quarta-feira, 29 de junho de 2011

Uma breve história do mundo?

                                      
                          
Há dois anos o professor Geoffrey Blainey publicou um livro chamado Uma breve história do mundo que tem batido o recorde de vendas de livros de história. A tentativa vale a pena embora não seja nem inédita na intenção nem no nome, tomado emprestado do livro que H.G Wells lançou em 1924 com o mesmo nome.
Realmente esses autores tem um, admirável poder de síntese ao tentar escrever sobre tanta coisa em pouco mais de trezentas páginas. Eu mesmo gastei quinhentas, só pra falar de minhas memórias políticas no Brasil de 1960-1990. Ou será que se trata de mais um livro de “de bolso” num tempo onde as pessoas não tem tempo pra conhecer nada profundamente e só querem ter assuntos para roda de conversas?
Não posso nem me comparar com autores tão qualificados. Afinal, um foi um grande ficcionista e o outro é professor da Universidade de Harvard, enquanto eu nunca passei da sucursal da Estácio de Sá na Bahia. Mas não posso deixar de dar o meu “pitaco” pois é o assunto de hoje em meu blog. Wells começa contando a história do planeta enquanto Blainey entra logo na história com os macacos descendo das árvores para se transformarem em seres humanos.
                                                          Só mostram a Europa!

Outro problema dessas resenhas é que em poucos anos as novas descobertas científicas desmentem tudo o que foi ali afirmado. Aliás é o que acontece com o pobre do Wells, onde muitas afirmações ficaram tão ultrapassadas que acabaram fazendo com que fosse encarado como um livro de contos histórico-geográfico. Como historiador Blainey está alerta para esses problemas. Tanto é assim que não procurou pesquisar muito sobre a infinidade de assuntos que aborda. Toda hora se encontram em seu livro, os talvez, e os pode ser.
Mas onde não posso perdoar é com a reprodução de preconceitos com o nosso continente americano, com o Brasil e, principalmente, com a Bahia. Imagine que Wells trata o nosso país em apenas um parágrafo, resumindo toda a nossa rica história em apenas três datas, 1808,1822 e 1889, aliás Laurentino Gomes fará melhor daqui a alguns anos quando lançar o último livro de sua trilogia histórica.
                                                      Nem uma palavra sobre Bobô!

Quanto a Blainey segue os mesmos preconceitos da história tradicional. Passa do início da história da humanidade na África, e a sua ocupação da Ásia, diretamente para o Egito, pouco dedicando atenção ao continente americano onde existiram múmias e produtos têxteis muito antes da civilização dos faraós e arqueólogos encontraram vida no Piauí há pelo menos cinquenta mil anos. Mas é claro que um famoso historiador não vai perder tempo com um estado que não dá ibope.
Com tão poucas páginas passa por eventos históricos em marcha batida. Parece até que o leitor está na janela de um trem vendo passar a invenção do fogo, da roda, das línguas e religiões, as chamadas Antiguidade e Idade Média, a revolução industrial, o imperialismo e as guerras mundiais, até chegar no presente. Nesse filme sobra pouco para a América Latina, sem qualquer importância que ser “descoberta” e colônia dos povos “civilizados”.
Nem em Wells nem em Blainey se encontram menções á Bahia. É brincadeira escrever uma “história mundial” sem se falar dos baianos. Como falar da ”descoberta” da América sem Porto Seguro e a Baía de todos os santos? E o açúcar hein, que virou o primeiro produto mundial? Cadê o segundo porto mais importante das Américas nesta história? Afinal de contas onde aportou primeiro a Corte Portuguesa após fugir da Europa? E o que falar da originalidade das repúblicas “de araque” que foram proclamadas no continente que os baianos a fizeram duas vezes?
                                 Nem falaram de quando os discos voadores chegaram na Bahia!


Por isso aqui fica o meu mais veemente protesto a estas tentativas de se escrever a história do planeta sem dar a menor bola para um mundo chamado Bahia. Vocês podem achar até que estou fugindo da natureza deste blog, mas eles não dão nem meia linha para o nosso futebol. Uma alfaiataria de Salvador usou durante muito tempo o slogan Adão não se vestia porque Spinelli não existia. Parece que estavam adivinhando que Blainey sequer existia quando foi introduzido o futebol na Bahia.
Será pra não dar o braço a torcer para os ingleses, arquirrivais dos norte-americanos, e que influenciaram a pratica do futebol no Brasil? Como não fala nada da Bahia nem sabe que os baianos estiveram entre os primeiros a jogar futebol no país, sendo aqui jogados os primeiros amistosos internacionais.
É bem verdade que ainda não existiam estádios, é tanto que se jogava nos apertados campinhos do largo de São bento, do Campo da Pólvora e do Rio vermelho. Mas isso foi remediado em 1922, quando se inaugurou o Estádio da Graça. Aliás não se sabe de HG Wells nem Blainey terem comparecido a um jogo sequer por lá.
                                                        E os deuses, só são brancos?


Folheei o livro todo e passei a questionar o seu caráter científico. Imaginem que não há nem um paragrafozinho sobre o glorioso EC Vitória, e seu importante papel na história do mundo, o de se constituir no primeiro clube fundado no Brasil com sócios nacionais! Não há uma linha sobre o primeiro campeonato baiano em 1905, nem da convocação do zagueiro Mica do Botafogo para a seleção brasileira de 1923 ou do inédito título da seleção baiana no Campeonato Brasileiro de Seleções em 1934.
Soube que os próprios torcedores tricolores tem reclamado por no livro não constar o importante fato histórico planetário da criação do clube em 1931 através da fusão das equipes da Associação Athlética e Baiano de Tênis. Blainey, num rasgo de insanidade, chegar a desprezar o próprio surgimento do maior clássico do mundo, o nosso BA-VI! É muita discriminação com a Bahia.
Mas a situação fica pior á medida em que se avança na leitura do livro, que não traz nada sobre nossa querida Fonte Nova. Descobri que o autor é profundamente anti-baiano. Senão, porque não falaria das planetárias conquistas tricolores de títulos nacionais e dos vices obtidos pelo Vitória nestes certames?  

                                            Pô, sacanagem não falar do Elevador Lacerda!


Mas o que é mais censurável neste tal de Blainey é a sua inveja da Fonte Nova. Não fala nem de suas virtudes nem de suas tragédias, incluindo a verdadeira tsunami, muito maior do que a do Oceano Índico há alguns anos, que foi a inauguração do anel superior em 1971 em número de vitimas.
É por isso que seu livro Uma breve história do mundo é tão breve, particularmente por não registrar a morte da Fonte Nova, massacrada para se construir uma arena para a Copa de 2014. Naquele dia a implosão foi transmitida pela TV para todo o mundo, só Blainey que não viu.

·          Agradeço aos sites Lendo e Amalgama, e aos blogs quebarato.com e submarino.com.br.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  2. José, desculpe o erro do nosso administrador, já corrigi o erro de digitação que voce bem reparou pois é claro que não podia ser aquele o slogan.Eu inclusive conheci o Spinelli que era pai de minha prima Nairzinha.

    ResponderExcluir