quinta-feira, 23 de junho de 2011

O maior desastre do universo



               
Nosso universo já viu muitos desastres. Catástrofes naturais ou provocadas direta ou indiretamente pelo ser humano. O que bateu de planeta nessas galáxias não está no gibi. E o que dizer dos sóis que se apagaram? Mas duvido que tenha um planeta com tanto desastre como a Terra.
Se houvesse um Top Dez dos desastres certamente a China ficaria em primeiro lugar. Lá ocorreram duas enchentes do Rio Amarelo pra ninguém botar defeito. A de 1887 matou mais de novecentas mil pessoas, e a de 1931 consta do Livro dos Recordes com mais de um milhão de mortos.
O país tem outras catástrofes menos votadas, como as do terremoto de Shaanxi em 1556(com 830 mil mortos), a enchente de Kaijeng em 1642(com 300 mil mortos), o terremoto de Tangshan em 1976(com 242 mil mortos) e a falha da barragem de Banqiao em 1975 (com 231 mil mortos). Se acontecesse isso aqui diriam logo que era uma política do governo para controle da natalidade.
                                                                 Ah o River Plate!

Mas há países que não ficam muito atrás. Em Bangladesh mesmo teve o ciclone de Bhola que em 1970 matou mais de quinhentas mil pessoas.  Como a região fazia parte do Paquistão e todo mundo sabe das disputas que existem lá com os indianos, estes chegaram antes em matéria de ciclone, em 1839, quando morreram trezentas mil pessoas. Depois vem a Tsunami do Oceano Índico, que em 2004 matou 230 mil pessoas.
Só então é que entra o terremoto do Haiti, que teve tanta propaganda no ano passado, mas que ocupa um modesto décimo lugar no Top Dez das catástrofes, com 222.570 mortos (não sei como chegaram a tanta precisão!). Talvez seja por isso que a ONU, os EUA e Cia abandonaram o país á sua própria sorte. Mas resta o consolo aos haitianos de torcer pra que não apareça uma tragédia mais pra poder ficar ainda na lista e ganhar alguma ajuda internacional. Pois vocês sabem que isso só acontece quando dá ibope.
                              Essa nem está no Top Dez, foi quando caiu um disco voador na Bahia!

Quanto às tragédias do Irâ, em 856 e 893, que mataram, respectivamente, duzentas mil e cento e cinquenta mil pessoas, do Japão, em 1923, que levou de roldão 142 mil, e do Turcomenistão, em 1948, onde “bateram a caçoleta” 110 mil, ninguém mais fala delas. Também quem manda morrer tão pouca gente e sair do Top Dez?

                                                                 Essa foi fichinha!

Mas as enciclopédias de catástrofes não estão com nada. Elas só cuidam de terremotos, enchentes, tsunamis e ciclones, discriminando o futebol. É por isso que não sabem que neste momento está ocorrendo o maior desastre da história o rebaixamento do glorioso River Plate para a segunda divisão argentina.
É que o Livro de Recordes é dirigido por grandes comerciantes brasileiros e uruguaios, que há muitos anos falam mal dos portenhos. Mas o desastre do rebaixamento é incalculável. O Club Atlético River Plate foi fundado em 1901 e é um dos maiores clubes do mundo, trinta e quatro títulos nacionais, duas vezes campeão sul-americano e uma vez mundial.
                                                  Olhem como ficava a Orla!

Sua sala de troféus tem que a cada dia ser ampliada pra comportar tanto título. O clube é tão formidável que ficou conhecido nos anos quarenta como A máquina quando seu ataque tinha Munhoz, Moreno, Pedernera, Labruna e Loustau.

