quinta-feira, 7 de julho de 2011

A propaganda é a alma do negócio?

                                               
         Foi a propaganda que fez Lady Gaga! 


O ano de 1972 foi para mim o da propaganda. O campeonato baiano começava e o tricolor buscava o “tri”. Mas o rubro negro tinha armado um bom time. Contratara Osny do Santos que ninguém queria por ser baixinho, fizera vir Mário Sérgio, tinha André em grande fase e ainda deu sorte com reforços como o meia David.

A dupla BA-VI estreou numa rodada dupla na Fonte Nova surpreendente. O Vitória penou pra ganhar do modesto Jequié na preliminar, mas na principal foi o Bahia que se deu mal, empatando em dois gols com o “caixa de pancadas” Palestra.

Pouco depois eu comecei a me sentir atraído para o mercado de gravações. É que este absorvia cada vez mais o pessoal da Escola de Música da UFBA, onde eu estudava e trabalhava desde o ano anterior. Mas como ninguém me convidava para tocar eu acabei por testar as minhas habilidades como compositor.

                            Ah como é bom se ouvir no rádio!


O mercado publicitário estava em ascensão, e a musica “bombava” na venda de produtos e serviços. Isso permitiu atrair uma série de colegas para a composição de jingles. Um deles era Gilberto Gil que, tinha há alguns anos escrito “clássicos” publicitários como o da Agua Sanitária Lisa (lembram-se?).

Naquele tempo a maioria dos jingles que tocavam na rádio saiam de uma empresa que conjugava as funções de agência e gravadora, a Studios JS (de Jorge Santos) e funcionou no Edifício Sulacap (na Ladeira de São Bento), transferindo-se depois para o Edifício Martins Catarino, que ficava na Rua Bonifácio Costa, uma transversal da Rua Chile, onde ocupava todo o terceiro andar.

Os proprietários da agência eram Jorge Santos, antigo locutor de rádio, e Jose Jorge Randam. Eu já havia encontrado este último alguns anos antes quando me apresentei no programa que apresentava na TV Itapoá intitulado Céu ou inferno.


É a danada de propaganda que faz Paulo Coelho mais conhecido do que eu!


Na oportunidade ele havia me colocado no inferno quando cantei a musica Sonhar contigo consagrada pelo cantor “Miltinho”, antigo integrante do conjunto Quatro ases e um coringa, então um astro, emplacando vários sucessos na musica e no cinema.

Lembro que nesse dia passei uma vergonha danada, pois tinha avisado a todo mundo que iria me apresentar e tive que voltar pra casa pelos fundos da rua, onde fui gozado por vários dias. O programa tinha um anão (o Irênio, que era gerente da alfaiataria Spinelli) que se vestia de vermelho e gongava os candidatos a qualquer hora, atendendo aos sinais de Randam e do pianista Carlos Lacerda. Até hoje reclamo a falta de oportunidade que me deram. Mas nunca toquei no assunto com nenhum dos dois.

O Vitória começava bem no campeonato e já ganhava do Itabuna (1 X 0), fora de casa, e do Fluminense (2 X 0). Mas logo empatou com o Galícia sem gols ficando igual ao tricolor. Mas nas próximas rodadas venceria o Ilhéus (5 X 0), o Conquista (2 X 0) e o Palestra (2 X 1). Chegava o clássico com o Bahia, e, para surpresa de todos, o rubro negro jogaria uma grande partida, embora só ganhasse pelo escore mínimo.  


E essa torrezinha? Nem de longe se compara ao Elevador Lacerda!


Não levei minhas mágoas para a Gravações JS onde conheci músicos que frequentavam o estádio. O ambiente me ajudou a fazer contato com vários colegas da profissão, tendo conhecido “Berimbau”, “Batatinha”, Tião motorista, Osvaldo Fahel, Tuzé de Abreu e Vevé Calazans, além de reencontrar Moacir Albuquerque (da TV Itapoá), Antônio Carlos e Jocafi (a quem conhecia desde o grupo Comunicação) e os grandes instrumentistas Perna e Alcyvandro Luz (este último meu colega na orquestra da UFBA).

Eu precisava entrar nesse esquema. Ia lá, conversava com o pessoal, mas não tinha nada pra fazer. Foi quando decidi, por conta própria, fazer um jingle. Escolhi a Farmácia Santana, que crescia na época, e fui ao bairro da Saúde mostra-lo ao dono, um dos irmãos Santana.

Lembro-me bem que fui lá no dia em que o leão jogou com o Ypiranga e venceu por um a zero. Naquele tempo não havia muita separação entre os proprietários e os funcionários, de maneira que fui entrando cheguei na mesa do “cara” e disse-lhe que tinha um jingle para mostrar.

          E quem troca essa Acrópole pelo Farol da Barra?


Aí ele me pediu pra tocar e não me fiz de rogado botando minha voz de taquara rachada pra funcionar.

Em toda rua, por toda a cidade
ajuda a seus irmãos,
pois ela é a minha, é a sua farmácia,
ela é a nossa Santana.

Nos feriados, em fins de semana,
há sempre uma Santana de plantão.
Juro que um dia vou ver se na lua,
também há uma Santana.
Ah que farmácia bacana, Santana,
meu Deus não morro não.

