sábado, 9 de julho de 2011

A revolução mundial e os baianos

 

O ano de 1905 foi um dos mais representativos do século nascente. O senado francês declara a separação entre a Igreja e o Estado e Dom Joaquim Arcoverde é nomeado como o primeiro cardeal da América Latina.
A Noruega se torna independente da Suécia, a Coreia um protetorado japonês. HG Wells publica A moderna utopia e são fundadas a cidade de Las Vegas e a Pinacoteca de São Paulo. Nascem Henry Fonda, Jean Paul Sartre, Joan Crawford, Greta Garbo, Dercy Gonçalves, Érico Veríssimo, Dolores del Rio e o futuro interventor da Bahia Juracy Magalhães.
Em seu primeiro dia a Rússia se rende ao Japão em Port Arthur. Dois meses depois é suspenso o Estado de Sítio no Brasil. E, uma semana depois, os operários de São Petersburgo foram massacrados numa passeata em direção ao Palácio do Inverno czarista onde entregariam um abaixo assinado pedindo melhores condições de vida e a convocação de uma Assembleia Constituinte.
                                    O pessoal reclamava do transporte para o Rio Vermelho!

Bastam mais alguns meses para ocorrer a famosa revolta do Encouraçado Potemkim imortalizada no cinema apor Eisenstein e presos Leon Trotsky e os membros do Soviete de São Petersburgo. No futebol de uma tacada só são fundados o Clube do Remo, o Sport, o Boca Juniors, o Sevilha e o Chelsea.
O mais importante neste ano porém, é que seria disputado o primeiro campeonato baiano de futebol, apenas quatro anos depois de ser trazida uma bola de futebol para o estado, e ainda antes do certame carioca! O certame, porém, nasceria sob o signo da cisão. É que, quatro meses antes do certame, haveria um “racha” no SC Vitória, e por um motivo fútil.
Quando a equipe treinava a bola caiu numa vala e Artemio Valente e Carlos Costa Pinto se desentenderam sobre quem devia busca-la. O episódio resultou em áspera discussão e levaria a que o segundo se retirasse com vários associados criando o São Salvador, que passaria a ser o principal rival do rubro negro, não só em terra como no mar.
                            E ninguém entendia nada o que falavam os jogadores estrangeiros!

Assim, a recém-criada Liga Bahiana de Sports Terrestres abriu inscrições para o seu primeiro campeonato, Uma comissão foi criada tendo a frente no dirigente Álvaro Tarquínio, definindo-se a tabela e sendo escolhido o campinho da Pólvora para os jogos. Para isso foi necessário contatar com a intendência para que lhe cedesse o campo nos dias dos jogos.
Mas eis que se instala ali também o Circo Lusitano. Foi um alvoroço. Vai pra cá, contata com o intendente, mas como tudo na Bahia, acabou se resolvendo por acordo com o proprietário dividindo o campo, deixando o centro para o campo e uma das cabeceiras para o circo. E a Liga ainda conseguiu emprestada do dono cem cadeiras que eram colocadas em volta do campo nos dias de jogos para as senhoras e autoridades.
Logo depois outro problema se colocou, a transferência de jogadores do São Paulo para outros clubes, fazendo com que o clube da colônia paulista desistisse de disputar o certame. Mass, como a tabela já estava aprovada, a Liga decidiu deixar como estava deixando vagos os domingos em que o clube jogaria.
No dia 9 de abril de 1905 perante bom público, com um campo todo embandeirado e uma banda de musica tocando, se inicia o campeonato baiano. As 16h30min começou o jogo Vitória X Internacional, reunindo o clube mais antigo e o formado por jogadores estrangeiros, e arbitrado por Aníbal Pereira.
O Vitória formou com Luís Tarquínio, Pedro Ferreira e Rodrigo Sampaio; Oscar Luz, Alberto Catarino e Arnaldo Moreira; Oscar Alves, Juvenal Tarquínio, Álvaro Tarquínio, Pedro Barbosa e W. Chest. Já o Internacional formou com G. Orr, CC Sharp, C. North, D. Mc Nair, AE Gieig, R. Mc Nair, V. Vero, JC Covey, A Hayne, F. Stewart e J. Mc Nair. O resultado foi por três a um, marcando Stewart (duas vezes) e Hayne, para os estrangeiros, e Juvenal Tarquínio, o primeiro gol baiano no seu certame.
O Inter enfrentou nova equipe baiana no domingo seguinte, o São Salvador, nascido de uma dissidência do então SC Vitória, vencendo novamente, agora por dois a zero, gols de Stewart e Scharp. O árbitro foi o jogador do Vitória Alberto Catarino.
                                                  A revolução russa tinha era baiano!

Finalmente, no dia 30 de abril, se registra o primeiro jogo entre baianos, ficando frente a frente, Vitória X Baiano de Tênis, com a vitória do primeiro por quatro a zero, sendo os gols de R. Sampaio, Juvenal Ferreira e Pedro Ferreira (duas vezes, uma deles, no entender de cronistas, em impedimento).
Como ficaram vagas as datas do São Paulo o jogo entre os primeiros grandes rivais baianos, entre Vitória X São Salvador, só se verificou no dia 21 de maio. Os jornais da época devem ter provavelmente exagerado a assistência (estimada em dez mil pessoas), mas pareceu a abertura do certame pois teve de tudo.
Os árbitros foram os Srs. A. E. Gieig, Stewart e F. Petersen e o decano só conseguiu resistir um tempo. Stamby abriu o placar para o São Salvador mas logo a seguir Pedro Barbosa empatou para o Vitória. O rubro negro virou o jogo com Álvaro Tarquínio de pênalti mas Zuza Ferreira empataria o jogo ao final do primeiro tempo. Mas no segundo tempo o São Salvador faria os dois gols que lhe deram a vitória, um deles faltando poucos minutos para o encerramento da partida.

                                            Parece ruim né, mas nem tinha isso!

O final do jogo veria um acontecimento inédito, um desfile puxado pela banda militar até o Edifício Sul América onde houve um brinde regado a champanhe e que terminou no Palácio da Aclamação.
Após esse jogo o Internacional e o Vitória venceram o Baiano de Tênis, ambos por três a zero. E, entre agosto e setembro, o primeiro ficariam com o título do primeiro certame, ao ganharem do São Salvador (2 X 1) e do Vitória (1 X 0). O rival do rubro negro, o São Salvador, levantaria o certame no ano seguinte, o último disputado no Campo da Pólvora.
Em 1907 o certame começaria no mesmo lugar, onde se realizou a peleja entre Santos Dumont 4 Baiano de Tênis 0. Mas, logo a seguir, o campeonato foi transferido para o Rio Vermelho onde se podia cobrar ingressos. A iniciativa, porém, revelou-se um fracasso. É que este bairro era mal servido de ônibus e á custo, se organizou a presença da Linha Circular e do Trilhos Centrais. O restante chegava com os carros motores, os reboques, ou mesmo “na paleta”.
                                                      Ah, essa novela era fichinha!

A novidade este ano ficou com a organização do campeonato dos Segundos teams que teria o rubro negro pela primeira vez como campeão. Este só levaria o seu primeiro certame no ano seguinte, quando o Baiano de Tênis se retirou fazendo com que apenas três equipes o disputassem. Aí o Vitória ganhou todas. E, no ano seguinte, repetiu a dose. Se não contarmos os Segundos Teams e os torneios inícios assim se resumem as conquistas do EC Vitória na era do amadorismo.

·         Agradeço a Alexandro Ribeiro, ao Almanaque do Futebol Baiano (1944) e ao site Wikipédia.

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