Acho até graça quando se fala em clubes que tem muitos sócios, como o Real Madrid, o Milan e o Internacional. Fiquem sabendo que em 1954 o River Plate já tinha 65.000 sócios.  Aliás, a maior tragédia do futebol argentino ocorreu justamente em 1968 quando morreram 71 pessoas em um clássico River X Boca.
Na sua primeira participação na Taça Libertadores da América sagrou-se logo vice-campeão em 1966. Dez anos depois voltaria a disputar esse título perdendo na final contra o Cruzeiro. E, se passariam de novo dez anos, para ver, enfim, o River ficar com esse título ao ganhar o América de Cali na partida final e, logo depois, ao vencer o Steaua Bucarest, levar o título mundial. Em 1996 venceria de novo a Libertadores derrotando na final o mesmo adversário, embora perdesse a final da copa mundial para o Juventus da Itália.
Pois bem, o clube onde jogaram Francescoli, Artime, Ferreyra, Labruna, Di Stefano, Perfumo, Carrizo, Oscar Más, Merlo, Passarella, Fillol, Diaz, Gallego, Astrada, Alonso, Marcelo Salas, Saviola, Sorin, Crespo, D Alessandro, Mascherano, Cavenaghi, Higuaín, e que foi treinado por Didi, está ameaçado pela morte da Segunda Divisão. Começaria a cair em 2008 quando ficou com a lanterna do Torneio Apertura na Argentina. Veio obtendo péssimos resultados nos torneios nacionais até culminar com o certame atual onde ficou em 17º lugar. Na Argentina o rebaixamento de um clube é realizado através do cálculo de uma média dos piores nos últimos anos. Assim sobrou para o River Plate.
                                                       E essa desgraça não conta?

O fantástico clube argentino está disputando o Promoción (uma espécie de repescagem) pra ver quem vai estar na Primeira Divisão em 2012 contra um clube que tem o mesmo nome de seu bairro, o Belgrano, e que já ganhou a primeira partida por dois a zero em Córdoba. Quer dizer, se o River não ganhar pelo mesmo escore no próximo domingo, babau. Vai cair para a Segundona argentina pela primeira vez em sua gloriosa história. E aí vocês vão ver a hecatombe universal em seus milhões de torcedores argentinos e em todo o mundo.
Não adianta nem o Livro dos recordes ou o Top Dez das catástrofes calcular, pois não vai nem conseguir saber quantos Hermanos irão se matar e o estrago que este verdadeiro terremoto esportivo causará no futebol da Argentina.
Eu tenho um orgulho na vida, o de ter visto o River Plate jogar na Fonte Nova. Isto ocorreu em 1972.  O Brasil celebrava o sesquicentenário da chamada independência (que nem necessita letra maiúscula) e foram organizados grandes eventos, uma “Mini Copa” no país, e aqui, a Taça Cidade de Salvador. Para esta convidaram as fortes equipes do Grêmio Porto Alegrense e do Fluminense carioca e o todo poderoso River Plate da Argentina.
                                             E gente morar num lugar desse, pode?

Fui com meu irmão “Toínho” ver todos os jogos deste torneio chegando mais cedo pra assistir as preliminares. Lembro-me que a torcida rubro negra estava deslumbrada neste ano, pois, além de estar neste torneio com grandes clubes, iríamos disputar o Campeonato Brasileiro. Outra coisa foi a TV em cores que, até que enfim, havia chegado ao país.

Os jogos foram muito concorridos. Tudo aconteceu em apenas uma semana onde pudemos hospedar as delegações de fora. Como não poderia deixar de ser quem causou o maior frisson foram os argentinos. Há doze anos uma equipe desse país não se apresentava na Bahia, desde as disputadas da Libertadores da América de 1960 entre Bahia e San Lorenzo de Almagro.

Havia ainda a mística do poderoso River Plate que nunca havia jogado no Nordeste. Imaginem que o seu técnico era nada menos que o brasileiro bicampeão do mundo Didi, e havia jogadores como Alonso, Martinez, Ghizo, Moretti e o goleiro Barisio. A rodada inicial marcava o jogo Fluminense X Grêmio, que terminou sem gols.

                            E a desgraça desta falta de cortesia?

Na partida de fundo a formidável “fria” do EC Vitória, ao enfrentar, logo de saída no torneio, tamanho escrete.  No entanto os rubro negros surpreenderam a torcida. Após um começo nervoso equilibraram as ações em campo e praticaram o futebol envolvente que lhes permitiria ganhar o campeonato baiano daquele ano após sete anos na fila.

O ataque baiano composto por Osny, Gibira, André “Catimba” e Mario Sérgio, conseguiu fazer Rodriguez e Cia passar por maus momentos, mas acabou por se render a formidável linha atacante argentina com Alonso, Martinez, Moretti e Ghizo que venceria por dois a um. 

                           Desgraça desta é todo dia na Bahia!


É por isso que não consigo deixar de derramar uma lágrima furtiva quando vejo os Hermanos do River nesta situação, que é seguramente, a maior catástrofe do universo do futebol.


·          Agradeço aos sites RSSF Brasil e Wikipédia e aos blogs marinhas-8b-g2.blogspot.com, ne-miguelito.com e monitormercantil.com.br.

Nenhum comentário:

Postar um comentário