O “cara” gostou na hora. Também não tinha como uma letra tão imbecil e romântica ao extremo não agradar o dono. E aí perguntou o preço. Eu vinha tão despreparado que nem tinha pensado no assunto. O primeiro valor que chutei ele aceitou. Passei semanas me arrependendo de não ter pedido mais. Combinamos que o dinheiro seria pago contra entrega da “bolacha”.

                 Que saudades do Vitória campeão de 1972!


O Vitória não terminaria bem o turno, quando empataria sucessivamente com Atlético (0 X 0), Botafogo (1 X 1) e Leônico (0 X 0). A dupla BA-VI terminava empatada com 20 pontos o primeiro turno, mas o Bahia tinha um saldo melhor. Isso fez com que o Vitória tivesse se ganhar afetando o espírito do time que não rendeu mas o mesmo e ainda levou um gol perdendo a partida e o turno.

Tínhamos, começado bem e acabado mal. Mas aí eu já estava excitado com a gravação do jingle. Aí fui pra JS. Rapaz, quando cheguei lá fui direto pro escritório de Jorge Santos. Ele já tinha me visto por ali e não atinava para o que eu estava fazendo. Certamente pensava que eu vinha acompanhar algum jingle. Mas nesse dia falei-lhe todo orgulhoso que tinha vendido um jingle á farmácia Santana e queria gravá-la.

Engraçado como esses tempos eram diferentes dos de hoje. Imaginem que nem ele me pediu dinheiro adiantado nem eu supus em nenhum momento que o cara da Farmácia Santana não iria me pagar. E foi isso o que aconteceu, gravei ali, saí com a fita e paguei depois.

                            É assim que o baiano anuncia!


Jorge marcou o dia da gravação do jingle e destinou os acompanhantes Jorge Luiz no baixo e José Grimaldi nos teclados, ambos instrumentistas do grupo Bossa Jovem. Na ocasião eu fui com a minha melhor roupa pois era a primeira vez que gravava. Confesso que fui com uma ponta de orgulho, até que enfim eu era igual aos outros colegas que encontrava no estúdio.

Cantei e me acompanhei ao violão naquele estúdio enorme. Minha voz era meio fanhosa mas até que não me saí mal. O jingle acabou sendo tocado em todas as rádios, naturalmente com a grana da farmácia.

Enquanto eu fruía embelezado a sensação de ligar o rádio e ouvir a minha voz, para a alegria lá de casa, eu acompanhava o Vitória num segundo turno no Grupo B(sic!). A campanha foi regular, ganhou três (Palestra, Fluminense e Conquista) e empatou três (Botafogo, Ypiranga e Ilhéus). Mas deu pra ficar em primeiro lugar, colocação que obteve também no computo geral. Desta vez era o rubro negro que jogava pelo empate e aí o tricolor teve que sair do prejuízo perdendo de dois a um.


                            Político baiano em campanha!


O episódio da gravação, ao invés de fama me rendeu atritos com alguns colegas. Passaram a me perguntar como eu, que estava chegando ao mercado, havia feito para conseguir a encomenda e quanto eu estava cobrando. Alertando que existia uma espécie de tabela e que eu tivesse cuidado para não cobrar menos do que recebiam.

Enquanto isso já começava o terceiro turno. Para a nossa preocupação o leão começou empatando com Jequié e Leônico. Conseguiu ganhar do azulino (2 X 1) mas logo perdeu o clássico pro tricolor (0 X 1). Mas a vitória contra o Atlético lhe garantiria o primeiro lugar no grupo B, embora a quatro pontos do Bahia na colocação geral.

O Bahia jogaria de novo pelo empate com o Vitória e não deu outra coisa, zero a zero, levando o terceiro turno pra Boca do Rio. As coisas estavam feias. Agora o tricolor tinha dois turnos e o Vitória apenas um.

                  Olhem a verdadeira Monalisa sem propaganda!


Compareci com o coração na mão no domingo seguinte, onde o esquadrão jogava pelo empate pra ficar com o “tri” e vibramos muito quando o leão venceu por dois a um. Acho que foi ali que ganhamos o campeonato. Estava tudo igual, qualquer um que vencesse levava o caneco. Se empatasse iriamos para a prorrogação.

Mas, o rubro negro tomou a iniciativa do jogo logo de saída, e estava numa fase bem melhor. Jogou de forma eficiente e, ao obter a vantagem na partida, passou a jogar nos contra ataques, e foi num destes que, num lançamento da intermediária André foi entrando e fez o gol do título, três a um. Era a nossa vez de voltar a ser campeões, coisa que há sete anos não ocorria tendo que ficar na fila vendo todo mundo ganhar, Bahia, Leônico, Galícia e Fluminense.

Mas o sucesso do campeonato não se transferiu para o primeiro certame brasileiro que o Vitória participou. E nem pra minha vida de compositor de jingles. É que, apesar do sucesso da minha primeira investida no ramo não fui adiante.

         E onde é que se come melhor que a Bahia sem propaganda?


A tendência do mercado de ser, cada vez mais, a de intermediação da agência, e a falta de uma relação mais próxima aos donos da JS, liquidou com a minha “carreira”. Pude perceber que alguns, se caíssem no gosto de Jorge, recebiam encomendas de jingles. Quanto a mim não fui convidado. Tempos depois levei outra proposta para o “cara” da Farmácia Santana, que desta vez não gostou. Não se pode agradar sempre. Foi assim que acabou minha curta carreira na propaganda.


·        Agradeço ao site da RSSF Brasil e aos blogs bananaamassada.worpress.com e iamburrofotofalada.blogspot.com.   

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