “babacas” dizem que isto é fanatismo, mas não sabem de nada. Tem gente que fica rouco, chora, joga o rádio no “bandeirinha”, passa o jogo todo xingando o juiz e falando mal do presidente do clube.
Aqui na Bahia torcer por um clube é um gesto de amor cultivado desde a infância. Quando o menino nasce se os pais torcem pro mesmo clube não há problemas. Mas se um é Vitória e o outro é Bahia (ou mesmo se tem algum tio ou cunhado entrão) a coisa complica. Desde que está na barriga da mãe já ficam tocando os hinos dos clubes pra influenciar a sua futura escolha.
                                              Mas as meninas só queriam saber de casar!

Quando ainda está na mais tenra idade enfeitam o berço com toalhas, travesseiros, mamadeiras, e tudo o mais que for possível, com as cores e os escudos do clube do pai ou da mãe (ou do tio). A disputa por mais um torcedor se agrava quando o garoto começa a andar. Aí é a maior baixaria. Imaginem que os pais tricolores ou rubro negros levam o garoto para a Loja do Leão ou a franchising do esquadrão pra escolher o que quiser, contando que seja com o escudo de seu time. Nesta fase, como quem não quer nada, cobrem o menino de presentes, tudo, naturalmente, com as cores do clube.
Mas o pior mesmo acontece quando chega à idade do garoto ir á escola, pois aí vai encontrar com muitos colegas e a disputa clubística vai atingir o paroxismo. Nesta ocasião, mais do que fazer as lições de classe, ele tem que responder a pergunta fatídica:
- Você é Bahia ou Vitória?
                                   Olhem os homenzarrões com quem eu entrava em campo!

Se ele responder que é Ypiranga, Galícia ou Botafogo é tratado com um ET na turma e não arranja nem namorada por esquisitice. Ainda dá pra ser aceito se disser que torce pro Flamengo, Corinthians ou Palmeiras, mas corre o sério risco de ser acusado de traidor da Bahia.
Nessa fase, a última da consciência do novo torcedor, o “pau come solto” em casa. Nessa época vale tudo pra influenciar o menino na decisão, viagem de férias, mesada, e hora de chegar em casa. Lá em casa todos optamos logo pelo time de meu pai, o EC Vitória, mesmo porque maínha já era simpatizante do clube. Mas conheço casos de arrepiar. De garotos que não recebiam mesada e passavam fome na escola até sair de cima do “muro” e decidirem pra que clube iam torcer.
                                           Os atores ensaiando no antigo Hotel da Bahia!

É por isso que na Bahia escolher o clube é pior do que sair da adolescência pra idade adulta. Pois se nesta o garoto ainda é instável, tem muitas namoradas, escolhe muitas profissões, e anda com várias turmas, no futebol quase não sobra tempo pra experimentação. E o pior é que muitas vezes essa escolha tem a ver com a fase do clube.
Se eu me entendesse por gente em 1930, por exemplo, poderia ser torcedor do Botafogo, que por sinal também é vermelho. Neste ano o time dava alegria aos seus torcedores. Em janeiro, quando o Bangu teve em Salvador, e ganhou da Associação Atlética (5 X 2), do Fluminense (10 X 1), do Ypiranga (6 X 4) e da Seleção baiana (4 X 2), não passou pelos diabos rubros perdendo por quatro a dois.  Outro carioca que caiu pro alvi rubro naquele ano foi o Andaraí, e por duas, vezes, perdendo por dois a um e quatro a três. Mesmo que perdesse, como os demais, do Flamengo por quatro a um.

                                          Amor doce amor, até de Sarney e Ideli Salvati!

E se fosse em 1943 decerto seria torcedor do Galícia e minha cor preferida o azul (sai pra lá!). Naquele época o azulino era o tricampeão baiano e conhecido como “demolidor dos campeões” dando orgulho á colônia espanhola. Se fosse em 1946 seria torcedor do Guarany que escolheu justo esse ano pra “papar” o seu único título de campeão baiano. Nesse ano, o Cruzeiro, o Fluminense (RJ), o Flamengo, suaram nos jogos contra os “índios”. O que eu sei que jamais seria é tricolor, em qualquer fase de sua existência.
Já contei aqui neste blog que meu pai achou uma fórmula infalível de converter eu e meu irmão “Toínho” em torcedores do Vitória. Foi simples, nos levava pra entrar com o time nas partidas da Fonte Nova. E foi em 1953, quando o rubro negro tinha Quarentinha, Ciro e Tombínho, agente entrava no gramado com aqueles homenzarrões pegando em nossa mão e recebíamos palmas da torcida. Acho que demos sorte ao leão que naquele ano voltou a ganhar o campeonato baiano depois de 44 anos de amadorismo.
                                       Giamati agora apelou, foi filmar no Dique do Tororó!

Forço a memória mas não consigo lembrar dos gols nem dos jogos. O que sei é que meu pai,. Que foi remador e jogador dos aspirantes do clube, levava agente pros vestiários e depois subíamos para as arquibancadas ficando juntos com a torcida, naturalmente, sem pagar o ingresso. Naquela década o rubro negro foi campeão em 1953, 1955 e 1957, mas aí eu já era muito grande pra entrar em campo com o clube que amava e amo.
Hoje, quando eu vejo aquela “renca” de meninos entrando em campo fico pensando na infância de tantos garotos, e do que passaram pra conseguir, enfim, escolher seu clube e sua versão do amor.

                                    Ah, o meu amor por Paul!

·         Agradeço ao Almanaque do Futebol Brasileiro e aos blogs cinema10.com.br e wikicine.com.

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